sábado, 27 de março de 2010

NUMISMÁTICA - 4


A MONARCA E O DINHEIRO

Após a morte de seu pai, rei Jorge VI, em 1952, Elizabeth Alexandra Mary de Windsor, coroada Rainha Elizabeth II, obteve os títulos de chefe de Estado do Reino Unido, da Comunidade Britânica, governante suprema da Igreja da Inglaterra e comandante-chefe das Forças Armadas do Reino Unido. Sendo que a Comunidade Britânica (The Commonwealth) agora apenas um resquício do "Império onde o sol nunca se põe", congrega colônias e ex-colônias do antigo Império. Desde países longínquos e de grande extensão como Índia e Austrália, até pequenas ilhas como Hébridas, Isle of Man e Trinidad Tobago, passando pelas Falklands e países tropicais como a Guiana, até Canadá, Nova Zelândia, Gibraltar e Malta.

A política inglesa de conceder grande autonomia a suas colônias, resultou que ao se tornarem independentes, esses países continuaram atrelados à Coroa Britânica por laços comerciais, políticos, linguísticos e culturais. Entre tantas coisas que a Commnwealth têm em comum, uma delas é cultuar a Rainha como se fosse a soberana de todos. O aniversário de Sua Majestade é comemorado em toda a Comunidade e, em alguns lugares, como na Austrália por exemplo, esse dia é feriado. Em troca dessa lealdade, a Rainha se obriga a visitar seus súditos pelo menos uma vez por ano, o que o faz com regularidade britânica.

Seja por comodidade ou tradição, a maioria dos países da Comunidade usa Libra como padrão monetário, sendo que alguns outros usam Dólar, mas todos tem uma coisa em comum, colocam a efígie da Soberana em suas cédulas. Como já publiquei em texto anterior, coleciono cédulas de valor facial UM, e tenho um número bem alentado de peças. Extrai um excerto de minha coleção só de notas com a efígie da Rainha, algumas das quais mostro abaixo com observações acerca da aparência da Monarca.



Embora essa Libra das Falklands tenha sido emitida em 1967, a efígie da Monarca é baseada numa fotografia do ano de sua posse, 1952. Como ela era muito jovem, nasceu 1926, não havia necessidade de "retoques" especiais, a beleza da jovem Rainha adornava a cédula de qualquer maneira.



Dólar canadense de 1954 com inscrições bilingues, o qual foi retocado porque impressão anterior do mesmo dinheiro saiu com a estranhíssima imagem de um demônio nas ondulações dos cabelos da Monarca, cédula que ficou conhecida por Devil's face e se tornou objeto de desejo de colecionadores. O fato de aparecer "fantasmas" em material numismático é estranho mas não inusitado, já ocorreu com medalha de dólar americano com efígie de John F. Kennedy, onde se via uma foice e um martelo; No nosso País, um erro em moeda onde se lia BBASIL, ao invés de BRASIL, tornou a moeda cobiçada e rara; em cédulas de dez, cinquenta e cem cruzeiros apareceu a palavra MINSTRO onde devia estar grafado MINISTRO. Claro está, que existem erros e "erros", no caso do Brasil o erro é evidente, mas no Canadá e nos EUA, parece que o "erro" teve propósitos políticos escusos.


Neste Dolar de Fiji, a Rainha sem a coroa como nas anteriores, já está retratada com mais idade, corria o ano de 1980 e os emissores da cédula "atualizaram" o aspecto da Monarca.



O desenhista que criou esta efígie valeu-se de uma foto não muito recente da Regente e "forçou" uma semelhança com Grace Kelly, Princesa do Mônaco. Digamos que o artista usou de uma licença poética para executar sua obra e obteve um bom resultado. Elizabeth deve ter ficado lisonjeada.


Já neste Dolar australiano não houve contemplação, nota emitida entre 1974-83 na qual o rosto da soberana não está trabalhado. Pelo contrário, os traços crus e fortes, compatíveis com o fundo, tema aborígene, mostram uma idade mais compatível com a realidade dos anos e uma certa sisudez que lhe confere um ar meditativo e atento.


Libra de Jersey uma das "Channel Islands", referindo-se a Jersey e Guernsey que se situam no Canal da Mancha. Cédula emitida em 1993 quando a Monarca tinha 67 anos. Parece que o artista reproduziu uma imagem "em tempo real", para usar uma expressão tão em voga, mas escureceu os cabelos já encanecidos de Elizabeth. O rosto está vincado e o olhar denota cansaço, não há qualquer outra cédula com a rainha com essa aparência.




