sábado, 28 de fevereiro de 2009

CAPIVARAS NO ASFALTO


A respeito do comentário do Joel ao meu texto sobre o jacaré, o que surpreende é a obstinação que tem a vida em continuar se mantendo a despeito das múltiplas condições adversas as quais, dentro do que supõe a ciência, tornam impossível sua existência. O homem, na sua arrogância e egoísmo, deteriora ou ocupa todos os ambientes possíveis de modo a torná-los extremamente hostis ou inabitáveis para os demais seres, animais ou vegetais. Assim, os seres que não se extinguem ou não se mudam têm que se adaptar aos novos ambientes criados por esse concorrente irracional e covarde. São Paulo, a maior metrópole do país, é exemplo claro dessa lambança humana e da versatilidade que as demais espécies são obrigadas a ter para não sumirem da face da terra. O Tietê é considerado um dos mais poluídos rios do planeta e, no entanto, além de jacarés que, vez ou outra lá são encontrados, também é habitado por capivaras e sou testemunha desse fato. Não longe do aeroporto de Guarulhos existe um pequeno riacho, chamado rio Jequié, que é tributário do Tietê e, como tal, é tão poluído como ele. Pois bem, sobem pela calha desse riacho CAPIVARAS, (Hydrochoerus hydrochoeris) famílias numerosas delas, vindas, comprovadamente, do Parque Ecológico do Tietê, às suas margens ali perto. Como próximo ao aeroporto existem pequenos lagos remanescentes da época em que ali eram numerosas as olarias, esses lagos nada mais são do que buracos cheios d'água deixados por essas fábricas de tijolos. As capivaras oriundas do parque adotam esses laguinhos como lares, ficam pastando nas margens e são visíveis para quem passa para o Aeroporto ou vem de lá. Como não são perturbadas e não possuem predadores naturais na área, multiplicam-se de maneira assombrosa, a ponto da INFRAERO, através de seu Departamento de Controle Animal, ter que, periodicamente, "despovoar" parcialmente os locais, porque os animais oferecem perigo aos pousos e decolagens de aeronaves. Antes que algum defensor da natureza mais exaltado vá com quatro pedras para cima da INFRAERO explico: despovoar significa capturar e transferir os roedores para lugares próprios onde eles fiquem longe dos humanos e seus afazeres. Numa ocasião, de madrugada como sempre fazíamos, estávamos indo do hotel para o aeroporto num ônibus pequeno quando, subitamente, sofremos um tranco, como se tivéssemos atropelado alguém ou alguma coisa; o motorista parou de imediato assustado: - Atropelei um cachorro! Descemos para verificar e ficamos surpresos. Ele havia atropelado uma capivara que, depois de pesada, constatou-se ter sessenta e poucos quilos, uma capivara bem grande! Lembrando de nossa infância lá no interior do Paraná, no meio dos "mato" como se dizia, onde nunca vimos uma capivara; onde apenas se ouvia falar desse bicho que era selvagem e extremamente raro, que, na nossa concepção só existia no Mato Grosso, fica ainda mais estranho encontrá-las em plena maior metrópole do país. Significa que esses animais conseguiram resolver satisfatoriamente a equação adaptar-se versus extinguir-se; conseguiram, com um tão desconhecido quanto inusitado jogo de cintura, adaptar seu modus vivendi para um ambiente tão adverso que até do seu criador, o Homo sapiens, ele cobra um preço elevadíssimo pela sobrevivência. Capivaras no asfalto são uma realidade, se não houver uma interferência cruel do homem, esses animais vão continuar por muito tempo a tocar suas vidas de zoofavelados urbanos ao nosso lado. Quem viver verá! JAIR, Floripa, 28/02/09.


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O JACARÉ DA MINHA RUA


Morei durante um ano numa rua aqui de Floripa que tinha um jacaré. Talvez a única da Capital com um bicho destes. O rio Braz, pequeno arroio que drena área pantanosa próxima, foi cortado pela construção da rua de forma a ficar com uma parte isolada entre a rua e o mar formando uma espécie de lago. Foi ali que o jacaré da espécie papo amarelo, separado de seus semelhantes que vivem na parte aberta do rio, tornou-se um ermitão gordo e preguiçoso usufruindo da abundância de tilápias, lambaris, traíras e aves aquáticas do local. O Jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris), encontrado no litoral brasileiro desde o extremo norte do país até o Rio Grande do Sul, faz parte da exuberante fauna das florestas tropicais, preferindo áreas de baixada, com suas lagoas, lagos e rios. Sua presença representa, ao contrário do que muitos pensam, uma contribuição eficaz para o aumento da população de peixes nos corpos d'água, já que suas fezes servem de adubo para o desenvolvimento de fitoplancton, que é utilizado como alimento por diversas espécies de peixes. Além de, é claro, atuar como predador de peixes, alimentando-se dos fracos e doentes, deixando os mais aptos sobreviverem. Os jacarés, são uma sub-classe dos répteis, da família alligatoridae, família esta que engloba todos os crocodilos, aligatores, caimans e gaviais num total de 23 espécies catalogadas em todo o mundo, desde os deltas australianos onde encontram-se os magníficos “salt water crocs” (crocodilos de água salgada), até a região pantaneira brasileira, com os enormes e prolíferos “jacarés-paguás”; passando pelos pantanais asiáticos onde habitam os gaviais; e os Everglades da Flórida, berço de caimans e aligatores. Pois é, por qualquer nome que se conheça esse bicho, ele é um vencedor. Escavações arqueológicas mostram que quando dinossauros dominavam o planeta a duzentos milhões de anos, crocodilianos já viviam tranquilos e faceiros nos rios, lagos e pântanos de quase todos os continentes, e, pelo jeito, vão continuar por outros milhões de anos se o homo sapiens não impedir. Quanto ao jacaré da rua que eu morava, não posso culpar ninguém pelo seu desaparecimento. No carnaval de 2008 houve uma grande tempestade que fez o trecho do rio Braz, no qual o jacaré morava, transbordar para o mar. A enchente levou para o oceano milhares de peixes e plantas e, possivelmente, o querido e inofensivo jacaré que só queria viver em paz comendo e tomando banho de sol no acostamento da rua onde nunca mais foi visto. O triste da história é que minha nora, australiana que veio ao Brasil pela primeira vez e não falava palavra em português, conheceu o simpático réptil e, talvez pelo fato de em sua terra os crocodilos serem enormes e terem fama de ferozes, ela adorou um bicho tão mansinho que se deixava observar e ser fotografado. Coincidiu que Laura ainda estava aqui em Floripa por ocasião da enchente e o consequente sumiço do “nosso” jacaré. Assim com nós, ela ficou pesarosa por não mais ver o animal modorrando no seu laguinho particular e, estimulada pelo meu filho (seu marido), pronunciou, com forte sotaque característico do sul australiano, suas primeiras palavras da flor do Lácio: “O jacaré se foi”. JAIR. Floripa, 25/02/09.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

