segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O MÉDICO-MONSTRO


ROBERT LOUIS STEVENSON nasceu a 13 de novembro de 1850 em Edimburgo capital da Escócia, filho único de um próspero engenheiro civil. Desde muito jovem Stevenson quis ser escritor, e preparou-se para isso. Escreveu inúmeros livros, sendo os dois mais conhecidos, “A ilha do tesouro” (1881), e “O médico e o monstro” (1886), ambos tornaram-se clássicos de aventuras e terror. A ação de “O médico e o monstro” transcorre em Londres do século XIX. A ambientação propícia ao mistério: o fog londrino perpassa a história do princípio ao fim, as luzes mergulham nas sombras, os fatos marcantes ocorrem nas ruas estreitas e de pouco movimento. O que teria levado Dr.Jekyll, homem recatado, elegante, de finas maneiras, a proteger Edward Hyde, um criminoso de feições grosseiras e hábitos estranhos e assustadores? Por mais que Stevenson, com impressionante acuidade, tenha caprichado na descrição ambiental e na construção de personagem maligno e de intenções assustadoras e mortais, parece que nossa sociedade conseguiu produzir algo muito mais intimidante e terrível. Segundo as teorias de Dr. Jekyll, o homem, na verdade, não é apenas um, mas dois. Todo ser humano é dotado de duas naturezas completamente opostas equilibradas de acordo com sua saúde mental. Uma é boa, aquela que traz admiração das pessoas, compaixão dos mais velhos, elogios dos amigos e da esposa ou namorada, tal como um médico reputado que atende pessoas proeminentes da sociedade e cobra muito caro por seu trabalho, por exemplo; outra é má, aquela que é violenta, agressiva, mal-educada, feia e temida por todos, algo assim como um profissional que, aproveitando-se da incapacidade de reação de seus pacientes, comete atos lesivos a sua integridade física e moral, um criminoso dissimulado, enfim. As duas naturezas quando bem distribuídas, com pequenas alternâncias de estado, o homem pode ser considerado normal, mas há os casos em que uma natureza se sobrepõe a outra, tentando se libertar, um monstro abandona a mente do homem normal e comanda suas atitudes através daquele corpo que, até então, se comportava de modo dito civilizado. Um dos mais famosos especialistas em reprodução assistida do país, doutor Roger Abdelmassih, é acusado de crimes sexuais contra pacientes e está preso desde a última segunda-feira (17). O médico foi denunciado (acusado formalmente) pela Promotoria na última quinta-feira (13) sob acusação de 56 estupros. Em geral, as mulheres o acusam de beijá-las ou acariciá-las quando estavam sozinhas sob efeito de anestesia sem o marido ou a enfermeira presente. Algumas disseram terem sido molestadas sexualmente após a sedação. Há indícios que o médico venha apresentando esse comportamento de Mr Hyde por, pelo menos, quarenta anos e tenha molestado centenas de mulheres indefesas, algumas tendo ficado grávidas dele, inclusive. Pois é, a vida imitando a arte na maior crueza e de forma mais sinistra. A nossa versão de “Dr. Jekyll and Mr. Hyde” ganha de lavada dos personagens de Stevenson, com o agravante que é real e seus atos prejudicam pessoas reais, e não servem apenas para deleitar leitores de histórias de terror. JAIR, Floripa, 24/08/09.

domingo, 23 de agosto de 2009

A CORNUCÓPIA DO UNIVERSO


Como um deus generoso, transborda na natureza todos os entes que criou do nada, sem preocupar-se em saber, em sentir, em ter, indiferente. Ancho, dadivoso, solene e vasto, compreende cada grão de areia do deserto e cada estrela do universo. Traz no bojo, a sabedoria do eterno e vaga insensível sem apegar-se ao material, ignorando até a simples existência das coisas; transfigura-se no zero absoluto dos seres para quem nele pensa ou tem a veleidade de tentar compreendê-lo. Nada sobra quando ele se vai, mesmo porque, nada existiria sem ele e nada faria sentido na sua ausência, se esta fosse possível. Da vida, que a ele deve sua existência, nada exige e nem se dá ao exercício de encorajá-la ou exaltá-la como se importância tivesse além de existir, apenas. Dos seres que criou não tem a menor comiseração ou ressente-se se estes o desconjuram e a ele atribuem suas desgraças e mazelas. Desloca-se reto, obtuso, obstinado, sempre para frente, em velocidade constante rumo ao absoluto, onde só ele reinará pela eternidade. Ele é a cornucópia do universo, ele é o TEMPO. JAIR, Floripa, 23/08/09.

sábado, 22 de agosto de 2009

TEMPO


Há, sem dúvida, entre a ciência e os demais saberes filosóficos ou não, um acordo tácito no qual tudo é discutível, quaisquer coisas ou princípios se encontram abertos às dúvidas e questionamentos, o próprio infinito é, em princípio, uma abstração cuja realidade virtual depende de acreditarmos na sua existência. A única e inquestionável “entidade” é o TEMPO, ao qual não se pode atribuir adjetivos e é inconjugável; sua existência independe de nós, de nossa mente, de nossa fé e até do universo; o tempo é a alma imortal de todas as coisas; o tempo é o fio condutor universal que mantém a coesão do átomo até o aglomerado galáctico. Se o tempo deixar de existir ninguém notará, porquanto não haverá ninguém para notar. JAIR, Floripa, 22/08/09.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