Libra australiana do tempo que o país ainda era Commonwealyh of Australia. Emissão de 1960 com efígie baseada em foto de 1954. Desenho de perfil como se fosse de moeda, muito bonito por sinal.


Belíssima "One Pound" das Bahamas emitida em 1953, com a Soberana ostentando coroa e colar de diamantes. Desenho baseado em foto da mesma época, por isso não foi necessário remoçar a efígie.


Cédula das Bahamas, Dolar emitido em 1965, com efígie da governante bem jovem. Com a mesma coroa, com os mesmos brincos e o mesmo colar de diamantes e baseada em fotos dos anos cinquenta.




Libra jamaicana de 1960 com a Soberana numa pose bem de acordo com a década do amor livre e "abaixo o pudor", ombros nus, coroa leve, sem adornos e pose quase sensual. O desenhista caprichou e o resultado foi uma cédula bonita, mesmo porque o fundo rosado dá uma suavidade convincente à nota.

Nota de Gibraltar lançada em 1979 onde a Monarca, já não tão jovem, se apresenta coroada e com pose estudada. Claro que o desenho, baseado em foto da época, foi bastante retocado, mas mesmo assim não deixa de mostrar que os anos não perdoam nem uma Rainha.


Dolar de Cayman impresso em 2003, comemorativo dos 500 anos de descobrimento daquelas ilhas. A Rainha com coroa e todos os adereços necessários está mostrando uma idade diferente dos seus 77 anos. Daí para cá não se viu mais efígies com sua aparência atual, parece que para efeito numismático ela não mais envelheceu.


É isso aí minha gente, esta foi uma pincelada superficial na arte da numismática. Esse hobby que nos permite navegar livremente pela história, geografia e economia das nações, tem começo mas não tem fim. A gente sabe onde está mais nem imagina onde vai chegar. Proximamente prometo publicar mais algumas curiosidades para vocês. JAIR, Floripa, 27/03/10.

quarta-feira, 24 de março de 2010

QUERENDO ENTENDER


O nome oficial do país é: República Federativa do Brasil, portanto, trata-se de um regime que tem o Federalismo como forma de Estado. Então, vejamos o que a Wikipédia tem a dizer sobre o assunto: “O Federalismo é a forma de Estado, adotada por uma lei maior, que consiste na reunião de vários Estados num só, cada qual com certa independência, autonomia interna, mas obedecendo todos a uma Constituição única, (destaque meu) os quais irão enumerar as competências e limitações de cada ente que se agregou”.
Agora vamos dar uma olhada na Constituição Brasileira de 05 de outubro de 1988, sobre os bens da União: "Art. 20. São bens da União: V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva".

Então estamos entendidos, somos uma Federação e os bens da União compreendem os recursos naturais da plataforma continental.
Continuando. Quando o Brasil se candidatou a sediar a copa do mundo em 2014 e as olimpíadas em 2016, nem se cogitava em royalties de pré-sal e quejandos, aliás, não se tinha anunciado ainda tal fonte de petróleo, de recursos e de polêmica.
Pois bem, posto isto, quero entender por que políticos e atores globais se precipitaram numa mega passeata no Rio, contra “o roubo que está sendo praticado contra o estado que ‘perderá’ milhões de reais em royalties". Perderá o quê, cara pálida? Como o estado do Rio pode estar sendo espoliado de uma promessa de dinheiro que, a rigor, é da União e ela pode e DEVE distribuir pela Federação?
Além disso, como pode a realização das olimpíadas estar comprometida se a esperança de faturamento com o petróleo do pré-sal é para daqui a dez anos, data posterior ao evento? Expliquem-me, por favor!
E não me venham dizer que me ponho contra os que protestam porque estou “fora do páreo”, ou porque tenho inveja dos estados que tem petróleo. Informo que a plataforma continental do estado de Santa Catarina tem tanto ou mais petróleo que o Rio e o Espírito Santo juntos. No litoral do estado, na altura de São Francisco do Sul, as companhias petrolíferas estão retirando o precioso óleo há mais de uma década.
Concluindo, só posso atribuir ao jus esperneandii o ridículo choro televisivo do governador do Rio, o qual deveria estar dedicando suas energias ao cargo para o qual foi eleito. Tenho dito. JAIR, Floripa, 24/03/10.

