quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

AUGUSTO (26/09/63 aC a 19/08/14 dC)


Primeiro imperador romano. O seu nome completo é Caio Júlio César Otávio Augusto. É sobrinho e herdeiro de Júlio César. Após o assassinato deste apresenta-se em Roma disposto a cumprir o testamento de César. Ao longo da sua vida política, recebeu e adotou vários títulos que diferençavam sua condição da do restante dos políticos, mas nenhum que claramente o denominasse como imperador, evitando prudentemente os títulos de rei e ditador, fatais para César. Foi proclamado Augusto, mas este era considerado um apelido, mais que um título. Recebeu também o título de Pontifex maximus. Além disso, Otávio se fez nomear pelo Senado com os títulos de Imperator Augustus e Princeps senatus (o primeiro a falar no Senado). Deste último título deriva a denominação de Principado para forma de poder que Augusto desenvolvera. Recebeu do senado a encomenda da tribunicia potestas (o poder do tribunado), sem ser necessariamente um dos tribunos. Designado cônsul, forma o segundo triunvirato com Marco António e Lépido. Luta contra Bruto e Cássio, responsáveis da conjura contra César, e vence-os em Filipos. Guerreia também com Sexto Pompeu, quando este se revolta na Hispânia. Vencida já a última resistência republicana, Otávio Augusto e Antonio dividem o Império: Oriente para António e Ocidente para Augusto. Mas o antagonismo que existe entre ambos faz com que se declare novamente a guerra. A vitória naval de Otávio significa o regresso do Império Romano à unidade. Após a anexação do Egito e da Hispânia, a aniquilação das três legiões romanas de Quinto Varo na Germânia traça as fronteiras do Império no Reno. Otávio, já dono do poder, introduz importantes reformas na constituição política de Roma e recebe o título de Augusto. Organiza a vida política de modo que o Senado compartilhe com o imperador o peso do poder. Restaura a religião e torna-se sumo sacerdote romano. Sob o seu império florescem a paz e a prosperidade. As obras públicas, a reforma moral, a pacificação das fronteiras e os melhoramentos administrativos são algumas das suas iniciativas de êxito. No que se refere à política exterior, com Augusto inicia-se uma nova era de paz e prosperidade. No plano cultural dá-se um florescimento de todas as artes. Em linhas gerais, o seu reinado é um dos mais benéficos para o Império. Conservador e austero, Augusto fez um governo de ordem e hierarquia. Lutou contra a decadência dos costumes, reorganizou a administração e as forcas armadas, tornando-as permanentes e fixando-as nas fronteiras. Saneou igualmente as finanças do estado. Em Roma e na Itália esforçou-se para fazer reviver as virtudes esquecidas das antigas tradições e religião. Deu privilégios aos pais de família e combateu o celibato. Construiu o foro que leva seu nome e, no campo de Marte, ergueu as primeiras termas, o Pantheon e outros templos. Vangloriou-se por ter transformado Roma na Cidade de Mármore. Ajudado por Mecenas, favoreceu os escritores: o historiador Tito Lívio, os poetas Horacio, Ovídio e Virgilio são de sua época. Elevaram-se templos a deusa Roma e a Augusto em todo o império. Em matéria de política externa, foi menos feliz. Pacificou a Espanha e os Alpes, conseguiu a anexação da Galícia e da Judéia e conquistou, graças a Tibério, as terras austríacas do Danúbio, que formaram as províncias de Récia e Vindelícia, mas sua campanha na Germânia fracassou. Tiberio debelou uma insurreição na Ilíria e Varo foi aniquilado com três legiões na floresta de Teutoburgo. Sua tentativa de conseguir um grande sucessor também fracassou, pois seu sobrinho Marcelo morreu jovem. Marco Agripa, cujo casamento com sua filha Julia tinha forçado, morreu em 12 a.C. Os filhos menores de Agripa morreram em 2 e 4 da era cristã. Restava Tibério, filho de Lívia, sua terceira mulher. Adotando-o, Augusto deu-lhe participação cada dia mais ativa nos negócios do estado. A partir de 13 da era cristã, Tibério tinha poderes quase iguais aos do imperador. Quando Augusto morreu, já era o enteado quem de fato governava Roma. A obra de Augusto foi imensa, na paz como na guerra. Protetor das artes e das letras, administrador de gênio, adorado como deus por seu povo e pelos povos submetidos, deu a Roma sua idade de ouro. Marcou de tal maneira sua época que esta ficou conhecida como século de Augusto. Faleceu em Nola, na Campânia, em 19 de agosto do ano 14 d.C. JAIR, Floripa, 24/12/09.

ADRIANO (24/01/76 a 10/07/138)


Públio Élio Trajano Adriano mais conhecido apenas como Adriano, foi imperador romano de 117 a 138. Pertenceu à dinastia dos Antoninos, sendo considerado um dos chamados "cinco bons imperadores". Nascido em Itálica na atual Espanha, Adriano era descendente de colonos romanos domiciliados no Sul da Espanha e primo de Trajano, tendo sido nomeado por este para uma série de dignidades públicas que o fizeram tornar-se herdeiro presuntivo deste imperador. À época das guerras contra os partas, durante o reinado de Trajano, era governador da Síria.O imperador Adriano era um dos mais poderosos do antigo império romano. Conquistou várias nações, uma após a outra, sem derrotas. Não admira que seu orgulho tenha se inflado com tanto poder. Todos se ajoelhavam caindo a seus pés; dos humildes aos mais poderosos. Seu menor capricho era imediatamente atendido por aqueles que se encontravam ao seu redor. Hábil administrador, durante o seu reinado, foi um viajante incansável. Percorreu todo o império para examinar de perto as províncias e as reformas que necessitavam. Amante das letras e das artes, implementou uma profunda reforma na administração e em 131 editou um código de leis para ser aplicado em todo o império, uma compilação judicial que regeu o império até ao tempo de Justiniano. Abandonou as campanhas de Trajano na Mesopotâmia e adotou uma política defensiva, fortificando as fronteiras do Império Romano. Na Inglaterra mandou construir em 122 o Muro de Adriano, que marcou durante séculos a fronteira entre a Inglaterra e a Escócia para a defender dos povos do norte. Inspirado na cultura grega, embelezou Roma e o império com monumentos, mandou construir a Vila de Adriano, a ponte de Sant’Ângelo, o castelo do mesmo nome (que é o seu mausoléu). Ocupada a Bretanha (no século I d.C.), logo sentiram os Romanos a parada dura que representavam os habitantes do norte da ilha. Na sua política de consolidação e defesa das fronteiras, o Imperador Adriano visitou a ilha em 122 e mandou construir o tal muro fortificado - na verdade uma formidável muralha - desde Solway Firth até ao estuário do rio Tyne, para defender a Bretanha Romanizada. Com 120 km de comprimento, esta enorme obra foi concluída em 126 pelos próprios soldados, que construíam e combatiam simultaneamente. Originalmente era de madeira e terra, só se tornando de pedra mais tarde. Cada "centúria" era obrigada a construir a sua parte do muro. Este tem uma fundação de terra ladeada por um fosso de 4 m de profundidade. Sobre a terra, levantaram, assim, um muro em pedra, maciço, com cerca de 5 m de altura e 2,5 m de largura. Sobre ele seguia uma estrada militar, no sentido de facilitar as comunicações e os transportes, e 80 castelos com pequenas torres e fortins, onde se encontravam sentinelas. Ao longo do muro erguiam-se 17 fortalezas o que completava o sistema de fortificação fronteiriça do norte da Britannia. Imponente como era, a muralha ainda deixou para a posteridade uma curiosidade prática: A distância entre as rodas deixados pelos sulcos dos carros romanos na entrada do forte em Housesteads no muro de Adriano, serviram dois mil anos depois, de bitola-padrão, para as estradas-de-ferro britânicas. Adriano morreu em 138, em Roma. Seu corpo foi depositado num mausoléu, que veio a ser o castelo de Santo Ângelo, em Roma. Tão extraordinária foi a obra desse imperador que deu azo a criação do romance, MEMÓRIAS DE ADRIANO, de Marguerite Yourcenar, o qual recria a vida e a obra desse administrador e lhe dá uma alma, um lado humano que transcende o tempo e a história. O livro foca Adriano que, pouco antes de morrer, decide escrever uma longa carta-testamento ao jovem Marco Aurélio, o futuro imperador-filósofo. Nela Adriano passa em revista os principais episódios de sua marcante existência: a relação de afeto com a mulher de Trajano, Plotina; as campanhas militares em diversas regiões da Europa; as viagens à Ásia Menor; a paixão pela caça; as discussões filosóficas com os principais pensadores do seu tempo; as relações com Trajano, seu antecessor; e o casamento com Sabina. JAIR, Floripa 25/12/09.

sábado, 12 de dezembro de 2009

MINI CONTO (Último do ano)


UMA CEIA DE NATAL EM FAMÍLIA
Talvez nunca tenha se sentido tão equilibrada, tão calma e tão satisfeita desde que fora desenganada. O médico foi explícito e até impiedoso: carcinoma avançado, no máximo três meses de vida. Ninguém mais ficou sabendo. Agora, noite de Natal, todos os filhos e marido reunidos para ceia que ela fez questão de preparar. A família reunida para sempre é seu sonho de mãe e esposa dedicada. Por precaução, tudo, desde a salada até a sobremesa, passando pelo indefectível peru assado, contém doses cavalares de estricnina. JAIR, Floripa, 01/12/09.

