quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

AUGUSTO (26/09/63 aC a 19/08/14 dC)


Primeiro imperador romano. O seu nome completo é Caio Júlio César Otávio Augusto. É sobrinho e herdeiro de Júlio César. Após o assassinato deste apresenta-se em Roma disposto a cumprir o testamento de César. Ao longo da sua vida política, recebeu e adotou vários títulos que diferençavam sua condição da do restante dos políticos, mas nenhum que claramente o denominasse como imperador, evitando prudentemente os títulos de rei e ditador, fatais para César. Foi proclamado Augusto, mas este era considerado um apelido, mais que um título. Recebeu também o título de Pontifex maximus. Além disso, Otávio se fez nomear pelo Senado com os títulos de Imperator Augustus e Princeps senatus (o primeiro a falar no Senado). Deste último título deriva a denominação de Principado para forma de poder que Augusto desenvolvera. Recebeu do senado a encomenda da tribunicia potestas (o poder do tribunado), sem ser necessariamente um dos tribunos. Designado cônsul, forma o segundo triunvirato com Marco António e Lépido. Luta contra Bruto e Cássio, responsáveis da conjura contra César, e vence-os em Filipos. Guerreia também com Sexto Pompeu, quando este se revolta na Hispânia. Vencida já a última resistência republicana, Otávio Augusto e Antonio dividem o Império: Oriente para António e Ocidente para Augusto. Mas o antagonismo que existe entre ambos faz com que se declare novamente a guerra. A vitória naval de Otávio significa o regresso do Império Romano à unidade. Após a anexação do Egito e da Hispânia, a aniquilação das três legiões romanas de Quinto Varo na Germânia traça as fronteiras do Império no Reno. Otávio, já dono do poder, introduz importantes reformas na constituição política de Roma e recebe o título de Augusto. Organiza a vida política de modo que o Senado compartilhe com o imperador o peso do poder. Restaura a religião e torna-se sumo sacerdote romano. Sob o seu império florescem a paz e a prosperidade. As obras públicas, a reforma moral, a pacificação das fronteiras e os melhoramentos administrativos são algumas das suas iniciativas de êxito. No que se refere à política exterior, com Augusto inicia-se uma nova era de paz e prosperidade. No plano cultural dá-se um florescimento de todas as artes. Em linhas gerais, o seu reinado é um dos mais benéficos para o Império. Conservador e austero, Augusto fez um governo de ordem e hierarquia. Lutou contra a decadência dos costumes, reorganizou a administração e as forcas armadas, tornando-as permanentes e fixando-as nas fronteiras. Saneou igualmente as finanças do estado. Em Roma e na Itália esforçou-se para fazer reviver as virtudes esquecidas das antigas tradições e religião. Deu privilégios aos pais de família e combateu o celibato. Construiu o foro que leva seu nome e, no campo de Marte, ergueu as primeiras termas, o Pantheon e outros templos. Vangloriou-se por ter transformado Roma na Cidade de Mármore. Ajudado por Mecenas, favoreceu os escritores: o historiador Tito Lívio, os poetas Horacio, Ovídio e Virgilio são de sua época. Elevaram-se templos a deusa Roma e a Augusto em todo o império. Em matéria de política externa, foi menos feliz. Pacificou a Espanha e os Alpes, conseguiu a anexação da Galícia e da Judéia e conquistou, graças a Tibério, as terras austríacas do Danúbio, que formaram as províncias de Récia e Vindelícia, mas sua campanha na Germânia fracassou. Tiberio debelou uma insurreição na Ilíria e Varo foi aniquilado com três legiões na floresta de Teutoburgo. Sua tentativa de conseguir um grande sucessor também fracassou, pois seu sobrinho Marcelo morreu jovem. Marco Agripa, cujo casamento com sua filha Julia tinha forçado, morreu em 12 a.C. Os filhos menores de Agripa morreram em 2 e 4 da era cristã. Restava Tibério, filho de Lívia, sua terceira mulher. Adotando-o, Augusto deu-lhe participação cada dia mais ativa nos negócios do estado. A partir de 13 da era cristã, Tibério tinha poderes quase iguais aos do imperador. Quando Augusto morreu, já era o enteado quem de fato governava Roma. A obra de Augusto foi imensa, na paz como na guerra. Protetor das artes e das letras, administrador de gênio, adorado como deus por seu povo e pelos povos submetidos, deu a Roma sua idade de ouro. Marcou de tal maneira sua época que esta ficou conhecida como século de Augusto. Faleceu em Nola, na Campânia, em 19 de agosto do ano 14 d.C. JAIR, Floripa, 24/12/09.