domingo, 21 de março de 2010

NUMISMÁTICA - 3

CÉDULAS MILITARES AMERICANAS
Depois da segunda guerra mundial, precisamente em 1947, as bases americanas que ocupavam territórios na Ásia, Oceania e Europa, adotaram o uso de "dinheiro militar". Notas de dólares emitidas pelo Tesouro Americano que eram destinadas ao pagamento de civis e militares que serviam nas 21 bases ao redor mundo. As células, de ótima impressão e papel de qualidade equivalente aos dólares regulares, tinham o mesmo valor daqueles e circulavam somente nas áreas ocupadas, não serviam como moeda no próprio EUA, para isso deviam ser cambiadas pelas verdinhas. Diz a lenda que esse dinheiro era emitido visando impedir que dólares normais usados nos países estrangeiros voltassem para a América de modo clandestino. Explicação bastante aceitável, porque os americanos há muito perderam o controle da contabilidade de suas notas que circulam pelo Planeta. Mais uma vez, diz a lenda que se todo dinheiro americano que está por aí retornasse ao país, não haveria lastro para sustentá-lo, ou seja, os bens e serviços americanos não teriam equivalência ao meio circulante. Seja verdade ou não, o fato é que a emissão dessas cédulas cessou em 1970, de lá para cá o que circula nas bases estrangeiras é o velho e sólido dinheiro verde mesmo.

















Quase a totalidade das cédulas militares americanas têm uma mulher estampada na face. Note-se a última da esquerda usando o Barrete Frígio, símbolo da liberdade.




Rara cédula militar americana que não contempla uma mulher na efígie. Trata-se do piloto Joseph McConnell Jr., herói da guerra da Coréia, morto em 25 de agosto de 1954, na Base aérea de Edwards, enquanto testava o novo caça F-86H para a USAF.



Nota de Dolar que circulou no Vietnan em 1969. Pode-se ler no verso de cabeça para baixo: Vang Tan Vietnan do Sul, 23 dezembro de 1969, supostamente escrito por um combatente americano.


DINHEIRO DE OCUPAÇÃO JAPONÊS
Quando as tropas americanas perderam as Filipinas para os japoneses e o general MacArthur "retirou-se" para a Austrália prometendo voltar, - e voltou mesmo - os novos ocupantes daquelas ilhas também emitiram "dinheiro militar". Foram tantas e tão diversas emissões que, ainda hoje, existem milhões de cédulas "The Japanese Government", de tal forma que não têm valor algum para colecionadores. Quando muito, são meramente curiosas pela boa qualidade do papel e pela diversidade de denominações: dólares, pesos, rupees etc. Não eram explicitamente cédulas de uso exclusivo militar, destinavam-se a uso corrente por todos no arquipélago, contudo, militares japoneses não eram autorizados a usar o dinheiro circulante filipino.

Peso de ocupação, de vasta circulação por aquelas ilhas do pacífico. Há quem diga que a intenção dos japoneses era criar uma mega inflação causando colapso na economia.

Dolar japonês que circulou em abundância durante a ocupação.


Rupee da ocupação japonesa do arquipélago filipino e Ilhas Maldivas.

NOTAS DE EMERGÊNCIA FILIPINAS
Pela segunda vez na história do país, o governo filipino se viu obrigado a emitir "dinheiro de emergência", a primeira foi em 1917 durante a primeira guerra mundial. Essas cédulas só circularam durante a ocupação japonesa, já que o dinheiro de guerra japonês não era conversível e estava desacreditado pela enxurrada desmedida como foi emitido. Antes mesmo do término da guerra, em 1944, o governo filipino colocou em circulação cédulas com a palavra "Victory" no verso, falta de otimismo não era a praia dos ilhéus.

Peso filipino de 1941. Dinheiro de emergência, papel de baixa qualidade e impressão ruim, bem de acordo com a época.


Cédula de emergência lançada em 1942 pelo governo filipino.


Peso das Filipinas comemorativo da vitória, emitido em 1944.


DINHEIRO DE GUERRA E DE EMERGÊNCIA BRITÂNICO
Não se pode acusar a Grã Bretanha de imitar os EUA, seu"dinheiro de guerra" foi emitido em 1943 e um curioso "dinheiro de emergência", em 1945, supostamente por falta de papel. Cabe lembrar que a diferença entre cédulas e moedas não é o material do qual são confeccionados, a nota é impressa e a moeda é cunhada. Os materiais usados nas moedas modernas podem ser nobres como o ouro e prata, ou outros como cobre, latão, bronze, alumínio e liga de níquel. As notas são normalmente de papel, mas podem ser de plástico ou até de resina como essa da ilustração. Existem cédulas de ouro, impressas especialmente para colecionadores, o Kwait lançou uma assim depois da guerra em 1992.
Cédula militar de Libra, lançada em 1943. Note-se a austeridade do desenho em contraste com as notas militares americanas.

Cédula de Shilling emitida em 1943 para as forças armadas britânicas.


Nota de Penny com aparência de moeda lançada em 1945, impressa em papelão impregnado de resina, supostamente por carência de papel de qualidade.