O UNIVERSO À MINHA PORTA

As cidades brasileiras costumam ser caóticas, não obedecem uma lógica que facilite a vida do citadino, não são planejadas de modo a tornar a vida do homo urbanus fluida, racional. Há todo um emaranhado de bairros, ruas, logradouros, avenidas, viadutos, quadras, parques, praças, distritos e centros disso ou daquilo, distribuídos sem qualquer ordem perceptível. Bairros residenciais e centros ou ruas comerciais de produtos e serviços se misturam e intercalam numa incoerência de fazer inveja ao mais caótico mercado persa. Alguns aglomerados urbanos modernos como Brasília, por exemplo, tentam suprir essa falta de ordem constituindo áreas residenciais dotadas de acesso fácil aos serviços que a vida diária necessita. Mas tais cidades são exceção, a maioria continua uma bagunça generalizada. Contudo, essa falta organização pode ter um lado bom também, pode trazer facilitação para quem reside num centro mal enjambrado desses. Resido num bairro de Floripa que, como todo sítio urbano mais antigo, foi crescendo tendo um “comércio” como núcleo, donde foram irradiando ruas, vielas, avenidas e servidões com seus moradores em casas, apartamentos e pequenas chácaras. Ainda mais por se tratar de bairro situado no continente e “separado” do corpo principal da cidade que fica na ilha, o Estreito foi obrigado a se tornar auto-suficiente. Com o natural crescimento populacional e a consequente diversificação de demanda, a tendência foi a substituição de casas térreas e chácaras com seus extensos terrenos, por edifícios de apartamentos, ao mesmo tempo em que o comércio robustecia em variedade e quantidade. Foi assim que surgiu o edifício onde resido, o qual foi erigido no local onde antes era uma pequena chácara, propriedade de família tradicional no bairro. Quis a falta de planejamento urbano que o prédio surgisse no que se convencionou chamar “coração” do bairro. Assim, me vejo tão próximo aos serviços necessários à vida diária, que nem sequer necessito usar carro para locomoção, este permanece na garagem por dias, o mais das vezes, saindo de lá só quando o objeto a ser transportado é grande ou pesado demais.

Sem necessitar atravessar a rua tenho acesso a tantos serviços e bens que até fica difícil enumerá-los. Vejamos, estão disponíveis no quarteirão que resido as seguintes facilidades: Duas oficinas de carros,
uma igreja, um hotel, loja de celulares, chaveiro, peixaria, oficina de eletrodomésticos, salão de beleza, um banco, academia de ginástica, consultório de dentista, um pequeno restaurante, venda de máquinas de café, serviço de confecção de vídeos, estofaria e loja de acessórios marítimos. Vejam bem, nem sequer atravessei a rua e já posso cuidar da saúde bucal, das finanças, da alma, do corpo e de algumas necessidades domésticas e da mecânica do carro. Se me dignar a atravessar apenas uma única rua daí o universo se multiplica de modo extraordinário:
Farmácias, relojoarias, laboratório de análises clínicas, duas barbearias, outros restaurantes, outros bancos, empréstimo de dinheiro, loja de roupas, três bares e café, dois pontos de jogo do bicho, loja de móveis, um sebo, outra venda de celulares, atacado de utilidades domésticas, loja de bijuterias e outra estofaria. Além de uma grande loja de decoração e uma de roupas usadas, padaria, venda de artigos de umbanda, conserto de calçados, floricultura, um grande academia de ginástica, imobiliária e alguns outros serviços não computados. E atravessei apenas UMA rua, mas, se resolver andar cinco minutos a pé, praticamente todas as necessidades básicas estão ao alcance das mãos:


Três supermercados, pet shop, vários salões de beleza, mercado de frutas e legumes, várias lojas de calçados e muitas de móveis, algumas mais de roupas, dez bancos, ferragens, presentes, lanchonetes, bancas de revistas, vários pontos de bicho, materiais de construção, loja de próteses humanas, livraria e papelaria. Para finalizar, loja que vende tecido em metro, três farmácias, doces e chocolates, embalagens, quatro concessionárias de automóveis, treze restaurantes, uma churrascaria, correio, escola estadual, escola de informática, escola de dança, mais três igrejas, quatro clínicas médicas e muitos outros serviços, como advogados, contadores, cartório, pequeno shopping com sessenta lojas e até fórum de justiça. É um universo à minha porta, variado e nada desprezível. Quem aqui vive foi beneficiado com a desorganização reinante em nossas urbes, de modo que reside numa concentração anormal de meios, surgidos a partir de um núcleo inicial despretensioso, imagino. Costumo dizer, brincando, que a única coisa que aqui não está presente é um boliche, mas, para desmentir essa afirmação, descobri que a cinco minutos de carro existe uma casa de boliche sim. Daí, parece que o universo está completo, nada falta que se faça notar. JAIR, Floripa, 03/12/09.

PERGUNTAR NÃO OFENDE (3)



Excelso: é o cara que mudou de nome?
Excerto: é o cara que agora está errado?
Excitado: é o cara não mais mencionado?
Excrescente: é o cara que parou de crescer?
Expansão: é a barriga que diminuiu?

Expedidor: é o cara que deixou de ser mendigo?

Expensão: casa que deixou de ser hospedaria?

Experto: que foi para longe?

Expiador: pintinho que morreu?

Expirado: maluco que sarou?

Explanador: avião sem motor todo estragado?

Exposto: não mais colocado?
Expulsar: morrer?

Extenso: solto, frouxo?

Externo: roupa masculina muito danificada?

Extradição: deixou de ser costume de um povo?

Extrair: passar a ser fiel?

Extremado: é como tranquilo depois da mudança ortográfica?

Compadre: estar acompanhado de clérigo?

Compensador: acompanhado do Gabriel?

Sentinela: percebi na moça?
Centelha: casa descoberta?

Centigrama: percebi o capim?

JAIR, Floripa, 16/12/09.