ADRIANO (24/01/76 a 10/07/138)


Públio Élio Trajano Adriano mais conhecido apenas como Adriano, foi imperador romano de 117 a 138. Pertenceu à dinastia dos Antoninos, sendo considerado um dos chamados "cinco bons imperadores". Nascido em Itálica na atual Espanha, Adriano era descendente de colonos romanos domiciliados no Sul da Espanha e primo de Trajano, tendo sido nomeado por este para uma série de dignidades públicas que o fizeram tornar-se herdeiro presuntivo deste imperador. À época das guerras contra os partas, durante o reinado de Trajano, era governador da Síria.O imperador Adriano era um dos mais poderosos do antigo império romano. Conquistou várias nações, uma após a outra, sem derrotas. Não admira que seu orgulho tenha se inflado com tanto poder. Todos se ajoelhavam caindo a seus pés; dos humildes aos mais poderosos. Seu menor capricho era imediatamente atendido por aqueles que se encontravam ao seu redor. Hábil administrador, durante o seu reinado, foi um viajante incansável. Percorreu todo o império para examinar de perto as províncias e as reformas que necessitavam. Amante das letras e das artes, implementou uma profunda reforma na administração e em 131 editou um código de leis para ser aplicado em todo o império, uma compilação judicial que regeu o império até ao tempo de Justiniano. Abandonou as campanhas de Trajano na Mesopotâmia e adotou uma política defensiva, fortificando as fronteiras do Império Romano. Na Inglaterra mandou construir em 122 o Muro de Adriano, que marcou durante séculos a fronteira entre a Inglaterra e a Escócia para a defender dos povos do norte. Inspirado na cultura grega, embelezou Roma e o império com monumentos, mandou construir a Vila de Adriano, a ponte de Sant’Ângelo, o castelo do mesmo nome (que é o seu mausoléu). Ocupada a Bretanha (no século I d.C.), logo sentiram os Romanos a parada dura que representavam os habitantes do norte da ilha. Na sua política de consolidação e defesa das fronteiras, o Imperador Adriano visitou a ilha em 122 e mandou construir o tal muro fortificado - na verdade uma formidável muralha - desde Solway Firth até ao estuário do rio Tyne, para defender a Bretanha Romanizada. Com 120 km de comprimento, esta enorme obra foi concluída em 126 pelos próprios soldados, que construíam e combatiam simultaneamente. Originalmente era de madeira e terra, só se tornando de pedra mais tarde. Cada "centúria" era obrigada a construir a sua parte do muro. Este tem uma fundação de terra ladeada por um fosso de 4 m de profundidade. Sobre a terra, levantaram, assim, um muro em pedra, maciço, com cerca de 5 m de altura e 2,5 m de largura. Sobre ele seguia uma estrada militar, no sentido de facilitar as comunicações e os transportes, e 80 castelos com pequenas torres e fortins, onde se encontravam sentinelas. Ao longo do muro erguiam-se 17 fortalezas o que completava o sistema de fortificação fronteiriça do norte da Britannia. Imponente como era, a muralha ainda deixou para a posteridade uma curiosidade prática: A distância entre as rodas deixados pelos sulcos dos carros romanos na entrada do forte em Housesteads no muro de Adriano, serviram dois mil anos depois, de bitola-padrão, para as estradas-de-ferro britânicas. Adriano morreu em 138, em Roma. Seu corpo foi depositado num mausoléu, que veio a ser o castelo de Santo Ângelo, em Roma. Tão extraordinária foi a obra desse imperador que deu azo a criação do romance, MEMÓRIAS DE ADRIANO, de Marguerite Yourcenar, o qual recria a vida e a obra desse administrador e lhe dá uma alma, um lado humano que transcende o tempo e a história. O livro foca Adriano que, pouco antes de morrer, decide escrever uma longa carta-testamento ao jovem Marco Aurélio, o futuro imperador-filósofo. Nela Adriano passa em revista os principais episódios de sua marcante existência: a relação de afeto com a mulher de Trajano, Plotina; as campanhas militares em diversas regiões da Europa; as viagens à Ásia Menor; a paixão pela caça; as discussões filosóficas com os principais pensadores do seu tempo; as relações com Trajano, seu antecessor; e o casamento com Sabina. JAIR, Floripa 25/12/09.

sábado, 12 de dezembro de 2009

MINI CONTO (Último do ano)


UMA CEIA DE NATAL EM FAMÍLIA
Talvez nunca tenha se sentido tão equilibrada, tão calma e tão satisfeita desde que fora desenganada. O médico foi explícito e até impiedoso: carcinoma avançado, no máximo três meses de vida. Ninguém mais ficou sabendo. Agora, noite de Natal, todos os filhos e marido reunidos para ceia que ela fez questão de preparar. A família reunida para sempre é seu sonho de mãe e esposa dedicada. Por precaução, tudo, desde a salada até a sobremesa, passando pelo indefectível peru assado, contém doses cavalares de estricnina. JAIR, Floripa, 01/12/09.