SAL TEMOS E SAL VAMOS TER


No dia-a-dia de nossa civilização “fast-tudo”, com tantas opções disponíveis para facilitar ou melhorar as condições de vida do homem moderno, é quase impossível nós repararmos nos detalhes que fazem a diferença entre viver hoje e há cem ou duzentos anos, por exemplo. Estão tão entranhadas no nosso cotidiano as melhorias conquistadas ao longo do desenvolvimento social humano que quase não as vemos – e se vemos não reparamos: a água que escorre da torneira, que mata nossa sede e torna a vida mais limpa e saudável; a eletricidade sempre à mão para acionar os diversos recursos domésticos a nossa volta; os combustíveis (gases e líquidos) que produzem energia para deslocamentos, calefação e preparo alimentar; os próprios alimentos já semipreparados; e, principalmente o SAL, talvez por ser implícito, diluído, camuflado e apenas sentido nas comidas e bebidas. Contudo, esse condimento tão vulgar e barato já foi nobre. Os registros do uso do sal remontam a 5 mil anos. Ele já era usado na Babilônia, no Egito, na China e em civilizações pré-colombianas. Cerca de 110 a.C., o Imperador chinês Han Wu Di iniciou o monopólio do comércio de sal no país, transformando a "pirataria de sal" em crime sujeito à pena de morte. Foi também considerado um artigo de luxo e só os mais ricos tinham acesso a ele. Nas civilizações mais antigas, contudo, apenas as populações costeiras podiam extraí-lo. Mesmo assim, estavam sujeitas a períodos de escassez, determinados por condições climáticas e por períodos de elevação do nível do mar. A tecnologia de mineração só começou a se desenvolver na Idade Média. Basicamente existem dois tipos de sal, um deles é o sal marinho que é extraído através da evaporação da água do mar, e o outro é o sal de rocha também conhecido como sal-gema que é retirado das minas subterrâneas ou planícies de sal que são resultantes de mares e lagos antigos que secaram. É comum encontrar nos altiplanos bolivianos imensos lagos secos com profundidade de até cem metros de sal puro, aliás, lagos que são a única fonte de sal daquele País que não possui litoral. Ao longo da história da humanidade, principalmente na Europa, o sal foi considerado, juntamente com as chamadas especiarias, fundamental para a preservação dos alimentos e foi chamado de ouro branco. Era usado principalmente na conservação de carnes de aves, de peixes e de gado. Os Gregos e Romanos, utilizavam o sal como moeda para suas transações e com este condimento os romanos pagavam os soldados de suas legiões, daí surgiu a palavra salário que deriva de sal. Por ser tão valioso, o sal foi alvo de muitas disputas. Roma e Cartago entraram em guerra em 250 a.C. pelo domínio da produção e da distribuição do sal no Mar Adriático e no Mediterrâneo. E após vencer os cartagineses, o exército romano salgou as terras do inimigo, para que se tornassem estéreis. O sal em seu estado puro consiste de cloreto de sódio em forma de cristais e é encontrado em grande quantidade na natureza, em alguns casos são adicionados a ele substâncias ou temperos para o seu uso culinário. O Sal de cozinha, de mesa ou refinado: é o mais comum e também mais usado para preparar os alimentos; neste sal pelas leis brasileiras deve-se ser adicionado iodo para se evitar o bócio. Sal marinho: Existem diversos tipos, dependendo da procedência e a cor de seus cristais pode variar. O sal marinho, obtido por evaporação da água do mar, é um sal usado como ingrediente na cozinha e em produtos cosméticos, entre outros. O seu conteúdo mineral dá-lhe um sabor diferente do sal de mesa, que é principalmente cloreto de sódio purificado a partir do sal marinho ou obtido de sal rochoso (halite), um mineral obtido por mineração de minas de sal. O sal de mesa também contém, por vezes, aditivos tais como iodetos (usados como suplemento alimentar) e vários agentes antiaglomerantes. A macrobiótica considera que o sal marinho é uma alternativa mais saudável ao sal de mesa. Várias zonas do mundo, incluindo a França, a Irlanda, e a área de Cap Cod (EUA), produzem sal marinho menos salgado, por isso, especializado. Na maior parte do mundo, o sal marinho é mais caro que o sal de mesa. Entretanto, no Brasil, em função da abundância de locais de fácil encontro do binário sol/sal, como o litoral do nordeste, o sal marinho é o tipo mais comum e barato. Como Portugal possuía salinas, tratou de exportar seu sal para as colônias e de proibir não apenas a extração local, como o aproveitamento das salinas naturais. Os brasileiros, que tinham acesso a sal gratuito e abundante, foram obrigados, em 1655, a consumir o produto caro da metrópole. No final do século 17, quando a expansão da pecuária e a mineração de ouro aumentaram demais a demanda, a coroa, incapaz de garantir o abastecimento, permitiu o uso do sal brasileiro, desde que comercializado por contratadores, ou seja, por atravessadores portugueses. Os médicos aconselham que devemos reduzir o consumo de sal, para prevenir doenças no coração, principalmente a hipertensão. Entretanto, a mesma ciência que nos aconselha consumir menos desse tempero, permite que praticamente a TODOS os produtos alimentares seja adicionado cloreto de sódio. Como sou hipertenso, procuro evitar alimentos e bebidas que contenham valores apreciáveis de sódio, e, para isso, bani todo e qualquer refrigerante – inclusive diets e ligths - de minha vida, só bebo água mineral. Também não tomo água de coco porque contém sódio. Para minha surpresa, descobri que algumas marcas de água mineral têm sódio adicionado! Durma-se com um barulho destes! A elevada ingestão de sal de cozinha faz com que o organismo retenha mais líquidos e aumente seu volume, podendo elevar a pressão sanguínea causando a hipertensão que é responsável pelo infarto e a AVC (Acidente Vascular Cerebral), além disso o excesso de sal pode também prejudicar os rins. Não é somente diminuir o sal dos alimentos, deve-se também observar que vários alimentos industrializados possuem sal, por exemplo: pães, queijos, cereais, bolachas, enlatados, e, principalmente, embutidos. Desde já, dá para inferir duas coisas: na vida moderna é impossível livrar-se completamente do SAL; e, apesar dos riscos, sua presença é desejada, porquanto a vida é menos saborosa, a vida se torna INSÍPIDA sem esse condimento. JAIR, Floripa, 21/08/09.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

CURIOSIDADE


Em 1941, quando os Estados Unidos já haviam declarado guerra ao Japão, William Patrick H. (1911-1987) escreveu uma carta diretamente ao presidente Roosevelt solicitando permissão para servir nas forças armadas dos EUA. Ele era um cidadão britânico nascido em Liverpool, apto fisicamente e com idade para o serviço militar. Na época, alistamento militar era a forma mais fácil de conseguir a cidadania americana. Mas, como tinha vivido na Alemanha, foi posto em banho maria por três anos antes de ter seu voluntariado aceito. Por fim, admitido na Marinha, serviu por mais de um ano, foi ferido em combate, ganhou uma medalha e modificou seu sobrenome um tanto constrangedor para Stuart-Houston. O curioso é que esse voluntário era sobrinho de Hitler, filho de Alois Hitler Jr meio irmão de Adolf. Willy nascera em Liverpool, em 1911, e depois de uma fracassada tentativa de morar na Alemanha nazista e pegar carona na fama do tio ditador, acabou se mudando para Nova York. Seus filhos sobreviventes, hoje respeitados profissionais que trabalham com jardinagem, ainda vivem na cidadezinha de Patchogue em Long Island, Nova york, onde ele se estabeleceu após a guerra. Parece que, cientes que carregam uma herança maldita, todos os três filhos optaram por não terem descendentes e encerrar a linhagem. Recentemente deram declaração que pretendem escrever um livro contando a vida do pai, William Patrick Hitler.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