SOBRE A IRRACIONALIDADE HUMANA



O comportamento do homo sapiens na face deste acolhedor Planeta, desde que deu as caras por aqui a menos de dois milhões de anos, tem sido a não deixar dúvidas que ele é uma excrescência animal que não se coaduna, como espécie, à vida que com ele compartilha a mesma biosfera. Tenho publicado aqui minha repulsa aos desmandos humanos como guerras, genocídios, massacres, agressões ao meio no qual vivemos, desprezo pelas demais espécies e tudo o mais que faz do homem o vírus maligno que, como os demais vírus, destrói a célula que o abriga, no caso, o Planeta terra que o acolhe. Parece que o homem, como um energúmeno primevo, se não está destruindo a Terra, está se autodestruindo. São inúmeros os meios utilizados para dar fim a própria espécie. Um dos meios de auto-extermínio que o homem usa deixou rastros sob o asfalto das ruas de Tóquio onde existe um deposito de restos humanos. Os operários que trabalhavam em Shinjuku, um movimentado e famoso bairro de Tóquio, em plena urbanização, ficaram horrorizados. A notícia dessa descoberta, ocorrida em 1989, varreu toda a cidade como uma grande onda. Incapaz de ocultar a verdade por mais tempo, o governo japonês viu-se obrigado a reconhecer o mais terrível segredo da Segunda Guerra Mundial. A poucos metros das obras, esteve localizado o laboratório do tenente-coronel Shiro Ishii, pai do programa de guerra biológica do Japão: a Unidade 731. As cobaias humanas empregadas em suas experiências foram transferidas da base da Manchúria para seu laboratório. No termino da guerra, os restos mortais destas pessoas foram enterradas em uma fossa comum e lá permaneceram ate ser descoberta em 1989. Durante 40 anos, as atividades da Unidade 731 foram o segredo mais bem guardado do Japão. Quando o Japão ocupou manu militari a Manchúria em 1932, essa área se transformou num gigantesco laboratório de guerra química e biológica. Esse era o trabalho de um cientista, o jovem médico tenente coronel do exército japonês, Shiro Ishii, micro-biólogo brilhante e nacionalista feroz. Alto, culto e descrito por colegas como dono de uma voz penetrante e de uma aparência hipnótica, Ishii logo ganhou a reputação de ser o cientista louco do exército. Naquele ano ele estabeleceu um laboratório para testes de campo de guerra biológica na Manchúria, próximo a Harbin, atualmente oitava maior cidade da China. No laboratório de Harbin, realizavam-se experimentos em cobaias vivas, nas quais se empregavam agentes químicos e biológicos. Nenhuma delas saiu de lá com vida. Se Ishii necessitasse de um cérebro humano para seu experimento, os seus guardas simplesmente iam às celas, escolhiam um prisioneiro e cortavam-lhe a cabeça com um machado. Assim como os nazistas, os japoneses também estavam convencidos de sua superioridade racial. Acreditavam que os chineses e coreanos eram subumanos e que os experimentos feitos com eles não diferiam, portanto, dos que usam macacos ou outros animais. De fato, nos relatórios sobre os experimentos, as cobaias humanas, eram chamadas de macacos e tinham especificada apenas a nacionalidade. Os chefes militares de Shiro estavam muito impressionados com os resultados de seu trabalho e, como recompensa, entregaram-lhe generosas verbas para desenvolvimento de um grande complexo de armas biológicas ultra-secretas em Pin Fan nas cercanias de Harbin. A construção ficou operacional em 1939, quando se tornou conhecida como Unidade 731, cujas dimensões rivalizavam com Auschwitz-Birkenau. A Unidade 731 mantinha laboratórios equipados com tecnologia de ponta e uma prisão com capacidade para duzentas cobaias humanas. As necessidades da equipe de três mil japoneses (inclusive quinhentos cientistas) eram atendidas com um auditório de de mil lugares, bares, restaurantes, bibliotecas, piscinas, escolas para crianças, um templo xintoísta e um bordel. Enquanto os trabalhadores se divertiam, pelo menos três mil seres humanos foram mortos nos experimentos realizados por Ishii e seus cientistas, que desenvolveram um arsenal diabólico de agentes patogênicos que incluíam cólera, tifo, disenteria, antraz, tétano e outras pragas, como a gangrena causada por gás e a varíola. As atrocidades cometidas nesse laboratório e em Harbin na busca de armas biológicas são comparáveis aos excessos dos cientistas nazistas, como Joseph Mengele. Em julho de 1942, Ishii conduziu pessoalmente uma campanha de guerra biológica contra a população chinesa. Além de coordenar a contaminação de poços com tifo, distribuiu chocolate com antraz para crianças. Os testes de campo de suas armas eram feitos com pessoas atadas em estacas. Agora, o mais impressionante, depois da guerra, nem Ishii nem seus colegas foram julgados pelos tribunais que se ocuparam dos crimes de guerras japoneses. As suas pesquisas biológicas em seres humanos transformaram-se em passaporte para a liberdade. No mais alto escalão em Washington foi tomada a decisão de oferecer imunidade a Ishii em troca de seus valiosos dados a respeito da efetividade dos agentes biológicos patogênicos. Ele se tornou uma parte fundamental do programa militar americano para a guerra fria. JAIR, Floripa, 14/12/09.

PERGUNTAR NÃO OFENDE (2)


América latina é um erro ortográfico?
Atleta que vence dopado é merdalhista?

Girassol, à noite giralua?
Catapulta é viatura para transportar prostitulta?
Para acabar com o corre-corre é necessário um pega-pega?

Vamos falar sério, e ouvir sorrindo?
Mil unidades é milhar, então bilhão de unidades é bilhar?
Politicamente correto é parlamentar que não falta às sessões do congresso?

Homem público é filho de mulher pública?

Filho de bicho-papão é bicho-papinho?
As águas do Titicaca são mal cheirosas?
Fazer corpo mole é deixar de ir à academia de ginástica?

Compras de última hora são feitas à meia-noite?

Inimigo público número um é goleiro criminoso?

Esporte radical é praticado por estudante de álgebra?

Fora de controle diz-se de TV com mudança manual de canais?

Mulah sem cabeça é religioso muçulmano decapitado?

Noite em claro é dormir com luz acesa?

Barbicacho seria um caso da boneca famosa?

Saldo positivo é cloreto de sódio do portador de HIV?

Pormenor novinho é crime contra criança?

Pornográfico é colocar dados num diagrama?

Apóstolo é depois do idiota?

Exportador é o sujeito que já não anda armado?

Centrado é o marceneiro que perdeu o arco de pua?

Ás no volante é um burro móvel?

Assassino é o sujeito que põe a campânula no forno?

Pormenor entregado é colocar adolescente no meio da boiada?

Guardanapos graduação seria um sentinela no ensino superior?
Guardanapo eira seria um sentinela envolta em pó?
JAIR, Floripa, 13/12/09.

A PERIGOSA BUSCA DA VIDA ETERNA

A fonte da juventude simbolizava a imortalidade no fabuloso reino das protociências antigas. Valia qualquer esforço humano para encontrar o que seria a cura de todos os males e, em consequência, viver para sempre gozando as delícias de um corpo jovem à prova de doenças e imune ao desgaste proporcionado pelo tempo. Na busca do mesmo sonho, os elementos preciosos, como o ouro, sempre exerceram um poder quase místico sobre as mentes humanas. O ouro, o metal que se parece com o sol e que nunca oxida nem se corrói, virtualmente eterno; no imaginário popular, prometia a quem o possuísse, não só a riqueza terrena, mas também a vida eterna. Os alquimistas empenharam-se durante séculos na busca infrutífera do segredo da obtenção desse metal. Eles acreditavam que aquele que descobrisse a pedra filosofal obteria a capacidade de acelerar os processos naturais através dos quais, segundo a tradição alquimista, os metais evoluem sob a superfície da Terra, desde o chumbo básico até o nobre ouro. A sua empreitada foi um tiro n’água, mas havia uma pepita de verdade na sua crença. Os elementos podem transmutar-se, tanto nos laboratórios quanto no interior da Terra, o que vem acontecendo desde a criação de nosso Planeta. O decaimento radioativo é um processo natural, espontâneo. Um átomo de isótopo radioativo irá espontaneamente decair em outro elemento através de processos que vão ocorrer normalmente, sem intervenção humana. A maioria dos núcleos de elementos pesados é instável. Isso quer dizer que suas configurações de prótons e nêutrons não são imutáveis, não são perenes. Por serem instáveis, esses núcleos sofrem transformações através da emissão de partículas alfa, por exemplo, e transmutam-se em outro elemento. Na fissão nuclear, conseguida tanto de elementos naturais como o urânio, quanto de elementos criados em laboratório como o plutônio, a energia é liberada pela divisão do núcleo normalmente em dois pedaços menores e de massas comparáveis. O urânio 235, por exemplo, ao ser bombardeado com um nêutron, fissiona em dois pedaços menores, emitindo normalmente dois ou três nêutrons e uma quantidade descomunal de energia. Se houver outros núcleos de U235 próximos, eles têm certa chance de ser atingidos pelos nêutrons produzidos na fissão. Se for muito grande o número disponível de núcleos, a chamada massa crítica de urânio 235, a probabilidade de ocorrerem novas fissões será alta, gerando novos nêutrons, que irão gerar novas fissões, é o que chamamos de reação em cadeia. Foi a fissão dos átomos de urânio e plutônio que proporcionaram as duas bombas que destruíram Hiroshima e Nagazaki, prova cabal dessa terrível verdade. Uma bomba atômica é isso, o resultado da transmutação de um elemento pesado em dois outros mais leves liberando energia que, descontrolada, pode constituir a mais destrutiva das armas já concebidas. Portanto, a conquista desse conhecimento, qual seja, de transmutar um elemento da tabela periódica em outro, não nos deu a chave da vida eterna, mas sim a possibilidade da destruição em massa da vida sobre a Terra, e, talvez, a morte eterna. JAIR, Floripa, 08/12/09.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

ABOBRINHAS


Prolixo é um sujeito que sabe que a terra é redonda e se aproveita disso para chegar onde quer, mas pelo outro lado.
Aiquimerdes revisitado: Um corpo mergulhado num líquido recebe um impulso debaixo para cima... e fica molhado.

No homem, idade provecta é aquela em que as mulheres não olham para seus atributos físicos, nem ligam para sua inteligência, só para a conta bancária.

Falem o que quiser, mas ao Sarney não falta coerência: quer coisa mais adequada que nomear funcionários fantasmas por atos secretos?

