sexta-feira, 31 de julho de 2009

SOBRE A ARTE DE ESCREVER


No bloguismo já me defini como beletrista, querendo dizer com isto que me dedico a textos sobre amenidades. Amenidades e despretensão, nada mais. A internet e, em particular o bloguismo, permite que nós, os entusiastas, escrevamos e publiquemos nossos textos com comodidade e, também, que aperfeiçoemos a arte da escrita, meu caso. Sem dúvida a web e o processador de textos são os responsáveis pela facilidade com que nós blogueiros expomos nossas idéias e as colocamos ao escrutínio dos leitores. Sem esses instrumentos, muitos potenciais escritores ainda estariam "no armário" devido aos obstáculos de publicar seus textos, de colocar para fora seus anseios e pensamentos. Desde há muito gosto de pôr em letras, - preto no branco para usar uma expressão desgastada, - o que penso, minha opinião e também palpites e reflexões, e até devaneios inconsequentes. Contudo, para que as idéias sejam registradas com alguma competência e alcancem o público é necessário que observemos algumas normas básicas, que me permito expor: 1ª) Primeiro é preciso PENSAR. Sem elucubração criativa não há maneira de trazer a lume qualquer coisa minimamente interessante, que instigue o possível leitor. Sem expor uma idéia nova ou uma reflexão proveitosa, o que se escreve pode se tornar tão interessante como uma bula de remédio, ou seja, não trazer nada além de informações cruas e destituídas de atrativo; 2ª) CLAREZA. De nada adianta ter ótimas idéias, construir belas assertivas, intuir sacadas geniais e ser filigranoso na hora de passá-las adiante. Hermetismo fica bem apenas em Kafka. Clareza significa expor o que se pensa com coerência, de maneira que os leitores entendam, de modo a não deixar dúvida alguma sobre o assunto abordado. Para isso, devemos, além de refletir bem antes de escrever, usar um vocabulário compatível com o público e de acordo com as regras, o que leva ao item seguinte; 3ª) VERNÁCULO, não agredi-lo, não atentar contra sua integridade. Observar as regras gramaticais e a maneira consagrada de escrever as palavras, nada de muita novidade e jamais esdruxularias. Lembrem-se, Guimarães Rosa usava conceituação idiomática única, criava suas próprias regras porque tinha envergadura para isso, se fôssemos iguais a ele não estaríamos escrevendo modestos blogs, estaríamos na ABL. Não ser repetitivo também é regra de ouro, repetição cansa o leitor; 4ª) BAGAGEM. Sem bagagem (leitura), perdão meus caros, só sai merda. A informação nos fornece material para fazer comparações, cotar dados, contrapor opiniões, explicar melhor, convencer. Não há escapatória, só a leitura instrui. Tantos e belos anos passados em bancos escolares capacitam para a vida, criam competência técnica e profissional, possibilitam disputar mercado e lugar à sombra, adestram para competir, mas não trazem instrução e informação que tornam possível escrever bem e com elegância. É isso aí. JAIR, Floripa, 31/07/09.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

SOBRE MEDALHAS


Sinceramente, nunca consegui entender bem os critérios e as justificativas que enchem os peitos dos militares de medalhas. Nada contra que se reconheça o mérito ou bravura do soldado e se lhe conceda condecorações como prova desse merecimento, já que compensações pecuniárias não são permitidas por lei, e é impraticável quantificar quanto vale uma ação heróica, por exemplo. Então, não é o conceder-se medalhas que me intriga, é a veneração que a maioria dos militares sente por essas insígnias; é esse fascínio pela maior quantidade possível delas, um uniforme com dúzias de medalhas é melhor que um com apenas uma ou duas. Mesmo aqueles que nunca participaram de uma batalha, de uma ação de combate ou praticaram um ato heróico ostentam, às vezes, pencas de condecorações. Vaidade pode ser uma explicação, mesmo porque, civis, o clero e os políticos também se pavoneiam com comendas, brasões e faixas sempre que podem, o que parece indicar que é condição humana gostar de adornos, enfeites, adereços. Antes que alguém, preconceituosamente, diga que isso é coisa de “cucarachas”, de militares do terceiro mundo, ou de generais africanos deslumbrados, vou transcrever abaixo notícias de duas ações de guerras. Das notícias dá para inferir que a maior nação guerreira do planeta também tem apego algo exagerado por medalhazinhas e não é seguida pela, talvez, terceira maior nação guerreira do mundo, a Inglaterra, que parece ser parcimoniosa na hora de distribuí-las. ¹ Em 1983 os Estados Unidos com cerca de 6000 homens invadiram a ilha de Granada para depor um governo de esquerda que contrariava os seus interesses, implantando um governo pró-EUA. Seguindo a política de intervenção externa de Ronald Reagan, os Estados Unidos invadiram a ilha caribenha depois de um golpe contra o presidente marxista Maurice Bishop. Alegando prestar proteção a 600 estudantes americanos que estavam no país. Bishop é destituído e fuzilado num golpe de radicais de esquerda, liderados pelo general Hudson Austin e pelo vice-primeiro-ministro, Bernard Coard. Tropas dos EUA invadem a ilha, depõem o regime e retiram-se gradativamente deixando um governo pró-Estados Unidos, até 1985. Coard e outros 14 envolvidos na morte de Bishop são condenados à morte em 1986, mas a pena é comutada em prisão perpétua. O governo americano distribuiu oito mil medalhas aos seus guerreiros que haviam combatido em granada, sofrido dezoito baixas tendo causado setenta e nove no inimigo. ² Para tentar manter-se no poder e assegurar um mínimo de popularidade, a junta militar que governava a Argentina decidiu executar o Plano Goa, a invasão das ilhas Malvinas ou Falklands para os ingleses, que a habitavam desde 1833, com o objetivo de retomá-las. Assim às 4:30 do dia 2 de abril de 1982, 150 homens do Tático Buzo, uma unidade de elite dos fuzileiros argentinos, desembarcou na capital Port Stanley para prender o governador, mas encontraram forte resistência do destacamento de 68 fuzileiros britânicos que defendia a área em torno da sede do governo. Londres reage de imediato à invasão argentina. A primeira-ministra Margareth Tatcher corta relações diplomáticas com a Argentina. Os Estados Unidos e as Nações Unidas tentam mediar a disputa. Mas Tatcher, sentido-se obrigada a defender uma possessão imperial (afinal o Reino Unido era a terceira potência militar e nuclear do mundo), enviou uma task force, uma força tarefa, para recuperar as ilhas, mobilizando a Marinha Britânica, que parte para as ilhas a 10 mil quilômetros de distância de sua pátria. Os britânicos afundam o destróier argentino Belgrano com trezentos e cinqüenta marinheiros a bordo, mas seu navio de guerra Sheffield é atingido pelos mísseis franceses Exocet, lançados pelos aviões argentinos. A resistência argentina é surpreendente e os dois lados sofrem muitas perdas. A reconquista das ilhas prova-se mais difícil do que os britânicos previam. A Inglaterra gastou 2 bilhões de dólares no conflito. O destaque ficou para os caças-bombardeiros Harrier, aviões que decolam e aterrissam verticalmente, como se fossem helicópteros. Em 14 de junho, os argentinos capitulam. Estima-se que mais de sessenta mil homens das forças armadas britânicas foram mobilizados. O saldo de mortos é de setecentos e doze soldados argentinos e duzentos e cinqüenta e cinco soldados britânicos. Resultou daí que os Britânicos condecoraram seus militares pelos feitos bélicos, fora os 255 mortos que receberam suas medalhas póstumas, 8 outras medalhas foram distribuídas aos que lutaram. Da Argentina, que empregou 10 mil militares na guerra, não se tem notícias de quantas medalhas foram atribuídas a seus heróis e mártires. JAIR, Floripa, 25/07/09.

