sábado, 18 de abril de 2009

A BUSCA DE EMOÇÃO NÃO PASSA PELO FILME “O ARCO”


Tanto o senso comum como a ciência concordam que o prazer e a dor, ou o prazer e o medo, o susto e o terror são sensações bastante próximas, que a zona cinzenta entre as percepções causadas pelo sofrimento físico ou pelas tensões a perigos iminentes, e as que aumentam o nível de endorfina ou de adrenalina é tão tênue que elas se confundem às vezes. A frustração e a raiva não produzem endorfina nem adrenalina. Endorfinas são produzidas pela glândula hipófise e pelo hipotálamo durante exercícios vigorosos, excitamento e orgasmo. Os efeitos produzidos pela endorfina são analgésicos e de sensação de bem-estar. O termo "endorfina" consiste na junção das palavras "endo" (interno) e "morfina" (analgésico), significando que é uma substância com propriedades da morfina produzida internamente pelo organismo. Já a adrenalina é um hormônio derivado da modificação de um aminoácido aromático tirosina, secretado pelas glândulas supra-renais, assim chamadas por estarem acima dos rins. Em momentos de estresse, as supra-renais secretam quantidades abundantes deste hormônio que prepara o organismo para grandes esforços físicos, estimula o coração, eleva a tensão arterial, relaxa certos músculos e contrai outros. Como exemplo de busca de prazer através da dor, num extremo da escala estão os comportamentos sado masoquistas, e, na parte intermediária da escala, digamos mais moderada, estariam a busca de emoções fortes em esportes radicais ou atividades de risco que apresentam desafios mortais. Seja porque as áreas cerebrais que permitem a existência da dor e do medo, e as que sentem prazer estejam próximas e até se sobreponham, ou porque adrenalina e endorfina “viciem” como afirmam alguns supostos adictos, os seres humanos mais ousados, representados em sua maioria pela camada jovem da população, gostam da sensação de estar em perigo, de correr riscos. Que o digam os praticantes de bungle-jump, pára-quedismo, asas deltas, mergulhos profundos e escaladas perigosas. Contudo, parece que a população que vive essa dicotomia de buscar sensações prazerosas através da dor ou dos desafios é apenas uma minoria: jovens ousados e pessoas com certo grau de desvio comportamental com relação ao sexo. A esmagadora maioria dos seres humanos é “normal” está no extremo oposto da escala, isto é, tem relação com o perigo ou com sensações fortes apenas vendo filmes de ação ou de suspense, apreciando espetáculos circenses, assistindo corridas de carros ao vivo ou pela tevê, lendo histórias de mistério, andando de montanha russa ou coisa semelhante, nada que implique em injeções maciças de adrenalina nem embriaguês aguda de endorfina. Os leitores de Ágata Christie, fãs de Alfred Hitchcock e espectadores das chamadas novelas televisivas sabem do estou falando: a busca de algum suspense, de alguma emoção pelo perigo que está espreitando logo ali depois da esquina ou de alguma coisa ruim que pode acontecer, é o que leva as pessoas “normais” a lerem livros de mistério, assistirem filmes e novelas fortes e “arriscarem-se” em montanhas russas. O notável desse comportamento é que TODOS NÓS o temos, todos nós PRECISAMOS dessas emoções, mais ainda, necessitamos desses estímulos e os procuramos SEMPRE! Só não notamos. Mas, quando vamos ao cinema, lemos um livro ou assistimos televisão, estamos na busca da emoção de baixo impacto, seja o sentimento de condoer-se com a heroína e chorar o amor perdido dela; assustar-se de acelerar o coração com a explosão inesperada; sentir frio na barrida ao descer no elevador pirata do parque de diversões; emocionar-se quando o herói, finalmente, vinga-se do vilão ou agradar-se com os finais felizes. Podemos inferir que essas emoções leves, são necessárias, úteis e positivas para nosso equilíbrio emocional. Pois é, essa necessidade basal de buscar emoção numa estória me levou a procurá-la no filme "O Arco”, película nipo-coreana de 2005 que conta a estória de um homem de sessenta anos que vem criando uma jovem num barco de pesca em alto mar, desde quando esta tinha sete anos. O combinado é que se casariam quando ela completasse 17 anos e faltam poucos meses para que ela complete essa idade. Eles vivem de uma forma simples, tocando um instrumento que é um misto de violino com berimbau e alugando o barco para pescadores esportivos. Começa a trama óbvia do filme, chega um pescador jovem pelo qual a menina se apaixona o que causa ciúme no velho. Daí para frente a atmosfera é uma sucessão de anticlímax, de vazio existencial chocho, sem mérito; em nenhum momento a jovem ou velho falam, não há diálogo, não há palavras, só gestos, olhares, bocas e nada mais. Nada que emocione, nada que injete alguma edorfina no sangue, nada que traga algum suspense, alguma sensação de medo ou expectativa, algum desconforto para quem está assistindo, ou alegria de ver uma boa estória, uma estória bem contada. A única impressão forte que imprime na nossa mente é que o filme deve ser obra de uma genialidade tal que está acima da compreensão de pessoas normais; ou de uma estupidez que beira o insulto a uma inteligência mediana de um ser mediano, como a maioria. Em ambos os casos o sentimento predominante é que sairemos frustrados se o lograrmos assistir até o final: ou não conseguimos captar a mensagem porque esta está acima de nossa capacidade de entendimento; ou está tão abaixo da crítica que estamos perdendo nosso tempo. A frustração e a raiva, ao contrário das emoções de impacto leve, são sensações extremamente negativas. O fato concreto é que, ao invés de proporcionar divertimento, emoção, deleite pela apreciação do belo, da arte criativa, dos finais felizes, o filme traz unicamente frustração, o espectador sai do cinema triste e puto da cara por ter assistido a tão nefando entretenimento. Bolas!! Ainda bem que meu semancol funcionou e saí na metade da fita, poupei-me de maiores chateações. JAIR, Floripa, 18/04/09.

4 comentários:

Augusto Ouriques Lopes disse...

Não vi o filme e agora não vou ver mesmo.

JOEL disse...

Como sou um sujeito facilmente influenciável, do tipo "maria vai com as outras", não vi e não gostei do filme "O Arco".
Abraços, Joel.

Adri disse...

Com frustacao, segue reflexao e assim vem o aprendimento, que por final vem satisfacao... Adri Lopes

Anônimo disse...

Achei muito intereçante a associação entre os níveis de emoções causadas pela liberação de endornifas e a acomodação de uma sociedade consumista e acomodada....abraços Jair!Beto.