CARNAVAL


Cerca de dez mil anos antes de Cristo, homens, mulheres e crianças se reuniam no verão com os rostos mascarados e os corpos pintados para espantar os demônios da má colheita. As origens do carnaval têm sido buscadas nas mais antigas celebrações da humanidade, tais como as festas egípcias que homenageavam a deusa Isis e ao touro Apis. Os gregos festejavam com grandiosidade nas festas Lupercais (referente a Luperco, sacerdote do culto a Pã, deus dos pastores entre os romanos) e Saturnais (referente a Saturno, deus do paganismo) a celebração da volta da primavera, que simbolizava o renascer da natureza. Também em Roma, em glória ao deus Saturno, comemoravam-se as Saturnais. Esses festejos eram de tamanha importância que tribunais e escolas fechavam as portas durante o evento, escravos eram alforriados, as pessoas saíam às ruas para dançar. A euforia era geral. Na abertura dessas festas ao deus Saturno, carros buscando semelhança a navios saíam na "avenida", com homens e mulheres nus – prática retomada com muita ênfase pelos carnavalescos brasileiros. Estes eram chamados os carrum navalis. Obviamente que daí saiu a expressão carnevale que deu origem a carnaval. Mas, num ponto todos concordavam, as grandes festas, como o carnaval, estão associadas a fenômenos astronômicos e a ciclos naturais. O carnaval atual se caracteriza por festas, divertimentos públicos, bailes de máscaras e manifestações folclóricas. Na Europa, os mais famosos carnavais foram ou são: os de Paris, Veneza, Munique e Roma, seguidos de Nápoles, Florença e Nice. Não há qualquer dúvida que o carnaval é a mais famosa e, talvez, a maior festa popular do planeta, ressaltando que popular não quer dizer, necessariamente, espontânea, já que os grandes carnavais como o do Rio de Janeiro, são institucionalizados e dependem, em grande parte, do poder público. O carnaval brasileiro é considerado uma das festas populares mais animadas e representativas do mundo. Tem sua origem no entrudo português, onde, no passado, as pessoas jogavam uma nas outras, água, ovos e farinha. O entrudo acontecia num período anterior a quaresma e, apropriado pelo cristianismo desde o século quatro, passou a ter um significado ligado à religião mas, ao longo do tempo, voltou a tornar-se uma manifestação de conotação tipicamente pagã. Este sentido permanece até os dias de hoje no carnaval. O entrudo chegou ao Brasil por volta do século XVII e foi influenciado pelas festas carnavalescas que aconteciam na Europa. Em países como Itália e França, o carnaval ocorria em formas de desfiles urbanos, onde os carnavalescos usavam máscaras e fantasias. Personagens como a colombina, o pierrô e o Rei Momo também foram incorporados ao carnaval brasileiro, embora sejam de origem européia. No Brasil, no final do século XIX, começam a aparecer os primeiros blocos carnavalescos, cordões e os famosos "corsos". Estes últimos tornaram-se mais populares no começo dos séculos XX. As pessoas se fantasiavam, decoravam seus carros e, em grupos, desfilavam pelas ruas das cidades. Está ai a origem dos carros alegóricos, típicos das escolas de samba atuais. No século XX, o carnaval foi crescendo e tornando-se cada vez mais uma festa popular. Esse crescimento ocorreu com a ajuda das marchinhas carnavalescas. As músicas deixavam o carnaval cada vez mais animado. A primeira escola de samba surgiu no Rio de Janeiro e chamava-se Deixa Falar. Foi criada pelo sambista carioca chamado Ismael Silva. Anos mais tarde a Deixa Falar transformou-se na escola de samba Estácio de Sá. A partir dai o carnaval de rua começa a ganhar um novo formato. Começam a surgir novas escolas de samba no Rio de Janeiro e em São Paulo. Organizadas em Ligas de Escolas de Samba, começam os primeiros campeonatos para verificar qual delas era mais bonita e animada. O carnaval de rua manteve suas tradições originais na região nordeste do Brasil. Em cidades como Recife e Olinda, as pessoas saem às ruas durante o carnaval no ritmo do frevo e do maracatu que é uma mistura das culturas indígena, africana e européia. Surgiu em meados do século XVIII e foi criado para formar uma crítica as cortes portuguesas. Para quem pensa que nos Estados Unidos não existe carnaval, lá ele se resume basicamente na celebração do Mardi Grass (terça-feira gorda), vários estados celebram o carnaval. O Estado mais tradicional na comemoração é Luisiana onde, em New Orleans durante o Mardi Grass, desfilam pelas ruas da cidade mais de 50 agremiações. A agremiação mais conhecida é a do Bacchus (que possui gigantescos e originais carros). Na Alemanha a celebração do carnaval acontece tanto nos grandes centros urbanos, quanto na Floresta negra e nos Alpes. A festa mais tradicional é a da cidade de Bonn, que organiza desfiles com pessoas fantasiadas, o diabo fica solto, por esse motivo as pessoas usam máscaras a fim de esconder seus rostos. De qualquer forma, em qualquer lugar ou em qualquer tempo, seja durante o período romano ou no século vinte e um no Brasil, o carnaval é a válvula de escape da panela de pressão da sociedade, é onde as frustrações e ansiedades sublimam-se em suor, música e movimento tornando a vida do pobre e espoliado cidadão comum, - pelo menos nos três dias de festas – mais tolerável, menos agônica e mais esperançosa. Portanto, mesmo passados séculos, pão e circo continuam a ser um santo remédio para as agruras do viver. JAIR, Floripa, 24/02/09.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