O UNIVERSO À MINHA PORTA

As cidades brasileiras costumam ser caóticas, não obedecem uma lógica que facilite a vida do citadino, não são planejadas de modo a tornar a vida do homo urbanus fluida, racional. Há todo um emaranhado de bairros, ruas, logradouros, avenidas, viadutos, quadras, parques, praças, distritos e centros disso ou daquilo, distribuídos sem qualquer ordem perceptível. Bairros residenciais e centros ou ruas comerciais de produtos e serviços se misturam e intercalam numa incoerência de fazer inveja ao mais caótico mercado persa. Alguns aglomerados urbanos modernos como Brasília, por exemplo, tentam suprir essa falta de ordem constituindo áreas residenciais dotadas de acesso fácil aos serviços que a vida diária necessita. Mas tais cidades são exceção, a maioria continua uma bagunça generalizada. Contudo, essa falta organização pode ter um lado bom também, pode trazer facilitação para quem reside num centro mal enjambrado desses. Resido num bairro de Floripa que, como todo sítio urbano mais antigo, foi crescendo tendo um “comércio” como núcleo, donde foram irradiando ruas, vielas, avenidas e servidões com seus moradores em casas, apartamentos e pequenas chácaras. Ainda mais por se tratar de bairro situado no continente e “separado” do corpo principal da cidade que fica na ilha, o Estreito foi obrigado a se tornar auto-suficiente. Com o natural crescimento populacional e a consequente diversificação de demanda, a tendência foi a substituição de casas térreas e chácaras com seus extensos terrenos, por edifícios de apartamentos, ao mesmo tempo em que o comércio robustecia em variedade e quantidade. Foi assim que surgiu o edifício onde resido, o qual foi erigido no local onde antes era uma pequena chácara, propriedade de família tradicional no bairro. Quis a falta de planejamento urbano que o prédio surgisse no que se convencionou chamar “coração” do bairro. Assim, me vejo tão próximo aos serviços necessários à vida diária, que nem sequer necessito usar carro para locomoção, este permanece na garagem por dias, o mais das vezes, saindo de lá só quando o objeto a ser transportado é grande ou pesado demais.

Sem necessitar atravessar a rua tenho acesso a tantos serviços e bens que até fica difícil enumerá-los. Vejamos, estão disponíveis no quarteirão que resido as seguintes facilidades: Duas oficinas de carros,
uma igreja, um hotel, loja de celulares, chaveiro, peixaria, oficina de eletrodomésticos, salão de beleza, um banco, academia de ginástica, consultório de dentista, um pequeno restaurante, venda de máquinas de café, serviço de confecção de vídeos, estofaria e loja de acessórios marítimos. Vejam bem, nem sequer atravessei a rua e já posso cuidar da saúde bucal, das finanças, da alma, do corpo e de algumas necessidades domésticas e da mecânica do carro. Se me dignar a atravessar apenas uma única rua daí o universo se multiplica de modo extraordinário:
Farmácias, relojoarias, laboratório de análises clínicas, duas barbearias, outros restaurantes, outros bancos, empréstimo de dinheiro, loja de roupas, três bares e café, dois pontos de jogo do bicho, loja de móveis, um sebo, outra venda de celulares, atacado de utilidades domésticas, loja de bijuterias e outra estofaria. Além de uma grande loja de decoração e uma de roupas usadas, padaria, venda de artigos de umbanda, conserto de calçados, floricultura, um grande academia de ginástica, imobiliária e alguns outros serviços não computados. E atravessei apenas UMA rua, mas, se resolver andar cinco minutos a pé, praticamente todas as necessidades básicas estão ao alcance das mãos:


Três supermercados, pet shop, vários salões de beleza, mercado de frutas e legumes, várias lojas de calçados e muitas de móveis, algumas mais de roupas, dez bancos, ferragens, presentes, lanchonetes, bancas de revistas, vários pontos de bicho, materiais de construção, loja de próteses humanas, livraria e papelaria. Para finalizar, loja que vende tecido em metro, três farmácias, doces e chocolates, embalagens, quatro concessionárias de automóveis, treze restaurantes, uma churrascaria, correio, escola estadual, escola de informática, escola de dança, mais três igrejas, quatro clínicas médicas e muitos outros serviços, como advogados, contadores, cartório, pequeno shopping com sessenta lojas e até fórum de justiça. É um universo à minha porta, variado e nada desprezível. Quem aqui vive foi beneficiado com a desorganização reinante em nossas urbes, de modo que reside numa concentração anormal de meios, surgidos a partir de um núcleo inicial despretensioso, imagino. Costumo dizer, brincando, que a única coisa que aqui não está presente é um boliche, mas, para desmentir essa afirmação, descobri que a cinco minutos de carro existe uma casa de boliche sim. Daí, parece que o universo está completo, nada falta que se faça notar. JAIR, Floripa, 03/12/09.