O MONSTRO


Já comparei aqui antes as atrocidades cometidas pelos dois maiores assassinos que a história registrou, Hitler e Stálin. Como o holocausto de Hitler talvez seja o fato criminoso que mais rendeu estudos, debates, registros, investigações e literatura a respeito, os crimes cometidos por Stálin permanecem meio que obnubilados e pouco comentados, até porque o hermético regime comunista nunca foi afeito a divulgar suas mazelas, reveses, insucessos e pecados. A propaganda soviética fez maravilhas na ocultação dos verdadeiros horrores de sua história e das condições em que viviam os cidadãos durante o stalinismo. Depois da queda da cortina de ferro, alguns documentos da época estalinista vieram a luz e expuseram, ainda que parcialmente, aquele período nebuloso de terror inominável que se abateu sobre o povo da União Soviética. Para se entender como foi possível um só homem, Stálin, exercer com mão de ferro o poder de vida e morte sobre milhões de pessoas, é necessário que se entenda como funcionava a hierarquia do poder naquele País. Todas as instituições do Estado, inclusive o Exército, estavam subordinadas ao controle dos órgãos do Partido Comunista; que deviam obediência cega aos escalões superiores; que eram chefiados pelo Comitê Central; que estava sob ordens do Politburo. Por sua vez, o Politburo, o Comitê, todos os órgãos do Partido e instituições do Estado estavam à mercê do Serviço de Segurança (NKVD, depois KGB); e o Serviço de Segurança era uma criatura de Stálin e a ele estava atrelado. Se Stálin não fosse escravo de seus demônios, seria o único homem livre do sistema. Todos temiam o ditador e este, como o macho dominante da matilha, tinha que mostrar a própria força – manter o terror no mais alto nível - sob o risco de ser triturado sem piedade pela máquina partidária infernal. O terror stalinista permeava todas as esferas da vida soviética, de modo que agora que os fatos são conhecidos, não se pode negar que estavam na mesma categoria de infâmia que as práticas do Nazismo de Hitler. Ele durou mais tempo, certamente matou mais seres humanos e, na destrutiva irracionalidade que podemos chamar de MAL ABSOLUTO, atingiu um nível mais profundo e mais inexplicável, se isso é possível. Porque, tendo eliminado todos os rivais do círculo bolchevique original, Stalin passou da matança seletiva dos “inimigos sociais” e opositores políticos para a eliminação de seus próprios seguidores. Em 1929-1930 dedica-se à coletivização da agricultura, liquidando camponeses - pequenos, médios ou grandes proprietários de terras. São todos executados ou deportados em massa com suas famílias. Durante o período de 1936-39, chamado de Grande Terror, ele praticou assassinatos em massa sem nenhum propósito aparente, sua sede de sangue parecia necessidade patológica. Às vésperas da guerra, ele vinha dando ordens ao Serviço de Segurança para matar cotas aleatórias: trinta mil habitantes de certa região, cinquenta mil de outra, sem qualquer justificativa, terror puro. Milhares de cidadãos completamente inocentes foram fuzilados após serem forçados a denunciar outros igualmente inocentes, que depois seriam também fuzilados. E o ciclo de falsas denúncias e assassinatos aumentou geometricamente até o ponto de ameaçar paralisar o país inteiro. Num surto paranóico insano, Stálin então condenou a morte seu principal assassino, Nicolai Iejov, chefe do Serviço de Segurança, que havia matado seu antecessor, Genrikh Iagoda. Iejov foi imediatamente morto por Lavrentii Béria, um depravado ensandecido, que comandou o NKVD durante a guerra e liderou a próxima leva de assassinatos de Stálin, aliás, o próprio Béria foi jogado numa infecta prisão e fuzilado mais tarde como traidor. Generais comandantes de exércitos eram executados sem julgamento por covardia, sempre que as batalhas trouxessem um revés para o Exército Vermelho, ninguém estava excluído da sanha assassina do Líder inconteste. O massacre de Katyn, na Polônia, onde 25 mil oficiais poloneses foram mortos e enterrados na floresta, se insere nessa política de terror stalinista, em 1992 foi divulgado pelo presidente Ieltsin documento assinado pelo próprio Stalin, em 05 de março de 1940 dando ordem para o massacre. O medo paralisante e coerção selvagem guiaram todas as políticas pelas quais o Estado stalinista foi mobilizado para desenvolver a guerra contra os alemães. Na verdade, para todos os cidadãos soviéticos que não estavam nas linhas de frente, a diferença entre paz e guerra nem se notou. O número de mortos durante o Grande Terror não foi muito menor que os mortos durante a guerra. Desde 1929, economia centralizada dependia de uma força de trabalho prisioneira das doutrinas do Partido e da disciplina de ferro do planejamento estatal. O suprimento de alimentos dependia da improdutiva agricultura coletivizada, o que equivale à morte por inanição de muitos, porquanto o pouco que se produzia era entregue ao Estado, e aos camponeses, servos das fazendas, o mais das vezes nada sobrava. Para os camponeses era um grande alívio ser convocado a lutar, pelo menos comia-se um pouco, combatia-se um inimigo conhecido ao invés de ficar em casa dominado pelo medo paralisante da hidra maldita que matava sem motivo e da qual não se tinha qualquer defesa. Terminada a guerra, os retornados, - tanto prisioneiros capturados pelas tropas alemãs, como civis levados como escravos para manter a máquina bélica em funcionamento enquanto os alemães lutavam – foram enviados para os Gulags, ou simplesmente fuzilados, 2,4 milhões de pessoas morreram. Em 1953, depois da morte do sanguinário ditador, no 20º Congresso do Partido Comunista da URSS, o sucessor de Stalin, Kruschev, denuncia o "culto da personalidade" stalinista e os crimes e atrocidades atribuídos ao monstro. Político duro, paranóico e sem escrúpulos, Stalin usou seu poder para destruir todos os que surgiram em seu caminho, foram mais de 17 milhões de assassinatos. Temido e admirado, é, muitas vezes, retratado como um homem de inteligência medíocre, que conseguiu seu poder graças, exclusivamente, à esperteza e ao impiedoso massacre dos que cruzaram à sua frente. Essa avaliação, contudo, é uma subestimação, pois a ideologia concebida por Stalin - que passou à história com o nome de stalinismo - teve grande importância na consolidação do regime soviético e de suas terríveis injustiças. O regime que seguiu até a derrocada final da aberração chamada comunismo, é fruto do stalinismo e de sua doutrina do Estado onipotente tendo como alicerce cidadãos sem qualquer valor humano, meros peões descartáveis. O MONSTRO venceu, sua ideologia de terror continuou invicta até o fim do IMPÉRIO DO MAL. JAIR, Floripa, 19/08/09.

COMUNISMO E NAZISMO


Os dois movimentos ideológicos que mais marcaram o século vinte, o Comunismo e o Fascismo na sua versão mais radical e violenta, o Nazismo, foram duas faces da mesma moeda. Em que pese diferenças teóricas de propósitos dessas ideologias, seus métodos e finalidades se equiparam, se mesclaram e as tornaram siamesas quanto à violência inaudita que usaram contra seus próprios cidadãos e ao mal que causaram à humanidade. Farinhas do mesmo saco, emanavam seu poder absoluto de um Estado forte, acima do cidadão, e de um partido único que ditava as diretivas de governo, cujo chefe se confundia com o chefe do Partido. O Nazismo, que cresceu rapidamente nos anos trinta do século passado, é o nome do movimento liderado pelo Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), de Hitler. Como o próprio nome do partido deixa implícito, era um movimento SOCIALISTA e NACIONALISTA, o que permite classificá-lo como de esquerda e de direita ao mesmo tempo, numa aparente contradição. A parte socialista de sua composição era revolucionária, populista e militante e conduziu seus membros a confrontos brutais de suas milícias fardadas com outras organizações socialistas e democráticas na Alemanha de entre guerras. Já, a parte nacionalista era uma espécie de aberração nunca antes vista em partidos fascistas ou quaisquer outros, nem mesmo na Itália onde o movimento havia nascido com Mussolini em 1922. Os nazistas apregoavam, contra todas as evidências científicas e antropológicas, que os alemães pertenciam a uma “raça superior”, predestinada a sobrepor-se a todas outras e dominar o mundo. Faziam apologia de que necessitavam de lebensraum (espaço vital) que seria conseguido através da eliminação e escravização de povos subumanos, eslavos, poloneses, ucranianos e ocupação de suas terras a leste. Pior do que tudo, segundo o livro Mein Kampf (Minha Luta) de Hitler, precisavam eliminar todos os judeus do planeta, a quem chamavam de lixo, percevejos e outros adjetivos impublicáveis, e a quem atribuíam todos os males da humanidade. Após assumir o poder em 1933, logo no ano seguinte realizaram um expurgo em seu próprio partido, “a noite dos longos punhais” onde assassinaram centenas de militantes das SA, órgão paramilitar que dava apoio a Hitler durante suas campanhas políticas, e costumava espancar, torturar e até matar militantes de outros partidos. Em seguida puseram em execução seus anunciados planos de exterminar todos que lhes fossem adversários políticos ou, meramente, seres que não tinham direito a vida como: judeus, ciganos, eslavos, negros, testemunhas de Jeová, homossexuais, comunistas, doentes mentais e deficientes físicos. Criaram um plano de eutanásia que alcançava os “pesos mortos” da sociedade alemã, e campos de concentração (Dachau, Buchenwald, Ravensbrück) onde matavam de fome, doenças e exaustão seus oponentes e as “raças inferiores”. Em 1935 os nazistas criaram as tais leis de Nuremberg, direcionadas aos cidadãos judeus e suas famílias, de modo a torná-los párias na sociedade que viviam a centenas de anos. Com a guerra iniciada em 1939, os nazistas deram vazão a seus instintos através da matança de milhões de civis inocentes, especialmente judeus, da Alemanha e de países ocupados. O chamado Holocausto levou aos campos de extermínio (Auschwitz, Belzek, Birkenau, Bergen-Belsen, Chelmno, Majdanek, Sobibór, Treblinka) e câmaras de gases, seis milhões de judeus e perto de três milhões de outras etnias, inclusive alemães. No leste, quando da invasão da Rússia, grupos de extermínio das tropas SS, acompanhavam a Wehrmacht (exército alemão), e matavam com um tiro na nuca, civis judeus e suas famílias bem como comissários políticos soviéticos. Só na ravina de Babi Yar, na Ucrânia, dezenas de milhares de judeus foram fuzilados covardemente, aliás, covardia era a marca registrada das ações praticadas pelas SS. O Comunismo, interpretação soviética radical do socialismo definido e defendido por Marx em seu livro “O Capital”, era uma autodefinição criada pela vanguarda de esquerda que se dizia “a única forma verdadeira de socialismo”. Em contraposição ao Nazismo que era considerado de “extrema direita”, o comunismo dizia-se de “extrema esquerda”. Na verdade, assim como o fascismo, o movimento comunista tinha sua própria mistura de elementos esquerdistas e direitistas. Enquanto fosse revolucionário tendo derrubado a elite que depôs a monarquia czarista dos Romanov, era ao mesmo tempo elitista, na medida em que um pequeno grupo de “camaradas” se aboletou na cúpula dirigente e detinha todo o poder que, em teoria, deveria emanar do povo. Com a morte de Lenin em 1924, fundador do comunismo soviético, subiu ao poder o sanguinário Stálin que além da ênfase na criação de uma nação forte e moderna e, para isso, criou planos quinquenais de desenvolvimento; passou à perseguição implacável daqueles que considerava adversários políticos, dissidentes do partido, etnias diferentes da sua – era georgiano – e antigos pequenos proprietários rurais, os quais agora deviam se tornar escravos em fazendas coletivas improdutivas que, na década de trinta, geraram crises catastróficas de fome que mataram milhões de pessoas. Contabiliza-se que 17 milhões de pessoas tenham sido eliminadas através de fuzilamento sumário, deportação para campos de trabalho na Sibéria, chamados Gulags, onde morriam de fome e frio, ou vítimas de torturas nas prisões de Moscou. Durante a guerra, Stálin estabeleceu ordens draconianas para que todo desertor e prisioneiro fossem sumariamente fuzilados, mais de dois milhões de soldados russos e inimigos tiveram esse fim. Depois da guerra internou em campos da morte todos os soldados que haviam sido prisioneiros dos alemães, todos morreram. Seja pela escala colossal de assassinatos; pela metodização tipo “linhas de montagens” empregados; pela degradação moral e física impingidas às vítimas; pela hediondez dos meios usados, ou motivos indefensáveis e fúteis alegados, não há parâmetros na História mundial para comparar os genocídios que essas duas ideologias perpetraram. Mesmo levando-se em conta os massacres dos armenios pelos turcos; dos índios americanos pelos colonizadores europeus; dos adversários de Idi Amin em Uganda; dos tutsis pelos hutus em Ruanda e dos Chechenos mais recentemente, os dois aparentes divergentes ideológicos, Hitler e Stálin, foram campeões incontestes de maldade e extermínio, foram sinistros agentes do MAL ABSOLUTO. Em nome de ideologias espúrias que foram conflitantes a ponto guerrearem entre si, convergiram e se mesclaram dentro da fome de poder e praticaram os maiores crimes que a humanidade já assistiu. JAIR, Floripa, 17/08/09.