RESPONDENDO


No post “SOBRE O TEMPO”, no qual cogitava não haver provas da existência ou da possibilidade de viagem temporal, elaborei as seguintes perguntas: “Vejamos, portanto: se existe possibilidade dessa viagem, é razoável supor que num futuro distante, digamos daqui a mil anos, o homem já tenha alcançado um grau tecnológico tal que viagens temporais sejam rotineiras, não é mesmo? Se assim é, por que não temos recebido visitas regulares deles no presente?” Pois é, perguntas aparentemente irrespondíveis, por enquanto. Só aparentemente, porque, na verdade, é fácil entender as razões de não termos recebido “visitantes” do futuro, se estes existirem. Considerando que nosso planeta existe há aproximadamente 4,6 bilhões de anos; a vida surgiu em torno de 3,7 bilhões de anos atrás; o Homem evoluiu a menos de quatro milhões de anos; e nós, a civilização atual com grau de entendimento capaz de fazer as ditas perguntas, estamos aqui apenas uma parcela mínima desse tempo, seria extremamente egoísta e fantasioso de nossa parte supor que homens do futuro, digamos daqui a mil anos, estejam interessados, justamente, neste pedaço do tempo, nesta pequena fração temporal na qual vivemos, neste interregno onde nada de excepcional acontece sem que seja amplamente gravado e registrado para a posteridade, porquanto nossa civilização é ávida em expor suas conquistas, êxitos e até reveses e derrotas através de todas as mídias de que dispõe. É mais fácil explicar essa ausência com outras perguntas: Por que, existindo milhões de anos possivelmente mais interessantes, mais cheios de acontecimentos, mais impressivos, mais significativos historicamente, que estimularam mais o imaginário dos humanos, que influíram mais no curso da história, que deixaram marcas mais profundas e sugestivas na evolução da sociedade, os homens do futuro estariam interessados exatamente na nossa quadra do tempo? Por que não deveriam procurar saber sobre como e onde surgiu a vida, por exemplo? Ou ver o desaparecimento dos dinossauros? Ou o nascimento dos continentes a partir de Gondwana? Ou, não seria mais interessante ver o aparecimento do homo sapiens? Ou o desenvolvimento das eras do gelo? Ou ainda, se baleias não mais existirem no futuro, pesquisar o porquê e quando da sua extinção? Dentro desse raciocínio é possível entender porque não estamos sendo visitados, mesmo supondo que a humanidade daqui a um milênio esteja se deslocando no tempo. Somos muito insignificantes historicamente, ocupamos uma diminuta fração de tempo e deixamos um espólio totalmente aberto a quem queira nos estudar para sermos objeto de curiosidade científica por seres humanos de outra época. Se colocarmos o capuz da humildade veremos que não há nada de estranho no fato de não termos detectado os homens do futuro por aqui, eles devem estar ocupados estudando outras épocas e outros acontecimentos melhores e mais elucidativos, que servem de maneira mais objetiva para compreensão do que eles desejam saber a respeito do passado. JAIR, Floripa 18/02/09.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