Bem, essa é só uma pequena amostra de dinheiro militar, de emergência e de ocupação durante a segunda guerra. Muitos países da Europa emitiram cédulas não regulares nas duas guerras, algumas de tão má qualidade que se tornaram raras porque deterioraram na sua maioria. JAIR, Floripa, 21/03/10.

sábado, 20 de março de 2010

CALENDÁRIO DE ÁRVORES REGISTRA A HISTÓRIA

Tronco cortado mostrando a sequência de anéis.

Dendrocronologia é o nome da ciência que se vale do crescimento irregular das árvores para determinar a idade de coisas e eventos. Por exemplo, podemos usar um relógio de anéis de árvores para datar um pedaço de madeira que foi usado na construção de uma casa pioneira, nos primeiros povoamentos efetuados pelos colonizadores portugueses, com precisão de poucos anos.
Primeiro, como sabemos, é possível calcular a idade de uma árvore recém-cortada contando-se os anéis em seu tronco, com a suposição que o anel externo é o mais recente
, representa o tempo atual. Os anéis retratam o crescimento irregular nas diversas estações do ano – inverno, verão, estação seca, estação chuvosa – e são mais pronunciados nas latitudes maiores, onde as estações são mais diferenciadas. Por sorte, não precisamos derrubar a árvore para datá-la. Podemos observar seus anéis sem matá-la, introduzindo uma sonda em seu tronco e extraindo uma amostra do cerne. Contudo, apenas contado os anéis de uma viga, não é possível dizer quando a casa, a ponte ou navio no qual foi usada a madeira foi construído, ou quando a árvore foi derrubada. Se quisermos usar esse precioso relógio natural, devemos ser mais sutis: não apenas contar os anéis, mas analisar o padrão de anéis grossos e finos.
Assim como a existência dos anéis indica crescimento anual, também existem anos piores e melhores, pois as manifestações climáticas variam de ano para ano. O El-ninho, erupções vulcânicas de monta como a do Pinatubo em 1991, invernos rigorosos ou verões muito quentes, fazem com que o crescimento retarde ou acelere. Anos bons, do ponto de vista da árvore, produzem anéis mais robustos que anos ruins. É o padrão de anéis largos e estreitos em uma dada região, causado por uma sequência específica de bons e maus anos, que se tornam uma marca registrada, - uma espécie de impressão digital que rotula os anos exatos que os anéis se formaram.
Os dendrocronologistas medem anéis em árvores recentes, nas quais a data exata de cada anel é conhecida contando-se para trás a partir do ano em que se sabe que a árvore foi abatida. A partir dessas medições, eles constroem uma coleção referencial de anéis, - uma espécie de dendroteca - e com ela é possível comparar os padrões de anéis de uma amostra arqueológica de madeira cuja idade se quer conhecer. A coisa é mais ou menos assim: “Esta viga usada na construção da feitoria de Ubatuba contém uma sequência própria de anéis que se equipara a uma sequência da coleção de referência, cuja época de abate foi determinada entre os anos de 1532 e 1537. Portanto, supondo-se que a árvore foi abatida para uso imediato, a construção é desse período”.


Encadeamento de anéis que formam a Coleção referencial.
Tudo bem quando se têm uma árvore muito antiga, como as sequóias do Canadá que podem alcançar milênios. Mas quando não temos árvores assim, como é caso da maioria das vezes? Daí, o jeito é encontrar uma série de coincidências de anéis representativos. Para usar o princípio da coincidência, os estudiosos do assunto usam os padrões conhecidos pela análise de árvores modernas e comparam os padrões mais antigos dessas árvores com os padrões mais jovens de árvores mortas há muito tempo. Encontradas as coincidências, identificam-se os padrões mais antigos dessas árvores antigas e procuram-se coincidências em anéis jovens de árvores mais antigas ainda, de modo a formar uma “corrente” de árvores cada vez mais velhas. E assim por diante. Teoricamente, poderíamos prosseguir essa sequência de encadeamento retrocessivo por milhões de anos usando florestas petrificadas, embora na prática a dendrocronologia só seja usada em escalas de tempo de alguns milhares de anos. Essa escala mais ampla não pode ser usada porque não dispomos de florestas petrificadas para formar uma série ininterrupta. Até o momento só é possível estabelecer um sequência completa até 11500 anos.
Esse calendário vegetal não é o único meio que a ciência dispõe para medir a idade das coisas, como escrevi no texto anterior, o decaimento radioativo é um relógio muito confiável quando se trata de datação de até muitos milhões de anos. JAIR, Floripa, 20/03/10.