JAIR, Floripa, 13/12/09.

PERGUNTAR NÃO OFENDE (1)


Peixe gato caça peixe rato?
Tigre de bengala quando fica velho usa o quê?

Fêmea de peixe boi é peixe vaca?

Peixe boi tem chifres?

Ave do paraíso quando morre vai para onde?

Vaca sagrada acredita em Deus?

Monstro sagrado ao morrer vira santo?

Bicho-de-pé deita?

Pé-de-atleta ganha medalhas?

Aspirina cura dor de cotovelo?

Pica-pau é um pássaro ou dois palavrões?

Papai Noel é pai de quem?

Pé de vento calça sapato?

Vermelho vivo morre?

Maria-vai-com-as-outras volta com quem?

Pai de Santo é filho de quem?

O pão que o diabo amassou é integral?

Carro fúnebre é o que mata num acidente?

Carbono é matéria orgânica e fibra faz bem à saúde, então devemos comer fibra de carbono?

Pedólogo cuida de pés, então pedófilo gosta de pés?

Cabra cega é namorada de bode expiatório?

Temos a fruta do conde; E a do marquês? E a do duque?

Com quantos paus se faz uma canoa? E uma traineira? E uma escuna?
Quero-quero, quer o quê?
JAIR, Floripa, 10/12/09.

MINI CONTO


REFLEXÃO DO VELHO CASANOVA
Não havia razão para se queixar de nada que vivera até então. Setenta anos e contabilizava uma mocidade, vida adulta e vida madura plenas. Se não tivera todas as mulheres do mundo, pelo menos havia tentado. O que lhe dói, dói de verdade, é saber que agora as mulheres que se aproximam já não veem seus atributos físicos ou admiram sua inteligência sagaz, olham apenas sua conta bancária. JAIR, Floripa, 07/12/09.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

AO MESTRE MINHA HOMENAGEM


Creio que todos nós ao longo da vida escolar, profissional ou mesmo familiar temos nossos ídolos, nossos heróis, nossos gurus ou nossos mestres. Pessoas de nossas relações que pela inteligência, perspicácia, saber ou por algum outro atributo, nos conquistam, agregam algum valor a nossa vida, ou nos causam impressão duradoura. Na verdade, sem percebermos, de maneira implícita, nós procuramos nosso alter ego. É, talvez, parte da condição humana, projetar no outro aquilo que gostaria de ser. Lembro que meu primeiro mestre inesquecível foi o professor de geografia do ginasial, Arthur Orlando Klas, cujo, além de ótimo professor, conhecedor ilustrado da matéria, tinha uma inteligência aguda e uma visão futurística admirável, via o mundo cinquenta anos à frente com grande acuidade e sensatez. Fora ele, alguns outros amigos ou colegas assinalaram suas passagens em minha juventude e na faculdade à maneira de heróis e ídolos também. Mas, quero aqui homenagear o mais extraordinário mestre e guru, aquele que mais marcou minha vida profissional: um colega de trabalho, Rodolfo Rodrigues Barcellos, mente brilhante, inteligência ágil, interesses variados e conhecimentos enciclopédicos; dominava com segurança uma gama de assuntos, matérias e temas com a simplicidade que só os dotados de QI superior o fazem. Barcelos é um exemplo raro de pessoa, por causa da combinação de grande argúcia técnica com sua capacidade de resolução simples para problemas complicados. Tive a felicidade de compartilhar o mesmo ambiente de trabalho com ele durante uns bons oito ou nove anos, ocasião em que pude observá-lo como profissional e conviver como amigo com interesses comuns. O Barcellos era, assim como eu, um profissional de aviação, tínhamos a mesma formação, havíamos estudado nas mesmas escolas, mas, anos-luz separavam meus limitados conhecimentos acadêmicos de matérias e sistemas inerentes a aeronaves, das vastas e quase filosóficas informações que ele detinha sobre quase tudo. Além de ser respeitado no setor, era desenhista habilidoso, jogava xadrez com maestria, conhecia informática numa época que esta ainda era incipiente no país e possuía excelente ouvido para música; tocava vários instrumentos de cordas; e até cantava um pouco, além de ser um ótimo caráter. Possuía, além disso, um humor refinado e era autodidata no idioma inglês. Conversar com o Barcellos, qualquer que fosse o assunto, era enriquecer o acervo, era deliciar-se com a intimidade que ele abordava o tema e se fazia entender com simplicidade. Muitas vezes eu “puxava” um assunto qualquer só para instigá-lo, nunca me decepcionei, ele, como autêntico mestre que era, explanava com didatismo o tema e o aprofundava até onde meu interesse ou meu conhecimento permitiam-me acompanhá-lo. Fui seu discípulo, se não aplicado, pelo menos atento. Claro que suas habilidades e ideias nem sempre eram reconhecidas, ou recebiam a atenção que mereciam. Infelizmente, num ambiente de trabalho onde “ser” é mais importante que “saber”, o intelecto tem menos valia do que dragonas e postos. Muitas vezes acontecia que, o apedeuta chefe, do alto de seu majestático posto, determinava que assim fosse “por que estou mandando”, e lá se ia uma boa e proveitosa ideia para a lata de lixo das soluções não adotadas por emanarem de subordinados. Felizmente, portador de um estoicismo ingente, mestre Barcellos nunca se deixou abalar por estultices ecumênicas, tão comuns naquele ambiente no qual trabalhávamos. Para finalizar, quero compartilhar caso que ocorreu numa viagem a trabalho que fizemos juntos a Recife, um pouco antes de minha passagem da ativa para meus confortáveis chinelos caseiros. Devo dizer que aprendi jogar xadrez aos doze anos e que fui um jogador juvenil razoável, apenas isso, razoável. Nunca mais depois dos vinte e quatro anos de idade enfrentei qualquer adversário nas sessenta e quatro quadrículas, isso me rebaixou para o nível de capivara, de acordo com o jargão dos enxadristas. Já Barcellos, como disse no início, era um jogador criativo e um adversário imponente para qualquer um que o enfrentasse. Na referida viagem a Recife, estava o Barcellos sentado à mesa onde se encontrava um tabuleiro de xadrez já com a peças em posição, quando entrei no local. Convidado a enfrentá-lo em uma partida, num momento de pura idiotice aceitei. Ele costumava jogar com o computador e evoluía até o nível seis antes de perder, eu nunca passei do nível um. Iniciamos o jogo e, por sorte de principiante, lá pelo décimo oitavo movimento, para surpresa de ambos, venci com um xeque-mate improvável. Vejam bem, o discípulo infiel e meio bisonho deu uma rasteira no mestre que admirava. Que fazer? Barcellos colocou as peças em posição novamente, com toda razão querendo sair para uma nova partida, uma merecida revanche. NÃO, meu amigo! Nunca mais jogo contigo. Quero e preciso contar para os amigos comuns que ganhei de você, pode existir maior mérito? Nunca mais joguei com ele. Espero que ele tenha compreendido que eu necessitava de meu momento de glória. JAIR, Floripa, 05/12/09.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

MINI CONTO


ENCRUZILHADA

Sentia-se deslocado sentado no banquinho em meio a mecânicos de macacões cheios de graxa, mãos enegrecidas e falando palavrões enquanto tentam colocar peça renitente debaixo de um chassi qualquer. Concentrado, relia sua erudita tese sobre fusão de partículas e interação galáctica enquanto esperava seu carro ficar pronto. Em algum ponto os dois mundos se cruzam sem quem ninguém desconfie. JAIR, Floripa, 03/12/09.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

MINI CONTO


RÉQUIEM PARA NAGAZAKI
Missão cumprida. Bárbaros presunçosos de olhos claros que semearam, como mortalha sinistra, o maldito cogumelo sobre a cidade que dormia, com almas pesadas, impenitentes, a lhes torturar para sempre, seguem para o inferno de seus lares onde beijos dos filhos queimarão suas faces, comida de suas mesas lhes saberá amarga como fel e camas se tornarão inauditos tapetes de pregos. JAIR, Floripa, 07/12/09.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

MINI CONTO



MUNDO, VASTO MUNDO!
Havia nascido, crescido e se tornara adulto naquele vilarejo medíocre de casas frágeis, ruas confusas e horizontes apertados, sem eletricidade e sem estradas que o ligassem a outros lugares. Povoação distante da vida e de tudo que esta significa. Dali nunca se afastara e nada sabia do resto. Contudo, suspeitava, vagamente, que existia um mundo lá adiante, onde começava sua imaginação. JAIR, 28/11/09.