SOBRE O TEMPO


O genial escritor inglês H. G. Wells (1866-1906), autor de “Guerra dos Mundos”, livro de ficção científica que relata com crudelíssima realidade uma invasão da Terra por marcianos mal intencionados, estória transformada em programa radiofônico por Orson Welles em 1936, e que chegou a causar pânico a cidadãos americanos que acreditaram que os EUA estavam sendo invadidos; livro que também deu azo ao nascimento de filmes em várias épocas, a última refilmagem tendo Tom Cruise como astro principal, é autor de outro livro, senão mais lido e comentado, pelo menos mais importante no sentido de ter instigado muita literatura posterior baseada na ideia de viajar no tempo. O livro “A Máquina do Tempo” (1895), um clássico que pode ser considerado o primeiro a abordar o assunto, foi lido por toda uma geração de escritores e cientistas como Carl Sagan e Isaac Azimov que, estimulados pela nova fronteira literária científica que se apresentava, exploraram com criatividade e competência a possibilidade de deslocamentos no tempo. Vários outros autores, cineastas e estudiosos também se fizeram ao mar da imaginação e produziram obras boas e más que enriqueceram o imaginário dos leitores, cinéfilos, curiosos e até dos adoradores de OVNIs. Talvez a produção cinematográfica mais conhecida seja a trilogia de Spielberg “De volta para o futuro”, na qual se chama a atenção para a existência de um “Paradoxo do tempo”, segundo o qual, a interferência no passado pode comprometer o status do presente, por exemplo, um homem que vá para o passado e mate seu próprio avô não teria como nascer, não nascendo não poderia ir para o passado matar o próprio avô. Pois é, esse paradoxo é apenas um dos óbices que aparecem com freqüência quando se aborda viagens temporais, existem muitos outros que animam debates e polêmicas e não desatam o nó górdio da possibilidade ou não de se poder navegar no tempo. Vejamos, portanto: se existe possibilidade dessa viagem, é razoável supor que num futuro distante, digamos daqui a mil anos, o homem já tenha alcançado um grau tecnológico tal que viagens temporais sejam rotineiras, não é mesmo? Se assim é, por que não temos recebido visitas regulares deles no presente? Será que ao homem do futuro não interessa conhecer o próprio passado? Parece que só os nefelibatas adoradores de OVNIs enxergam esses viajantes todos os dias por aí, não existe prova real alguma que sejamos visitados por eles. O que se depreende da discussão entre os convictos X céticos quanto à realidade das viagens é que o deslocamento temporal é possibilidade em aberto, não há consenso e, portanto, ninguém ganhou o jogo ainda. Mas, para consolo dos que querem acreditar que há alguma coisa a mais entre o presente, o passado e o futuro, podemos afirmar: As Máquinas do Tempo existem! Não essas inverossímeis traquitanas wellsianas na qual o sujeito embarca, aperta um botão, e se transporta para um tempo pretérito ou porvir, fictício e aventuresco. Mas, sim, máquinas reais, confeccionadas com tecnologias disponíveis e acessíveis aos técnicos e cientistas atuais. Vamos fazer um pequeno intróito: Nós podemos observar o passado! Aliás, nós o observamos todos os dias, a todo momento! A imagem é transmitida pela luz, que se desloca a trezentos mil quilômetros por segundo, isso faz com que observemos objetos distantes com certo atraso. Atraso correspondente ao tempo que a luz leva para ir do objeto observado até nossos olhos. Por exemplo, o sol encontra-se a, mais ou menos, trezentos e cinqüenta milhões de quilômetros, e a luz leva perto de oito minutos para percorrer essa distância, isso equivale a dizer que o que vemos REALMENTE é o passado do sol, vemos o sol de oito minutos atrás. Se o sol se apagar agora, neste momento, só vamos ficar sabendo daqui a oito minutos! Assim, o dia-a-dia, o presente, a atualidade do homem e de todas as coisas está impregnada de passado, de fatos já acontecidos que estão influenciando o nosso presente, ou seja, o passado não só deixa uma história que influi no presente, como ATUA diretamente no presente! Se você, deitado na praia disser: “estou aqui me bronzeando com o sol do passado”, não está dizendo nenhuma impropriedade, nenhuma estultice, é a pura verdade. Com a construção das Máquinas do Tempo chamadas telescópios, as quais permitem observação de astros muito distantes, a milhares ou milhões de anos-luz, um passado mais longínquo ainda está à disposição dos astrônomos. O telescópio Hubble ampliou de modo considerável esse horizonte, de tal forma que hoje se pode ver uma galáxia ou um conglomerado de galáxias a bilhões de anos-luz. Isso quer dizer que esses objetos observados podem ter desaparecido a milhões de anos e ainda estão ali, a disposição para serem estudados. As Máquinas Telescópicas do Tempo não são comparáveis com as ficcionais por dois motivos: 1 – Não transportam pessoas ou objetos para qualquer lugar no tempo, apenas permitem observar os acontecimentos; 2 – Não são reversíveis, isto é, não permitem observar nos dois sentidos, só olham para o passado, talvez porque, o futuro não existe, o futuro é feito de presente que ainda está acontecendo. Isso as define como máquinas observadoras do passado, mas, teoricamente, abrem uma possibilidade real de olharmos o passado de nossa civilização, e até de nosso planeta nos primórdios. Se nos colocarmos, por exemplo, a mais ou menos quinhentos anos-luz da terra e assestarmos um potente telescópio em direção à América poderemos ver Cristóvão Colombo descobrindo o Novo Mundo. Assim, dependendo da distância, maior ou menor, veremos a Guerra de Tróia, o nascimento de Jesus, nossa própria vinda ao mundo etc. Não é nenhuma quimera, é até confortável, imaginar que os homens do futuro, digamos daqui a mil anos, estejam observando o planeta de um ponto distante e vendo os acontecimentos do passado que levaram ao presente lá deles. Assim, estarão assistindo um passado deles que pode ser o nosso futuro, nada mais normal. JAIR, Floripa, 10/02/09.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

SOBRE O PASSAR DOS ANOS


Os aniversários, no nosso contexto social normalmente comemorados como dia festivo são, na realidade, apenas um marco, uma espécie de palanque fincado no chão que indica: “A partir daqui você está um ano mais velho”. E, claro, como todos os dias que permanecemos vivos estamos mais velhos, todos os dias fazemos aniversário. Lá está, todos os dias, o palanque fincado metaforicamente no chão de nossa vida: “A partir daqui você está um dia mais velho”, não há escapatória. A única vantagem que nos traz esse passar dos anos é o inevitável acréscimo de saber ao nosso cabedal, quanto mais vivemos mais aprendemos e mais nos tornamos reflexivos, mais nos tornamos capazes de cogitar sobre o tempo. O tempo sempre é inequívoco, absoluto e inexorável, apesar da condicionalidade dele a serviço da física onde quase tudo é relativo: movimento, massa e energia. Aliás, o tempo é mais que absoluto, ele é transcendental, ele a tudo ultrapassa, triunfa, supera, vence, transcende enfim. Quer queiramos ou não, o tic-tac do tempo supostamente nasceu com o universo no exato momento que o Big Bang tudo criou inclusive o próprio tempo, e, de lá para cá, continuamente, vem ditando o ritmo do nascimento, crescimento, formação, maturação, reprodução, sazonamento e morte das coisas, seja uma estrela, uma montanha, um protozoário, uma ave ou uma partícula subatômica. Não interessa se a coisa é uma galáxia que terá a existência contada em bilhões de anos, ou se é um microorganismo destinado a viver poucos minutos, o tic-tac inelutável está presente, invisível, mudo, imparcial. As coisas, sejam vivas como animais e plantas; ou, segundo nossas concepções, não vivas como uma rocha ou um gás, têm seu ciclo de atuação no universo marcados com um começo e um fim, o tempo não. Apesar de ter tido um início, o tempo É, simplesmente. Isto significa que ao morrermos, por exemplo, o tempo que nos viu nascer, acrescentou dias e anos ao nosso crescimento, presenciou nossas primeiras rugas e cabelos brancos, acompanhou nossa vida adulta e fenecimento, continuará a existir apesar de nós, mais ainda, a despeito de todos e não obstante a tudo. O homem como ser pensante tem tendência a entender, contar, manipular, controlar tudo a sua volta, e o faz com certo grau de sucesso com coisas físicas, visíveis e manipuláveis, mas com o tempo não. O homo sapiens filosofa, medita, reflete e culpa o tempo, mas não tem controle sobre ele; credita a ele todos os males e todas as curas, mas não o entende; sofre as conseqüências da sua eterna marcha, mas não o manipula. O impalpável e ubíquo tempo escapa a qualquer tipo de conceituação rigorosa e, se nos resta um consolo, nós apenas conseguimos nele colocar rótulos, uma espécie de marca que serve tão somente para criar a ilusão que nós temos alguma ascendência sobre ele: segundos, minutos, dias, anos, séculos, milênios, eras etc. Enquanto isso, o tempo caminha reto, decidido, para frente, sem retorno e sem parada para tomada de novo rumo, absolutamente tirânico e indiferente ao destino do homem e do resto do universo, transformando o presente em passado e o futuro em presente, CRIANDO A ETERNIDADE! JAIR, Floripa, 09/02/09.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