PERGUNTAR NÃO OFENDE (3)



Excelso: é o cara que mudou de nome?
Excerto: é o cara que agora está errado?
Excitado: é o cara não mais mencionado?
Excrescente: é o cara que parou de crescer?
Expansão: é a barriga que diminuiu?

Expedidor: é o cara que deixou de ser mendigo?

Expensão: casa que deixou de ser hospedaria?

Experto: que foi para longe?

Expiador: pintinho que morreu?

Expirado: maluco que sarou?

Explanador: avião sem motor todo estragado?

Exposto: não mais colocado?
Expulsar: morrer?

Extenso: solto, frouxo?

Externo: roupa masculina muito danificada?

Extradição: deixou de ser costume de um povo?

Extrair: passar a ser fiel?

Extremado: é como tranquilo depois da mudança ortográfica?

Compadre: estar acompanhado de clérigo?

Compensador: acompanhado do Gabriel?

Sentinela: percebi na moça?
Centelha: casa descoberta?

Centigrama: percebi o capim?

JAIR, Floripa, 16/12/09.

SOBRE A IRRACIONALIDADE HUMANA



O comportamento do homo sapiens na face deste acolhedor Planeta, desde que deu as caras por aqui a menos de dois milhões de anos, tem sido a não deixar dúvidas que ele é uma excrescência animal que não se coaduna, como espécie, à vida que com ele compartilha a mesma biosfera. Tenho publicado aqui minha repulsa aos desmandos humanos como guerras, genocídios, massacres, agressões ao meio no qual vivemos, desprezo pelas demais espécies e tudo o mais que faz do homem o vírus maligno que, como os demais vírus, destrói a célula que o abriga, no caso, o Planeta terra que o acolhe. Parece que o homem, como um energúmeno primevo, se não está destruindo a Terra, está se autodestruindo. São inúmeros os meios utilizados para dar fim a própria espécie. Um dos meios de auto-extermínio que o homem usa deixou rastros sob o asfalto das ruas de Tóquio onde existe um deposito de restos humanos. Os operários que trabalhavam em Shinjuku, um movimentado e famoso bairro de Tóquio, em plena urbanização, ficaram horrorizados. A notícia dessa descoberta, ocorrida em 1989, varreu toda a cidade como uma grande onda. Incapaz de ocultar a verdade por mais tempo, o governo japonês viu-se obrigado a reconhecer o mais terrível segredo da Segunda Guerra Mundial. A poucos metros das obras, esteve localizado o laboratório do tenente-coronel Shiro Ishii, pai do programa de guerra biológica do Japão: a Unidade 731. As cobaias humanas empregadas em suas experiências foram transferidas da base da Manchúria para seu laboratório. No termino da guerra, os restos mortais destas pessoas foram enterradas em uma fossa comum e lá permaneceram ate ser descoberta em 1989. Durante 40 anos, as atividades da Unidade 731 foram o segredo mais bem guardado do Japão. Quando o Japão ocupou manu militari a Manchúria em 1932, essa área se transformou num gigantesco laboratório de guerra química e biológica. Esse era o trabalho de um cientista, o jovem médico tenente coronel do exército japonês, Shiro Ishii, micro-biólogo brilhante e nacionalista feroz. Alto, culto e descrito por colegas como dono de uma voz penetrante e de uma aparência hipnótica, Ishii logo ganhou a reputação de ser o cientista louco do exército. Naquele ano ele estabeleceu um laboratório para testes de campo de guerra biológica na Manchúria, próximo a Harbin, atualmente oitava maior cidade da China. No laboratório de Harbin, realizavam-se experimentos em cobaias vivas, nas quais se empregavam agentes químicos e biológicos. Nenhuma delas saiu de lá com vida. Se Ishii necessitasse de um cérebro humano para seu experimento, os seus guardas simplesmente iam às celas, escolhiam um prisioneiro e cortavam-lhe a cabeça com um machado. Assim como os nazistas, os japoneses também estavam convencidos de sua superioridade racial. Acreditavam que os chineses e coreanos eram subumanos e que os experimentos feitos com eles não diferiam, portanto, dos que usam macacos ou outros animais. De fato, nos relatórios sobre os experimentos, as cobaias humanas, eram chamadas de macacos e tinham especificada apenas a nacionalidade. Os chefes militares de Shiro estavam muito impressionados com os resultados de seu trabalho e, como recompensa, entregaram-lhe generosas verbas para desenvolvimento de um grande complexo de armas biológicas ultra-secretas em Pin Fan nas cercanias de Harbin. A construção ficou operacional em 1939, quando se tornou conhecida como Unidade 731, cujas dimensões rivalizavam com Auschwitz-Birkenau. A Unidade 731 mantinha laboratórios equipados com tecnologia de ponta e uma prisão com capacidade para duzentas cobaias humanas. As necessidades da equipe de três mil japoneses (inclusive quinhentos cientistas) eram atendidas com um auditório de de mil lugares, bares, restaurantes, bibliotecas, piscinas, escolas para crianças, um templo xintoísta e um bordel. Enquanto os trabalhadores se divertiam, pelo menos três mil seres humanos foram mortos nos experimentos realizados por Ishii e seus cientistas, que desenvolveram um arsenal diabólico de agentes patogênicos que incluíam cólera, tifo, disenteria, antraz, tétano e outras pragas, como a gangrena causada por gás e a varíola. As atrocidades cometidas nesse laboratório e em Harbin na busca de armas biológicas são comparáveis aos excessos dos cientistas nazistas, como Joseph Mengele. Em julho de 1942, Ishii conduziu pessoalmente uma campanha de guerra biológica contra a população chinesa. Além de coordenar a contaminação de poços com tifo, distribuiu chocolate com antraz para crianças. Os testes de campo de suas armas eram feitos com pessoas atadas em estacas. Agora, o mais impressionante, depois da guerra, nem Ishii nem seus colegas foram julgados pelos tribunais que se ocuparam dos crimes de guerras japoneses. As suas pesquisas biológicas em seres humanos transformaram-se em passaporte para a liberdade. No mais alto escalão em Washington foi tomada a decisão de oferecer imunidade a Ishii em troca de seus valiosos dados a respeito da efetividade dos agentes biológicos patogênicos. Ele se tornou uma parte fundamental do programa militar americano para a guerra fria. JAIR, Floripa, 14/12/09.