MISTÉRIOS DA ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO


Confesso que sou fissurado por dicionários, tenho nove. Pelo fato de que gosto de escrever e pretendo não atropelar com muita frequência o vernáculo, e quero tratar com carinho a última flor do Lácio, consulto suas páginas com bastante assiduidade, ou seja, todos os dias. Comumente mais de uma vez por dia. Há tempos me chama atenção nas placas e anúncios de serviços a palavra UNISSEX, às vezes grafada UNISEX. Sei que é uma adaptação, uma espécie de neologismo usado para indicar um serviço ou um objeto que pode ser usado por ambos os sexos, até o Houaiss registra. Contudo, se olharmos com atenção aos dicionários, verificamos que o termo é constituído do prefixo UNI que significa: anteposição latina que se refere a apenas um, único. As palavras, Unicelular, Unicolor, Unicórnio, Unidirecional, Uniforme, Univitelino que se referem a uma célula, uma cor, um chifre, uma direção, uma forma, um óvulo, dão provas suficientes para garantir que UNI é isso: Um, único, sem qualquer espécie de conotação desviante. Agora eu pergunto, se UNI relaciona-se a apenas UM, por que UNISSEX é usado para referir-se a DOIS sexos? Sem querer dar uma de Policarpo Quaresma, não seria mais lógico escrever AMBISSEX, ou coisa que o valha, quando se quiser dizer ambos os sexos? Essa é uma dúvida que me assalta e que não consigo explicar. Alguém se habilita a resolver esse mistério? JAIR, Floripa, 01/12/09.

MINI CONTO


A VINGANÇA É UM PRATO QUE SE COME COM PRAZER

Há muito descobri na roupa dele o perfume caro, longos fios de cabelos loiros, manchas de batom, recibos de motéis de luxo – todo o elenco de constantes e rotineiros casos amorosos. A última coisa que penso é arrastá-lo ao tribunal para denunciar a infidelidade. Antes, tratei de transferir o dinheiro do banco para meu nome, vender todas as jóias e obras caras e ficar com a grana apurada. Hoje, passagens para as ilhas Seichelles nas mãos, namorado já telefonou do aeroporto, não vejo inconveniente algum que o crápula tenha seus casos. Amanhã quando ele descobrir que está pobre e que me fui para sempre, talvez entenda. JAIR, Floripa, 27/11/09.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

MINI CONTO



PRÁ AMÉLIA NENHUMA BOTAR DEFEITO

Desde que levantou tratou de arrumar a cama, varrer a casa, esfregar, tirar pó, lavar banheiros, polir, limpar vidros, jogar lixo, lavar, secar e passar roupas, bater tapetes, aguar as plantas, dar comida ao peixinho dourado, limpar cocô do cachorro, ir ao supermercado, arrumar a geladeira, fazer comida (sem esquecer da sobremesa), não parou um minuto sequer. Para não desleixar a aparência, malhou na academia por duas horas, tomou banho, escovou e penteou os cabelos, cuidou das unhas e da pele, maquiou-se, perfumou-se, calçou meias e sapatos finos e colocou vestido adequado. Feito isso, checou se todos os detalhes estavam perfeitos, de acordo com a vontade dele. Cinco minutos antes dele chegar, acomodou-se silenciosa e imóvel num canto da sala, e, confundindo-se com a decoração, mimetizou-se em indistinta peça da mobília. Orgulha-se de ser a perfeita mulher-objeto. JAIR, Floripa, 22/11/09.

RESTAURE-SE A IGUALDADE OU ABANDONEMOS A CIVILIZAÇÃO


Recebi mensagem, - a qual, por ser extensa, reproduzo apenas parte abaixo - de um amigo gay reclamando da deturpação que se está fazendo do propósito do projeto de lei que quer acabar com a discriminação contra as minorias, entre elas, os homossexuais:
“Você é a favor da aprovação do projeto de lei (PLC 122/2006) que pune a discriminação contra homossexuais?” Desde que a enquete apareceu no site do senado, faz umas semanas, evangélicos de todo o país iniciaram uma cruzada via internet, pelo direito de ofender pessoas que namoram pessoas do mesmo sexo. Uma senhora chamada Rosemeire, por exemplo, expondo num blog seu temor de que a lei seja aprovada, disse que vivíamos “O início da Ditadura Gay no mundo!”. Se você acha que Rosemeire exagerou, é porque não leu o blog de Rozângela Justino, cristã, psicóloga e indignada: “Se este Projeto (palavrão impublicável) for aprovado, estaremos institucionalizando em nosso país o sistema de castas e todos aqueles que não forem homossexuais serão considerados cidadãos de segunda classe.”

Minha Opinião:
Caros,

Enquanto existirem pessoas como essas Rosemeires e Rozângelas Justino, o mundo será um pouco mais pobre, bem mais injusto e totalmente alheio aos verdadeiros valores que devem nortear nossas vidas, como honestidade, respeito ao próximo e solidariedade, por exemplo. Quando julgamos as pessoas pelas suas preferências sexuais, pela cor da pele ou pela orientação religiosa estamos mostrando a pior face do ser humano, aquela que julga que uns são melhores que outros. Já vimos isso na Alemanha nazista e o resultado todos sabemos. Não sou homossexual, mas entendo que somos todos iguais e devemos ter o mesmo tratamento, quaisquer que sejam nossas opções. Não consigo compreender que em pleno século XXI possa existir gente indo contra a corrente histórica que deve nos conduzir para um mundo melhor, onde a igualdade será a cláusula pétrea que alicerçará a sociedade. Abraços, a todos, JAIR. Floripa, 27/11/09.

sábado, 21 de novembro de 2009

MINI CONTO



É NATAL NO SHOPPING CENTER
Consegui! Graças à minha barba espessa e branca fui contratado. Até me aconselharam colocar enchimento na barriga para parecer mais gordo. Ótimo! Domingo estarei ilhado por dezenas de pais, mães e seus malditos rebentos. A carnificina que seguirá a explosão da bomba em minha cintura, tenho certeza, será cinematográfica. SANTA KLAUS, Natal de 2009.

MINI CONTO


INFINDÁVEL CURIOSIDADE
Oito ou mais horas por dia, de sol a sol, trabalho bruto e cansativo que se repete todos os dias e todas as horas; semanas e meses consecutivos, sempre. Cavar buracos de certa dimensão que devem acolher corpos daqueles que, por algum motivo, deixaram esta atribulada existência terrena. Coveiro por necessidade, a morte lhe proporcionava os meios de vida. Os infindáveis desfiles de cadáveres que sumiam nas covas que cavava, não lhes eram indiferentes, faziam-no pensar, sentir-se curioso. Para onde iam? O que lhes esperava além? Seriam felizes? Estarão melhores lá, do que eu aqui? A curiosidade e o cansaço convenceram-no. Deitou-se na cavidade que acabara de criar e deixou-se cobrir de terra. JAIR, Floripa, 21/11/09.

MINI CONTO


LINHA DIRETA PARA O COLO DO CAPETA
Iníquo, mau cidadão, marido infiel, gatuno ardiloso, foi alçado do anonimato por outro homem público, este maculado pelas falcatruas mais abjetas, ladravaz impune; seguiu-lhe os passos; refugiou-se na política onde as leis da vala comum não se aplicam; onde a impunidade é linha mestra que conduz homens da aviltante pobreza ao pináculo das fortunas não explicadas; onde existe uma zona cinzenta de desonestidade que é moeda de troca entre mãos sujas. Cometeu os maiores roubos do dinheiro dos contribuintes; rapinou verba que seria empregada em hospitais, salvaria vidas; praticou pilhagem obscena do erário público; amealhou milhões; enquanto pilhava, escarneceu da sociedade e colocou-se acima das leis dos homens, zombando também das regras divinas. Arrogante, julgou-se imortal e intocável. O câncer, às vezes instrumento de justiça invisível e cruel, corroeu-lhe as entranhas e conduziu-o ao inferno, onde deverá queimar para sempre. JAIR, Floripa, 21/11/09.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

MINI CONTO



REFLEXÃO FINAL
Sentado na pedra à beira do deserto, sentia-se compelido a refletir sobre sua vida tão curta ainda, e prestes a findar em algumas horas apenas. Sacrifício extremo a que se expunha em nome de ideologia que lhe fora empurrada goela abaixo, e que não digerira o suficiente para entender: “Quando explodisse junto às pessoas que estavam condenadas por não partilhar suas crenças, iria para o paraíso, isso ele entendia. Mas, e essas pessoas? Elas também têm uma crença; elas acreditam que ao morrerem suas almas vão para o céu, e lá serão felizes. Então, se eu eliminá-las, estou, na verdade, causando-lhes um bem; estou lhes concedendo a oportunidade de viverem no paraíso como desejam. Se meu gesto, como me foi ensinado, é de vingança, é para lhes causar mal, não vejo como pode ter sentido matá-las”. Foi seu último pensamento antes de premir o detonador da bomba afixada em seu corpo. JAIR, Floripa, 20/11/09.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