sábado, 25 de julho de 2009

OS GURKAS


A história militar registra que os Gurkas, unidade do exército de Sua Majestade Britânica formada por soldados nepaleses, tropa equivalente à Legião Estrangeira a serviço da França, constituem o mais letal corpo de soldados do mundo. São altamente disciplinados, e tornaram-se as mais eficientes máquinas de matar do planeta. Costumam fazer o “trabalho sujo” que os soldados regulares britânicos preferem evitar, isto é, são especialistas na luta corpo-a-corpo e costumam eliminar o inimigo a sangue frio. Implacáveis e determinados, atacam amoque, em geral sem qualquer chance de defesa para o inimigo. São movidos pela eficácia e lealdade, não pela vaidade. Os Gurkas integram o Exército Britânico desde o século XIX e são assustadoramente lendárias suas ações militares na II Grande Guerra onde mais de 250.000 deles atuaram, ou, mais recentemente, nas Malvinas onde aterrorizaram os argentinos os quais os chamavam de “terríveis selvagens” e fugiam desesperados à sua aproximação. Os ingleses lutaram duas vezes contra os Gurkas na Índia, em 1813 e 1816. A dificultosa vitória das tropas coloniais resultou em considerável respeito pelas qualidades militares desses soldados nepaleses e na criação, já em 1815 de três batalhões Gurkas a serviço do Império Britânico, numa evidente demonstração que a melhor política é unir-se ao inimigo se é difícil vencê-lo. Os Gurkas são recrutados entre montanheses tribais do Himalaia, e constitui ponto de honra para as famílias da região conseguirem que um membro de seu clã seja incluído na tropa que é reconhecidamente uma tropa de elite, e onde poderão ascender até ao posto de major. Usam um punhal, uma arma ancestral dos nepaleses, o kukri. A arma, de origem grega, foi uma (ou talvez a única) herança de Alexandre, o Grande. Hoje, o kukri é uma extensão do braço de um gurka. De osso, marfim ou metal no cabo, aço da mais alta qualidade na lâmina. Sem uma dimensão exata, o kukri tem em geral 28 a 30 centímetros que servem para apenas uma finalidade: matar. Num rencontro, num embate, um Gurka nunca exibe o seu kukri em vão, uma vez desembainhado o punhal, a lâmina tem de verter sangue, só depois podendo regressar ao escuro descanso da bainha. Os argentinos que os enfrentaram nas Malvinas sentiram quanto é letal essa determinação milenar. Hoje, batalhões gurkas ainda fazem parte dos exércitos indiano e britânico. Neste, a Brigada continua em ação, adaptando-se aos novos tempos – em março passado, o ministro da Defesa Derek Twigg anunciou estudos para admitir pela primeira vez mulheres na unidade. O lema, porém, permanece o mesmo: “Melhor morrer que acovardar-se”. Os Gurkas usam uniforme camuflado de combate que seria igual ao dos militares britânicos, não fosse a bainha para o famoso kukri, conhecido como "pé de cachorro", com o lado cego da lâmina bem rombudo o que a faz uma arma bem pesada, mas o lado do corte é extremamente afiado tornando-a muito eficiente no combate corpo a corpo. Arma, cercada de mitos, foi muito utilizada contra alemães e japoneses na Segunda Guerra Mundial. Mas os gurkas notabilizaram-se mesmo foi pela luta corporal com técnicas desenvolvidas ao longo de milênios pelas artes marciais. Graças a essa fama sinistra, um terror paralisante costuma percorrer as fileiras adversárias quando ouvem ressoar o grito de guerra "Jai Mahakali, Ayo Gorkhali" – em tradução literal, “Glória à deusa da guerra, aqui vão os gurkas”! O uniforme de gala é verde para locais de clima frio e branco nos trópicos, com botões e insígnias em preto. Usam ainda boinas verdes ou o chapéu mole de aba larga e desabada, típico. O armamento padrão é o fuzil americano M 16, de calibre 5,56 mm. Atuando na Malásia e em Bornéu, na Ásia, esses temíveis montanheses se destacaram como excelentes combatentes de selva. Mas tornaram-se mundialmente famosos por sua participação na Guerra das Malvinas, em 1982, com o 1° Batalhão - 7th Duke of Edinburgh's Own Gurkhas Rifles - integrando a 5a. Brigada de Infantaria inglesa. Desembarcaram na Baía de San Carlos e na primeira semana organizaram patrulhas para cercar grupos dispersos de argentinos, o que realizaram com uma eficiência mortal para azar dos portenhos. Finalmente, depois de quase dois séculos de serviços prestados à Coroa Britânica e tantas vezes recompensados apenas com o sangue e as vidas derramadas, os soldados Gurkas conseguiram obter do Governo de Sua Majestade pensões e direitos de Férias idênticos às dos restantes militares das forças britânicas. O processo começou há dois anos, sob pressão de associações Gurkas no Nepal, de onde são oriundos, o Ministério da Defesa do Reino Unido cedeu nas posições anteriores que defendiam que os Gurkas que regressavam ao seu país natal deviam seguir os padrões de vida locais no que concerne ao nível das suas pensões. Mas o argumento começou a cair por terra porque a maioria dos soldados Gurkas que se retiram ficam no Reino Unido e nunca mais regressam ao Nepal, tendo que sobreviver na Europa com uma pensão que é, normalmente, seis vezes inferior à dos seus congêneres britânicos. É até compreensível que continuem vivendo no Reino Unido depois de se retirarem da ativa do exército. Tendo vivido, às vezes, três décadas nas forças armadas, seus costumes e padrões de vida não são mais compatíveis com aqueles encontrados em suas aldeias de origem no Nepal. Entretanto, a medida não vai englobar os 22 mil Gurkas que já se retiraram do serviço ativo e que vivem no Reino Unido, mas com pensões só aplicáveis ao nível de vida no Nepal. Existem atualmente 3400 soldados Gurkas ao serviço do Exército Britânico reunidos na Brigada Gurka atualmente cumprindo missões no Afeganistão e que resultam de uma das seleções mais exigentes de todo o mundo. Todos os anos 28.000 jovens nepaleses concorrem e apenas 200 são escolhidos através de um conjunto de provas físicas extremamente exigentes, como subir correndo uma trilha de dez quilômetros na montanha conduzindo uma mochila de quarenta quilos, mas que produzem um dos corpos militares mais eficientes do mundo como provam suas ações em todas as guerras nas quais participaram e mais recentemente durante as operações de pacificação em Timor Leste após a independência. JAIR, Floripa, 25/07/09.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

