quarta-feira, 28 de abril de 2010

DIA DO LIVRO




Em 23 de abril comemora-se o Dia Mundial do Livro. Apesar de opiniões contrárias, o livro ainda é o maior divulgador de cultura que já se inventou. Mesmo após surgirem tantas novas tecnologias de divulgação cultural ou “formadoras de opinião” como se costuma dizer; mesmo que meios midiáticos proliferem nessa aldeia global, o livro ainda permanecerá muito tempo entre nós, apesar de muitos alardearem sua futura "aposentadoria". Ele ainda é a forma mais democrática e acessível de conhecimento, sobretudo se considerarmos a população mundial como um todo.

O livro é facilmente armazenado. Podemos lê-lo em nosso próprio ritmo sem perturbar os outros. Podemos retornar às partes difíceis ou degustarmos novamente partes que nos trouxeram um deleite especial. Ele é produzido em massa, a custo relativamente baixo. Além disso, a leitura por si mesma constitui uma atividade deslumbrante, imaginemos: olhamos para uma folha de papel feita a partir de uma árvore, e a voz do autor começa a falar dentro de nossa cabeça (Alô, você sabia que...). É assombroso! Não dá para descrever o maravilhoso mundo que se descortina depois que abrimos um livro especialmente agradável. Não conheço nada mais prazeroso. (vão dizer que sexo é melhor, e eu concordo, mas, sexo e leitura não são excludentes, pelo contrário, quem mais lê, mais prazer encontra no sexo. Afinal, o cérebro é o centro do prazer, não é mesmo?).

Não devemos esquecer, ainda, que a melhora no conhecimento humano e no potencial de sobrevivência da civilização, só aconteceu após a invenção da escrita e popularização dos livros. O mundo sem escrita era um mundo imerso no obscurantismo que degrada e oprime. Houve também o progresso na autoconfiança: passou a ser possível apreender pelo menos os rudimentos de uma arte ou uma ciência através de livros, e não mais depender do acidente feliz que consistia encontrar um mestre diletante disposto a passar seu conhecimento adiante.

Em última análise, a invenção da escrita deve ser exaltada não apenas como uma inovação brilhante, mas como um notável benefício para a humanidade. A civilização ao livro deve ABSOLUTAMENTE TUDO! E, supondo que venhamos sobreviver o bastante para usar todas as invenções possíveis e imagináveis conseguidas graças ao livro, ainda assim, desfrutando todo o conforto e o prazer que meios eletrônicos nos tragam, o LIVRO continuará sendo nosso companheiro inseparável.

Quero pedir desculpas a todos bibliófilos, bibliotecários, biblióforos, bibliognostas, bibliólatras, bibliólogos, bibliômanos, bibliopegistos, bibliátricos e até aos bibliopiratas do Planeta, por ter me esquecido de homenagear o livro no seu dia, ainda assim, a todos eles e a todos os livros, meus parabéns extemporâneos. JAIR, Floripa, 28/04/10.

terça-feira, 27 de abril de 2010

EVOLUÇÃO – NÁDEGAS & INTELIGÊNCIA



De acordo com a teoria da evolução, a cada mutação do indivíduo que implique em vantagem sobre seus semelhantes, corresponde uma chance maior em que este sobreviva e, sobrevivendo, poderá deixar descendentes que perpetuem essa vantagem, tornando-a definidora de uma variação da espécie que poderá predominar sobre outras, pelos menos numericamente.

Há consenso entre cientista e até entre pessoas comuns, que o cérebro humano é a característica que mais o diferencia dos demais primatas. Maior cérebro, ou relação maior entre tamanho do cérebro e massa corporal, define mais inteligência que, como sabemos, coloca o Homo sapiens numa categoria de seres inteligentes sem concorrência. Mas, ao que devemos esse cérebro grande?

Pois bem, estudiosos da anatomia humana como o inglês Sir Wilfred Le Gros Clark, sugerem que, durante a evolução do Homo sapiens, houve um “acidente” genético anatômico, uma mutação benéfica, que tornou a pelve das mulheres mais avantajadas. Decorre que, essa mutação provavelmente representou uma adaptação que permitiu o nascimento vivo de bebês com cérebro grande. As mulheres de pelves estreitas continuaram a ter bebês com cérebros menores, pois ao conceberem bebês com cabeças maiores, morriam no parto e, geralmente, os bebês também morriam.