MINI CONTO


DECEPÇÃO NO HIPÓDROMO
A megera mostrara o tufo de pêlos afirmando tratar-se de pêlos do animal castanho, de nome Glifo, que competiria no quarto páreo. Verdadeira barbada, afirmava ela. O DNA não deixara dúvidas, era, de longe, fisicamente o melhor cavalo; o que reunia as melhores condições genéticas do hipódromo deste, ou de qualquer outro dia. Acreditei nela, apostei tudo e perdi. Perdi porque havia acreditado no resultado da análise daquele tufo de pêlos que, no fim, mostrou-se apenas barbada velhaca dela, aquela desnaturada. JAIR, Floripa, 18/11/09.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

MINI CONTO


JUSTIFICANDO
Não consigo entender, sei que tenho feito o que é preciso, tenho cumprido a incumbência divina que me foi confiada, no entanto, a polícia e a imprensa não estão percebendo o belo resultado de meu desempenho, vejam estas manchetes: “JÁ SÃO ONZE AS VÍTIMAS DO SERIAL KILLER”, “POLÍCIA PROMETE PRISÃO PARA BREVE!”. Parece que eles se referem à outra pessoa, a outros fatos, porém, é de minha pessoa que eles estão falando! Quando volto para casa, para meus filhos e minha mulher depois do trabalho, às vezes, fico tentado a gritar para o mundo: “Será que vocês não percebem? Afinal eram apenas Freis Dominicanos, gente que não merecia viver!” JAIR, Floripa, 17/11/09.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

VAMOS PARAR COM AMADORISMO MINHA GENTE!



ou
(No Brasil o achismo é uma ciência exata)


O Patropi é um país no mínimo estranho. Desde a imprensa até as autoridades, passando pelos cidadãos comuns, sejam quais forem, não dão o tratamento devido aos acontecimentos, fatos e eventos, não se preocupam em encontrar explicação ou justificativas profissionais e sérias para ocorrências que, por sua magnitude, efeitos ou importância, tragam algum prejuízo para a população. O que se vê é improviso e amadorismo, sempre. Quando ocorre um fato de repercussão nacional, lá vêm os políticos e os “especialistas” em isso ou aquilo dar explicações, o mais das vezes estapafúrdias, sobre o ocorrido. É assim quando de um desastre aéreo, ou enchente, ou ainda falta de energia que atinge muitas cidades, por exemplo. Agora, com o chamado apagão desta semana, não foi diferente. Lá vem um tal de ministro Lobão, um incompetente de carteirinha, explicar por que houve o tal desligamento; lá veio uma tal ministra ou qualquer coisa, Roussef, com jeitão de professora primária, explicar didaticamente o que teria havido; lá vieram alguns deputados e senadores tanto da oposição como do governo, explicar exatamente o ocorrido, sendo que de acordo com a posição política de cada um a explicação era diferente, contraditória mesmo. Minha gente! Vamos parar com amadorismo! Fatos importantes e ligados ao mau funcionamento de alguma coisa, seja de linha de transmissão, de usina, de condição meteorológica ou do caralho a quatro, SEMPRE existe um TÉCNICO ESPECIALISTA responsável e profissional que SABE. Sempre haverá uma explicação técnica e profissional aceitável! SEMPRE! Não existe necessidade de Lobos, Roussefs, políticos e administradores virem à televisão falar besteiras! O público está com o saco cheio disso! No caso do apagão, o que o Lobo mau deveria fazer era ligar para o engenheiro responsável lá de Itaipu e solicitar uma explicação técnica por escrito e, se quisesse, ler o comunicado na televisão. E não ficar, frente às câmeras, exercendo o achismo como se ciência exata fosse. Garanto que teria satisfeito a imprensa e o público, e teria consumido menos paciência nossa. Vamos parar com amadorismo, afinal é urgente que o Brasil finja que é um país sério, pois tem que se preparar para os Jogos Olímpicos de 2016! JAIR, Floripa, 13/11/09.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O SUPER VIRA-LATAS


Desde que o homem, provavelmente há mais de dez mil anos, domesticou o lobo asiático, convive com seus descendentes seja na forma de raças (selecionadas geneticamente) novas ou da raça original adaptada ao meio humano. O Dingo (Canis lupus dingo), canideo que vive no meio selvagem australiano, provavelmente é um cão doméstico que foi revertido para o estado selvagem há milhares de anos e hoje vive em grande parte independente dos seres humanos, na maioria de sua distribuição. Os Dingos são considerados os únicos grandes mamíferos placentários da Austrália, além dos seres humanos, e parecem semelhantes aos cães domésticos, mas sua adaptação ao meio selvagem é de tal ordem que considerá-los nativos não é estultice. Também sua origem ainda é assunto em aberto e sob muita especulação e debate desde o século 18. No entanto, estudos arqueológicos indicam sua introdução foi relativamente tarde, por volta de 5000 anos atrás, e há uma estreita relação com outros cães domésticos. Uma teoria amplamente aceita diz que dingos evoluíram ou foram criados a partir do lobo asiático em torno 6,000-10,000 anos atrás, teoria também aceita para todos os demais cães domésticos. No entanto análises genéticas indicam uma domesticação muito mais cedo. Dingos têm uma cabeça relativamente grande, um focinho pontudo, e orelhas eretas, mede em torno de 52-60 centímetros de altura nos ombros e o macho adulto chega a pesar 27 quilos. Os machos são normalmente maiores e mais pesados que as fêmeas da mesma idade. Sua pelagem é geralmente amarela, podendo variar de marrom avermelhado até o quase branco. As pernas são cerca de metade do comprimento do corpo e da cabeça juntos. Como todos os cães domésticos, os Dingos tendem para uma comunicação fonética, a a diferença é que eles usam principalmente gritos e choramingos e latem com menos freqüência do que outros cães. Foram registrados, oito classes de sons com 19 variações usadas em ocasiões diferentes. Dingos vivem hoje em todos os tipos de habitats, incluindo a coberto de neve florestas montanhosas do leste da Austrália, secos desertos quentes da Austrália Central, e as zonas úmidas de florestas tropicais do norte da Austrália. Alimentam-se de insetos, répteis, aves e mamíferos que normalmente caçam. Hoje, o Dingo é considerado como parte da fauna nativa da Austrália pelos ambientalistas, bem como os biólogos, especialmente porque já existiam no continente antes da chegada dos europeus, e uma adaptação mútua dos cães ao meio e deste aos cães havia ocorrido. No entanto, há também a opinião contrária, que dingos são apenas outro predador originário da Tailândia. Entretanto, sejam quais forem sua origem, idade de domesticação ou descendência, o que se tem que admitir é que são animais extremamente adaptados a um meio inóspito que não perdoa fraquezas e vacilos. O out back australiano, deserto vasto e hostil, não permite que sobreviva qualquer ser que não seja, pelo menos, particularmente resistente, tenaz e adaptável. A falta de água, a escassez de abrigos e a inclemência do clima selecionam as espécies, deixando que sobrevivam apenas as melhores. Considerando que vira-latas é aquele cão sem raça definida que se adaptou a viver e reproduzir-se com sucesso nas piores condições possíveis, o Dingo pode ser considerado um um super vira-latas. JAIR, Floripa, 12/11/09.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