sábado, 15 de agosto de 2009

LEPIDÓPTEROS


As borboletas são, possivelmente, os insetos mais vistosos, mais ornamentais, mais apreciados pela beleza das asas, mais citados pela literatura poética, mais impressos, pintados e desenhados, mais úteis para polinização e, paradoxalmente, mais massacrados pelo homem. Seja para confeccionar adornos de discutível gosto para vender a turistas, ou espetar alfinetes e “colecioná-los” sem qualquer critério; seja pelo nefando hábito de matar as lagartas do bicho conhecidas como, taturanas e mandorovás e bichos-cabeludos, os pobres insetos servem aos instintos mórbidos e ganância comercial humanos numa escala sem precedentes e, pior, sem terem “culpa no cartório”. Sempre que vejo alguém eliminando lagartas das plantas pergunto o porquê e, quase sempre a resposta é porque são nocivas, feias, prejudiciais. Quando pergunto se a pessoa gosta de borboletas a resposta, invariavelmente é sim. Comportamento paradoxal, as mesmas lagartas que são mortas por serem feias, seriam as borboletas que alegrariam a vista do matador perverso e trariam sorriso ao rosto de uma criança inocente. E, ainda, existem pessoas portadoras de um medo tolo e irracional desses inocentes bichos. A maioria dos lepidópteros não é prejudicial ao homem. As borboletas e mariposas têm papel fundamental na polinização das flores. As lagartas, que são as larvas, podem, por sua vez, causar danos em lavouras ao se alimentar, mas fertilizam o solo com as fezes, e os adultos polinizam as mesmas plantas as quais servem de alimento para suas crias, numa espécie de mutualismo que compensa o dano causado pela alimentação; e algumas são importantes comercialmente, como o bicho-da-seda, borboletinha domesticada pelo homem para fornecer a tão estimada fibra para confecção de tecidos finos e caros. As borboletas são insetos com dois pares de asas com membranas cobertas com escamas e peças bucais adaptadas para a sucção. Embora os lepidópteros pareçam frágeis e apresentem um vôo errático, aparentemente sem direção definida, eles constituem o exemplo mais extraordinário de resistência e de migração a longa distância de qualquer inseto que se tem notícia. A belíssima borboleta-monarca é um animal migratório que, para fugir do frio, costuma viajar todos os anos do Canadá ou dos EUA para o México numa viagem que pode atingir 5950 quilômetros em sete semanas, sem qualquer alimentação ou parada para descanso durante o trajeto. A ordem Lepidoptera compreende duas subordens: Rhopalocera, que apresenta exemplares adultos que voam durante o dia e são denominados borboletas, e Heterócera, que tem atividade noturna e cujos exemplares são chamados de mariposas, bruxas, damas da noite ou borboletas noturnas, em Portugal são chamadas de traças, não me perguntem por quê. Em geral, é possível distinguir borboletas de mariposas quando estão pousadas, as primeiras costumam manter as asas abertas e as outras fechadas. A metamorfose das mariposas faz-se dentro de um casulo mole; as borboletas segregam uma crisálida rígida. As borboletas são em geral coloridas; as bruxas têm coloração sem viço adaptada ao modo de vida noturno. O corpo das borboletas é delicado, costuma ser fino e alongado; as mariposas têm formas mais pesadas, geralmente arredondadas e robustas. No Brasil existem aproximadamente 50.000 espécies de lepidópteros, 57 delas ameaçadas de extinção. As borboletas são fecundadas pelo macho após deixarem a crisálida. A fêmea procura uma planta para colocar seus ovos, em alguns dias os ovos eclodem e saem lagartas que comem a casca dos ovos e a partir daí começam a comer folhas e não fazem outra coisa senão comer. A próxima etapa da metamorfose das borboletas é chamada pupa. Na crisálida, a lagarta se transforma em borboleta lentamente. Quando o processo de transformação termina, a crisálida se abre e a borboleta sai. Quando sua asa estica e fica seca, a borboleta está pronta para voar e alegrar as vistas daqueles que as apreciam, tanto quanto as eliminam. Como citei no início, estes insetos estão presentes na literatura e no imaginário popular, são bonitos e símbolo do etéreo e do poético e, acrescento, de forma lírica ou inspiradora, como musas ou adornos da cena romântica, como acessórios de um panorama ou paisagem e, quase nunca, como protagonistas de desejo ou fonte de uma paixão. Thi Perini, autor de “divagações adolescentóides” segundo ele, escreveu um relato de experiência infantil que considero o melhor texto que já li tendo uma borboleta como objeto de paixão: "Quando eu era criança, bem criança e vivia num sítio, passava as tardes brincando sozinho, nadando no córrego, explorando as grutas e apagando as queimadas que os fazendeiros faziam nos sítios vizinhos, uma vez uma borboleta encanou de me seguir. Pra onde quer que eu fosse ela vinha atrás, pousava no meu ombro, voava ao redor da minha cabeça e eu me apaixonei. À medida em que o dia passava fui sendo tomado por um pavor terrível por saber que borboleta não serve como animal de estimação e que, quando a noite chegasse, ela iria fazer o que quer que seja que as borboletas façam quando anoitece e certamente me abandonaria". Pois é, apesar do bicho homem que, como um rei Midas ao contrário, em tudo que toca vira eca, ainda há alguma esperança para a humanidade, quando a vilipendiada borboleta pode ser o centro da inspiração de um adolescente criativo, nosso futuro como espécie que respeita as outras espécies ainda pode ser viável. Um Planeta onde homens e borboletas possam viver sem que o mais forte e menos racional deles extermine o mais frágil e mais formoso, ainda é plausível e profundamente desejável. JAIR, Floripa, 15/08/09.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