UM OLHAR SOBRE BARILOCHE


Este texto, escrito na ocasião de uma viagem a Bariloche, eu o encontrei nos meus arquivos e, como não tinha sido publicado, resolvi fazê-lo, pois, a mim, parece que estendi um olhar menos “turístico” sobre uma região notadamente fequentada por pessoas que estão apenas determinadas a se divertir sem olhar ao redor.
BARILOCHE
Penso que a idade, se nos penaliza com a deterioração dos músculos, a flacidez da epiderme e o mau funcionamento dos órgãos, causando-nos males múltiplos, beneficia-nos com a acuidade dos sentidos e a exacerbação da sensibilidade, permitindo-nos desfrutar das pequenas coisas com mais prazer e intensidade. Assim, justifica-se que uma pessoa como eu vá a um lugar quase só freqüentado por “emergentes” e deslumbrados, visto que a idade me confere a capacidade de ver, olhar, perceber, sentir, gozar e curtir pequenas (e grandes) coisas com olhos de quem já viu muito, mas não tudo, e tem consciência que nada sabe. À parte a estação de inverno que nos negou uma nevada, a Patagônia mostrou-se quase outro planeta de tão diferente, fascinante e surpreendente. Fomos de ônibus de Foz do Iguaçu até Buenos Aires numa primeira etapa, e de Buenos Aires a São Carlos de Bariloche em seguida, numa viagem de mais de quarenta horas. Daí já dá para deduzir quanto foi possível observar da região. A cidade de Bariloche situa-se à margem de um lago de água doce com noventa e três quilômetros de comprimento e quatorze de largura na sua parte mais larga. Esse lago, cujo nome é Nahuel Huapi em idioma “patagonês”, que numa tradução livre significa Ilha do Tigre. Já que não existem tigres na região supõe-se que os primeiros exploradores confundiram o puma, desconhecido deles e muito abundante no lugar, com o tigre, e traduziram Nahuel por tigre, coisas da história. Esse lago, como todos da região, foi formado pelo degelo da última glaciação, cerca de dezesseis mil anos atrás, e é alimentado por degelos da primavera e chuvas que caem com grande intensidade durante o inverno. A profundidade média do lago é de duzentos e sessenta metros e sua maior profundidade conhecida é de quatrocentos e setenta e quatro metros. A temperatura média de suas águas situa-se em torno de doze graus, e no verão chega a dezessete, o que permite a muitos turistas audaciosos curtirem uma praia. É muito piscoso e foi repovoado com salmões e trutas européias, no começo dos anos trinta do século passado. A pesca só é permitida entre novembro e março, e assim mesmo só pesca esportiva com dois peixes, de certo tamanho mínimo, por pessoa por dia. Fizemos uma viagem de um dia por esse lago e mais um chamado Lago Frias, quando pudemos observar as paisagens de cartão postal, a flora e a fauna, constituída quase só por aves aquáticas como gaivotas e cormorões. Os lagos menores (dez quilômetros de extensão) como o Frias, costumam congelar no inverno, os maiores não. O passeio mais prazeroso foi a uma floresta chamada “Valdiviana” por ter seu epicentro na cidade de Valdívia no Chile. Por incrível que possa parecer, trata-se de uma “rain forest” em plena zona semi-antártida, é a floresta mais austral do mundo. Acontece que o encontro das massas de ar quente e úmido do continente colidem com a cordilheira fria, condensam e formam umas das maiores precipitações pluviométricas do planeta, cerca de 4000 mm, algo só comparável às monções da Ásia. Por ser uma floresta úmida, sua fauna e flora são muito variadas sendo possível encontrar muitas espécies de coníferas, algumas até produzem pinhões, e uma, em particular, parece uma sequóia com mais e sessenta metros de altura. Vimos uma dessas “sequóias” com mais de mil e quinhentos anos, devidamente comprovados através da contagem de seus anéis de crescimento. Uma variedade de “barba-de-velho” amarelo-ouro, nasce em uma conífera e lhe confere um visual bem destacado entre as demais árvores. É endêmico, como quase todas os vegetais ali encontrados, um nefasto cogumelo chamado “lau lau”, que “ataca” grandes árvores, causando-lhes uma espécie de câncer, chamados “nudos” pelos patagônicos. Esses nudos, depois das ávores mortas, são usados na confecção de artesanatos os mais variados como, cinzeiros, pés de abajures, estatuetas e pequenos objetos de decoração. Abundante e contraditória é a existência de uma espécie de bambu, gramínea que costuma crescer em florestas tropicais e temperadas, no meio das coníferas. Esse bambu, que até passado recente era usado para a confecção de “sticks” de esquis, é completamente amarelo, maciço e muito resistente. Pasmem, existem beija-flores na floresta! Apesar dos menos vinte graus centígrados, que às vezes acontecem no inverno, os beija-flores sobrevivem por que há uma espécie de arbusto que só floresce no outono e inverno. Outros animais ou migram ou hibernam durante o frio intenso. A floresta está situada dentro de um parque nacional criado em 1903, bem cercado de leis e bem protegido por guardas florestais. Foi muito interessante uma visita ao museu de história natural da Patagônia. O museu está impecavelmente montado, didática e cronologicamente. Desde fósseis da era pré cambriana, passando pelos artefatos como canoas, utensílios domésticos, armas, enfeites, instrumentos musicais, vestimentas de couro e objetos variados dos primeiros patagônicos, e indícios da chegada dos espanhóis como, contas de vidro e espelhos usados nas trocas com os nativos, armas de fogo, armaduras, lanças, elmos e vestimentas, até a recente integração, por volta de 1880, da região à Argentina atual. A flora e a fauna também estão muito bem representadas com bichos empalhados, descrições e amostras vegetais. Merece um registro especial a “integração” da Patagônia executada, principalmente, por Francisco Pascasio Moreno, conhecido por Perito Moreno, uma mistura de Barão do Rio Branco com Marechal Rondon, já que além de ser um demarcador de terras, atuava também na área diplomática, conciliando interesses fronteiriços da Argentina e Chile na contestada região. Perito Moreno tem hoje seu nome perpetuado em diversos acidentes topográficos como glaciares, lagos, rios, ilhas etc por sua destacada atuação, em meados do século dezenove, na demarcação dos limites territoriais dos dois países, e na forte influência que exerceu para a criação do primeiro parque nacional da Argentina. Parece que ele era um apaixonado pela natureza, pois expressou a vontade de ser sepultado numa pequenina ilha do lago Nahuel Huapi, que hoje ostenta uma cruz branca bem visível para os barcos que passam, e onde todos apitam três vezes e fazem um minuto de silêncio ao passar. Sente-se uma coisa mística, como se a alma do herói estivesse pairando sobre tudo, e seus atentos e amorosos olhos a todos observassem. Causou-me uma impressão estranha e duradoura. Como estou numa fase, digamos, botânica, aproveitei para trazer algumas mudas e sementes de plantas nativas da região para ver se as reproduzo nas condições floriaonopolitanas e as transformo em bonsais. É uma experiência que me vejo compelido a fazer. Como passeios mais fúteis, mais turísticos e menos comprometidos culturalmente, fomos a uma fábrica de chocolates caseiros ao estilo suíço, um restaurante com cantor de tango e a um cassino, vejam só!. O retorno foi feito por via aérea por que a via terrestre é muito longa. JAIR, Floripa, 15/06/04.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