PERGUNTAR NÃO OFENDE (2)


América latina é um erro ortográfico?
Atleta que vence dopado é merdalhista?

Girassol, à noite giralua?
Catapulta é viatura para transportar prostitulta?
Para acabar com o corre-corre é necessário um pega-pega?

Vamos falar sério, e ouvir sorrindo?
Mil unidades é milhar, então bilhão de unidades é bilhar?
Politicamente correto é parlamentar que não falta às sessões do congresso?

Homem público é filho de mulher pública?

Filho de bicho-papão é bicho-papinho?
As águas do Titicaca são mal cheirosas?
Fazer corpo mole é deixar de ir à academia de ginástica?

Compras de última hora são feitas à meia-noite?

Inimigo público número um é goleiro criminoso?

Esporte radical é praticado por estudante de álgebra?

Fora de controle diz-se de TV com mudança manual de canais?

Mulah sem cabeça é religioso muçulmano decapitado?

Noite em claro é dormir com luz acesa?

Barbicacho seria um caso da boneca famosa?

Saldo positivo é cloreto de sódio do portador de HIV?

Pormenor novinho é crime contra criança?

Pornográfico é colocar dados num diagrama?

Apóstolo é depois do idiota?

Exportador é o sujeito que já não anda armado?

Centrado é o marceneiro que perdeu o arco de pua?

Ás no volante é um burro móvel?

Assassino é o sujeito que põe a campânula no forno?

Pormenor entregado é colocar adolescente no meio da boiada?

Guardanapos graduação seria um sentinela no ensino superior?
Guardanapo eira seria um sentinela envolta em pó?
JAIR, Floripa, 13/12/09.