A GRIPE PARA LEIGOS (COMO EU)


Com a chegada da gripe, primeiro denominada injustamente de “suina” e depois de “Influenza A (H1N1)” e alcunhada de “A” para facilitar nossa vida, surgiram afirmações na imprensa que deixam nós, os leigos, se não apavorados, pelo menos temerosos do que pode acontecer: à nossa saúde em particular; e ao resto da humanidade no geral. De cara, a palavra “pandemia” está sendo largamente utilizada permitindo-nos imaginar alguma coisa como a peste negra que assolou a Europa, em várias ocasiões a partir do século doze, matando quase um terço da população, e dizimando aldeias e cidades quase ao ponto de inviabilizar a civilização em algumas das regiões mais afetadas; ou lembrar da gripe espanhola que, causada por um vírus extremamente fatal ao homem, se propagou em progressão geométrica a partir dos campos de batalha da Europa em 1917 e matou milhões de pessoas em todo o mundo; ou, ainda, a chamada gripe asiática que, em meados da década de cinquenta do século passado, contagiou mais da metade da população mundial, levando a óbito centenas de milhares de habitantes, acometidos de infecções oportunistas, em virtude da imunidade diminuída pela doença. Será que o termo pandemia está bem colocado e devemos temer mais essa gripe que as gripes comuns que todos os anos acometem milhões de pessoas em todo o mundo matando muitos milhares delas? Será que a gripe “A” é tão perniciosa que devemos nos cercar de cuidados muito mais severos que os usados contra as gripes comuns? Para nos situarmos a respeito dessas indagações vamos rever alguns fatos e procurar algumas definições. Todas as doenças causadas por microorganismos patogênicos ou agentes biológicos como, vírus, bactérias, amebas, fungos, protozoários e parasitos têm algumas particularidades comuns, umas com as outras: contágio, virulência, morbidade e mortalidade são quatro importantes fatores que todas têm, e que definem a gravidade da ocorrência quando estas se instalam numa população e, em menor ou maior grau, demandam cuidados necessários para evitar uma epidemia ou uma pandemia. Lembrando: Epidemia – doença que ataca ao mesmo tempo muitas pessoas da mesma terra ou região; Pandemia – doença que ataca ao mesmo tempo a maior parte das pessoas de uma região ou do mundo. Agora vejamos os conceitos das características comuns das doenças infecciosas: Contágio – transmissão de doença por contato mediato ou imediato. É a capacidade que o agente tem de se difundir numa população, seja por contato físico, transmissão de sangue, troca de mucos corporais ou pelo ar, simplesmente. Assim, a AIDS, por exemplo, é muito menos contagiosa que qualquer gripe, sendo que esta ao ser transmitida pelo ar é extremamente “democrática”, não escolhe classe social, cor, idade, credo religioso ou nível de escolaridade; Virulência – capacidade do microorganismo de causar danos ao organismo afetado, ou seja, intensidade da doença que o agente causa. De forma que, um vírus que causa uma leve coriza e algum desconforto é menos virulento do que outro que causa febre, dores no corpo e congestão pulmonar; Morbidade – taxa de indivíduos doentes numa dada população. Maior número de doentes em relação ao número de habitantes, igual a morbidade maior, bem simples; Mortalidade – número de doentes que morrem em função da doença. Se de certo grupo de doentes morre a metade, significa que a mortalidade é de cinquenta por cento. Lembrando que a medicina diz que, ao contrário das gripes espanhola e asiática do passado, tanto o contágio como a virulência, a morbidade e a mortalidade da gripe “A” são iguais das outras gripes. E não me venham com a conversa que se trata de um vírus novo, porque, o universo de vírus que causam gripe compõ-se de mais de duzentas variedades diferentes, de tal modo que podemos ter gripe todos os anos de nossa vida sem nunca repetir o mesmo vírus, sempre somos atacados por um novo vírus. Então para que tomar medidas excepcionais contra alguma coisa igual outra que se enfrenta sem maiores problemas? E tem mais uma coisa importante, mas que ninguém fala: todos os anos milhões de pessoas são acometidas de gripes “comuns” e muitas morrem. Isso significa que com o surgimento de uma nova gripe com a mesma potência das outras (contagio, virulência, morbidade e mortalidade), vai morrer o dobro de pessoas contagiadas, já que agora temos mais uma doença? A reposta é NÃO. Porque grande maioria dos que são contagiados pela nova gripe são as mesmas pessoas que seriam atingidas pelas gripes comuns, apenas o agente é outro, um pouco diferente, mas as condições que as pessoas pegaram a gripe “A” são as mesmas que pegariam as outras gripes. Então não podemos somar os pacientes de gripes diferentes. Quando muito podemos criar um “fator de novidade gripal” que adiciona um pouco mais de pacientes afetados, já que a novidade alcança, além dos indivíduos pré-determinados a ficar gripados, - ou seja, aqueles que pelas condições físicas debilitadas, ou pela exposição aos fatores de contaminação, pegariam qualquer outra gripe no período considerado, - alguns outros poucos que viajaram para o exterior e lá se expuseram ao novo vírus, por exemplo. Assim, meus senhores, pandemia, epidemia e os cambau é exagero, é alarmismo desnecessário e paranóico. Que devemos nos prevenir, não tenham dúvidas, mas não há razão para pânico nem para fechar escolas, ou usar máscaras cirúrgicas o tempo todo. A prevenção deve ser igual a que teríamos que fazer contra qualquer gripe. Se assim fosse, todos os anos em período de surto gripal todas as escolas deveriam ser fechadas e os mesmos cuidados agora tomados seriam obrigatórios também. Considerando que existem apenas duas opções para criarmos anticorpos que nos imunizem contra esse agente: vacinação e exposição ao virus, o que as autoridades estão fazendo é uma rematada estultice, pois não temos vacina e estamos evitando a exposição, ou seja, o problema está sendo adiado, empurrado com a barriga, algum dia nossa saúde vai pagar essa conta. Ou então, a medicina está escondendo alguma coisa terrível a respeito dessa gripe e não nos diz nada, o que não acredito, teoria conspiratória não é uma boa opção. JAIR, Floripa, 11/08/09.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