terça-feira, 16 de março de 2010

MEDINDO A IDADE DAS COISAS


Muitas vezes as pessoas não confiam nas afirmações de arqueólogos, geólogos e paleontólogos sobre datas e idades de rochas, objetos e achados pré históricos, ou seja, antes da adoção da escrita pelos povos. Perguntam-se, se não há registros escritos como determinar a idade das coisas?
O fato é que a ciência desenvolveu uma série de métodos confiáveis para encontrar a idade daquilo que, pela sua antiguidade, não pode ser datada de outra maneira. A dendrocronologia (que vou abordar em outro texto) é um dos métodos, contudo, depende da existência de madeira onde se quer datar, porque usa os anéis de crescimento das árvores como “relógio”. Além disso, se presta apenas para períodos bem curtos de tempo, o máximo que se consegue é um recuo de cerca de 11500 anos. Já, para a contagem de idades mais antigas, a ciência costuma usar o que ela chama de “relógios radioativos”, os quais contam o tempo por decaimento atômico.
Vejamos o que é isso. Mas, para tal, vamos recapitular os conhecimentos elementares sobre átomos que aprendemos no colegial. O modelo simples de átomo que Niels Bhor desenvolveu serve para nosso propósito. Esse modelo, já ultrapassado, tem a forma de um sistema solar em miniatura. Toda matéria é composta de átomos, que são as menores partículas dos elementos e são constituídos de elétrons, prótons e nêutrons. Os elétrons giram em torno de um núcleo composto de nêutrons e prótons. Por convenção os elétrons têm carga negativa, prótons positiva e nêutrons não tem carga, como o nome diz são neutros, sem carga. Na verdade, nêutrons são parecidos com prótons, têm o mesmo tamanho e mesma massa, só não têm carga.
Cada elemento da tabela periódica tem um número fixo de prótons e sua quantidade é o número atômico do elemento e não varia. Assim, o número atômico do carbono, por exemplo, é seis porque ele tem seis prótons no núcleo. Já o número de massa é a soma dos prótons e nêutrons que formam o núcleo, e esse número varia por que a quantidade de nêutrons pode variar. Portanto, se o carbono tiver apenas 6 nêutrons no núcleo terá o peso atômico 12 e será estável, permanecerá assim virtualmente para sempre. Contudo um átomo de carbono que tenha 8 nêutrons terá peso atômico 14, será chamado isótopo e será instável, ou seja, tenderá a emitir uma partícula beta e se tornar nitrogênio 14 estável, portanto. À emissão dessa partícula se dá o nome de “decaimento atômico”, o qual é usado para contagem de tempo.
Como usar o decaimento atômico para contar o tempo? A ciência parte de três conhecimentos: 1º) O número de isótopos 14 do carbono é fixo na atmosfera, ou seja, para cada trilhão de carbonos 12, temos um átomo de carbono 14. Essa constância se deve ao bombardeio de raios cósmicos que, na atmosfera superior, transforma o nitrogênio lá existente em carbono 14, de forma que, mesmo ele decaindo naturalmente, há um suprimento constante na atmosfera e o isótopo se mantém na mesma proporção; 2º) Cada elemento radioativo tem um tempo de decaimento chamado meia vida, que é o tempo no qual metade dos isótopos daquele elemento decai para sua forma estável. A meia vida do carbono 14 é de 5730 anos, assim, depois desse tempo, uma amostra qualquer de carbono terá a metade dos isótopos de carbono 14 originais. Depois de mais 5730 anos essa mesma amostra terá um quarto e assim por diante; 3º) Todos os seres vivos do Planeta, enquanto vivem, terão a mesma proporção de carbono 14 em seus corpos. Funciona assim, as plantas absorvem o gás carbônico da atmosfera, expelem o oxigênio e armazenam no seu sistema o carbono, que estará com a mesma composição que a do ar, ou seja, um carbono 14 por um trilhão de carbono 12. Os animais ao se alimentarem de plantas absorvem o carbono e retém essa mesma proporção. Os carnívoros ao se alimentarem desses animais também reterão carbono do mesmo jeito.

