quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

MICRÓBIOS VERSUS HUMANOS


Na luta pelo domínio do planeta, o Homo sapiens se vê frente a adversários os mais diversos, mas, talvez as batalhas mais renhidas dessa guerra sejam contra os microorganismos, em especial contra as bactérias. Nossa chance de vencê-las é diminuta pelo fato de lutarmos contra organismos que evoluem em poucas gerações, de tal forma que armas antes eficazes se tornam obsoletas em pouco tempo. Esses organismos desenvolveram uma técnica de passar seus genes lateralmente de modo a transmitir adaptações adquiridas por um indivíduo a outro. Tecnicamente, qualquer bactéria do Planeta pode, em princípio, cruzar com outra, e isso torna as bactérias uma única espécie global, com implicações quase impossíveis de imaginar em decorrência. Como vemos, estamos em luta com uma espécie de Allien, o oitavo passageiro. E, até aqui, embora bilhões de dólares tenham sido gastos, a luta permanece indefinida. Nosso consolo, e esperança de vitória, é que essas pestinhas não conseguem comunicar-se umas com outras, certo? Errado, afirmam alguns biólogos. Durante muitos anos, os cientistas pensaram que as bactérias não passavam de unidades isoladas, máquinas eficientes para a própria reprodução, apenas. O geneticista François Jacob chegou a dizer que a única ambição de uma bactéria é produzir duas bactérias. No entanto, a lula havaiana da cauda ondulada nos fornece uma indicação totalmente diferente. Esse molusco vive em águas costeiras que não alcançam o joelho de um homem, e costumar caçar depois que o sol se põe. Em noites de lua cheia, quando sua sombra pode denunciá-la para suas presas e predadores, ela acende uma “lâmpada” num órgão que emite um brilho azul, que se confunde com a luz da lua, tornando-a virtualmente invisível. O que torna possível esse artifício é uma bactéria conhecida por Vibrio Fischeri, que a lula ingere da água do mar e guarda numa câmara oca no seu abdômen. O estranho nessa bactéria é que, embora sua reprodução seja de tal ordem que o número de indivíduos numa comunidade dobre a cada vinte minutos, as células que produzem a luminescência permanecem inativas por quatro ou cinco horas. Daí, a partir dum ponto determinado por alguma matemática biológica programada, todas acendem suas luzes ao mesmo tempo. Algo comandou o acendimento coletivo das luzes. Entende-se que apenas um indivíduo ou até um grupo grande deles, não teria potência luminosa para fazer-se notar quando acesos, só uma comunidade de certo tamanho faz a diferença, consegue iluminar alguma coisa, mas como a multidão de Vibrios sabe quando atingiu esse quorum? Quem dá o comando de acender ao mesmo tempo? Como se comunicam os indivíduos para sincronizarem suas células luminosas? O fato é que a comunidade científica se vê estupefata frente essa percepção de quorum num organismo tão primitivo.
Admite-se que a comunicação entre bactérias lhes oferece vantagens na luta contra inimigos sabidamente superiores. Um pequeno grupo de bactérias pode permanecer inativo, sem ser percebido, evitando que os anticorpos reajam. É uma espécie de camuflagem. Assim que o número for suficientemente grande, elas agem em conjunto com a vantagem numérica a favor delas. É meio assustador, mas embora pareça que esses seres minúsculos a maior parte das vezes não se comunicam, o comportamento das Vibrio Fischeri mostra o contrário, para nossa insegurança e terror na hora de combatê-las. Assim, homens e bactérias sempre em luta, continuarão os combates até que um prevaleça sobre o outro, com a consciência que elas já estão no Planeta a bilhões de anos, enquanto nós mal colocamos o pé na soleira da porta. JAIR, Floripa, 04/02/10.

3 comentários:

angela disse...

Interessante1

R. R. Barcellos disse...

Bela matéria, Jair. Por sorte, algumas bactérias estão do nosso lado. São elas que compõem nossa primeira linha de defesa, nas floras bacterianas que vivem em nosso corpo (intestinal, epidérmica, bucal etc). O número de bactérias dessas floras supera o número de células do nosso corpo... e elas defendem seu território com grande determinação.
Um abraço.

Leonel disse...

Esses microrganismos já salvaram nosso planeta uma vez, pelo menos na ficção-científica!
Viu ou leu Guerra dos Mundos, de H.G. Wells?