SOBRE NUVENS


Duvido que exista alguém que, quando criança, não se deitou na grama e apreciou as nuvens, não viu castelos, peixes, barcos e aves em constante mutação naquelas formações brancas que se parecem com algodão doce em alguns momentos. Duvido também, que a maioria desses que olharam as nuvens e as curtiram ou se encantaram com elas, saiba como são formadas, de que matéria elas se constituem ou porque existem céus sem nuvem e céus nublados. Interessante não? Nós, virtualmente, vivemos a nossa existência toda debaixo dessas formações e estamos, o mais das vezes, a mercê de fenômenos relacionados com elas, costumamos tomar decisões como, “hoje vai dar praia?” em função delas e geralmente nada sabemos sobre essas efêmeras mutantes atmosféricas. As nuvens não nos são indiferentes, contudo, como atesta nossa literatura poética que está eivada de referências e termos que relacionam as nuvens a nós. Exemplo: Nefelibatas são pessoas que vivem com a “cabeça nas nuvens”, fora da realidade, em devaneio, sonhadores, enfim; Estar nas nuvens significa estar feliz, muito satisfeito, extasiado de alegria; Como nuvem passageira é outra expressão usada para nomear algo fugaz, transitório, que não deixa rastro; Como nuvens carregadas, expressão que quer dizer algo funesto, pungente, tristonho. Claro, se a literatura e a imaginação humanas registram tantas expressões e termos relacionados com as nuvens, isso deve significar que, apesar de quase nada sabermos sobre elas, as consideramos importantes, necessárias e até fundamentais em nossa vida, não é mesmo? Assim, vale a pena saber alguma coisa sobre essa massa de vapores de água condensados na atmosfera em forma de gotículas, que produzem cores e formas variadas em diversas altitudes. Bem, vejamos então o que podemos dizer sobre essas familiares desconhecidas que pairam sobre nossas cabeças, ou passam ligeiras sob nossos pés quando viajamos de avião: As nuvens são formadas pelo resfriamento do ar até a condensação da água que ascendeu aos ares devido evaporação de rios, lagos, pântanos, mares e umidade do solo. Para que haja a nuvem são necessárias três condições, sem as quais ela não se forma: ¹água em forma de vapor, ²temperatura adequada e ³núcleo de condensação. Depois que a água evapora, ela tende a elevar-se em virtude que o ar aquecido próximo do solo é mais leve que o ar frio, e o vapor de água encontra-se misturado ao ar atmosférico e sobe com este; a medida que o ar sobe vai encontrando condições mais frias, expande-se em função da pressão menor e está pronto para formar nuvens, só faltando o terceiro elemento; ao encontrar núcleos de condensação, que podem ser partículas de poeira, pólen, cinza vulcânica ou fumaça, o invisível vapor dágua diluído no ar tende a ser atraído por esses corpos estranhos, se aglomera em torno deles e forma a gotícula visível da nuvem. Sabem aquele rastro que parece fumaça saindo dos aviões a jato em grande altitude? O nome é trilha de condensação e é uma nuvem. Acontece que naquela altitude existem duas condições para a formação da nuvem, mas falta a terceira. Há vapor dágua na atmosfera e temperatura adequada, faltam os núcleos de condensação. A exaustão dos motores do avião fornecem os núcleos em forma dos resíduos da queima do combustível, em geral monóxido e dióxido de carbono. As partículas se aglomeram em torno dos núcleos e formam a nuvem, cuja existência será longa ou breve dependendo se as condições permanecerem ideais ou não. Daí, dependendo da altitude, regime dos ventos e temperatura, da orografia do terreno, da quantidade de água e gelo na formação e da aparência, as nuvens passam a ser classificadas em dez categorias diferentes, cada uma com suas particularidades. Claro, existindo desde diáfanos véus como os cirrus e cirrocumulus, até nuvens pesadas que geram chuvas como as nimbostratus. O esquema abaixo dá uma idéia dessa nomenclatura e as formas mais comuns dessas companheiras do cotidiano:



Sabem aquelas nuvenzinhas que habitualmente são branquinhas e parecem fofinhas, com jeito de carneirinhos ou chumaços de algodão? Pois é, elas são as mais comuns e são chamadas de “Cumulus humilis”, isso mesmo cúmulo humilde, por que são baixas e menos imponentes que outras, como suas irmãs mais velhas e rechonchudas cumulus congestus, ou suas primas mal humoradas e perigosas para a aviação cumulonimbus, por exemplo. Vejamos uma boa descrição dessas humildades: "Os cumulus humilis (cumulus de bom tempo) parecem grandes flocos densos de algodão a flutuar e têm uma base plana (mais escura) e contornos bem definidos que se vão tornando menos definidos à medida que envelhecem e ficam mais erodidas. As partes iluminadas pelo Sol têm uma cor branca brilhante. Formam-se em massas de ar com alguma instabilidade, quando a umidade é relativamente baixa e a temperatura é relativamente elevada”. Sejam quais forem nossas relações ou nossa informações a respeito das nuvens, o fato é que entre o céu e terra elas são soberanas; desde sempre são resultado e influem no clima e nas condições que tornam possível a vida sobre o Planeta e não há nada que possamos fazer para modificar seu caráter onipresente e atuante todo o tempo. Quando a humanidade já não habitar esse planetinha azul e o fim dos tempos para os homens tiver chegado, as nuvens continuarão aí ainda, formosas, flutuantes e volúveis, decorando o teto celeste sem ao menos se importarem com nós, e ressaltando nossa insignificância frente ao universo. JAIR, Floripa, 10/08/09.

sábado, 8 de agosto de 2009

HAMMER E O LÁPIS


Na antiguidade clássica, tanto gregos quanto romanos já utilizavam instrumentos parecidos com o lápis: eram barrinhas redondas de chumbo que serviam para traçar linhas, desenhar e escrever. O protótipo do lápis poderá ter sido o antigo stylus romano, o qual consistia de um pedaço de metal fino, geralmente chumbo, utilizado para escrever nos pergaminhos. Entre todos os instrumentos de escrita, o lápis é sem dúvida o mais universal, versátil e econômico, produzido aos milhões todos os anos, mesmo na era da Internet. Os primeiros lápis, como são conhecidos hoje, vieram das montanhas de Cumberland (Inglaterra), onde em 1565 foi encontrada a primeira mina de grafite. O grafite da mina inglesa de Cumberland foi de tal forma explorado, que os ingleses passaram a proibir sua exploração sob ameaça de pena de morte. A qualidade do grafite inglês e os lápis com ele produzidos foram desvalorizando-se cada vez mais. Explique-se, o grafite era encaixilhado e colado dentro de pequenas ripas de madeira, cujo formato final era moldado manualmente, formando uma espécie de sanduíche. E somente por possuir o monopólio do mercado é que a Inglaterra conseguiu vender seus lápis de má qualidade por um preço ainda alto. O lápis surge na Alemanha pela primeira vez em 1644 na agenda de um Oficial de Artilharia. Em 1761 na aldeia de Stein, perto de Nuremberg, Kaspar Faber inicia sua própria fábrica de produção de lápis na Alemanha. A partir de 1839 ocorre um aperfeiçoamento do chamado processo de fabricação do grafite, com a adição de argila; A partir de então argila e grafite moídos são misturados até formarem uma pequena vara e depois queimados. Através da mistura de argila com grafite tornou-se então possível fabricar lápis com diferentes graus de dureza. Em 1856 Lothar von Faber adquire uma mina de grafite na Sibéria, não muito distante de Irkutsk, que produzia o melhor grafite da época. Embora a forma e a aparência externa dos lápis tenham sido mantidas iguais até os nossos dias, não é possível comparar os lápis fabricados antigamente com a pureza e seriedade com que os artigos atuais são produzidos. Armand Hammer, (1898 – 1990) mega empreendedor norte americano com interesses múltiplos, tornou-se multimilionário atuando nas áreas de petróleo, produtos farmacêuticos e alimentícios, papelaria, importação de caviar e peles e, acreditem, fabricação de LÁPIS na União Soviética. Hammer já se tornara muito rico nos EUA no início do século, quando então resolveu diversificar sua atuação vendendo produtos farmacêuticos e o excedente da produção de trigo americano para os russos. Em 1920, ele mudou-se para a União Soviética em especial para acompanhar o seu grande negócio de exportação de canetas e lápis e importação de caviar e peles de zibelina. Uma vez lá, verificou que os lápis russos eram de tal forma ruins, de baixa qualidade, que prejudicavam o aprendizado das crianças, o grafite era duro e quebradiço e a madeira da qual eram fabricados era de veios irregulares e muito dura também. Foi aí que resolveu propor ao governo soviético, - que nessa altura ainda era representado por Lenin, - construir uma fábrica de lápis nos moldes das existentes no Ocidente. Uma vez conseguida a concessão, importou dos EUA todo o maquinário, trouxe alguns técnicos e operários especializados e montou a maior fábrica de lápis do planeta. Seus produtos eram de tão boa qualidade, que as fábricas soviéticas se viram quase às moscas, porquanto todas as escolas, repartições governamentais e outros órgãos da burocracia preferiam os lápis Hammer a quaisquer outros. Depois de algum tempo Hammer passou o controle da fábrica para os soviéticos e retornou aos EUA, mas, até hoje Hammer ainda é sinônimo de lápis da Rússia, mais ou menos como algumas pessoas chamam lâmina de barbear de “gilete”, confundindo a marca com o produto. Agora, o gancho que fecha o círculo Hammer - Lápis: no início da corrida espacial os americanos verificaram que as canetas esferográficas comuns não funcionavam bem em condições de gravidade zero e a baixas temperaturas. Para resolver esse problema, os engenheiros contrataram uma empresa especializada (Fischer) para projetar a caneta espacial. Dez anos e US$ 12 milhões depois, estava pronta a caneta que podia ser usada no espaço em qualquer posição, embaixo d’água, em qualquer superfície, inclusive metálica, em temperaturas de até 30 graus negativos e 180 positivos e jamais vazava. Essa caneta não é lenda urbana, eu tenho uma dessas que ganhei de meu filho. Os russos, que tiveram o mesmo problema, optaram por uma solução mais simples: passaram a usar um lápis. Quem diria, esse mesmo singelo lápis que um megacapitalista típico, num momento de inspiração em busca de maiores lucros, havia introduzido na burocracia mais cabulosa do planeta; um produto tão simples e universal, serviu para cutucar o orgulho dos americanos contribuindo fortemente para um vexame frente a seus concorrentes menos imaginosos e mais pobres. São os ossos do capitalismo, eu diria. JAIR, Floripa, 09/08/09.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O ABACAXI