A seleção natural favorecia as calipígias (bundudas) em detrimento das menos dotadas de glúteo, admitindo-se que pelves desenvolvidas correspondam a glúteos maiores também. Essa afirmação parece ser corroborada no livro “O gene egoísta” de Richard Dawkins, onde ele apresenta uma pesquisa feita com povos primitivos, portanto, alheios a influências culturais nossas que criam modelos a ser desejados de mulheres: magras e retilíneas. A pesquisa permitiu que homens pudessem escolher entre vários tipos físicos de mulheres, aquelas que seriam mais adequadas para casar e ter filhos. Invariavelmente eles escolhiam as que tinham pelves mais largas; as popozudas no linguajar atual.

O surgimento simultâneo de cabeças humanas maiores e nádegas femininas desenvolvidas ilustra generosamente como funciona a seleção natural. As mães com pelves hereditariamente grandes estavam habilitadas dar à luz crianças com cérebros grandes que, em virtude de sua inteligência superior, eram capazes de competir com êxito na idade adulta com a prole de cérebro pequeno das mulheres de pelves estreita. Aquele que fosse capaz de confeccionar ou tivesse maior habilidade de manusear uma machadinha de pedra, por exemplo, era mais capaz de vencer uma contenda, ou capturar o animal que lhe ia fornecer as proteínas. A invenção, manufatura e o manuseio de uma machadinha, como sabemos, exigiam maiores volumes cerebrais.

Os anatomistas afirmam que hoje é improvável que um aumento considerável na pelve e no canal de parto resulte em algum benefício para as mulheres. Se isso ocorrer deverá comprometer a capacidade da mulher de caminhar, sua região pélvica já está suficientemente desenvolvida.

Quando o assunto é seios grandes, não há sugestão evolucionista alguma que eles também sejam produtos de mutação que beneficiou suas portadoras, contudo, é bastante óbvio que machos sentem atração por fêmeas de mamas desenvolvidas pelo fato destas serem o protótipo da fertilidade.

Segundo essa linha, digamos “anatomista” da evolução, cérebro e nádega tem tudo a ver. Então não devemos nos espantar do motivo pelo qual a maioria dos homens tem fixação em bundas femininas. Eles estão obedecendo a um imperativo categórico kantiano, atávico e irrevogável, a evolução assim o dispõe. JAIR, Floripa, 26/04/10.



ADENDO:


Parece que o desejo e a curiosidade do homem pelas mamas e ancas grandes remonta à pré-história. A representação mais antiga de um ser humano está retratada no corpo de uma mulher com tetas e ancas fartas. A Vênus de Willendorf, uma estatueta do paleolítico datada de 24.000 a.C., foi encontrada durante escavações na Áustria pelo arqueólogo Josef Szombathy nos primeiros anos do século XX.

Fonte: Google

sábado, 24 de abril de 2010

UMA AVENTURA NA SELVA


J

im das Selvas, personagem dos quadrinhos criado por Don Moore em 1934, era um “Tarzan” que, tal como o original do Edgar Rice Burroughs, vivia nas selvas enfrentando caçadores malvados, exploradores ilegais de pedras preciosas, piratas e contrabandistas ardilosos e astutos. Diferente do outro personagem, Jim não se deslocava pendurado em inverossímeis cipós, tampouco proferia gritos estridentes que provocassem pânico na fauna e assustassem seus inimigos. Também não andava meio pelado, suas roupas eram normais de um explorador de selvas. O nome do personagem era Jim Bradley, “das Selvas” como era conhecido, devia-se as suas andanças pelas matas de Bornéu, Sumatra, Malásia e Bengala. Portanto, ao invés de um herói africano como Tarzan, tínhamos um “mocinho” da Oceania. Estreou na tela grande tendo Johnny Weissmuller no papel de Jim. Tornou-se um sucesso no cinema e cativou a atenção das crianças e jovens nos anos cinquenta. Talvez o fato de Jim ser menos fantasioso que Tarzan tenha contribuído para sua aceitação e popularidade. Ele era palatável por ser “normal”, por não parecer uma anomalia gritante (sem trocadilho) como Tarzan.