FELIZ ANIVERSÁRIO!


Bem, para quem não sabe, ontem completei sessenta e três anos e fui cumprimentado por alguns amigos, entre eles, um velho amigo de longa data que enviou a mensagem que segue. Agradeci os cumprimentos dele com outra, o que ensejou a terceira mensagem da série que me motivou publicá-las como uma espécie de reflexão sobre à inexorável marcha do tempo que nos afeta:

Aceite o sincero abraço virtual de outro veterano! Felicitações pelo seu natalício, sinceramente, Leonel T. Rodrigues.

Leonel, Obrigado meu amigo. Só que, a nós com mais de sessenta, apresenta-se uma espécie de paradoxo: Ao tempo que ficamos felizes por estarmos vivos com essa idade, nos entristece saber que nossos sentidos, nossos órgãos e nossos sistemas já não respondem com a mesma presteza aos nossos desejos, ficamos um pouco saudosos de dias mais jovens. Que fazer, a vida é assim mesmo, quem não quiser que assim seja, desista dela! Abraços, JAIR.

Amigo Jair, Tudo tem sua compensação. Se alguns órgãos já não respondem com a mesma presteza de outrora, temos hoje mais conhecimento e uma visão mais clara do todo como nunca tivemos antes. Isto porque, ao contrário de alguns, teimamos em nos manter atualizados com o nosso tempo e acompanhamos de cima a evolução da nossa civilização! Deixamos de perder tempo com coisas superficiais e aprendemos a apreciar as coisas essenciais, e também temos discernimento para saber separar umas das outras. E, afinal, nem somos tão velhos assim. Quando éramos mais novos, pensávamos que pessoas com a nossa idade atual estavam acabadas, mas agora sabemos que não é isto! Somos, hoje, muito mais capazes intelectualmente do que antes, só não temos, talvez, a mesma disposição de se aventurar que tínhamos tempos atrás! Saibamos apreciar os bons vinhos, as boas iguarias e as boas coroas, já que superamos a idade do lobo, onde os homens perseguem chapeuzinho vermelho e acabam na cama com a vovó! Agora, partimos mesmo é à caça das vovós! Outro abração do, Leonel.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

A ARANHA


Primeiro, a aranha não é um inseto como muitos desavisados a classificam. Os insetos se caracterizam por ter três pares de pernas, cabeça, tórax e abdômen, além de outras particularidades internas e externas como antenas, por exemplo, e a maioria tem asas. As aranhas são animais artrópodes pertencentes à ordem Araneae da classe dos aracnídeos, tem oito pernas e seus corpos se dividem em cefalotórax e abdômen, não tem antenas e, obviamente não têm asas. São bichos tremendamente bem sucedidos em matéria de sobrevivência, adaptação a vários ambientes, diversidade e longevidade das espécies – existem mais de quarenta mil espécies há mais de duzentos milhões de anos. Muito bem, os bichos estão aí, nós também, então temos que admitir viver com eles, apesar deles, a favor deles ou a nosso favor, mas, sem esquecer que eles têm o mesmo direito à vida que nós, ou até mais direito, já que aqui se encontravam a milhões de anos quando surgiu o abominável homo sapiens. As aranhas são, essencialmente, caçadoras de insetos e aqui reside o benefício que elas nos trazem, onde há aranhas os insetos somem, menos as formigas, que estas só são contidas a golpes de tamanduá, formicida natural mais eficiente que existe porém, infelizmente, esse belíssimo animal da fauna brasileira está quase em extinção graças à incúria e ignorâncias humanas; algumas das caranguejeiras maiores caçam filhotes de pássaros, lagartixas e até pequenos mamíferos como camundongos; outras, como a aranha-pescadora, cujo nome já diz tudo, pescam pequenos peixes de água doce. Por serem abundantes e encontrarem-se disseminadas pelo planeta é inevitável cruzarem nosso caminho quase todos os dias e, eventualmente, causarem algum dano à nossa saúde, já que para se defenderem usam as quelíceras ou pinças que, o mais das vezes contém veneno, se bem que em quantidades tão pequenas que dificilmente o dano torna-se sério. Então ficamos assim, não é necessário adotar essas pequenas hóspedes que vivem nas paredes ou no jardim de nossa casa, como eu fazia quando criança dando-lhes moscas para comerem; tampouco transportá-las no bolso como se fossem animais de estimação um pouco exóticos; mas, vamos respeitá-las e deixar viverem suas vidas em paz, assim estaremos contribuindo para a harmonia da vida, a qual todos têm direito, entre os seres deste maltratado planeta. JAIR, Floripa, 07/02/09.