Fruto é o invólucro que envolve e protege a semente, produto da floração. Os frutos têm origem do ovário das flores. Após a fecundação dos óvulos em seu interior, o ovário cresce, acompanhado de uma alteração de seus tecidos provocada pela influência de hormônios vegetais, que atuam na estrutura, consistência, cores e sabores, dando origem ao fruto. Os frutos mantêm-se íntegros protegendo as sementes até, pelo menos, o momento da maturação. Quando as sementes estão prontas para germinar, os frutos amadurecem, e podem se abrir ou cair ao solo, liberando as sementes, ou tornam-se atrativos para serem ingeridos por animais, que as depositarão após estas passarem por seu aparelho digestivo. Assim, vegetais superiores que se reproduzem por sementes e cumprem todas as etapas de floração, fecundação e desenvolvimento de sementes, produzem frutos, exemplos: coqueiros, laranjeiras, figueiras, jaqueiras, tomateiros, berinjeleiras, caquizeiros, etc. Alguns frutos, entretanto, são chamados de legumes, tais como; pepino, chuchu, tomate, berinjela etc, não há uma linha divisória exata que defina o que é um legume. Já, fruta é uma designação genérica de todos os frutos e inflorescências usadas como alimentação, geralmente “in natura” exemplo: coco, laranja, cereja, manga, morango, abacaxi etc. Lembrando que inflorescência é uma espiga formada de flores completas. Deu para entender? O abacaxi, assim como também o morango, não é um fruto em termos biológicos, não tem as características que o definem como um fruto, não é produzido por uma planta superior que gera sementes. O abacaxi é uma inflorescência de flores extremamente juntas aderidas a um eixo central, e é uma fruta, aliás, certas variedades de abacaxi são excelentes frutas. Não seria uma sandice afirmar que o abacaxi é um cacho de flores. Também é, por estranho que possa parecer, uma bromélia. Sim, meus caros amantes e colecionadores dessas lindas plantas, o abacaxi é uma ilustre espécie da família das bromeliáceas. Embora haja botânicos que situam a origem do vegetal na África e até na Oceania, não há dúvida que o abacaxi é oriundo da América, pois já era cultivado pelos indígenas em extensas regiões do Novo Mundo, antes do descobrimento. Como só existem variedades selvagens aqui nas Américas fica claro que é daqui que o abacaxi se espalhou pelo mundo tropical e semitropical. Origina-se da América do sul e, ao que parece, do sul do Brasil. Provavelmente, as atuais variedades cultivadas descendem de abacaxizeiros selvagens aqui existentes. Não se sabe, todavia, quando, onde e como essa domesticação se verificou, mas, a 4 de novembro de 1493, Colombo e seus marinheiros descobriram o abacaxizeiro na ilhas Guadalupe, nas Pequenas Antilhas. As espécies selvagens de abacaxis e suas variedades principais são: Ananaí-da-amazônia, ananás-branco-do-mato, ananás-vermelho-do-mato, curauá-da-amazônia, existem, também, algumas variedades que dão uma fruta não maior que seis ou sete centímetros e são excelentes para decoração. Todos têm as margens das folhas armadas de espinhos, exceto a última, nas quais, praticamente, só existe um acúleo terminal. Essa fruta não tem casca propriamente, possui uma superfície rugosa que deve ser retirada para consumo. O que pode ser chamada casca do abacaxi é formada pela reunião das brácteas e sépalas das flores que o formam. Logo abaixo da “casca”, inseridos na periferia de depressões em forma de taça, podem ser encontrados restos de pétalas e de estames, enquanto de cada uma dessas depressões aparece um vestígio de estilete. É exatamente esse estilete que pinica a língua de quem não toma o cuidado de retirar a casca da fruta de maneira apropriada. Talvez, pelo fato de o abacaxi possuir essa espécie de casca difícil de retirar, no Brasil é comum designar-se como ABACAXI um problema espinhoso ou complicado de resolver. Quando maduro o abacaxi apresenta sabor muito ácido e muitas vezes adocicado. É rico em vitaminas C", B1, B6, ferro, magnésio e fibras. Devido sua beleza e existência da coroa, o abacaxi é conhecido como rei das frutas. Além da polpa, a casca e o miolo do abacaxi podem ser utilizados para a produção de sucos. Previne dores de garganta e resfriados e é bom para a circulação por conter a enzima bromelina. Servindo também como tempero para amaciar carnes. O abacaxi pode ser consumido in natura, industrializado sob a forma de geléia, vinho, cristalizado, passa, licor. Ao comprá-lo é bom observar se as folhas da coroa não estão secas nem murchas, se o cheiro está bom e não existem manchas, e a melhor forma de comprovar se está bem maduro é puxar uma folha da coroa, esta saindo com facilidade está bom para consumo. O melhor período de safra compreende o mês de dezembro a janeiro. No Brasil, são cultivadas várias espécies, como o abacaxi amarelo, porém a que se destaca é a variedade Pérola, de polpa amarelo-pálida, sabor bastante doce, casca esverdeada, mesmo quando maduro e pouca acidez. Os principais países produtores de abacaxi são os Estados Unidos (no Awai), o Brasil, a Malásia, Formosa, México e as Filipinas. Pois é meus leitores, essa fabulosa fruta tão brasileira não deve faltar à mesa de qualquer pessoa, seja ela preocupada com dieta e alimentação saudável ou não. Bom apetite a todos! JAIR, Floripa, 08/07/09.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O SUDÁRIO