A PERIGOSA BUSCA DA VIDA ETERNA

A fonte da juventude simbolizava a imortalidade no fabuloso reino das protociências antigas. Valia qualquer esforço humano para encontrar o que seria a cura de todos os males e, em consequência, viver para sempre gozando as delícias de um corpo jovem à prova de doenças e imune ao desgaste proporcionado pelo tempo. Na busca do mesmo sonho, os elementos preciosos, como o ouro, sempre exerceram um poder quase místico sobre as mentes humanas. O ouro, o metal que se parece com o sol e que nunca oxida nem se corrói, virtualmente eterno; no imaginário popular, prometia a quem o possuísse, não só a riqueza terrena, mas também a vida eterna. Os alquimistas empenharam-se durante séculos na busca infrutífera do segredo da obtenção desse metal. Eles acreditavam que aquele que descobrisse a pedra filosofal obteria a capacidade de acelerar os processos naturais através dos quais, segundo a tradição alquimista, os metais evoluem sob a superfície da Terra, desde o chumbo básico até o nobre ouro. A sua empreitada foi um tiro n’água, mas havia uma pepita de verdade na sua crença. Os elementos podem transmutar-se, tanto nos laboratórios quanto no interior da Terra, o que vem acontecendo desde a criação de nosso Planeta. O decaimento radioativo é um processo natural, espontâneo. Um átomo de isótopo radioativo irá espontaneamente decair em outro elemento através de processos que vão ocorrer normalmente, sem intervenção humana. A maioria dos núcleos de elementos pesados é instável. Isso quer dizer que suas configurações de prótons e nêutrons não são imutáveis, não são perenes. Por serem instáveis, esses núcleos sofrem transformações através da emissão de partículas alfa, por exemplo, e transmutam-se em outro elemento. Na fissão nuclear, conseguida tanto de elementos naturais como o urânio, quanto de elementos criados em laboratório como o plutônio, a energia é liberada pela divisão do núcleo normalmente em dois pedaços menores e de massas comparáveis. O urânio 235, por exemplo, ao ser bombardeado com um nêutron, fissiona em dois pedaços menores, emitindo normalmente dois ou três nêutrons e uma quantidade descomunal de energia. Se houver outros núcleos de U235 próximos, eles têm certa chance de ser atingidos pelos nêutrons produzidos na fissão. Se for muito grande o número disponível de núcleos, a chamada massa crítica de urânio 235, a probabilidade de ocorrerem novas fissões será alta, gerando novos nêutrons, que irão gerar novas fissões, é o que chamamos de reação em cadeia. Foi a fissão dos átomos de urânio e plutônio que proporcionaram as duas bombas que destruíram Hiroshima e Nagazaki, prova cabal dessa terrível verdade. Uma bomba atômica é isso, o resultado da transmutação de um elemento pesado em dois outros mais leves liberando energia que, descontrolada, pode constituir a mais destrutiva das armas já concebidas. Portanto, a conquista desse conhecimento, qual seja, de transmutar um elemento da tabela periódica em outro, não nos deu a chave da vida eterna, mas sim a possibilidade da destruição em massa da vida sobre a Terra, e, talvez, a morte eterna. JAIR, Floripa, 08/12/09.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

ABOBRINHAS


Prolixo é um sujeito que sabe que a terra é redonda e se aproveita disso para chegar onde quer, mas pelo outro lado.
Aiquimerdes revisitado: Um corpo mergulhado num líquido recebe um impulso debaixo para cima... e fica molhado.

No homem, idade provecta é aquela em que as mulheres não olham para seus atributos físicos, nem ligam para sua inteligência, só para a conta bancária.

Falem o que quiser, mas ao Sarney não falta coerência: quer coisa mais adequada que nomear funcionários fantasmas por atos secretos?

JAIR, Floripa, 13/12/09.

PERGUNTAR NÃO OFENDE (1)


Peixe gato caça peixe rato?
Tigre de bengala quando fica velho usa o quê?

Fêmea de peixe boi é peixe vaca?

Peixe boi tem chifres?

Ave do paraíso quando morre vai para onde?

Vaca sagrada acredita em Deus?

Monstro sagrado ao morrer vira santo?

Bicho-de-pé deita?

Pé-de-atleta ganha medalhas?

Aspirina cura dor de cotovelo?

Pica-pau é um pássaro ou dois palavrões?

Papai Noel é pai de quem?

Pé de vento calça sapato?

Vermelho vivo morre?

Maria-vai-com-as-outras volta com quem?

Pai de Santo é filho de quem?

O pão que o diabo amassou é integral?

Carro fúnebre é o que mata num acidente?

Carbono é matéria orgânica e fibra faz bem à saúde, então devemos comer fibra de carbono?

Pedólogo cuida de pés, então pedófilo gosta de pés?

Cabra cega é namorada de bode expiatório?

Temos a fruta do conde; E a do marquês? E a do duque?

Com quantos paus se faz uma canoa? E uma traineira? E uma escuna?
Quero-quero, quer o quê?
JAIR, Floripa, 10/12/09.