O TUBARÃO


Existem em torno de 375 espécies de tubarões atualmente no planeta, destas, somente três ou quatro são realmente perigosas para seres humanos. Não que elas se alimentem, ou tenham preferência pela carne humana, não, apenas confundem em certas circunstâncias, um nadador, um surfista ou um náufrago com seu prato habitual de peixes ou focas. O tubarão é um vencedor, há quatrocentos milhões de anos, portanto antes de existirem dinossauros, ele já navegava pelos mares e, se o homem não interferir, provavelmente continuará por outros tantos milhões. Ao contrário da maioria dos peixes, o tubarão não tem esqueleto ósseo, ele é cartilaginoso, ou seja, tem cartilagens no lugar de ossos, essas mesmas cartilagens que ditam sentença de morte a muitos deles, porquanto existe uma falsa cultura que cartilagem de tubarão é remédio milagroso. Pois é, existem tubarões de todos os tamanhos e de todos os tipos, o maior peixe do mundo, que atinge até vinte metros de comprimento e pode pesar doze toneladas é o Tubarão-baleia que se alimenta principalmente de plâncton, embora também coma regularmente cardumes de pequenos peixes e lulas. Há, por outro lado, tubarões tão miúdos como os Cações-lixa que não chegam a um metro quando adultos e vivem em águas rasas se alimentando de tudo que encontram, e, os menores ainda, "Colcha-de-retalhos", atraentes bichinhos criados em aquários domésticos. Essas belas criaturas, grandes ou pequenas, esquisitas como a Arraia ou o Tubarão-martelo; belas como o Tubarão branco ou o Tubarão azul, são odiadas pelo que são, não pelo fazem ou podem fazer. O cineasta Spielberg contribuiu tremendamente para esse ódio insano que se dedica a esse esqualo, lamentavelmente. A imagem de "assassino implacável" esconde o real fato de que estão sendo dizimados por um inimigo bem mais terrível, o homem. Os tubarões tiveram suas populações drasticamente reduzidas neste último século e muitas espécies se encontram em situação de grande perigo. Mais de 30 espécies de tubarão estão em risco no Brasil (quase 40% das espécies presentes em nossa costa). No mundo, cerca de 100 milhões deles são capturados por ano, a maioria para a obtenção de cartilagem. Uma das práticas comuns da pesca predatória é arrancar as nadadeiras e devolver o animal vivo para o mar, onde ele afunda e agoniza até morrer. A pele do tubarão tem dentes! Uma das características que define os tubarões é a presença de escamas semelhantes a dentes que cobrem sua pele e são denominadas de dentículos dérmicos. São estes dentículos que fazem com que a pele do tubarão pareça uma lixa. É a imitação dessa pele que resultou na criação de tecido empregado na roupa dos grandes nadadores, como Michael Phelps, o design da pele permite o deslocamento rápido pela água quase sem atrito. O bicho teve milhões de anos para aperfeiçoar-se de tal forma que tanto a pele como os órgãos internos e até seus sensores termos-elétricos ao longo do corpo, são órgãos tremendamente sofisticados, sem falar de seu design hidrodinâmico perfeito. Aliás, tudo no tubarão tem a marca da sofisticação, por isso ele é um vencedor. Mais uma vez, o ódio que o bicho homem dedica a esse animal não pode ser explicado racionalmente, só podemos admitir que por trás desse comportamento execrável do homo sapiens exista algo mais sutil, algo nebuloso como, por exemplo, inveja. O homem sente inveja do melhor, do elevado, do excelso, do vencedor enfim! JAIR, Floripa, 07/02/09.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O VIDRO