Meu primo Joel e eu, que já curtíamos suas peripécias nas revistas, ficamos encantados quando o Cine Teatro Municipal de Palmeira passou a apresentar seus filmes. As tardes de domingo eram aguardadas com alguma ansiedade quando se anunciava que Jim seria exibido naquela semana. O dinheiro para o matinê, quase sempre inexistente, tinha que ser conseguido à custa de alguma atividade durante a semana para que no domingo pudéssemos nos deleitar com perigosas aventuras nas matas quase impenetráveis, cheias de felinos e crocodilos potencialmente letais.

J


Vista aérea geral do bairro onde morávamos

(clique na foto para ampliá-la)


Como podíamos ser considerados piás imaginosos e criativos antevíamos como seria viável reproduzir nosso herói naquelas jornadas. Impressionava-nos em particular ver Jim remando um pequeno barco, num rio de águas mansas ladeado de selva densa e misteriosa. Tínhamos um forte sentimento que era no mínimo nossa obrigação imitar o ídolo lendário e destemido.

Bem, para isso era preciso um rio cercado de selva e um barco, não é mesmo? Pois é, rio, com alguma imaginação, poderia ser encontrado no fim da rua que morávamos. Lá embaixo existia um riacho – que depois vim a saber, chamava-se “Do Monjolo” – o qual era represado formando um laguinho no início e uma porção estreita e sinuosa a montante, ladeado por um matinho bem denso e bonito, na verdade uma nesga de mata atlântica da melhor qualidade adornada com alguns exemplares de araucária e ipês amarelos além de pau-de-bugre e cedro. O lago era nossa área de lazer onde nadávamos no verão e alguns até pescavam lambaris e traíras. Por estar situado na propriedade de uma indústria de madeiras o chamávamos de Tanque dos Querubins, sendo que Cherubim era o sobrenome dos donos da madeireira.



Vista aérea aproximada do fim da Rua Barão
e a mata ciliar onde existiu o "Tanque dos Querubins".
(clique na foto para ampliá-la)


Bem, o “rio” cercado de selva (mata ciliar) já estava disponível, agora faltava o barco. Por sorte morávamos em casas, propriedades de outra madeireira, situadas exatamente na frente das pilhas de tábuas que aquela indústria estocava para, quando exigido, usar na confecção de móveis e outros artefatos.

Uma incursão nas reservas madeirais da “fábrica”, como era conhecida pela gurizada, foi o suficiente para constatar que a matéria prima essencial para confecção do barco estava ali, disponível e dando bobeira. Uma segunda incursão, e trouxemos as tábuas necessárias e as escondemos em baixo do assoalho da casa do Joel.

Com martelos, alguns pregos, serrote, entusiasmo e betume, nós, em pouco tempo, construímos a obra que daria vazão aos sonhos adolescentóides de dois guris cuja fantasia ia além das revistas em quadrinhos e telas de cinema. Fizemos um barco que flutuava e era manobrável, obra prima de armadores mirins detentores de imaginação fértil e alguma habilidade manual.

Finalmente, numa tarde de verão, lá fomos nós ao “Tanque” estrear nossa criação. Primeiro Joel, depois eu, fizemos aventuras rio acima e abaixo no meio da “selva” que, na nossa fantasia assemelhava-se às matas de Bornéu, atrás de cada moita mais densa podia esconder-se um animal perigoso ou um pirata malvado. Sensacional! Não poderia ser melhor, nos sentíamos como incorporando Jim das Selvas. Depois de navegar camuflávamos o barco (na verdade era um bote tão pequeno que comportava apenas um banco) na mata para repetir a façanha outro dia.

Essa “empresa arriscada” durou boa parte do melhor verão de nossas vidas adolescentes, até que, com receio que outros garotos viessem a usar nossa criação escondidos, resolvemos destruí-la a machadadas. Afinal, sonhos e fantasias são intransferíveis. Estava concluída a melhor aventura na selva que jamais imaginamos e não mais havia motivos para manter o barco que havia cumprido sua finalidade com louvor. JAIR, Floripa, 24/04/10.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