Ao morrerem, animais ou plantas, deixam de ingerir carbono e aquele que se encontrava no corpo falecido vai decaindo na velocidade de metade a cada 5730 anos. Ao encontrarem restos orgânicos como fogueiras, madeiras que constituíram moradias, ossos, restos de comida, fósseis com alguma matéria orgânica ainda, os cientistas medem a quantidade de carbono 14 e deduzem a idade do achado pelo decaimento.
Como fazem essa contagem? A técnica de contagem de isótopos é denominada, espectrometria de massa e usa quantidades minúsculas de material das amostras para determinar a porcentagem dos isótopos, e o erro na medição é de 1%.
Graças a essa técnica foi possível determinar a idade do famoso Sudário de Turim. Na década de 90 o Vaticano autorizou a retirada de pequenas porções do Sudário que foram submetidos à datação por carbonos 14 em três laboratórios independentes e altamente conceituados. Resultado, o Sudário foi confeccionado em linho colhido por volta do ano 1260 de nossa era.
Para se datar rochas e fósseis muito antigos usa-se o decaimento atômico de outros elementos que não o carbono. Com elementos como o Rubídio que tem meia vida 49 bilhões e do Urânio com 4 bilhões e 500 milhões de meia vida é possível datar até a idade da Terra. O que foi feito e se chegou ao número aproximado de 4,6 bilhões de anos. JAIR, Floripa, 16/03/10.

sexta-feira, 12 de março de 2010

CÃES PASTORES


Assunto recorrente em meus textos, já publiquei vários posts sobre cães. Os canídeos foram aqui lembrados desde quando o homem domesticou os lobos asiáticos, depois, através de cruzamentos seletivos, criou variedades que atendessem sua necessidade de segurança e companhia até obter as centenas de “raças” atuais. Hoje quero falar sobre mais uma dessas interferências evolutivas humanas, a que criou os “Sheepdogs” ou cães pastores. Para meu propósito estou me valendo de observações de ninguém menos que Charles Darwin, publicadas no seu relato de viagem a bordo do Beagle ao redor mundo. Viagem que rendeu o fundamental, “A origem das espécies”, o qual revolucionou a maneira que o mundo via a vida no Planeta.
Se o objetivo do homem era criar um cachorro de guarda, por exemplo, ele selecionava entre as crias aqueles indivíduos robustos que apresentassem agressividade e fidelidade a seus donos e os cruzava até que, gerações depois, tivesse conseguido descendentes com aquelas qualidades. Se era outra a intenção, o cruzamento se fazia em outra direção, mas, sempre que necessário, havia treinamento no sentido de aperfeiçoar os dotes congênitos do animal. Pra se obterem cães pastores não é diferente.
Segundo Darwin, são escolhidos cães de certa raça pelas suas características físicas, que apresentem traços gregários, sejam fortes, resistentes ao frio e muito fiéis ao bando ao qual pertencem. Feita a seleção, inicia-se a educação que consiste em separar o filhote, ainda muito jovem, da mãe e acostumá-lo com seus futuros companheiros, ou seja, as ovelhas. Uma ovelha é oferecida ao filhotinho para que ele mame três ou quatro vezes ao dia, e um ninho de lã é feito junto as suas companheiras, de forma a integrá-lo completamente ao rebanho. Em nenhum momento lhe é permitido associar-se a outros cães. Além disso, o filhote é castrado para evitar que quando crescido tenha qualquer sentimento para com os da sua espécie. Como resultado dessa educação ele não desenvolve nenhum desejo de abandonar o bando de ovelhas, e como qualquer cachorro defende aquele que lhe é próximo, o Sheepdog defenderá sua “família”, as ovelhas. É interessante observar, quando algum estranho se aproxima das ovelhas, o cão imediatamente avança latindo, e as ovelhas todas se unem atrás deles, como se seguindo o chefe.
Esses cães também são treinados para trazer para casa, a determinada hora do dia, suas companheiras. Em geral, quando ainda muito novos, em treinamento, esses cachorros têm a tendência de brincar com ovelhas, como fariam com os da sua espécie, costume que desaparece com o tempo, mesmo porque as ovelhas não o estimulam.
O cão pastor vem todos os dias para casa para alimentar-se e, assim que come, retorna para companhia das ovelhas. Nessas ocasiões, seja pelo cheiro ou por outro motivo, os cães da casa tratam o Sheepdog como um estranho, um animal de espécie diferente, avançam sobre ele e o escorraçam. O cão pastor corre para seu bando e, chegando lá, imediatamente enfrenta seus perseguidores, protegido pelas companheiras ovelhas, os cachorros caseiros se veem em menor número e fogem. Do mesmo modo, até uma matilha de lobos se vê intimidada a atacar um rebanho protegido por apenas um cão que seja. Parece que as outras espécies estabelecem uma noção confusa de bando, se um cão bravo se julga fazendo parte de um rebanho de ovelhas, os demais também o fazem, julgam que o bando todo é composto de cães perigosos, assim, nenhum animal hostil se aproxima das ovelhas protegidas pelo Sheepdog.
Cientistas concordam que os animais facilmente domesticáveis consideram o homem um membro de sua própria sociedade e, assim, preenchem seu instinto de associação. No caso do cão pastor, ele coloca as ovelhas como suas iguais e assim ganha confiança; e os lobos, embora sabendo que as ovelhas individualmente não são cães, e que inclusive são apetitosas, acabam, no entanto, consentindo que elas adquirem um novo status, quando na companhia de um cão pastor, passam a ser cães honorários por assim dizer.
Neste ponto das observações Darwin não tira qualquer conclusão que possa nos trazer subsídio para entendermos melhor o que ele chama de seleção humana, seleção não natural que “força” cruzamentos para obter resultado desejado. Contudo, pelo que podemos deduzir de outros livros do mesmo autor, há uma evolução comportamental das espécies envolvidas no processo, de tal modo que a partir dessa seleção ocorrem novas relações entre os grupos, que se tornam comportamentos padrões. Embora seja discutível que os cães selecionados pelo homem se constituam raça, e não variedades como seria normal, os Sheepdogs estão entre os cães que mais diferem no tocante ao relacionamento com outros de sua espécie. Tornando-se racional inferir que cães pastores constituem os mais bem sucedidos exemplos de seleção não natural que deram certo. JAIR, Floripa, 12/03/10.