MINI CONTO


REFLEXÃO DO VELHO CASANOVA
Não havia razão para se queixar de nada que vivera até então. Setenta anos e contabilizava uma mocidade, vida adulta e vida madura plenas. Se não tivera todas as mulheres do mundo, pelo menos havia tentado. O que lhe dói, dói de verdade, é saber que agora as mulheres que se aproximam já não veem seus atributos físicos ou admiram sua inteligência sagaz, olham apenas sua conta bancária. JAIR, Floripa, 07/12/09.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

AO MESTRE MINHA HOMENAGEM


Creio que todos nós ao longo da vida escolar, profissional ou mesmo familiar temos nossos ídolos, nossos heróis, nossos gurus ou nossos mestres. Pessoas de nossas relações que pela inteligência, perspicácia, saber ou por algum outro atributo, nos conquistam, agregam algum valor a nossa vida, ou nos causam impressão duradoura. Na verdade, sem percebermos, de maneira implícita, nós procuramos nosso alter ego. É, talvez, parte da condição humana, projetar no outro aquilo que gostaria de ser. Lembro que meu primeiro mestre inesquecível foi o professor de geografia do ginasial, Arthur Orlando Klas, cujo, além de ótimo professor, conhecedor ilustrado da matéria, tinha uma inteligência aguda e uma visão futurística admirável, via o mundo cinquenta anos à frente com grande acuidade e sensatez. Fora ele, alguns outros amigos ou colegas assinalaram suas passagens em minha juventude e na faculdade à maneira de heróis e ídolos também. Mas, quero aqui homenagear o mais extraordinário mestre e guru, aquele que mais marcou minha vida profissional: um colega de trabalho, Rodolfo Rodrigues Barcellos, mente brilhante, inteligência ágil, interesses variados e conhecimentos enciclopédicos; dominava com segurança uma gama de assuntos, matérias e temas com a simplicidade que só os dotados de QI superior o fazem. Barcelos é um exemplo raro de pessoa, por causa da combinação de grande argúcia técnica com sua capacidade de resolução simples para problemas complicados. Tive a felicidade de compartilhar o mesmo ambiente de trabalho com ele durante uns bons oito ou nove anos, ocasião em que pude observá-lo como profissional e conviver como amigo com interesses comuns. O Barcellos era, assim como eu, um profissional de aviação, tínhamos a mesma formação, havíamos estudado nas mesmas escolas, mas, anos-luz separavam meus limitados conhecimentos acadêmicos de matérias e sistemas inerentes a aeronaves, das vastas e quase filosóficas informações que ele detinha sobre quase tudo. Além de ser respeitado no setor, era desenhista habilidoso, jogava xadrez com maestria, conhecia informática numa época que esta ainda era incipiente no país e possuía excelente ouvido para música; tocava vários instrumentos de cordas; e até cantava um pouco, além de ser um ótimo caráter. Possuía, além disso, um humor refinado e era autodidata no idioma inglês. Conversar com o Barcellos, qualquer que fosse o assunto, era enriquecer o acervo, era deliciar-se com a intimidade que ele abordava o tema e se fazia entender com simplicidade. Muitas vezes eu “puxava” um assunto qualquer só para instigá-lo, nunca me decepcionei, ele, como autêntico mestre que era, explanava com didatismo o tema e o aprofundava até onde meu interesse ou meu conhecimento permitiam-me acompanhá-lo. Fui seu discípulo, se não aplicado, pelo menos atento. Claro que suas habilidades e ideias nem sempre eram reconhecidas, ou recebiam a atenção que mereciam. Infelizmente, num ambiente de trabalho onde “ser” é mais importante que “saber”, o intelecto tem menos valia do que dragonas e postos. Muitas vezes acontecia que, o apedeuta chefe, do alto de seu majestático posto, determinava que assim fosse “por que estou mandando”, e lá se ia uma boa e proveitosa ideia para a lata de lixo das soluções não adotadas por emanarem de subordinados. Felizmente, portador de um estoicismo ingente, mestre Barcellos nunca se deixou abalar por estultices ecumênicas, tão comuns naquele ambiente no qual trabalhávamos. Para finalizar, quero compartilhar caso que ocorreu numa viagem a trabalho que fizemos juntos a Recife, um pouco antes de minha passagem da ativa para meus confortáveis chinelos caseiros. Devo dizer que aprendi jogar xadrez aos doze anos e que fui um jogador juvenil razoável, apenas isso, razoável. Nunca mais depois dos vinte e quatro anos de idade enfrentei qualquer adversário nas sessenta e quatro quadrículas, isso me rebaixou para o nível de capivara, de acordo com o jargão dos enxadristas. Já Barcellos, como disse no início, era um jogador criativo e um adversário imponente para qualquer um que o enfrentasse. Na referida viagem a Recife, estava o Barcellos sentado à mesa onde se encontrava um tabuleiro de xadrez já com a peças em posição, quando entrei no local. Convidado a enfrentá-lo em uma partida, num momento de pura idiotice aceitei. Ele costumava jogar com o computador e evoluía até o nível seis antes de perder, eu nunca passei do nível um. Iniciamos o jogo e, por sorte de principiante, lá pelo décimo oitavo movimento, para surpresa de ambos, venci com um xeque-mate improvável. Vejam bem, o discípulo infiel e meio bisonho deu uma rasteira no mestre que admirava. Que fazer? Barcellos colocou as peças em posição novamente, com toda razão querendo sair para uma nova partida, uma merecida revanche. NÃO, meu amigo! Nunca mais jogo contigo. Quero e preciso contar para os amigos comuns que ganhei de você, pode existir maior mérito? Nunca mais joguei com ele. Espero que ele tenha compreendido que eu necessitava de meu momento de glória. JAIR, Floripa, 05/12/09.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