O MUNDO PÓS GUERRA NUCLEAR

O texto abaixo foi retirado do livro "Inverno Nuclear" e traduz a abalizada opinião do Dr. Paul R. Ehrlich, professor de ciências biológicas e membro da Associação Americana para o Progresso da Ciência, no caso de uma guerra nuclear entre as duas maiores potências atômicas do Planeta. Minha intenção em publicá-lo é dar apoio ao texto "Armagedon" de meu amigo e guru, R. R. Barcellos:
"Podemos elaborar cenários plausíveis em que os efeitos atmosféricos predominantes, frio e escuridão, se estenderiam virtualmente à totalidade do Planeta. Nessas circunstâncias, a sobrevivência humana se restringiria quase que exclusivamente a ilhas e faixas costeiras do Hemisfério Sul, e a população humana poderia reduzir-se aos níveis da pré-história.
Temos que considerar a possibilidade que o frio e a escuridão se espalhem sobre a Terra inteira e sobre todo o Hemisfério Sul. Ainda que pareça improvável que isso resultasse de pronto na morte de todas as pessoas daquele hemisfério. Imagina-se que em ilhas, por exemplo, longe das fontes de radio atividade e onde as temperaturas sejam moderadas pelos oceanos, alguns habitantes haveriam de sobreviver. De fato, é provável que restassem sobreviventes esparsos em vários pontos do Hemisfério Sul, e mesmo umas poucas pessoas no hemisfério norte.
Mas cabe inquirir sobre a persistência a longo prazo desses pequenos grupos de população, ou de indivíduos isolados. O ser humano é um ser social por excelência. Terá de enfrentar um meio enormemente alterado, que não apenas lhe será estranho senão muito mais adverso do que jamais enfrentou. Os sobreviventes retornarão a uma espécie de estágio de caçador-coletor. Mas caçadores-coletores do passado possuíam sempre um íntimo conhecimento cultural do ambiente em que viviam; sabiam como tirar o sustento da terra. Depois de um holocausto nuclear, populações sem esse espécie de bagagem cultural estarão de repente se esforçando para viver num ambiente que jamais foi experimentado por ninguém em parte alguma. Com toda probabilidade, enfrentarão um meio totalmente novo, condições meteorológicas sem precedentes e altos níveis de radiação. Se forem grupos muito reduzidos, haverá a possibilidade de cruzamentos consanguíneos. E, é claro, os sistemas sociais, econômicos e de valores serão completamente esfacelados. O estado psicológicos dos sobreviventes é impossível de avaliar.

É consenso que, nessas condições, não há como excluir a possibilidade de os sobreviventes dispersos simplesmente não serem capazes de reconstruir suas populações, e, num lapso de dezenas ou mesmo de centenas de anos, acabarem por extinguir-se. Em outras palavras, não há como excluir a possibilidade de uma guerra nuclear causar a extinção do
Homo sapiens".
Qualquer observação torna-se redundante diante da clareza com que o Dr. Ehrlich expõe as mazelas a que estarão sujeitos os sobreviventes humanos de uma guerra nuclear. JAIR, Floripa, 23/04/10.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