terça-feira, 9 de março de 2010

A EVOLUÇÃO PARA LEIGOS (COMO EU)


A lógica da evolução é muito simples. Em todos os seres vivos existem variações, assim como cores, tamanhos, aptidões e capacidades diversas, as quais são passadas de geração em geração. Nascem mais indivíduos do que são capazes de viver e procriar, o que equivale dizer que se o indivíduo morre cedo não deixa descendentes. Em consequência, desenvolve-se uma batalha por permanecer vivo e encontrar um(a) parceiro(a). Nessa luta aqueles que possuem certas variantes (os mais aptos, no dizer de Darwin) prevalecem sobre os que não as têm. Tais diferenças passam para seus herdeiros pela capacidade de transmitir genes – seleção natural – significa que formas favoráveis tornam-se mais comuns com o passar das gerações. Com o tempo, quando as novas versões (mais indivíduos diferenciados que se cruzam) se acumulam, uma linhagem pode mudar tanto que já não pode trocar genes com aqueles que um dia foram seus semelhantes. Surge aí uma nova espécie. Simples e insofismável. JAIR, Floripa, 09/03/10.

sábado, 6 de março de 2010

GAIA E O HOMO SAPIENS


A Teoria de Gaia foi desenvolvida no final da década de 1960 pelo Dr. James Lovelock e propõe que os componentes físicos, químicos e biológicos do planeta Terra evoluíram, por quase quatro bilhões de anos juntos, como um único sistema auto-regulador. Ela sugere que o Planeta é uma espécie de organismo o qual tem vida e controla automaticamente a temperatura global, a composição da atmosfera, a salinidade do oceano, e outros fatores, que mantém a habitabilidade do Globo Terrestre. Em outras palavras: "A vida mantém condições adequadas para sua própria sobrevivência." Neste sentido, o sistema de vida da Terra pode ser considerado análogo ao funcionamento de qualquer organismo individual que regula a temperatura corporal, a salinidade do sangue, a alcalinidade ou acidez dos fluidos orgânicos etc. Assim, por exemplo, embora a luminosidade do sol - fonte de calor e vida da Terra – tenha aumentado em cerca de 30 por cento desde que a vida começou há quase quatro bilhões de anos atrás, o sistema vivo (Gaia) reagiu como um todo para manter a temperatura em níveis adequados para a vida. Vale dizer que Gaia adequou sua conjuntura para anular os efeitos nocivos do aumento de luminosidade.
Nos últimos vinte anos, muitos dos mecanismos pelos quais o Planeta de se auto-regula já foram identificados. Como exemplo, foi demonstrado que a formação de nuvens sobre o oceano aberto é quase inteiramente uma função do metabolismo de algas oceânicas que emitem grandes moléculas de enxofre que se tornam núcleos de condensação de gotas de chuva. Anteriormente, pensava-se que a formação de nuvens sobre o oceano era um fenômeno puramente físico químico. As ideias que se originam da teoria de Gaia nos colocam em nosso devido lugar – não somos proprietários, gerentes ou prepostos do sistema Terra, quando muito meros inquilinos, como já escrevi em texto anterior. A Terra, ao contrário do que o antropocentrismo pensa, não evoluiu unicamente em nosso benefício, e quaisquer mudanças que nela efetuemos serão por nossa própria conta e risco. Tal linha de pensamento deixa claro que o Homo sapiens não tem direitos especiais; ele é apenas um parceiro, como todos os demais seres animados ou não, na grande empresa Gaia. Somos frutos da evolução darwiniana, uma espécie, como as demais, transitória – os criacionistas nos acham o ápice da criação – com tempo de vida limitado, como todos nossos ancestrais e descendentes até onde podemos enxergar. Nosso tempo de vida é limitado, tanto como indivíduos quanto como espécie, nada há que indique o oposto.
Mas, ao contrário de quase tudo antes de surgirmos no Planeta, somos também primatas sociais, habilidosos e inteligentes com a possibilidade de evoluirmos e tornarmo-nos super-homens que, num dado momento, para não nos extinguirmos precocemente, teremos que ser parceiros comprometidos até o pescoço com o sistema Gaia. Não dá para ser inquilino, possuir tantas qualificações e jogar contra a dona da pensão que tão bem nos acolheu até agora.
Nossa meta, agora que adquirimos consciência de nossa posição em Gaia, é sobreviver e viver de modo a não interferir nos mecanismos que ela criou para se auto-regular. Sem nossa interferência, seus recursos estarão disponíveis num grau tal que tornarão a vida no Planeta virtualmente perpétua. Ou seja, não deverá ser por nossas mãos ou nossas atitudes irresponsáveis que a vida na Terra se extinguirá algum dia.
O Homo sapiens pode ser uma peça importante na auto-regulação de Gaia e beneficiar-se da parceria, como o fazem os seres mais bem sucedidos do Planeta, as bactérias. Mas, devemos ter sempre em mente que é arrogância achar que sabemos como salvar a Terra: Nosso Planeta sabe cuidar de si próprio, tudo que devemos fazer é viver e deixar viver, e já teremos feito nossa parte. JAIR, Floripa, 15/02/10.