SURREALISMO JAPONÊS


Surrealismo, movimento iniciado em 1924 por André Brenton, escritor francês, nega o racionalismo das coisas de modo a desprezar construções lógicas, que sejam produto de um encadeamento cartesiano, por assim dizer. A coerência e o racional desprezados, constrói-se algo onírico que não obedece a regras conhecidas. Os artistas ligados ao surrealismo, além de rejeitarem os valores ditados pelo status quo, criam obras repletas de humor, sonhos, utopias, deformações e informações contrárias a lógica. Na pintura o movimento teve sua expressão máxima nas obras de Salvador Dali e Juan Miró. Do Japão não se conhece nada significativo dentro das artes cuja escola tenha sido o surrealismo, contudo, a conduta de alguns soldados japoneses após a guerra se enquadra perfeitamente em algo contrário a razão. O ótimo livro “Corações sujos”, do escritor e jornalista Fernando Morais, conta a história da Shindô Remei, organização japonesa no Brasil que não acreditava na derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial. Os princípios que a orientaram eram os mesmos dos soldados japoneses que continuaram resistindo após o final da guerra. O sargento japonês Shoichi Yokoi foi descoberto nas selvas da ilha de Guam, no Pacífico, em 1972, 27 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial. Ele tornou-se um herói nacional, por sua dramática história de sobrevivência e sua adesão incondicional ao código do exército imperial japonês de jamais render-se. Suas primeiras palavras ao chegar a Tóquio foram: “É com grande constrangimento que estou retornando”, frase que foi transmitida pela TV e tornou-se instantaneamente famosa. O soldado Yokoi foi alistado no Exército Imperial Japonês em 1941 e enviado pouco depois à Ilha de Guam, no Oceano Pacífico, então ocupada pelos japoneses após o ataque a Pearl Harbor, que deu inicio ao conflito naquela região. Quando os norte-americanos recuperaram a ilha em 1944, Yokoi embrenhou-se na selva para evitar a rendição às tropas inimigas. Nos primeiros tempos em que se conservou escondido, ele caçava à noite mantendo-se fora das vistas durante o dia e usava as plantas nativas da ilha para fazer roupas, forro para cama e estocagem de alimentos, que ele escondia no buraco que passou a habitar. Shoichi temia ser morto caso caísse nas mãos dos habitantes de Guam, devido ao tratamento dispensado à população civil da ilha pelos japoneses durante a guerra e por 27 anos escondeu-se numa gruta no terreno de uma parte desabitada da ilha evitando ser descoberto e recusando-se a se entregar mesmo após achar folhetos que anunciavam o fim da guerra. Na tarde de 24 de janeiro de 1972 Shoichi Yokoi foi descoberto nas matas de Talofofo por dois caçadores locais, Jesus Duenas e Manuel DeGracia, que verificavam suas armadilhas para camarões ao longo de um riacho da região. Seu aparecimento quase trinta anos após o fim da Segunda Guerra Mundial transformou Shoichi numa celebridade e alvo de reportagens em toda a mídia mundial. Após uma turnê tempestuosa por todo seu país, quando despertou a atenção, simpatia e curiosidade de milhões de compatriotas, ele casou-se e estabeleceu-se na área rural de Aichi. Tendo vivido solitário numa caverna por 27 anos, ele se tornou uma figura popular na televisão japonesa e asiática e um adepto da vida austera. Yokoi morreu em 1997, aos 82 anos, de ataque cardíaco em Nagoia, sendo enterrado no cemitério da cidade, na mesma tumba destinada à sua mãe, ali enterrada em 1955, quando ele ainda era um solitário soldado escondido nas selvas de Guam. Na esteira do retorno do sargento Shoichi Yokoi em 1972 os japoneses saíram em busca de mais soldados “perdidos” da Segunda Guerra Mundial. Em 1974 o tenente Hiroo Onoda foi achado nas selvas das Filipinas, onde ficou escondido por 29 anos. Onoda havia sido enviado à ilha filipina de Lubang em 1944 para espiar as forças norte-americanas. Quando a guerra terminou, Onoda recusou-se a acreditar que o Japão tivesse se rendido e resolveu ficar na ilha. Onoda continuou sua campanha, vivendo inicialmente nas montanhas com três outros soldados. Um de seus camaradas rendeu-se às forças Filipinas, e os outros dois foram mortos em batalhas com as forças locais - em 1954 e em 1972 - deixando Onoda sozinho nas montanhas. Por quase três décadas recusou render-se, negando cada tentativa de convencê-lo de que a guerra tinha acabado com a rendição do Imperador. Em 1960, Onoda foi declarado legalmente morto no Japão. Encontrado por um estudante japonês, Norio Suzuki, Onoda recusou-se ainda a aceitar que a guerra tinha acabado a menos que recebesse ordens para baixar armas diretamente de seu oficial superior. Suzuki se prontificou a ajudar e retornou ao Japão com as fotografias de si mesmo e de Onoda como prova de seu encontro. Em 1974, o governo do japonês encontrou o oficial comandante de Onoda, Taniguchi, que havia se tornado um livreiro. Taniguchi foi para Lubang e informou a Onoda da derrota do Japão na guerra e ordenou-lhe a depor armas. Assim, o tenente Onoda emergiu da selva 29 anos após o fim da segunda guerra mundial, e aceitou a ordem do oficial comandante da rendição vestindo seu uniforme e espada, com seu rifle Arisaka ainda em condições operacionais, com 500 cartuchos de munição e diversas granadas de mão. Era seu aniversário de 52 anos de idade. O Tenente Onoda foi recebido no Japão como herói. Foi condecorado com dezenas de medalhas e recebeu inúmeras homenagens. Mudou-se para o Brasil com sua mulher japonesa. Por 29 anos, recusando render-se ao inimigo, ele havia sobrevivido da comida que encontrava na selva ou do que roubava de fazendeiros, e mais, continuou combatento os "inimigos" do Império japonês, que a essa altura eram as forças armadas, a polícia e pessoas comuns filipinas. Praticou incêncios em propriedades rurais, sabotou pontes e instalações e matou trinta de seus perseguidores e, ao render-se, foi perdoado pelo presidente Ferdinando Marcos. Tudo foi registrado no livro de Onoda, "Trinta anos de minha guerra", lançado no Brasil no mesmo ano de 1974. Se há exemplos de surrealismo melhores e mais robustos que estes, sinceramente desconheço. JAIR, Floripa, 22/07/09.

VIVER FAZ MAL À SAÚDE


Vivemos a era dos paradoxos. Ao tempo que somos, simultaneamente, protagonistas, alvos, objetos, vítimas e agentes das mais extensas, intensas, constantes, abundantes, concentradas e regulares campanhas do “Seja saudável”, “Viva mais feliz”, “Libere suas energias” etc, estamos imersos no mais insalubre dos mundos. Todos, absolutamente todos os meios de comunicação, todos os dias, nos empurram olhos e ouvidos adentro mensagens subliminares, e a maioria nem isso, para que adotemos uma vida mais “natural” como meio de vivermos melhor e mais felizes. Será isso possível? Grande maioria dos ensinamentos de como viver melhor, parte do princípio que as doenças e os males de quaisquer espécies que nos acometem têm por causa o desequilíbrio energético a que estamos sujeitos por conta da maneira “errada” de como vivemos. E que, ao eliminarmos as causas desse desequilíbrio ingressamos, automaticamente, na era da saúde. Nada de errado com esse raciocínio, se não fosse um sofisma! (lembrando que sofisma é um raciocínio que parte de premissas verdadeiras e chega a conclusões inaplicáveis, porque falsas). Sim, porquanto os mesmos gurus que nos dão a receita do bem viver relacionam quais são os “agentes” causadores dos males que nos espreitam a cada esquina, e como a eles nos expomos. A relação dos agentes é por demais conhecida, mas não custa nada lembrá-la: O ar que respiramos está totalmente saturado de substâncias cancerígenas, causadoras de males respiratórios e chuva ácida que polui o solo e as plantas, além de corroer as edificações; A água que usamos para beber, lavar nossas vestes e objetos de uso pessoal, nos banhar e elaborar nossa comida contém cloro em excesso que afeta a defesa natural da pele contra agentes externos nos deixando expostos, como uma porta aberta, às mais variadas espécies de microorganismos causadores de doenças, além de, lentamente, intoxicar nosso organismo; A exposição demasiada ao sol causa câncer de pele; Protetores solares são altamente tóxicos; Sexo todo dia e/ou com parceiros(as) diferentes, além de levar ao declínio irreversível da libido, traz o risco de doenças sexualmente transmissíveis, como a AIDS; Falta de exercícios e indolência, afetam diretamente nosso metabolismo e, indiretamente, levam a obesidade que, por si só já é uma doença, mas que conduz a males outros, especialmente do coração; Excesso de exercícios sobrecarrega o pobre músculo cardíaco levando-o ao colapso; Os vegetais de nossa dieta alimentar estão saturados de agrotóxicos altamente danosos à saúde; Alimentos industrializados contém corantes, estabilizantes, aromatizantes, solubilizantes e outros “antes” perniciosos; Carne vermelha é proibida por ser de natureza contrária ao que nosso aparelho digestivo está apto a assimilar; Quaisquer espécies de gordura entopem as artérias que irrigam órgãos importantes, levando à arteriosclerose, e causam hipertrigliceridemia também; Açúcares, sejam em forma de sobremesas, balas, bombons ou adoçando refrigerantes, e até em simples cafezinhos, aumentam o risco de diabetes, são um veneno para o corpo; Carnes brancas, sejam de peixe ou de galinha, também não são recomendáveis, reduzem a expectativa de vida, estão saturadas de toxinas oriundas de alimentação industrial maléfica; Trabalho em excesso produz estresse que diminui nossas chances de resistir a ataques nefastos de vírus e bactérias; Trabalhar sempre no mesmo lugar e do mesmo jeito causa LER, Lesão por Esforço Repetitivo; Usar telefone celular expõe o usuário a ondas hertzianas malignas; Exposição aos raios catódicos da televisão ou do computador encerra enorme risco de produzir câncer; Comer muito faz mal, desnecessário dizer que não comer também; Alimentos fritos, cozidos ou defumados são peçonhentos para o sangue; Lembre-se que tanto lipídios, quanto glicídios e protídeos em exagero, matam; Vitaminas, sais minerais e água, consumir com moderação, sob o risco de intoxicar-se; Café e ovo, proibidíssimos; A preocupação com o futuro e o presente, a ansiedade diante das incertezas materiais e imediatas, a angústia frente às grandes questões filosóficas de quem somos, de onde viemos e para onde vamos, desgastam a psique; Além disso tudo, o consumo de drogas, proibidas ou não, destroem o homem tanto física e emocional como moral e psiquicamente. Consumir anfetaminas, barbitúricos, estupefacientes, narcóticos, álcool, remédios e medicamentos, complementos alimentares e similares tudo é péssimo para o equilíbrio dos humores corporais. Fumar, mesmo passivamente, causa câncer de cólon, pulmão e bexiga; Daí os gurus concluem que, se extinguirmos todos os elementos, alimentos, posturas, atitudes, bebidas, "modus operandi", áreas de atrito, pressões externas e internas, “venenos”, pressas, obsessões e maus pensamentos que causam estragos em nossas vidas estaremos “de bem com o mundo”, viveremos melhor e com saúde. Basta optarmos por uma vida mais simples, mais "light", algo assim como a de um desiludido aborígine australiano que já estivesse completamente só no "out back" daquele país, e que resolvesse, por razões lá dele, tornar-se vegetariano radical e isolar-se numa caverna, protegido da luz solar para sempre. Basta vivermos sem alimentos industriais, sem água clorada, sem carne de espécie alguma, sem fogo, sem remédios, sem exposição ao sol, sem roupas, sem outro objetivo de vida que não o de apenas sobreviver a cada dia, sem competição e sem sexo, que estaremos salvos! Basta apenas isso, cara pálida! O quê você está esperando? Elimine para sempre “apenas” estes pequenos detalhes, e você estará melhorando em cem por cento sua qualidade de vida! Pois é, se justamente o conjunto de coisas que compõe a vida moderna a está destruindo, conclui-se que esse conjunto de coisas faz mal à saúde, VIVER FAZ MAL À SAÚDE! JAIR, Floripa, 15/07/09.