SOBRE A HISTÓRIA DO PLANETA


Vou iniciar o texto citando minhas próprias palavras: “Um vulcão islandês com um nome impronunciável (Eyjafjallajokull) até para quem é fluente no idioma daquele país, mostrou quanto o Homo sapiens é impotente e quanto pode ser refém das forças da natureza”. A maioria das pessoas tende a confundir a história do Planeta com a do homem, esquece que a terra tem mais de quatro bilhões de anos e o Homo sapiens ergueu-se sobre suas próprias pernas há menos de um milhão de anos.
Ao longo dessa alentada história o terceiro planeta passou por “fases” em suas características e aparência que, na maior parte dos casos, foram causadas por catástrofes. De novo, repetindo palavras de outro texto meu: “Os continentes, mares, cadeias de montanhas, desertos, florestas e a vida do Planeta, SEMPRE sofreram reveses naturais, ou foram erigidos graças as colossais forças geológicas ou vindas do espaço. O ciclo de vida e morte, de nascimento e extinção de espécies e de reinos da natureza se sucedem graças aos cataclismos e às ocorrências furiosas que acometem o clima e causam mudanças drásticas nos ambientes”.
Esta visão não é nova, ela resulta de paradigma científico amplamente aceito baseado nos processos conhecidos e provados que moldaram o Planeta até sua forma atual que, diga-se, não é e nem pode ser definitiva, ou seja, é apenas a forma atual, diferente do passado e do que vier a ser no futuro.
No século XVIII e início do XIX, acreditava-se que as grandes formações terrestres houvessem resultado de processos catastróficos, infligidos à Terra e seus ocupantes por um Criador iracundo e vingativo. Uma mudança importante sobre essa visão mística, liderada pelo geólogo inglês Charles Lyell, reconheceu a importância de processos graduais como a erosão, a glaciação, a sedimentação e a lenta formação de recifes, em substituição à concepção catastrófica. Essa doutrina denominou-se uniformitarismo. Hoje as ciências da Terra estão passando por uma segunda revolução, deflagrada pelas notáveis descobertas da tectônica de placas, e a ênfase voltou a incidir sobre eventos mais dramáticos, agora livres de misticismos. Por isso, cresce progressivamente a convicção de que grandes intervenções eventuais como erupções vulcânicas e colisões de asteróides tiveram importância fundamental na história do Planeta e na vida nele existente.
Uma teoria cativante e cada vez mais aceita, porque existem fortes indícios de sua ocorrência, é a de que a colisão de um asteróide com a Terra há 65 milhões de anos, e a nuvem de poeira que ela produziu, a qual persistiu durante anos, levou a alterações climáticas que acarretaram a extinção quase total da vida no período Cretáceo. Acredita-se que três quartos da vida deixaram de existir, inclusive os formidáveis dinossauros.
Hoje, porém, é largamente admitido que eventos significativos da mesma natureza, ainda que não da mesma monta, têm ocorrido no tempo histórico por obra de erupções vulcânicas, mais que por qualquer outro fenômeno. Por ordem cronológica, alguns vulcões que causaram mais alterações climáticas e orográficas na face do Planeta, do que qualquer intervenção humana ao longo da existência do homem por aqui; ou de outros fenômenos como maremotos, terremotos, incêndios, enchentes e quedas de asteróides.

79 d.C. Vesúvio (Itália)
1586 Kelut (Indonésia)
1672 Merapi (Indonésia)
1660 Guagua Pichincha (Equador)
1783 Laki (Islândia)
1792 Unzen (Japão)
1815 Tambora (Indonésia)
1883 Krakatoa (Indonésia)
1902 Monte Pelée (Martinica)
1912 Katmai (Alaska)
1929 Santiaguito (Guatemala)
1956 Bezymianny (Rússia)
1963 Surtsey (Islândia)
1980 St. Helens (USA)
1982 El Chichón (México)
1985 Kilauea (Havai)
1985 Nevado del Ruiz (Colômbia)
1991 Pinatubo (Filipinas)
1998 San Cristobal (Nicarágua)
1998 Pacaya (Guatemala)
2002 Etna (Itália)
2002 Shiveluch (Rússia)
2002 Nyragongo (República Democrática do Congo)
2010 Eyjafjallajokull (Islândia)

A manifestação cinematográfica do Eyjafjallajokull na Islândia é apenas a última, aliás, bem pequena em relação a outras, de um desses fenômenos destinados a deixar marca indelével que altera em definitivo o clima de uma grande região densamente habitada, influindo na história do Planeta. Por exemplo, a erupção do Tambora em 1915 causou, em 1916, o que se convencionou chamar de "o ano sem verão", ano em que centenas de milhares de pessoas morreram de fome, na Ásia e na Europa, devido a quebra das lavouras. Esta erupção é mais uma página na história do Planeta que se escreve a fogo, lava e cinzas. Comparando com a história humana, representa algo como a revolução francesa ou a revolução russa, por exemplo. Mesmo que não venhamos a observar de imediato grandes mudanças climáticas a partir dessa erupção, elas vão aparecer a médio e longo prazos. Quem viver verá. JAIR, Floripa, 21/04/10.

terça-feira, 20 de abril de 2010

VAMOS CUIDAR DO PLANETA


Um vulcão islandês com um nome impronunciável (Eyjafjallajokull) até para quem é fluente no idioma daquele país, mostrou quanto o Homo sapiens é impotente e quanto pode ser refém das forças da natureza. A nossa humildade como espécie aflorou debaixo da nuvem de cinzas e detritos que cobriu boa parte do Atlântico norte e da Europa. Se temos o privilégio de ser a espécie dominante do Planeta, também temos que assumir sermos a única espécie que pode contribuir de maneira decisiva para ele continuar habitável a despeito de forças naturais sobre as quais não temos controle. Em nome da civilização não temos o direito de maltratar a Terra a ponto de inviabilizar a vida sobre ela. Temos OBRIGAÇÃO de cuidar dela com carinho.