MINI CONTO


ENCRUZILHADA

Sentia-se deslocado sentado no banquinho em meio a mecânicos de macacões cheios de graxa, mãos enegrecidas e falando palavrões enquanto tentam colocar peça renitente debaixo de um chassi qualquer. Concentrado, relia sua erudita tese sobre fusão de partículas e interação galáctica enquanto esperava seu carro ficar pronto. Em algum ponto os dois mundos se cruzam sem quem ninguém desconfie. JAIR, Floripa, 03/12/09.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

MINI CONTO


RÉQUIEM PARA NAGAZAKI
Missão cumprida. Bárbaros presunçosos de olhos claros que semearam, como mortalha sinistra, o maldito cogumelo sobre a cidade que dormia, com almas pesadas, impenitentes, a lhes torturar para sempre, seguem para o inferno de seus lares onde beijos dos filhos queimarão suas faces, comida de suas mesas lhes saberá amarga como fel e camas se tornarão inauditos tapetes de pregos. JAIR, Floripa, 07/12/09.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

MINI CONTO



MUNDO, VASTO MUNDO!
Havia nascido, crescido e se tornara adulto naquele vilarejo medíocre de casas frágeis, ruas confusas e horizontes apertados, sem eletricidade e sem estradas que o ligassem a outros lugares. Povoação distante da vida e de tudo que esta significa. Dali nunca se afastara e nada sabia do resto. Contudo, suspeitava, vagamente, que existia um mundo lá adiante, onde começava sua imaginação. JAIR, 28/11/09.

MISTÉRIOS DA ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO


Confesso que sou fissurado por dicionários, tenho nove. Pelo fato de que gosto de escrever e pretendo não atropelar com muita frequência o vernáculo, e quero tratar com carinho a última flor do Lácio, consulto suas páginas com bastante assiduidade, ou seja, todos os dias. Comumente mais de uma vez por dia. Há tempos me chama atenção nas placas e anúncios de serviços a palavra UNISSEX, às vezes grafada UNISEX. Sei que é uma adaptação, uma espécie de neologismo usado para indicar um serviço ou um objeto que pode ser usado por ambos os sexos, até o Houaiss registra. Contudo, se olharmos com atenção aos dicionários, verificamos que o termo é constituído do prefixo UNI que significa: anteposição latina que se refere a apenas um, único. As palavras, Unicelular, Unicolor, Unicórnio, Unidirecional, Uniforme, Univitelino que se referem a uma célula, uma cor, um chifre, uma direção, uma forma, um óvulo, dão provas suficientes para garantir que UNI é isso: Um, único, sem qualquer espécie de conotação desviante. Agora eu pergunto, se UNI relaciona-se a apenas UM, por que UNISSEX é usado para referir-se a DOIS sexos? Sem querer dar uma de Policarpo Quaresma, não seria mais lógico escrever AMBISSEX, ou coisa que o valha, quando se quiser dizer ambos os sexos? Essa é uma dúvida que me assalta e que não consigo explicar. Alguém se habilita a resolver esse mistério? JAIR, Floripa, 01/12/09.

MINI CONTO


A VINGANÇA É UM PRATO QUE SE COME COM PRAZER

Há muito descobri na roupa dele o perfume caro, longos fios de cabelos loiros, manchas de batom, recibos de motéis de luxo – todo o elenco de constantes e rotineiros casos amorosos. A última coisa que penso é arrastá-lo ao tribunal para denunciar a infidelidade. Antes, tratei de transferir o dinheiro do banco para meu nome, vender todas as jóias e obras caras e ficar com a grana apurada. Hoje, passagens para as ilhas Seichelles nas mãos, namorado já telefonou do aeroporto, não vejo inconveniente algum que o crápula tenha seus casos. Amanhã quando ele descobrir que está pobre e que me fui para sempre, talvez entenda. JAIR, Floripa, 27/11/09.