terça-feira, 21 de julho de 2009

AINDA A ESTULTICE LUNAR


Continuando o combate ao festival de estupidez que circula no saite “A farsa do século” elaborei mais alguns argumentos baseados em afirmações infantis encontrados naquele espaço. Chamou-me a atenção referência de gosto duvidoso, “os três patetas” aos três astronautas da Apollo 11 e, mais adiante, a leviana afirmação, “fizeram uma lavagem cerebral neles, antes e depois da viagem”. Primeiro, quem “fizeram”? Ora, como o autor da afirmação em momento algum definiu o universo dos que conheciam, e guardavam para si esse conhecimento sobre a “farsa”, devemos supor que a lavagem cerebral foi praticada em tantos quantos tiveram acesso a esse “segredo”, não é mesmo? Ainda que que essa discutível expressão “lavagem cerebral” seja usada para nomear métodos de convencimento não científicos aplicado às pessoas que se quer doutrinar num certo sentido, fica claro que nas tantas vezes nas quais foram tentados, como; na China de Mao em adversários políticos durante a chamada revolução cultural; em prisioneiros de guerra do Vietnan na década de setenta; e na Alemanha de Hitler, nunca funcionaram. Ainda que acreditemos que nos EUA, nação apesar de tudo democrática, e onde se respeita as idéias e orientação ideológica de cada cidadão, teria sido possível “lavar” o cérebro de pessoas criadas livres, consideremos quantas seriam essas pessoas e que tempo demandaria essa “doutrinação”. Não bastaria doutrinar apenas os “três patetas”, o programa espacial envolvia um centro de treinamento onde mais de uma centena de astronautas recebia exatamente o mesmo adestramento. A escalação para as missões só era feita quando todos os potenciais tripulantes fossem considerados aptos, e a tripulação composta de três efetivos e dois reservas só era escolhida dias antes da decolagem, sendo assim, virtualmente, TODOS os astronautas teriam que sofrer a tal lavagem, e não só os três patetas como o autor do saite insinua. É de supor que “lavados cerebralmente” não poderiam ter uma convivência pacífica e normal com pessoas que não sofreram o mesmo tratamento, assim, o universo dos lavados teria que ser geometricamente ampliado. Considerando os vários lançamentos, inclusive o da malfadada Apollo 13, perto de vinte astronautas estiveram diretamente envolvidos nas viagens à Lua, e não só os “três patetas”. Temos que lembrar, também, que muitos técnicos, cientistas e auxiliares estavam diretamente ligados aos lançamentos e, naturalmente, estes teriam que receber o tratamento senão tudo iria por água abaixo, não é mesmo? Levando-se em conta que a tal lavagem cerebral quando foi tentada por déspotas e insanos políticos, demandou tempo considerável, às vezes anos, envolveu doutrinadores ou educadores, como se dizia na China, nas áreas psicológicas, comportamentais, políticas e sociais, teríamos dezenas, talvez centenas de psicólogos e cientistas políticos e sociais envolvidos durante meses ou anos para doutrinal homens livres, cultos e adultos para que todos se envolvessem numa trapaça em escala planetal de duração vitalícia. É possível explicar isso? E os próprios doutrinadores viveriam para sempre com suas consciências sabendo que cometeram esse crime? Será que não necessitariam eles, os doutrinadores, de outros educadores que lavassem seus cérebros? Esses outros educadores não estariam também sujeitos a crises de consciências, necessitando, por sua vez, de outros doutrinadores, assim ad eternum? Ora, sejamos sensatos, o autor do saite criou um moto perpetuum kafkiano! Além dessas questões, existe a que diz respeito ao material geológico trazido da Lua pelo programa Apollo. Foi algo em torno de sessenta quilos de pedras, seixos e alguma coisa parecida com terra e areia muito fina que, na sua maior parte, foram divididos e distribuídos a laboratórios e universidades dos EUA e de várias partes do mundo. Não é de estranhar que físicos, químicos, geólogos e outros estudiosos, que até hoje ainda estudam esse material, não percebessem que se trata de material oriundo da própria Terra? Será que esses cientistas que têm as amostras sob seus microscópios não percebem a fraude? Serão eles néscios? Ou eles estão mancomunados com a NASA e fingem que não sabem que o material é falso? Até cientistas da antiga União Soviética aprovam tal atitude, já que também receberam as pedras? Por essas e outra tantas questões que me ocorrem – diga-se, nenhuma respondida pelo autor do saite – é que afirmo: A Lua, além de inspirar os poetas e amantes proporcionando-lhes perturbações oníricas que enriquecem a literatura, atua nos neurônios de certos internautas bloqueando quaisquer resquícios de inteligência que poderiam ter, tornando-os parvos, furtando-lhes a denominação de homo sapiens tornando-os verdadeiros homo stultus, que se acham mais espertos que o resto da humanidade. Haja paciência! JAIR, Floripa, 21/07/09.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