Até onde se possa enxergar e até onde a ciência pode provar, a Terra é uma anomalia. Em todo o sistema solar, ou qualquer sítio conhecido do cosmos, a Terra é o único planeta habitado. Nós, humanos, somos uma entre milhões de espécies que vivem em um mundo florescente, transbordando de vida. Contudo, a maioria das espécies que povoaram o Planeta, já não existe mais. Depois de pisarem o chão da Terra por mais de 180 milhões de anos os dinossauros foram extintos, não existe um sequer para contar a história. É fácil deduzir que nenhuma espécie tem lugar cativo no Planeta azul, todos somos transitórios. Estamos aqui a apenas um milhão de anos e somos a única espécie que projetou meios para sua autodestruição. É mole? Veja bem, somos raros e preciosos, porque pensamos e por que estamos vivos! Quantas espécies podem dizer que pensam e estão vivas? NENHUMA, a não sermos NÓS, cara pálida! Temos o privilégio de projetar e talvez controlar nosso futuro e o futuro do Planeta. Aliás, mais que isso, temos OBRIGAÇÃO de lutar pela vida na Terra, não apenas pela NOSSA vida, mas pelas demais que coabitam esta grande rocha em forma de laranja. Não há nenhuma causa mais urgente e nobre do que proteger o futuro de nossa espécie e, por tabela, proteger todos os demais seres.

Lembrando, quase TODOS os problemas humanos são provocados pelos humanos e podem ser resolvidos pelos humanos. Nenhuma convenção social, nenhuma hipótese econômica, nenhum dogma religioso é mais importante que nossa sobrevivência.

Ah! Vão dizer. E as forças da natureza como o vulcão de nome impossível de proferir? Lembremos, a Terra tem quatro bilhões de anos e, desde seu nascimento, SEMPRE teve fenômenos naturais de monta. Os continentes, mares, cadeias de montanhas, desertos, florestas e a vida do Planeta, SEMPRE sofreram reveses naturais, ou foram erigidos graças as colossais forças geológicas ou vindas do espaço. O ciclo de vida e morte, de nascimento e extinção de espécies e de reinos da natureza se sucedem graças aos cataclismos e às ocorrências furiosas que acometem o clima e causam mudanças drásticas nos ambientes. O motor da vida em Gaia são as catástrofes, por estranho que pareça. Somos parte do Planeta, e não alienígenas que para aqui vieram com intuito de extrair o que nos interessa e deixar para trás um mundo inabitado e inabitável. Cuidemos da nossa Terra, é a única que temos! JAIR, Floripa, 20/04/10.

