terça-feira, 6 de outubro de 2009

DOZE HOMENS E UMA SENTENÇA


Não costumo comentar filmes aqui neste espaço porque não sou crítico de cinema, e porque acho opinião a respeito de uma obra de arte, com toda a carga de subjetividade implícita, uma coisa muito pessoal, intransferível. De modo que o que eventualmente eu diga pode colidir frontalmente com a opinião de outros, não surgindo daí nenhum benefício para quem escreve nem para quem lê. Contudo, depois de assistir “Doze homens e uma sentença” me vi compelido a escrever sobre essa obra que considero o mais perfeito filme que assisti nos últimos vinte anos. O filme trata da estória de um garoto de origem latina que está sendo julgado por ter assassinado a facadas seu pai, depois de uma briga no quarto de casa. Deve se considerar que depoimentos de testemunhas incriminam cabalmente o garoto. Ele foi “visto” e “ouvido” cometendo o crime. Complementarmente, o rapaz não é “flor que se cheire”, foi criado num bairro pobre, sem mãe, sofreu influência da marginalidade local desde muito cedo, e tem passagens por reformatórios por agressão e pequenos furtos. Pois bem, ele vai a julgamento e o filme inicia com o juiz pedindo para o Júri decidir se é culpado ou inocente. Doze Homens vão decidir o destino do adolescente, eles vão escolher se este vai para a cadeira elétrica ou se vai ser inocentado. De acordo com a lei, a decisão dos jurados deve ser por unanimidade, só cabendo resultado de doze a zero a favor ou contra a inocência do acusado. Doze homens em uma sala decrépita. O calor e a falta de ventilação, causados pelo ar condicionado quebrado e portas que devem ser mantidas fechadas, criam um clima opressivo. Eles não se conhecem e não sabem nada um sobre o outro. Cada um dos jurados tem origem, condição social e idades diferentes e, como não podia deixar de ser, diversos tipos de personalidade: entre os doze, há o tímido, o intelectual, o fanfarrão inconsequente, o idoso, o de origem humilde, o imigrante, três negros de origens e vidas diferentes, dois WASP cada um com formação diversa; cada homem é um ser único que está ali para decidir sobre o destino de outro ser humano. De acordo com a praxe, o jurado número um pergunta quem considera o réu culpado, onze mãos ao alto, apenas um jurado discorda. Um homem, Davis, O Senhor Número Oito, interpretado magistralmente por Jack Lemon, - no remake de 1997, pois no original de 1957, Davis era interpretado por Henry Fonda - não levanta a mão, ele não o considera culpado, acha que existem dúvidas razoáveis que o impedem de culpar o garoto. Daí, surge no filme uma verdadeira batalha de tensões, onde homens com interesses diversos, justificativas as mais variadas e diferentes personalidades confinados num lugar acanhado, devendo tomar uma decisão de vida ou morte, colidem opiniões e convicções. Inicialmente os onze que concordam com a condenação, começam a atacar furiosamente o Senhor Davis, indignados com a sua complacência. Como inocentar um marginal que assassinou fria e cruelmente seu próprio pai? Onde está a justiça? Davis, com calma, começa então uma elegante e persuasiva batalha verbal, onde tenta mostrar que não existe verdade absoluta e que pode haver um engano em todo esse processo. O modo como este argumenta e mostra suas idéias de maneira ordenada e metódica conquista a atenção do espectador, e influi na posição dos demais jurados. Davis não enfrenta apenas as dificuldades de interpretação dos fatos para provar a inocência do réu, mas também a má vontade e os rancores dos outros jurados, com vontade de encerrarem o processo e irem embora logo para suas casas, e absolutamente certos da culpa do réu. Quando Davis, com sua clareza de raciocínio e persuasão, vai fazendo com que cada um reveja os seus votos, passam a emergir no grupo os aspectos individuais. Ao mudar o seu voto, cada um terá evidentemente que rever conceitos e convicções e vai querer que sua decisão seja respeitada. No decurso, é inevitável que as características da personalidade de cada um comecem a aflorar, surgindo então os conflitos e as emoções que exercem influência no comportamento das pessoas, bem como as variáveis que normalmente permeiam as relações dentro de um grupo tão heterogêneo. A trama prossegue sem se preocupar em mostrar se o réu é culpado ou não, mas sim se uma pessoa pode ser julgada por seus semelhantes com base apenas em evidências circunstanciais e suposições. O filme mostra a fragilidade estrutural e a complexidade de um grupo constituído de pessoas comuns; os comportamentos e padrões éticos influenciados pelas suas histórias pessoais e a catarse resultante dessa provação. A tensão crescente que permeia cada minuto da fita vem muito mais do conflito de personalidades entre os personagens e do atrito dos preconceitos e ideias, do que propriamente da ação. O filme dá um genial exemplo do comportamento humano em grupo, através do enfoque do procedimento dos doze jurados com suas diferenças culturais, pessoais e de formação, expressas em seus valores, preconceitos e falsas certezas. O filme merece ser assistido várias vezes para que releituras façam emergir os conflitos e fatores críticos envolvidos no processo decisório e o drama humano que cada um traz dentro de si. Recomendo +++++. JAIR, Floripa, 06/10/09.

6 comentários:

Ananias Duarte disse...

Maravilha, Jair.
Com a sua narrativa, não será preciso ver o filme. Entretanto, o farei porque vc recomendou.
abraços

Anônimo disse...

Ao contrário do Ananias, fiquei muito instigado pra ver esse filme depois da sua narrativa, Jair. Principalmente o original dos anos 50. Nada contra remakes, gosto de vários, mas nesse caso especialmente gostaria de ver os dois, começando pela primeira versão. Pelo que você descreveu, é realmente um drama emocional, envolvendo egos e tudo mais... daquele jeito que me fascina. Essa dica de filme valeu meu dia!

Quanto ao seu comentário no meu blog, relaxa, não levei a mal sua opinião. Eu me senti um corno realmente quando ela fez aquilo, huaha... a parte final está lá!

Abração

Violeta disse...

Agora aguçou minha curiosidade...

Lari Reis disse...

O filme é ótimo. Assisti na faculdade, a pedido de uma professora e achei execelente.
Também recomendo aos que ainda não assitiram!

Leonel disse...

Jair, este filme é mesmo muito bem feito, pois tem conteúdo! O engraçado é que eu havia esquecido que era com Henry Fonda! Outro dia eu estava comentando com um amigo e falei que era com o Jack Lemmon. Aí, o cara me falou que havia uma refilmagem e que também era com ele! Isto me surpreendeu, mas agora está esclarecido.

Anônimo disse...

Obrigada pela forca, eles moram em Brisbane ???Agora tb estou com vc...vou tentar vr o filme aqui...bjssssss