A LUA E A BURRICE


Quando se comemora quarenta anos da chegada do homem à Lua, ainda existe muita estultice circulando pela internet onde até se propaga que a viagem ao nosso satélite nunca existiu, e que os americanos movidos pela vontade vencer os russos na corrida espacial, teriam simulado tudo e construído em estúdios cinematográficos as imagens que vimos na ocasião. Sinceramente, para quem viveu naqueles dias, naquelas décadas de sessenta e setenta, não pode haver maior idiotice que essa de duvidar de uma coisa que acompanhamos passo a passo desde as primeiras experiências com foguetes baseadas na tecnologia desenvolvida por Von Braun, até quando o poderoso Saturno V elevou ao espaço a tripulação de três astronautas que lograram alcançar a Lua onde dois deles desembarcaram. Sobre um saite chamado “A farsa do século”, escrevi o seguinte: Churchill, com muita propriedade, dizia: “É possível enganar muitos durante algum tempo, enganar poucos durante muito tempo, mas é impossível enganar muitos durante muito tempo”. Será possível que a NASA, por mais de cinqüenta anos, tenha conseguido enganar bilhões de pessoas em todo o mundo? Os russos que eram adversários dos americanos na corrida espacial; a imprensa mundial que sempre cobre com competência tudo que acontece; os cientistas de todos os países contrários e até os favoráveis a exploração do espaço, que acompanhavam o desenvolvimento das novas tecnologias alcançadas graças à corrida espacial; nós, pessoas comuns, que usufruíamos materiais e produtos surgidos a partir das pesquisas voltadas para o projeto da NASA; os próprios congressistas adversários do presidente que solicitava verbas para a corrida; os técnicos, engenheiros, físicos, químicos, militares, prestadores de serviços, industriais, empresários e outros tantos que, de diversas partes do mundo colaboravam para o projeto? Por que será que das mais de quarenta mil pessoas que trabalhavam na base de lançamento no cabo Canaveral (depois cabo Kennedy) e no centro de controle de Houston, ninguém que tenha sido demitido fez qualquer denúncia sobre essa farsa? Por que será que os astronautas, pessoas normais, sérias, se deram ao trabalho de passar anos em centros de treinamento para depois fingir que foram a um lugar que nunca foram realmente? A quem serviria esse engodo? Por que gastou-se tanto dinheiro fingindo fazer uma viagem, quando FAZER essa viagem custaria a mesma coisa? Os russos são tão tapados que estavam disputando de verdade com um competidor de mentirinha? Quando do lançamento do Saturno V fotógrafos, cinegrafistas, outros jornalistas, e gente comum de todo o mundo se amontoavam para ver e registrar a entrada dos astronautas na cápsula, a contagem regressiva e a decolagem. É de se perguntar, era tudo uma encenação e, antes do lançamento, os astronautas saíam de fininho por uma porta dos fundos sem que ninguém notasse? Ou o lançamento era real e os astronautas ficavam orbitando numa região “secreta” do espaço enquanto multidões acompanhavam pela TV uma gravação prévia mostrando cenas cinematográficas deles na Lua? Se era tudo mentira, qual era o nível da farsa? Só presidente e alguns membros da alta cúpula política sabiam de tudo? Como ficavam os operadores de radares e outros equipamentos destinados a monitorar os artefatos espaciais? Eles sabiam também? Ou eram enganados por artifício fantástico destinado a simular ecos nos radares? Sofreram lavagem cerebral como os astronautas? Os que sofreram lavagem cerebral podem permanecer cinqüenta anos sustentando essa colossal mentira? As famílias dos “lavados” nunca perceberam nada? E os operadores de radares da Rússia também eram um bando de imbecis que nunca notou nada de anormal? Existiam milhares de operadores, técnicos, engenheiros, cientistas, faxineiros e auxiliares nas dependências da NASA e do centro de controle em Houston, todos eram coniventes ou eram inocentes úteis? Se eram cúmplices, como se pode manter o segredo por tanto tempo? Se eram inocentes, como se poderia aliená-los da simulação? Paralelamente as viagens à Lua existia um programa espacial de lançamento de satélites, vôos suborbitais e orbitais, era tudo mentira também? Se era tudo um conluio, como se explica os avanços nessas áreas? Se não era, como se separava, para os que trabalhavam nos projetas, o joio do trigo? Nas especificações dos equipamentos, peças, roupas espaciais e artefatos que eram encomendados às indústrias levava-se em conta que não necessitavam ser, realmente, apropriados para o fim que se destinavam, já que era tudo de mentirinha mesmo, e podiam-se ser feitos de “qualquer jeito”, ou eram perfeitos e gastava-se um dinheiro que poderia ser empregado em outras áreas, como por exemplo, cenas de ficção científica onde se simulava, como num filme, desembarques na Lua? Se eram adequados, por que não empregrá-los indo à Lua mesmo? Se não eram, como se obtinha a conivência da indústria? Dos cientistas convocados para fazer os complexos cálculos de órbitas, distâncias, tempos e rotas todos eram mancomunados ou nada sabiam do embuste? Se eram coniventes, como vivem eles hoje com suas consciências? Se eram inocentes úteis, como estão agora que “sabem” que tudo era uma farsa? Pois é, já definiram a internet como o espaço mais democrático que existe, não duvido, mas concluo que é onde as maiores idiotices e bobagens se propagam como fogo em mato seco; é onde os apedeutas se sentem a vontade para fluir suas burrices que em outro lugar não teriam vez. JAIR, Floripa, 20/07/09.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O CAFÉ