domingo, 18 de abril de 2010

SOBRE A PENA DE MORTE




Qualquer discussão sobre pena de morte no Brasil, sob o ponto de vista legal, torna-se inconcludente porque a Constituição de 1988 estabelece como Cláusula Pétrea, entre outros, o direito à vida. Isso significa que não é sequer passível de apreciação projeto que vise suprimir ou inibir esse direito fundamental. “Por cláusula pétrea, entende-se o dispositivo que impõe a irremovibilidade de determinados preceitos. Esse sentido obtém-se a partir do significado de seus signos lingüísticos: "duro como pedra". Na Constituição são as disposições insuscetíveis de ser abolidas por emenda, imodificáveis e não possíveis de mudança formal, constituindo o núcleo irreformável da Constituição, impossibilitando o legislador reformador de remover ou abolir determinadas matérias. Esses preceitos constitucionais possuem supremacia, paralisando a legislação que vier a contrariá-los”.
Ou seja, quando se decidiu promulgar a Constituição atual, estabeleceram-se certos PRINCÍPIOS sobre os quais se iam erigi-la, como se faz uma casa sobre um alicerce. As Cláusulas Pétreas são os alicerces sobre os quais se estruturou a Constituição, se nós subtrairmos seus alicerces ela ruirá, não mais podendo manter-se em pé a partir dai. Resulta que, um Estado sem Constituição é um ajuntamento tribal potencialmente a beira da barbárie.
Então, à luz da atual Carta Magna, ser a favor ou contra é ocioso, não há essa possibilidade porquanto as Cláusulas Pétreas foram baseadas na Declaração Universal dos Direitos Humanos, na ausência dos quais fica a pergunta: Para quê Constituição? Se não há Constituição deixará de existir Estado, sem Estado seremos apenas um bando de seres errantes sem coesão e leis que regulem nosso contrato social; sem freios que inibam os crimes e contravenções; aliás, nem crimes e contravenções existiriam, pois estes, para existirem, têm que alicerçar-se em lei anterior que os defina. Quem gostaria de viver numa sociedade tribal onde não houvesse crimes definidos em lei? Onde um indivíduo poderia entrar na casa do outro, estuprar sua filha, assassinar sua mulher e nada lhe adveria, porque não há crimes definidos em lei?
O Estado brasileiro optou por considerar o ser humano mais importante que a organização social, de modo que esta não tem direito de subtrair a vida daquele. Aliás, ninguém, seja o Estado ou qualquer indivíduo, tem esse direito. Se quisermos estabelecer lei que disponha essa forma de punir o criminoso, teremos que fazer tabula rasa do contrato social atual e começar do zero um novo arcabouço legal que não tenha os Direitos Humanos como fundamento.
Abolir a Constituição para legalizar a morte de cidadãos pelo Estado equivale a colocar fogo na casa para acabar com as baratas. Será que vale a pena? Será que gostaríamos de ter um Estado que pudesse dispor de nossas vidas ao seu talante? Confiaríamos num Estado poderoso que pudesse punir “criminosos” de forma irreversível? Ou seja, se o Estado – que sabemos ser pródigo em injustiças – pudesse eliminar seus possíveis inimigos através da pena capital, seria um Estado confiável? Estaria ele melhor aparelhado para exercer a justiça? Não sabemos, mas é forçoso inferir que um Estado assim não seria o shangri-lá, a história nos prova que experiências de Estados totalitários não foram as melhores: na Itália de Mussolini, na Alemanha de Hitler ou na União Soviética durante o regime comunista, nada de bom resultou para seus cidadãos ou para o mundo civilizado.
É óbvio que um Estado moderno deve servir o cidadão e não ao contrário, sob o risco de sermos apenas peões de um jogo de xadrez nas mãos do governante em exercício, ou, pior, de algum governante golpista e de maus bofes.
Veja bem, não estamos argumentando sobre os regimes de governo ou a forma política de estado, estamos falando da construção do Estado, sobre a forma que ele, independente de governos, partidos ou políticas, se funda, sobre seu “esqueleto” formal sobre o qual se estabelecem as leis e salvaguardas, tantos dos cidadãos quando das instituições. Independente de gostarmos ou não do governo ou de estarmos de acordo ou não com as leis, estas existem e estamos sob sua tutela bem como sob seu jugo, para o bem ou para o mal.
Como falei no início, estas considerações são apenas sob o ponto de vista legal, não cabendo aqui argumentos – a favor ou contra - sociais, econômicos, estatísticos, religiosos, éticos ou filosóficos que poderão ser temas de outros textos. Até lá! JAIR, Floripa, 18/04/10.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

SEMPRE O TEMPO



Muito antes dos tempos existia o ovo cósmico e o TEMPO. Após a mega explosão que a tudo deu início, ele criou a matéria e a dispersou pela infinitude do cosmos. Onde nada existia, agora surgiam galáxias pejadas de estrelas, cometas, quasares, buracos negros, horizonte de eventos e tudo mais. O TEMPO, tendo semeado estrelas, agora se ocupava em orná-las com planetas que as circulavam feito moscas que rodeiam a lâmpada. Ainda que não existissem lâmpadas, tampouco moscas, tanto estas como aquelas teriam que aguardar que o TEMPO as criasse. Planetas eram rochas flamejantes que lembravam estrelas-crianças que, como Peter Pan, se recusavam a crescer. Ele, o TEMPO, se encarregou de jogar água na fervura dos planetas, esfriou-os de modo a se tornarem lugares menos hostis. Por que não? Feito isso, verificou que agora era possível criar um ambiente profícuo, uma espécie de sopa primeva onde moléculas elementares podiam bem se relacionar criando novas e mais complexas moléculas. Isso se deu a 3,7 bilhões de anos, coisa que, para o TEMPO, nada significa. Nesse caldo de cultura, substâncias orgânicas concentravam-se localmente, talvez em gotículas em suspensão, ou espuma que secava nas margens dos mares. Com o TEMPO e a influência da energia dos raios ultravioleta do sol, combinavam-se em moléculas maiores e mais complexas.