NEOCOLONIALISMO: IMPERIALISMO RECICLADO


Até historiadores concordam que é muito difícil definir em que consiste o imperialismo; quais características lhe são imanentes e que determinam sua aparência, sua figura. Contudo, sob variadas formas, é algo que sempre existiu no decorrer da história da humanidade; e a ele a sociedade moderna, em particular a capitalista, incorporou novas formas específicas. Não sem propósito, o capitalismo americano tornou-se o principal expoente da modalidade não transparente nem direta que veio a ser conhecida como neocolonialismo. Este jeito de fazer, digamos oblíquo, contrasta de modo muito marcante com o método anterior, particularmente agressivo, representado pelos impérios europeus que anexavam e ocupavam territórios, sujeitando seus povos a controle direto, a mais das vezes através de violência e submissão. De qualquer forma, e a despeito das diferenças, ambas as modalidades partilham de objetivos comuns. Falando de maneira bem genérica, e levando em conta que qualquer que seja a relação entre a força econômica e as demais forças que operem como causas de domínio, o imperialismo, e, por extensão, o neocolonialismo, hoje se expressa pela coerção exercida por uma potência, por quaisquer meios, para auferir lucros ou vantagens além dos que são lícitos ou normais pelas simples troca comerciais, de resto, esperáveis entre duas nações livres e soberanas. Sob esse ângulo, o neocolonialismo pode ser visto como uma continuação ou uma intensificação, dentro da era capitalista, da compulsão do maior ganho possível com o menor custo, que constituiu a marca registrada dos domínios feudais, por exemplo. Ainda mais, quando uma nação abriga entre seus construtores, um pensador que se assim expressou: “Deus predestinou, assim a humanidade espera, um papel grandioso à nossa raça, e percebemos coisas grandiosas nas nossas almas, a vanguarda das nações, por direito, deve nos pertencer”, é de se esperar que essa nação queira exercer o “direito” divino que lhe foi autorgado. Em outras palavras, o resto da humanidade é considerado apenas matéria prima passiva, argila a ser moldada pelas mãos do oleiro ungido. Numa compreensão mais básica, o resto do mundo é o pomar onde o Império pode colher sem culpa os frutos que são seus de direito. Essa pressuposição de superioridade, provavelmente um legado do Império Britânico, é o que move os colonialistas modernos rumo ao domínio do Planeta. Na verdade, esse imperialismo que repudia o próprio nome, apresenta a face escanhoada e inocente do comércio vantajoso (para eles, é claro) em substituição ao esbulho praticado pelos impérios europeus anteriormente. Quando Bush invade países sob a falsa alegação de insegurança do ocidente por causa de possíveis armas de destruição em massa, está apenas exercendo o direito divino de fazê-lo, não há contradição no ato nem pudor pelos resultados, está escrito nas estrelas que assim deve ser feito. Que o domínio do petróleo existente na porção invadida seja o mote da agressão, não precisa ser dito nem nas entrelinhas; o dono do bem não necessita provar a propriedade, basta-lhe tomar posse. Os EUA, depois do término da guerra fria, se sentem ainda mais livres para exercerem o que consideram autorga divina irrestrita e intransferível: praticar o neocolonialismo, sua forma predileta de imperialismo reciclado. JAIR, Floripa, 11/11/09.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

TIRANDO LEITE DE PEDRA




Um dos mais populares programas de TV dos anos 90 foi “Seinfeld”, conhecido como "o programa sobre nada". A maior parte da comédia é baseada em fatos corriqueiros do dia-a-dia com pontos de vista um tanto excêntricos ou afetados adotados pelos personagens que, no mais, são pessoas comuns que reagem com exagero a coisas cotidianas. Fatos comuns, como problemas com o porteiro do condomínio, a compra de jornal na banca, a ida à lavanderia, a disputa por uma vaga para estacionar o carro ou as conversas sobre os assuntos mais banais, se tornam temas engraçados se explorados com talento. O sucesso do programa se deve a exatamente isso: se nada ocorre, é inusitado, pode ser engraçado, diferente. No fundo, e como seus criadores gostam de ressaltar, “Seinfeld” é “uma série sobre o nada”. Isto é, nada de especial acontece para provocar as situações engraçadas que surgem. O programa rendeu milhões de dólares a seus criadores Jerry Seinfeld e Larry David e dele foram gravados 180 capítulos que são exibidos até hoje, inclusive na televisão brasileira. Pois é, “Seinfeld” é um exemplo midiático de “como tirar leite de pedra” e, com isso, ficar rico. Na Patropi não temos exemplos de gente enriquecendo ao explorar o nada, a exceção de, talvez, o escritor de mega sucesso Paulo Coelho, mas isso são outros quinhentos. Contudo, como vivemos num país meio que surrealista, mesmo não acontecendo nada de novo, de estranho, de anormal, se vários fatores se conjugarem podemos ter um fenômeno mundial. Querem ver?: Usar vestido curto é novidade? Estranho? Ofensivo? Sob qualquer ponto de vista a resposta é NÃO. Até em igrejas se usam vestidos curtos e nada de mais acontece. Pois é, a garota usou um mini vestido para ir às aulas numa universidade e foi vaiada e ofendida por colegas. Logo numa universidade, ambiente que, supostamente, deve imperar certo clima de tolerância; onde cabeças arejadas devem predominar. Contudo, por vergonhoso que seja admitir, a guria fora vítima de um odioso “Bulying”: “O termo bullying compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder. Portanto, os atos repetidos entre iguais (estudantes) e o desequilíbrio de poder são as características essenciais, que tornam possível a intimidação da vítima”. Até aqui, embora a jovem tenha sido constrangida, ainda estava tudo sob controle, se nada mais se fizesse nada aconteceria, não haveria mortos nem feridos. Vai daí que alguém filmou com o celular a humilhação da colega e colocou na internet. Outra vez, o conhecimento público do nada expôs a estudante, só que agora esta exposição lhe concedeu, - como Andy Warhol previu que aconteceria, - quinze minutos de fama. A moça está no lucro e, novamente, se nada mais se fizer, o nada acontecido morre de inanição, nunca mais se fala nisso e, talvez, se a protagonista não for uma baranga juramentada, ela acabe posando para uma revista masculina e ganhando muito dinheiro. Acontece que a imprensa, talvez por falta de assunto, resolveu “tomar as dores” da ofendida, e deu destaque ao nada em manchetes e chamadas nos horários nobres. Era o que faltava para o nada ganhar fôlego. Advogados oportunistas, feministas iradas, analistas comportamentais cheios de empáfia e os mais diversos “especialistas” em psicologia das multidões passaram a dar entrevistas e fazer análises estruturais eruditas a respeito do nada. O nada se viu robustecido e ficou se achando. Autoridades, a UNE, o clero e a própria universidade se viram obrigados a pronunciarem-se sobre o nada. Agora o nada ganhava status internacional, “Times”, “Washington Post”, “The Gardian” davam destaque ao nada. Nada tinha acontecido no Brasil e alguém precisava dar explicações. A universidade foi a primeira a tomar providência: expulsou a estudante. O nada tinha feito sua primeira vítima. Só que, ao contrário do que se esperava, o nada voltou com mais força. Por que expulsar a inocente garota que só queria mostrar as pernas? Abaixo o excesso de autoritarismo! Fora reitor! Exigimos sua (da estudante) volta! O nada estava ativo, vociferante, indignado e exigente, não podia ser calado. Que fazer? A universidade voltou atrás, a moça entrou na justiça, a mídia não se calou e advogados de parte a parte estão faturando. Todos ganham. Notoriedade, venda de jornais, espaço na mídia, clientes, fotos, entrevistas, seminários, encontros e debates, tudo isso veio no rastro da barra do mini vestido da moçoila. Viu? Não somos Jerry Seinfeld, mas quando se trata de “tirar leite de pedra”, somos campeões: Deem-nos um pitadinha de nada e construimos uma pirâmide de fazer inveja a Quéops. JAIR, Floripa, 10/11/09.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

E O IMPÉRIO AMERICANO VAI BEM, OBRIGADO.