quarta-feira, 3 de março de 2010

MUMISMÁTICA - 2


DINHEIRO DIFERENTE
Cédula de dez mil réis emitida em 1926. Consta que a jovem que serviu de modelo para a efígie era "protegida" de um prócer da República. Seja verdade ou não, o fato é a bonita modelo se imortalizou numa série de notas fabricadas pela American Bank Note Company.

DINHEIRO -
Em economia, meio de troca convencional, na forma de moedas ou cédulas, usado na compra de bens, serviços, força de trabalho, divisas estrangeiras ou nas transações financeiras, emitido e controlado pelo governo de cada país, que é o único que pode emiti-lo e fixar seu valor.
Na minha extensa e intensa convivência com o mundo numismático, tive oportunidade de conhecer os apaixonados (como eu) e estranhos cultores do dinheiro, bem como as mais esdrúxulas moedas e notas deste país. Não por acaso, nas minhas buscas e pesquisas acabei encontrando em Manaus três notas que, a rigor, não deveriam circular como dinheiro, mas na prática o faziam sem pudor. Durante o Ciclo da Borracha, as empresas que exploravam o látex da Amazônia legal, quando necessitavam de dinheiro para investimento, recorriam a um banco com toda probabilidade de ser fictício chamado: "London and Brazilian Bank Limited". Esse banco emprestava dinheiro às empresas mediante a emissão de apólices que o estado do Amazonas se comprometia em pagar. Quando da emissão, os empresários pagavam seus fornecedores e a mão-de-obra com as células e estas circulavam livremente entre a população envolvida de modo que eram dinheiro de fato, embora seja discutível se o eram de jure. Ribeirinhos, seringueiros, fornecedores de víveres, barqueiros e toda gente que vivia em função da borracha usava esse dinheiro não respaldado pelo poder federal. Vejamos as estampas abaixo.

Cédula emitida em 1904, no valor de uma libra, quatorze shillings e seis pence. Não me perguntem como se fazia a conversão para milréis nessa época. Havia garantia que o estado do Amazonas honraria o valor de face mais cinco por cento em seis meses.


Cédula também de 1904 só que de valor, duas libras, oito shillings e quatro pence. A estampagem de todas as notas é de "Western Bank Note Company Chicago" e, apesar do papel ser ruim, a impressão é excelente.




As informações contidas nas células são bilingues, inglês à esquerda e português à direita. A garantia diz, (sic): "dinheiro esterlino, relativos aos juros de cinco por cento durante seis mezes vencidos no mesmo dia sobre o capital não resgatado desta do emprestimo esterlino de 1902, e amortização de um trigesimo do capital originario nos termos da dita apolice e acordo nela mencionado. Este cupom é negociavel em todas as sucursais do London and Brazilian Bank, Limited" Esta cédula emitida em 1906 é de cinco libras, onze shillings e oito pence.
É isso aí, JAIR, Floripa, 05/02/10.