Desde que a sociedade moderna, tomada por preocupações quase insanas com a saúde, tornou-se ferrenha patrulheira alimentar ditando o que pode e o que não pode ser consumido, o café tem alternado status de mocinho e bandido quase toda semana, isto é, ora podemos e devemos tomar nosso cafezinho sem dor na consciência, ora corremos sérios riscos se o fizermos. A última notícia é que se pode tomar até seis cafezinhos por dia sem quaisquer problemas, aliás, é até recomendável que se faça. Antes que essa gangorra cafeinística incline-se para o outro lado nos proibindo de degustar a infusão dessa fascinante rubiácea, vamos conhecê-la um pouco. A lenda sobre as origens do café diz que, numa região montanhosa de onde hoje é a Etiópia, no século III d. C., um pastor de cabras, chamado Kaldi, certa noite preocupou-se quando algumas de suas cabras não retornaram ao rebanho. Saiu para procurá-las e encontrou-as saltitando próximo a um arbusto cujos frutos estavam mastigando e que obviamente foi o que lhes deu a estranha energia a qual ele nunca vira antes. Dizem que ele mesmo experimentou os frutos vermelhos meio adocicados e descobriu que eles o enchiam de energia, como aconteceu com as cabras. Entusiasmado, o pastor levou essa maravilha ao mosteiro local, mas as reações dos religiosos não foram favoráveis e ele ateou fogo nos frutos, dizendo serem "obra do demônio". O aroma exalado pelos frutos torrados nas chamas atraiu os monges curiosos para descobrir de onde vinha aquele maravilhoso perfume e os grãos de café foram rastelados das cinzas e recolhidos. O abade mudou de idéia, sugeriu que os grãos fossem esmagados na água para ver que tipo de infusão eles davam, e os religiosos logo descobriram que o preparado os mantinha acordados durante as rezas e períodos de meditação noturnos. Notícias dos poderes da bebida espalharam-se de um monastério a outro e, assim, aos poucos espalharam-se por todo mundo, aliás, por toda a região leste africana. As evidências históricas botânicas sugerem que a planta do café originou-e, realmente, na Etiópia Central, onde ainda hoje é possível encontrar plantas selvagens que crescem nas terras altas do país. Ninguém parece saber exatamente quando e onde o primeiro café foi tomado, mas os registros dizem que isso ocorreu em sua terra nativa em meados do século XV. Também sabemos que foi cultivado no Iêmen (antes conhecido como Arábia, daí o nome da variedade arabica), com a aprovação do governo, aproximadamente na mesma época, e pensa-se que talvez os persas levaram-no para a Etiópia no século VI d.C., período em que invadiram a região. À medida que o café tornou-se cada vez mais popular, salas especiais nas casas dos mais abastados foram reservadas para se tomar a infusão, e estabelecimentos para degustação desta saborosa bebida começaram a aparecer nas cidades. A primeira abriu em Meca, no final do século XV e início do XVI e, embora originalmente fossem lugares de reuniões religiosas, esses amplos saguões onde os clientes se sentavam em esteiras de palha ou colchões sobre o chão, rapidamente tornaram-se centros de música, dança, jogos de xadrez, gamão etc. Às vezes, esses centros populares de diversão eram atacados e destruídos por fanáticos religiosos, e alguns governantes apoiavam a proibição do café e impunham punições aterrorizadoras: aqueles que desobedecessem poderiam ser açoitados, presos dentro de um saco de couro e atirados no Bósforo. Por aí se vê que, além de restrições baseadas em suas supostas propriedades estimulantes, o café também sofria proibições de caráter religioso. No início do século dezoito os portugueses compreenderam que as terras brasileiras tinham todas as condições que convinham a plantação de café. Mas, infelizmente, eles não possuíam nem plantas nem sementes. O oficial luso-brasileiro Francisco de Mello Palheta, em 1727 recebeu a incumbência de ir à Guiana Francesa para tratar de questões fronteiriças como pretexto para trazer sementes de café. Naquela época, assim como sucedeu com os árabes, a produção cafeeira só era permitida em colônias européias, com um alto faturamento comercial, por isso Portugal armou seu plano. Consta que Palheta teve um affair amoroso com a esposa do governador de Caiena e voltou ao Brasil com sementes de café arábica clandestinamente escondidas num vaso de planta presenteado por Madame D’Orvilliers. Hoje o Brasil é um dos maiores produtores do planeta e, por feliz acaso, essa planta que dá uma bebida considerada sensual e estimulante entrou no país graças a uma história galante. Existem dois tipos de café comercialmente importantes: o café arábica e o canephora (robusta). O arábica cresce normalmente em altitudes acima de mil pés, tem um sabor mais refinado e possui cerca de um por cento de cafeína em sua composição. Já a variedade robusta, como o nome indica, é uma espécie mais resistente e floresce em menores altitudes, produzindo cafés com um sabor mais rústico. O país que mais consome café é os Estados Unidos e onde o café encontrou a maior variedade de sabores e expressões foi na Itália. Existem várias técnicas de preparo do pó para se obter um bom cafezinho: filtragem, percolação, prensagem e pressão, mas tudo é passar água quente pelo pó de modo a lhe extrair o sabor. Pelo pó de café deve passar somente água quente, jamais a bebida. A recirculação torna a bebida muito amarga, áspera e desagradável. O café usado (café esgotado, borra) é o pior inimigo do sabor, aroma, da cafeteira e da sua saúde. Jogue-o fora. Nunca o reutilize, sequer misturando-o ao café fresco, isso é um verdadeiro assassinato do sabor. Para garantir a qualidade ideal, o café já usado e a bebida preparada devem ficar sempre separados. Deguste com prazer uma bebida fresca, um café preparado na hora, ou o mais recente possível. A característica da bebida café é a de ir deteriorando-se lentamente – o oxigênio a tudo ataca e deteriora - e, por isso, um café preparado há mais tempo não tem o mesmo sabor agradável de um café fresco. Para os paladares mais variados existe ainda os tipos, solúvel, aromatizado, orgânico, gourmet e descafeinado. Seja você um mero tomador de café como alimento no seu desjejum, ou aficionado que passa boa parte do dia com a xícara na mão, desfrute sem culpa dessa bebida que é única, universal e extraordinária. Bon apetit! JAIR, Floripa, 13/07/09.

URUBUS


O Aeroporto Internacional de Guarulhos, localizado no bairro de Cumbica daquele município, tem um departamento de zoologia que cuida do controle de animais que podem causar acidentes nas pistas. Esse departamento, a cargo de uma zoóloga, trata de retirar do local os animais potencialmente perigosos para as atividades de pouso e decolagem. Como se faz isso? Primeiro, conhecendo os hábitos dos ditos e usando esse conhecimento, não para eliminar ou prejudicar os bichos e, sim, para deslocá-los para local seguro. Assim, cobras, capivaras, quero-queros, cães, gatos e urubus são apanhados em armadilhas e mudados de endereço, com a intenção que não mais voltem. Quase todos os animais apanhados são soltos em locais ideais e não retornam para a área do aeroporto. Mas, e os urubus? Aí está um trabalho muito mais difícil de fazer, já que os bichos são territoriais e relutam em adotar outro bioma que não seja aquele a que estão acostumados, e retornam de distâncias de até sessenta quilômetros para o local onde foram apanhados. Para começar, é necessário se conhecer o que é e como vive esse interessante animal. Os urubus, aves da família Cathartidae, primos pobres dos condores, são animais de extrema importância na natureza por serem necrófagos, ou seja, são aves que se alimentam de restos de animais já mortos. Apesar de feioso e com má fama, o urubu tem papel essencial na natureza. Como é um animal necrófago, que se alimenta de carne em putrefação, faz uma espécie de “faxina” nos locais onde vive, pois elimina do meio ambiente a matéria orgânica em decomposição. Contudo, ainda que se alimentem quase exclusivamente de carne em decomposição, não rejeitam carne fresta, o que faz supor que não “preferem” carniça, apenas tem mais facilidade de encontrá-la por motivos óbvios, é claro. Eles são responsáveis pela eliminação de quase a totalidade de carcaças dispostas em um ecossistema, sendo a maioria delas de mamíferos. No Brasil são conhecidas cinco espécies de urubus: O imponente urubu-rei (Sarcoramphus papa) e o urubu-da-mata (Cathartes melambrotos), que muito raramente são encontrados próximos das áreas urbanizadas, e o urubu-preto (Coragyps atratus), este nosso conhecido nos lixões das cidades; o urubu-de-cabeça-vermelha (Cathartes aura), e o urubu-de-cabeça-amarela (Cathartes burrovianus). Apesar de sua importância e abundância, poucas pessoas conhecem seus hábitos, como o comportamento alimentar e a hierarquia social respeitada por essas aves. Os urubus de-cabeça-vermelha e de-cabeça-amarela, normalmente, localizam primeiro a carcaça por possuírem um sentido de olfato mais apurado, sendo então seguidos pelas outras espécies. Para que possam ter uma boa visão de para onde os urubus-de-cabeça-vermelha e de-cabeça-amarela estão voando, as outras espécies procuram atingir grandes altitudes usando com maestria as correntes térmicas para planar, e muitas vezes somem de nossas vistas tornando-se um ponto minúsculo no céu. As correntes térmicas se formam quando o ar frio da atmosfera se aquece em contacto com a superfície terrestre exposta ao sol, tornando-se mais leve e subindo. Este modo de deslocamento permite às aves percorrerem grandes distâncias e permanecerem muito tempo flutuando com um dispêndio mínimo de energia. Essas mesmas correntes são aproveitadas, ainda que de maneira canhestra, pelos pilotos de planadores, os quais se valem de sua força ascensional para ficarem mais tempo no ar. Diferente das demais aves, os urubus não possuem penas em sua cabeça, isso pode ser explicado devido ao fato de se alimentarem de carniça, e essas penas poderiam ser um ponto de contaminação ao entrarem em contato com a carcaça, repleta de microorganismos prejudiciais a sua saúde. Há cientistas dedicados ao estudo do sistema imunológico destes animais para descobrir o segredo da resistência a infecções que parecem possuir. Outro fato pouco conhecido sobre essas aves, é que existe uma clara organização na hora da alimentação. Esta “hierarquia” pode ser vista na maneira como as outras espécies de urubus se afastam da carcaça com a chegada do urubu-rei, e quando encontram uma pele muito resistente, somente ele é capaz de rasgar esta pele graças a seu bico mais forte que o das demais espécies. Dependendo do tamanho da carcaça, esta poderá alimentar muitos urubus, podendo algumas vezes acontecer uma competição entre eles. Com exceção do urubu-rei, que é afetado com ações do homem, tanto pela destruição de seu habitat como pela captura para tráfico por ser muito vistoso, as demais espécies não possuem predadores naturais e também não são “bonitas” a ponto de serem capturadas, de modo que aumentam sua população de acordo com o crescimento de lixo produzido pela sociedade humana. Os cientistas ainda não desvendaram totalmente esse mistério, mas acreditam que os urubus degustam comida estragada sem passar mal graças ao seu sistema imunológico e ao potente suco gástrico secretado por seu estômago. Para encontrar a refeição, eles contam com olfato e visão apurados. São capazes de ver um bicho pequeno a três mil metros de altura! Mas os urubus não cantam de galo: eles não têm siringe, o órgão vocal das aves, e só fazem uns barulhos esquisitos chamados de crocitar, na verdade uma espécie de gorgolejo rouquenho. A reprodução dos urubus acontece no início da primavera. Diferentemente da maioria das aves, eles não constroem ninhos em galhos de árvores ou de arbustos. As fêmeas fazem a postura entre rochas escondidas, paredões rochosos e troncos ocos. Normalmente, colocam dois ou três ovos, sendo que o período de incubação varia de 49 a 56 dias conforme a espécie. Os filhotes, ao contrário dos pais, nascem pelados e se tornam totalmente brancos, só passando a ser negros na adolescência. Os pais revezam-se no ninho, ministrando a seus pequenos comida liquefeita regurgitada de seus estômagos; alimentam os filhotes durante meses. Assim, conhecendo-se o modus vivendi desse útil, meio esquisitão e ecologicamente correto animal, é possível não só afastá-lo dos terminais aéreos, como preservá-lo para continuar fazendo o “trabalho sujo” que a ninguém apraz e que é tão necessário. No Aeroporto de Guarulhos foram capturados 287 animais, que depois de anilhados, foram soltos na serra do mar a oitenta quilômetros de lá. Desses, apenas dois voltaram ao ponto onde foram apanhados, o que prova que é possível livrar-se de seu perigo potencial para a aviação sem lhes causar mal. Homens e urubus podem viver perfeitamente bem, desde que os primeiros entendam e respeitem os segundos. JAIR, Floripa, 13/07/09.