Os grandes impérios tinham por característica constituírem colônias em países e nações ocupados, geralmente depois de guerras de conquistas bem sucedidas, ou de "descobrimentos" seguidos de desembarques nem sempre pacíficos. Foi assim com os impérios: português, espanhol, britânico, francês, otomano e todos os demais, a exceção do americano. Este, de modo sintomático e compreensível, sempre preferiu estados-satélite ou protetorados a colônias formais, exemplos: Filipinas, Porto Rico, Ilhas Virgens Americanas e Cuba, (esta apenas até 1959, ano em que Fidel derrubou Batista e tornou-se ditador vitalício) incorporados ao império após guerra com a Espanha em 1898, sem contar que o Panamá foi “criado” a partir da Colômbia em 1903, só para satisfazer o desejo americano de construir um canal que ligasse o Atlântico ao Pacífico. Ao contrário das colônias tradicionais que compulsam o uso de manu militari para manter a ferro-e-fogo governos títeres sem representação, e completa submissão a seus patrões, estados-satélite e protetorados são versões mais "light" de colônias, porquanto permitem governos autônomos, constituições próprias, alguma autodeterminação e certa autonomia administrativa e econômica. Entre os problemas que se encontram neste tipo de território controlado estão o alinhamento automático político-militar e, muito mais importante, o atrelamento cultural e consumista à matriz: "O que é bom para os EUA, é bom para...". A primeira guerra mundial converteu os EUA numa potência. O fato de o país estar geograficamente distanciado do conflito e, ao mesmo tempo, engajado econômica, militar e politicamente ao lado dos vencedores, deu aos americanos oportunidade de desenvolvimento e influência econômica desmedida e potencialmente vantajosa. Depois da segunda guerra, - ocasião em os Estados Unidos, mais uma vez, havia desenvolvido suas indústrias a serviço dos aliados vencedores – o país se viu envolvido na chamada Guerra Fria, em que o “outro lado” impunha limitações ao expansionismo tácito que era seu “destino manifesto”, segundo o pensamento de William H. Seward, secretário de Estado de Lincoln, que pressionou o Congresso Americano para comprar o Alasca da Rússia. O destino manifesto e a força econômica americana, contudo, impuseram um expansionismo do império na Europa, no Japão e ilhas do Pacífico, onde bases militares floresceram e o American way of life virou referência para as nações ocupadas. Além disso, o Plano Marschall, um oportuno aprofundamento da Doutrina Truman, conhecido oficialmente como Programa de Recuperação Européia, foi o principal plano dos EUA para a reconstrução dos países aliados da Europa nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial. Claro que, ao lado da ocupação militar e da recuperação estrutural das indústrias, toda uma ideologia capitalista e um modus vivendi americano eram impostos implícita e compulsoriamente aos cidadãos. Mac Donald, Coca-cola e Wall Mart são só alguns exemplos. Com o fim da Guerra Fria, os óbices que limitavam a influência americana no mundo ruíram como havia ruído o muro de Berlim. Numa tese bem ao do gosto dos anunciadores da pós modernidade, Francis Fukuyama, filósofo nipo-americano, proclamou o “fim da história”, ou seja, o triunfo universal e definitivo do modus operandi político e econômico da sociedade capitalista. Não mais haveria dois pólos ideológicos puxando brasas para suas respectivas sardinhas, as chamadas “zonas de influência” deixavam de existir e, onde a cortina de ferro havia caído, uma terra ninguém ávida por provar o gostinho do capitalismo temperado com democracia, havia surgido para o júbilo dos neo expansionistas americanos. Ao mesmo tempo, a formidável e insuperável superioridade militar dos EUA e sua liberdade de ação após a desintegração da União Soviética encorajaram uma ambição desmedida num estado grande de poderoso o bastante para acreditar-se capaz de dominar o Planeta incontestável e cabalmente, coisa impensável para o Império Britânico, mesmo em seus tempos áureos. E, de fato, no início deste século, os Estados Unidos ocupavam uma posição histórica única e sem precedentes de poder e influência globais. No momento, levando em conta critérios tradicionais de política internacional, são a única grande potência; são hegemônicos. Todas as grandes potências e impérios da história sabiam que não estavam sozinhos, e nenhum deles almejava genuinamente dominar o mundo. Conheciam suficientemente de história para estarem cientes da impossibilidade do sonho. Mesmo o império chinês em seu auge estava ciente da possibilidade de ser conquistado e desintegrado, de assistir a queda de suas dinastias. No quadro atual, talvez não surpreenda que os políticos americanos sejam tentados pela ilusão de onipotência. A “nova ordem mundial” no período pós Guerra Fria parece ser uma hegemonia americana ampliada, ainda que seus detalhes não estejam claros. Mesmo a custa de sapatadas, as guerras de Bush indicam claramente que o momento é propício para o Império Americano colocar o pé definitivamente em locais onde antes não seria possível pela “ordem mundial” então vigente. E o Império Americano vai bem, obrigado. JAIR, Floripa, 06/11/09.

domingo, 1 de novembro de 2009

TERCEIRA GUERRA MUNDIAL. INEVITÁVEL?


Ao longo da história da humanidade as famílias, os clãs, as tribos, os povos, as nações, os países e os blocos religiosos, ideológicos e políticos estiveram mais tempo envolvidos em guerras, disputas, campanhas bélicas, revoluções e matanças, do que em paz. Registre-se que nos últimos dois mil anos apenas duzentos e cinquenta foram totalmente de paz, sem quaisquer lutas entre os homo sapiens.
Os motivos que levaram os homens às armas contra seus semelhantes foram os mais variados e, de certa forma, evoluíram desde prosaicas rixas envolvendo pessoas exaltadas de uma família e outra em torno de paixões entre seus membros, tipo Romeu e Julieta, até guerras mundiais onde a conquista de nações por outras estava no centro do conflito. Paralelo ao desenvolvimento da urbe e das organizações políticas mais complexas como as nações, as armas envolvidas nas lutas também evoluíram de simples pedras e paus, passando pelo arco e flecha, lanças, bestas, bacamartes, canhões e bombardas, até modernas metralhadoras, mísseis inteligentes de multiogivas, aviões e navios bélicos e artefatos nucleares. evidências que nos primeiros ajuntamentos humanos como tribos ou vilas as disputas surgiram por causa de rapto de mulheres, bordunas e paus aguçados a guisa de lanças serviam de armas que feriam e, eventualmente, matavam. Depois, aconteceram litígios por acesso a terras férteis ou de caça abundante, onde arcos e flechas seriam usados. Mais tarde surgiam questões econômicas e de poder que levavam principados, feudos e reinos a se envolverem em guerras mais extensas, com armas mais sofisticadas e mortíferas e exércitos bem formados. Os grandes impérios – mongol, persa, romano, britânico e otomano - se constituíram a partir de guerras de conquista, invasão de reinos e países que eram anexados ao poder central.
No século dezenove as guerras napoleônicas e a consolidação de alguns países da Europa central, definiram o largo emprego de artilharia pesada e cargas de cavalarias entre potências no século vinte, as duas grandes guerras que envolveram mais da metade dos países do Planeta, foram motivadas por desmedidas ambições territoriais e oposições ideológicas, misturadas com questões econômicas, nacionalismos exacerbados e escassez de matérias primas, e fizeram uso das mais modernas tecnologias em armas convencionais, além do emprego de duas bombas nucleares. A chamada “Guerra Fria” que seguiu após o segundo conflito mundial, era consequência de ideologias antagônicas que dividiram o mundo em áreas de influências e colocavam-se em campos opostos sob quaisquer pretextos, mantendo as populações em suspense porque ambos os lados detinham (ainda detêm) poder atômico capaz de dizimar toda manifestação de vida do Planeta. O petróleo, as religiões e o domínio de territórios foram os maiores motivadores das subsequentes guerras locais até o presente século.
Segundo analistas futurólogos, não há evidências de que num futuro próximo surja no horizonte um novo conflito de
proporções planetárias motivado por questões como petróleo, religião, ideologias, fontes alternativas de energia, conquistas territoriais ou escassez de matérias primas, mas, quando o assunto é ÁGUA, o cenário muda de figura.

Vivemos num mundo em que a água potável se torna um desafio cada vez maior. A escassez de água no mundo é agravada em virtude da desigualdade social e da falta de manejo e usos sustentáveis dos recursos naturais que não progridem na mesma proporção do crescimento populacional. Além disso, numa dicotomia perversa, as regiões do globo menos desenvolvidas – onde, evidentemente, se consome menos - como a África, a América Latina e partes da Ásia, detêm a maior quantidade de água doce, em detrimento de regiões desenvolvidas que consomem mais e têm menos reservas naturais do precioso líquido. Também, por ironia histórico geográfica, as regiões onde o petróleo abunda a água escasseia; riqueza oriunda do petróleo significa pobreza de fontes aquíferas, quase sempre. Na Venezuela, país grande produtor de petróleo, a água mineral em garrafas é de dez a vinte vezes mais cara que o preço de um litro de gasolina. Israel, Jordânia e Palestina: 5% da população do mundo sobrevivem com 1% da sua água disponível no Oriente Médio, nesse contexto ainda há a guerra entre árabes e israelenses. Isso poderia contribuir para crises militares adicionais enquanto o aquecimento global continua. Israel, os territórios palestinos e a Jordânia necessitam do rio Jordão, mas Israel controla-o e corta suas fontes durante as épocas de escassez. O consumo palestino é então restringido severamente por Israel. De acordo com números apresentados pela ONU, fica claro que controlar o uso da água significa deter poder.

As diferenças registradas entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento chocam e evidenciam que a crise mundial dos recursos hídricos está diretamente ligada às desigualdades sociais. Em regiões onde a situação de falta d'água já atinge índices críticos de disponibilidade, como nos países do Continente Africano, onde a média de consumo de água é dez a quinze litros por pessoa. Já em Nova York, há um consumo exagerado de água doce tratada e potável, onde um cidadão chega a gastar dois mil litros por dia.

Então, é quase compulsório inferir que os ricos que consomem muito mais e têm pouca água se voltarão para as regiões de fontes abundantes. Guerra pela posse água potável é uma possibilidade aterradora e bastante real dentro de uma ou duas gerações, principalmente levando em conta que aqueles que detêm poder nuclear são, justamente, os que mais consomem e menos tem acesso às fontes disponíveis de água de boa qualidade e barata. JAIR, Floripa, 29/10/09.