O termo sudário vem do latim, sudarium que significa pano para suor, toalha pequena. A primeira menção que se faz do hoje chamado Sudário de Turim é de 1157 por um abade islandês, Nicholas Soemundarson que foi em peregrinação à Constantinopla e diz ter visto, entre outras relíquias religiosas, um “sudário com sangue e marcas de Cristo” naquela cidade. Depois disso, Godofredo de Charny, cavalheiro francês de reconhecida bravura, adquiriu-o em 1356, possivelmente de origem espúria, já que nunca esclareceu como o tinha conseguido. Quando Godofredo morreu, sua viúva permitiu que o sudário fosse exibido como objeto adoração na igreja que seu marido havia construído. Hoje, propriedade legal da monarquia italiana e cedido ao museu religioso do bispado, encontra-se em Turim, Itália, um pano de linho fiado manualmente com 4,36 metros de comprimento por 1,10 metros de largura com características tais que suscita veneração religiosa de muitos cristãos e curiosidade científica e histórica em uma boa parte da intelligentsia mundial. E a igreja católica não oficializa qualquer posição a respeito, ou seja, não contesta a autenticidade do tecido nem desencoraja quem o julga verdadeiro, portanto, santo. Sobre o longo pano existem duas esmaecidas imagens cor de palha, uma de frente outra de costas de um homem nu que foi, aparentemente, flagelado e crucificado, cujas mãos estão cruzadas abaixo do abdômen. As imagens aparecem cabeça com cabeça, de modo a sugerir que um corpo tenha sido deitado de costas em uma das pontas do tecido, o qual foi depois dobrado para cobrir a frente do corpo. O sudário tem muitos buracos queimados e chamuscados que foram remendados. Além disso, tem sinais inequívocos de sangue nos pulsos, pés, testa, abdômen e costas. Existem, também, grandes manchas de água que, segundo a história apareceram em função de um incêndio em 1532 no santuário onde se encontrava a relíquia. Pegou fogo no altar e derreteu em parte a caixa de prata onde se encontrava a rara peça, queimando-o em alguns lugares. Foram feitos remendos com linho de outra origem, e estes são bem visíveis até hoje. Ao apagarem o fogo teriam molhado o tecido manchando-o de água. Início da polêmica, em 1381, pela primeira vez, o sudário teve sua autenticidade contestada por três bispos que o examinaram. Um dos bispos escreveu ao Papa Clemente VII que se encontrava em Avinhão: "O sudário é uma falsificação pintada, e a igreja local está se tornando rica através das contribuições feitas pelos peregrinos que vêm vê-lo". O Papa recebeu a carta e sentenciou o bispo que a escreveu ao silêncio perpétuo sobre o assunto, e ordenou que os eclesiásticos dissessem que o pano era uma “representação”. De lá para cá, mesmo raramente apresentado ao público, o tecido tem acalorado discussões inconcludentes entre os adeptos de sua santidade e os céticos. A bibliografia a respeito de sua história e de suas características é vasta, dúzias de livros já foram publicados por aqueles que tiveram a experiência de tê-lo visto, fotografado e pelos que apenas fazem cogitações a respeito. O estudo mais extenso, com mais embasamento científico e melhor documentado já realizado sobre o objeto foi feito em 1978 por um grupo de cientistas americanos que, aproveitando uma exibição pública da mortalha que iria acontecer naquele ano em Turim, formou uma equipe de quarenta sumidades nas áreas de ótica, fotografia, espectroscopia, radiologia, física molecular e nuclear, entomologia, microscopia, botânica, fisiologia, anatomia, hematologia e outros tantos ramos da química, e submeteu o pano por cinco dias (120 horas contínuas) a testes não destrutivos cujos resultados foram analisados, comparados e deglutidos depois por mais de 150 mil horas de trabalho e trouxeram conclusões interessantes, inusitadas e até surpreendentes. Pelas evidências físicas, matemáticas, médicas e químicas ficou claro que devia ter havido um homem crucificado no Sudário. Foram descobertas evidências medicamente exatas de um homem que fora açoitado com um flagrum (chicote de duas ou três pontas terminadas em peça de metal, osso ou pedra, usado pelos romanos), tanto de frente como de costas, por dois homens; que havia carregado alguma coisa pesada que lhe feriu ambos os ombros; que tivera alguma coisa colocada sobre sua cabeça, que causara ferimentos pontilhados no couro cabeludo e na testa; que tivera lesões no nariz e nos joelhos proporcionados por uma queda; que fora golpeado no rosto; que fora crucificado no local anatomicamente certo, ou seja, os pulsos; cujo sangue, escorrendo pelos braços, tivera gotas sensíveis à gravidade nos ângulos corretos para a posição dos braços numa crucificação; cujas pernas foram quebradas; que tinha uma lesão em forma de elipse no lado sugerindo ferimento com objeto contundente; e que, deitado sobre o pano, teve sangue post-mortem escoando do ferimento e empoçando na parte mais estreita das costas; cujos pés haviam sido trespassados por uma ponta de ferro e sangraram; e nas plantas desses pés havia terra, sugerindo que o homem havia andado descalço antes do sacrifício. Vejam as palavras de Don Lynn, um cientista, a respeito do assunto: "O Sudário é anatomicamente exato; está de acordo, historicamente com os Evangelhos; tudo está de acordo com o que sabemos. É um retrato exato da paixão e morte de Cristo..." Veja bem, os homens da ciência não conseguiram, por provas incontestáveis, concluir que foi Jesus Cristo que esteve envolto naquela mortalha, apenas afirmam e provam que ALGUÉM foi crucificado e envolvido ali. É possível que jamais se prove QUEM ali jazeu. E, isso se deve ao fato que não foi possível determinar a idade do pano de linho, como os ensaios foram não destrutivos não se fez o teste de carbono quatorze, o que permitiria saber sua idade bem aproximada. Na falta de provar a idade da mortalha, a polêmica continua em aberto estimulando a imaginação dos cientistas e a crença dos cristãos dogmáticos. Eu fico no meio. JAIR, Floripa, 06/08/09.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

DO TEMPO


Há o grande, o maior, o extenso, o enorme, o gigante, o de extraordinária grandeza, o imensurável e o TEMPO; Há o menor, o mínimo, o exíguo, o pequenino, o minúsculo, o microscópico, o infinitesimal e o TEMPO; Há o discernível, o perceptível, o evidente, o óbvio, o visível, o claro, o explícito, o insofismável e o TEMPO; Há o obscuro, o cinzento, o sombrio, o escuro, o atro, o pretume, o negror, a escuridão completa e o TEMPO; Há o duvidoso, o plausível, o discutível, o quase certo, o muito provável, o infalível, o incontestável e o TEMPO; Há o opaco, o claro, o translúcido, o diáfano, o transparente, o apenas distinguível, o invisível e o TEMPO; Há o pirilampo, a lamparina, a vela, a lâmpada, a claridade, o relâmpago, a luz do sol a explosão nuclear e o TEMPO; Há o limitado, o evidente, o imperioso, o subsistente por si só, o inquestionável, o absoluto e o TEMPO; Há o atrasado, o devagar, o lento, o demorado, o quase parado, o imóvel, o absolutamente congelado e o TEMPO; Há o ágil, o móvel, o ligeiro, o rápido, o célere, o velocíssimo, o raio, a velocidade da luz e o TEMPO; Há o hoje, o amanhã, o depois de amanhã, o semana que vem, o próximo ano, o futuramente, o nunca e o TEMPO; Há o simples, o elaborado, o emaranhado, o intrincado, o muito complicado, o diabolicamente complexo e o TEMPO; Há o fugaz, o breve, o sazonal, o contínuo, o perene, o quase perpétuo, o eterno e o TEMPO; Há o exeqüível, o realizável, o possível, o viável, o praticável, o quase compulsório, o obrigatório e o TEMPO; Há o trabalhoso, o oneroso, o árduo, o penoso, o dificultoso, o quase irrealizável, o impossível e o TEMPO; Há a unidade, a dezena, a centena, o milhar, a dezena de milhar, o bilhão, o trilhão, o infinito e o TEMPO; Há o usado, o velho, o arcaico, o antigo, o medieval, o pré-histórico, o paleolítico, o jurássico e o TEMPO; Há o próton, o nêutron, o elétron, o méson, o bárion, o fóton, o lépton, o tríton, o quark e o TEMPO; Há o substantivo, o adjetivo, a conjunção, o pronome, a interjeição, o artigo, o advérbio, o verbo e o TEMPO; Há o reino mineral, o vegetal, o animal, o fungi, o monera, o protista, o vírus, a ameba e o TEMPO; Há o Sol, Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno, Plutão, a Lua e o TEMPO; Há o planeta, o satélite, o asteróide, o meteorito, o cometa, o sistema solar, o quasar, a galáxia e o TEMPO; Há a guerra e a paz, o bem e o mal, a vida e a morte, o certo e o errado, superficial e o profundo, o real e o imaginário, o nada e o tudo e o TEMPO; Há o TEMPO. Somente o tempo É. JAIR, Floripa, 03/07/09.

domingo, 2 de agosto de 2009

SOBRE O TEMPO


Como uma imposição inexorável de sentido absolutamente singular o tempo flui translúcido e permeável, invade o íntimo das coisas, ocupa todos os desvãos, nichos, vazios e interstícios, seja uma dimensão tridimensional ilimitada acima da compreensão humana como os espaços intregaláticos ou o âmago do átomo. Se lhe falta solidez sobra obstinação, dele é impossível escapar, mesmo que se vá além da borda do universo. Ainda assim, para o compreendermos, é compulsório que se vá até lá. Pois há coisas só possíveis após a fímbria do universo. JAIR, Floripa, 01/08/09.