sábado, 11 de julho de 2009

A CRIAÇÃO DA VIDA


A ciência conhece, ou acha que conhece, o processo de criação da vida. Para ela, (a ciência) a vida surgiu a partir de um grau de organização da matéria primordial que existia. Não se sabe que matérias estavam presentes nesse início dos tempos mas, as mais praticáveis seriam a água, o dióxido de carbono, o metano e a amônia; todos compostos simples que sabemos estarem presentes nos planetas do nosso sistema solar e nos demais planetas recentemente descobertos em outros sistemas de nossa galáxia. Alguns cientistas reproduziram em laboratório as condições que, supostamente, imperavam no planeta terra quando jovem. Colocaram essas substâncias simples em frascos e as submeteram a radiações de fontes ultra-violeta e ação de correntes elétricas – uma simulação de relâmpagos a que estiveram expostas há bilhões de anos. Após algumas semanas desse “tratamento”, surge algo interessante no interior dos frascos: um caldo acastanhado contendo grande quantidade de substâncias muito mais complexas que as originalmente lá colocadas. Normalmente são encontrados aminoácidos – os blocos de construção das proteínas, classe de moléculas biológicas. Mais recentemente, as simulações laboratoriais das condições químicas da terra antes do aparecimento de vida, já produziram substâncias orgânicas chamadas “purinas” e “pirimidinas” – blocos de construção da molécula de DNA. Conjetura-se que processos análogos a estes devem ter criado uma espécie de “sopa primeva” que os cientistas crêem ter constituído os oceanos cerca de 3,7 bilhões de anos atrás. As substâncias orgânicas concentravam-se localmente, talvez em gotículas em suspensão, ou espuma que secava nas margens dos mares. Sob a influência da energia dos raios ultravioleta do sol, combinavam-se em moléculas maiores e mais complexas. Pode-se perguntar por que isso não ocorre hoje. Moléculas assim seriam rapidamente absorvidas, degradadas ou devoradas por bactérias e outros seres vivos. Entes que apareceram tardiamente no planeta, como queremos demonstrar. Naqueles tempos as grandes moléculas orgânicas podiam boiar livremente no caldo cada vez mais denso sem serem molestadas. Num dado momento formou-se por acidente, uma molécula notável, uma molécula que podia replicar-se. Na verdade, uma molécula que possa fazer cópias de si mesma não é tão difícil de imaginar como aparece à primeira vista e só teria de surgir uma única vez. Não terá sido necessariamente a molécula maior ou mais complexa de todas, que adquiriu essa propriedade extraordinária de ser capaz de tirar cópias de si mesma, mas, por certo, terá sido uma molécula que sofreu um acidente singular. Um acidente nem um pouco improvável, no entanto, certamente, um acidente fundamental. Que acidente fantástico seria esse, já que, replicar-se significa reproduzir-se, significa perpetuar-se, deixar descendência, enfim, significa VIDA? Por que essa molécula constituída por uma cadeia complexa de vários blocos moleculares, que nada mais é que, em essência, milhões de átomos – que a bilhões de anos continuam imutáveis - organizados de certa maneira, passou a ter essa qualidade especial? A resposta a essas questões parece vir de um livro sem pretensão de desvendar o mistério da vida: “O que é a energia atômica”, de Maxwell Eidinoff e Hyman Ruchlis. Os autores introduzem o leitor no mundo atômico desde a descoberta do átomo, o que é a radioatividade, a fissão e fusão nucleares, a descoberta das partículas elementares, o funcionamento das pilhas e bombas atômicas, o esmagamento de átomos através de feixes de energia e outros conhecimentos relativos à estrutura do átomo e suas partículas subatômicas. É um livro que, em linguagem simples, dá informações deveras interessantes aos leitores curiosos sobre o mundo atômico, e nada mais. Entretanto, no capítulo que trata das emissões vindas do espaço que atingem a terra, as chamadas radiações cósmicas, há um revelador trecho que diz: "Agora mesmo o leitor está sendo alcançado por muitas delas (partículas das radiações cósmicas) sem a mais leve sensação. Algumas radiações atravessam nosso corpo. Ocorrem muitas colisões em que milhares de moléculas de nosso corpo são arrebentadas”. Ora, percebamos, “milhares de moléculas são arrebentadas”, o que significa isso? Significa que a estrutura das moléculas sofre modificações. Significa que os átomos - que a bilhões de anos continuam imutáveis – que compõe as moléculas, sofrem modificações. Significa que a molécula primordial, que boiava, junto com milhares de outras similares a ela e igualmente inertes, em algum momento, sofreu modificação em sua estrutura devido às radiações cósmicas. Significa que as radiações cósmicas transmutaram o íntimo da matéria, impingindo-lhe mudanças tais e tão significativas que, por isso, são responsáveis pelo surgimento da VIDA na terra, e onde mais se possa encontrá-la. Significa que o “fluido vital” apregoado pelos antigos, nada mais é que modificações íntimas na matéria inerte, originadas pela quebra de moléculas, causada pelas radiações de altíssima energia vindas do espaço. Quando se diz que a vida veio do espaço, de certa maneira, está se propagando uma verdade incontestável. A vida veio do espaço, na medida que as radiações cósmicas são integralmente responsáveis pela desestruturação molecular na “sopa primeva” que deu origem à propriedade auto-replicadora da molécula primogênita. Os raios cósmicos, em outro contexto são responsáveis, também, pela degradação das moléculas que se unem em aminoácidos e outras substâncias, que formam células, que fabricam tecidos, que constituem órgãos, que se agregam em sistemas que permitem a vida, quando atingem as moléculas dos seres vivos arrebentando-as, mas isso já é outra história. JAIR, Floripa, 24/07/05.

terça-feira, 7 de julho de 2009

METAMORFEIOSE


É inegável, fora as inúmeras polêmicas que a agitada vida de Michael Jackson nos brindou, sua maior contribuição para o folclore mundial foi a transformação de um negro bonito num branquelo horroroso.