O vidro nosso de cada dia está tão entranhado nos lares, nos grandes edifícios, na indústria, na decoração e no modus vivendi de nossa civilização, que quase não mais o notamos, mesmo com olhos guarnecidos por ele. Comemos, dormimos, bebemos, trabalhamos, viajamos e fazemos tudo o mais em contato com esse fantástico componente da vida moderna e nem ao menos paramos para pensar de onde ele vem, como é fabricado. O ingrediente principal da massa para fabricar vidro é areia de sílica, - nome popular do dióxido de silício - misturada com sais alcalinos, tais como cal, cinza de madeira e soda. O curioso é que os depósitos de sílica são encontrados universalmente e são provenientes de várias eras geológicas. A maioria dos depósitos de sílica que são minerados para obtenção das "areias de sílica" consiste de quartzo livre, quartzitos, e depósitos sedimentares como os arenitos. Sem esquecer que o quartzo é a rocha mais comum do planeta, sendo razoável inferir que também do universo. Pois é, quando alguém olha para uma janela ou um pedaço de vidro extremamente limpo e afirma: "Até parece um cristal!", não pode imaginar o quanto está longe da verdade. Pelo menos em termos de física. Observada em sua intimidade através de microscópio, a maioria dos materiais sólidos como as rochas, por exemplo, pode ser descrita em uma de duas estruturas: cristais ou vidros. Os cristais se caracterizam por apresentar os átomos formando moléculas bem organizadas, cada átomo em sua posição, guardando distância exata de outro átomo como se fosse um batalhão de soldados em boa formação. O diamante é o mais perfeito exemplo de cristal, sua rígida estrutura octogonal o torna a pedra mais dura do planeta. Já os vidros, ou estruturas amorfas, apresentam uma verdadeira bagunça com suas partículas demonstrando o significado da palavra caos. É justamente essa falta de organização que torna os materiais com estruturas vítreas parecidas com líquido, ou seja, tecnicamente o vidro é um líquido, por estranho que possa parecer. Descobertas arqueológicas de janelas guarnecidas com vidros das antigas cidades romanas, Herculano e Pompéia, demonstraram na prática o que a teoria afirma: As lâminas de vidro encontravam-se mais espessas na base, ou seja, o vidro havia escorrido como líquido ao longo dos séculos, e não adianta argumentar que o calor das cinzas do Vesúvio derreteu os vidros, porque estes encontravam-se encaixados em molduras de madeira perfeitamente conservadas, sem quaisquer traços ou marcas de queimaduras, nem chamuscadas estavam. Os vidros convencionais têm estruturas desordenadas devido à forma com que são produzidos: seus ingredientes são misturados, fundidos, e a seguir resfriados e deixados para endurecer. Na medida em que o vidro se resfria, a vibração das moléculas vai diminuindo até que elas fiquem fixas. O problema é que o vidro não se resfria igualmente e as moléculas mais internas, impossibilitadas de se movimentarem, tendem a ficar mais desordenadas. Mas agora cientistas da Universidade de Wisconsin-Madison, descobriram uma nova forma de se fabricar vidros que acaba um pouco com a bagunça de suas partículas e os torna mais estáveis e resistentes. Os novos vidros são produzidos em seqüências de várias camadas, em um processo chamado de deposição de vapor. O vidro é aquecido até se evaporar, sendo condensado em uma superfície fria logo acima. Como as camadas individuais são muito finas, - alguns mícrons apenas - cada conjunto de moléculas consegue se organizar melhor antes de se solidificar. Os vidros produzidos com esta técnica não chegam a ser cristais, mas, segundo os pesquisadores, levariam 10.000 anos para serem feitos pelo processo tradicional, porque precisariam resfriar muito lentamente. O novo processo demora cerca de uma hora. Mas, a novidade não vai chegar aos nossos lares num futuro previsível, o método é muito caro para ser utilizado na fabricação de vidros para janelas, ou qualquer uso doméstico. Outro processo de fabricação chama-se de flutuação. Nele, a matéria-prima quase liquefeita é derramada sobre um leito de estanho derretido, sobre o qual o vidro flutua e se espalha, buscando seu nível natural, assumindo a forma de uma lâmina lisa e contínua. Enquanto desliza controlada e vagarosamente ao longo do percurso de centenas de metros, a massa vai se esfriando naturalmente. Alimentada, na seqüência, para o forno de recozimento, sofre um tratamento térmico padrão - o recozimento. A superfície é inspecionada para controle de qualidade, por computadores e, finalmente, cortada em chapas. A espessura final do vidro é definida pela variação da velocidade com que a lâmina se move no trajeto. O processo "float" produz um vidro sem ondulações de superfície, tornando-o um produto de alta qualidade. Esse fabuloso material isolante térmico e acústico, cuja transparência permite: luminosidade natural em ambientes; construção de aparelhos óticos desde lentes de contato até grandes telescópios como o Hubble; aparelhos e utensílios os mais variados, tem uma história que excede a própria história do homo sapiens, pois é sabido que erupções vulcânicas, eventualmente, também produzem vidro. Além disso, o vidro pode ser temperado, colorido, moldado, soprado, jateado, lapidado, laminado, tornado a prova de balas e arranjado de diversas formas para se tornar objeto de utilidade ou decorativo. Mas este é tema que, juntamente com a história do vidro, deverá ser abordado em outros textos. JAIR, Floripa, 04/02/09.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

TRÊS MARIAS, A FLOR


Quase toda casa, praça, parque público, chácara ou sítio que se preze tem uma ou mais, como elemento botânico decorativo. A Buganvília, também conhecida por Três Marias ou Flor de papel, é uma belíssima falsa trepadeira (falsa porque as verdadeiras trepadeiras possuem gavinhas), da família das Nyctaginaceas cujas flores no verão atraem a atenção de quem passa onde quer que se encontre. A mais comum é a de cor roxa, mas nos anos mais recentes podem facilmente encontrar-se outras cores desenvolvidas por seleção genética por botânicos de diversas partes do mundo. O seu nome provém de Louis Antoine de Bougainville, Conde, capitão de navio, advogado, matemático e explorador, que se juntou à armada francesa por volta de 1760 no Canadá, onde viria a conhecer e a fazer amizade com Philibert Commerson, viajante e botânico francês que viajava a serviço da França e veio a descobrir esta planta no Brasil, precisamente na Ilha de Santa Catarina, onde esteve em 1763 e privou da companhia de Francisco Antonio Cardoso de Menezes e Souza, efêmero governador da então Capitania da Ilha de Santa Catarina. Esta planta, extremamente comum na região, era conhecida por Três Marias por possuir três brácteas fundidas, ou folhas modificadas coloridas, - que lhe dão aquele aspecto tão atraente - normalmente confundidas com pétalas. Ao ser levada por Bugainville para a França, onde passou a ser cultivada em viveiros, a flor teve sua existência ligada ao Conde de tal forma que as pessoas passaram a chamá-la de Bungainville, nome hoje aportuguesado para Bunganvilia. Dos troncos, protegidos por fortes espinhos, ramificam todos os anos novos rebentos que crescem vigorosamente e para os lados de forma desordenada. Estas plantas, por não serem trepadeiras verdadeiras, podem também ser “domesticadas” em forma de arbustos, que se tornam árvores de médio porte, desde que se proceda ao corte das pontas nos rebentos novos à medida que eles crescem. As folhas têm o feitio de um coração e possuem uma cor verde escura. A variedade B. glabra atinge uma altura de três metros ou mais, tem folhas macias, menores e com menos espinhos enquanto que as folhas da B. spectablilis têm uma penugem no lado inferior. As flores verdadeiras são os pequenos tubos amarelos e brancos que se encontram envolvidos nas três brácteas coloridas. A B. glabra é uma trepadeira com troncos menos espinhosos e floresce intermitentemente durante toda a estação quente. A B. spectabilis cresce com grande vigor podendo atingir de seis a nove metros de altura, tornou-se uma espécie popular e ornamental em quase todo o mundo, especialmente nos climas quentes da América do Norte e do Sul, na Europa e no sudoeste asiático. Em alguns casos, pelo seu porte e vigor, algumas podas regulares fazem dos espécimes existentes e quase selvagens magníficos exemplares de decoração paisagística. Ao viajarmos pela Europa e até pela Ásia e vermos essas esplêndidas plantas, normalmente, não temos noção de estarmos diante de planta de origem genuinamente brasileira. Que fique registrado: Buganvília, Três Marias, Flor de Papel ou quaisquer outros nomes que possa ter essa planta, ela é tão BRASILEIRA quanto jabuticaba. JAIR, Floripa, 02/02/09.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

INVENTANDO SOLUÇÕES




A história da sociedade humana é marcada por acontecimentos, fatos notáveis, eventos e inventos que, uma vez surgidos, modificam ou influem no todo ou em parte dessa sociedade de modo a torná-la dinâmica no sentido de evoluir e deixar de ser o que era até então. Temos como exemplos marcantes revoluções, guerras, desastres naturais de grandes proporções e inventos. A revolução francesa, as grandes guerras mundiais, a descoberta da América, a invenção da máquina a vapor, a invenção roda, a descoberta da penicilina e a internet são marcos na evolução humana que tornaram nossa sociedade tal como ela é, sem que se possa conceber como seria sem essas coisas. Quando um evento de alto impacto como a segunda guerra mundial ou de alta tecnologia como a invenção da máquina a vapor surge, é natural que esperemos grandes e permanentes modificações ou uma espécie de ponto de inflexão evolutivo na sociedade. Contudo, o que mais chama atenção são as descobertas ou inventos de baixa tecnologia, como a adoção da roda num tempo muito remoto que, provavelmente, nada mais foi do que o aproveitamento de uma “fatia” de um tronco redondo furado no meio no qual se introduziu um eixo, e o mundo passou a rodar e nunca mais parou; ou a invenção do clipe de papel em 1898 por Johan Vaaler, norueguês que aproveitou a maleabilidade do arame, dobrou-o de certa maneira e revolucionou para sempre o modo com que se junta papéis nos escritórios e repartições de todo o mundo. Esses dois inventos de baixíssima tecnologia tiveram mais impacto em nossas vidas, influíram mais no que hoje somos, deixaram uma marca mais profunda e significativa na sociedade do homo sapiens, agregaram mais valor à humanidade do que a chegada do homem na Lua, por exemplo. De certa forma, ao nos depararmos com uma coisa nova, por mais simples que seja, não temos condições imediatas de julgá-la de acordo com sua utilidade futura ou quais melhorias operacionais ou na condução de uma atividade que poderá advir de sua adoção. Vale dizer, não é de hoje que pequenas modificações em procedimentos, ferramentas, aparelhos e modos de fazer ou trabalhar, melhoram a produtividade, o desempenho, a qualidade e os lucros das empresas. Colocando na prática e nos dias hoje, empresas de aviação comercial de todo o planeta deparam-se com problema que parece banal, mas que lhes trazem grandes dores de cabeça: Como e quando lavar as aeronaves de modo que estejam sempre apresentáveis aos olhos dos passageiros? Avião sujo denota desleixo e isso, para os clientes, pode parecer falta de segurança, o que sempre redundará em baixa ocupação de assentos e queda de lucros. Por outro lado, quando lavar o avião, se este ou está voando ou no solo recebendo passageiros e abastecendo? Apenas quando entra em manutenção de grande porte, de tantos em tantos meses? Impossível! Isso equivale a dizer que a maior parte do tempo a aeronave voaria suja! Pois bem, a Qantas, empresa australiana de aviação, também encarava esse problema como todas as grandes do planeta. Só que a Qantas agrega em seu quadro de funcionários, Leonel T.R., eficientíssimo chefe de manutenção com espírito inventivo. A partir de uma idéia bem simples: Lavação se faz com água sob pressão e sabão, que pode ser chamado de xampu ou detergente sem desmerecer suas qualidades. Pois bem, durante os vôos em altas altitudes a aeronave, comumente, voa entre nuvens que nada mais são que gotículas de água sob pressão, esta advinda da velocidade aerodinâmica do avião. Temos aí água e pressão, falta o quê? Sabão, xampu, detergente líquido. Foi onde entrou a criatividade e o conhecimento técnico de Leonel, que, apesar do nome latino, é australiano da melhor estirpe, trata-se de descendente direto de aborígines das terras orientais do hoje estado de Queensland, considerados os nativos mais inteligentes da Austrália e do mundo. Posto o problema, Leonel veio com a solução: Adaptar, em pontos escolhidos tecnicamente das asas, fuselagem e empenagem, borrifadores de solução líquida de sabão não corrosivo, que se dispersa em forma de spray através de orifícios calibrados. O disparo do produto fica a cargo do piloto com um simples acionamento de botão na cabine quando houver necessidade e as condições forem favoráveis, ou seja, avião sujo e voando dentro de nuvem. Feitas adaptações e testes que demandaram muitas horas de trabalho, chegou-se a um estado ótimo em que as aeronaves da Qantas sempre pousam limpas como se tivessem saído de lava rápido. A Boeing, consultada sobre o invento, já deu seu aval, isto é, aprovou a modificação em suas aeronaves a título não mandatório, equivale dizer que os operadores de aeronaves Boeing poderão adaptar seus equipamentos se quiserem, e eles querem. Ao chefe de manutenção Leonel coube a dupla glória de ter seu nome incluído no rol de inventores de coisas simples que solucionam grandes problemas, e ter sua conta bancária inflada porque registrou a invenção em seu nome. As grandes empresas agradecem a Leonel que, com alguma criatividade, ousadia para levar uma idéia à frente e perseverança para convencer outros da conveniência do dispositivo, marcou um importante tento para o quadro da manutenção de aeronaves. JAIR, Floripa, 01/02/09.