O TEMPO a tudo comandava como um mestre perseverante e calmo cuja paciência mede-se, não em décadas ou milênios, mas em milhões de anos. Naquelas eras as grandes moléculas orgânicas podiam boiar livremente no caldo cada vez mais denso sem serem molestadas, o TEMPO estava a seu favor. Num dado momento formou-se por acidente, uma molécula notável, uma molécula que podia replicar-se. O TEMPO havia proporcionado esse fausto acaso. Na verdade, uma molécula que possa fazer cópias de si mesma não é tão difícil de imaginar como parece à primeira vista e só teria de surgir uma única vez e, para isso, basta que exista TEMPO suficiente. Nada tão insólito, portanto. Não terá sido necessariamente a molécula maior ou mais complexa de todas, que adquiriu essa propriedade extraordinária de ser capaz de tirar cópias de si mesma, mas, por certo, terá sido uma molécula que sofreu um acidente singular. Um acidente nem um pouco improvável, no entanto, certamente, um acidente fundamental, desde que houve TEMPO para que acontecesse. Que acidente fantástico seria esse, já que, replicar-se significa reproduzir-se, significa perpetuar-se, deixar descendência, enfim, significa VIDA? Bem, o TEMPO criou-a e soube esperar que raios cósmicos que, em geral, atravessam nossa atmosfera aos bilhões por minuto, atingissem o âmago da molécula e modificassem a estrutura dos átomos que a compunham, proporcionando à sortuda molécula o poder de auto replicar-se. Foram necessários milhões de anos, na verdade um TEMPO enorme, até que grande quantidade de substâncias muito mais complexas que as originais surgissem. Com o TEMPO são encontrados aminoácidos – os blocos de construção das proteínas, classe de moléculas biológicas. Mais TEMPO ainda, e foram surgindo substâncias orgânicas chamadas “purinas” e “pirimidinas” – blocos de construção da molécula de DNA.

E o TEMPO facultou que a vida evoluísse em variedade e complexidade, porque a evolução é um atributo do TEMPO. Milhões de espécies povoaram lagos, rios, ares, mares e terra do Planeta numa variedade infinita graças ao TEMPO. De moneras a plantas e bactérias, de peixes, répteis e aves a mamíferos. Grandes e pequenos, de sequóias a insetos, todos seguiram crescendo e multiplicando-se, variando e ocupando todos os nichos habitáveis, e até os tecnicamente inabitáveis da Terra, ao longo do TEMPO.

Mas, o TEMPO que havia criado a vida também a suprimia, exterminava. Seres que não se adaptassem a novas condições eram, implacavelmente, varridos do Planeta pelo TEMPO. Assim, todas as criaturas estavam agregadas ao TEMPO que dispunham para evoluir ou morrer. O TEMPO as criou, o TEMPO as destrói. Infeliz é a criatura que acredita ser possível driblar o TEMPO, no fim este não a perdoará, transformá-la-á nos elementos que a compõe. O pó ao pó retornará, o TEMPO se encarrega disso.

Bem, agora tudo funcionava como o TEMPO havia determinado, o relógio cósmico andava para frente há bilhões de anos e o universo se expandia para além de fronteiras sequer imagináveis. Só que o TEMPO, cuja dimensão excede o próprio universo, continua, enquanto os efeitos da grande explosão perdem impulso e, finalmente cessam, daí uma força colossal chamada gravidade se encarrega de contrair aquele universo dilatado ao extremo. Novamente, éons se passarão até que o universo se converta naquele ovo onde tudo começou. TEMPO não faltará. JAIR, Floripa, 24/04/10.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

A CIÊNCIA TAMBÉM PISA NA BOLA

Huygens

Christianus Huygens foi um matemático, físico e astrônomo holandês, nascido em Haia, em 14 de abril de 1629. Ele é um ícone da tecnologia em progresso representada pela introdução recente de telescópios na observação dos astros; da habilidade experimental e de uma mente cética, criativa e curiosa, sempre aberta a novas ideias. Por abordar os novos desafios com bastante imaginação, foi o primeiro a sugerir que, quando olhamos Vênus, o que vemos são sua atmosfera e suas nuvens; o primeiro a deduzir algo sobre a natureza dos anéis de Saturno – os quais Galileu classificava como “orelhas”; o primeiro astrônomo a registrar em desenho uma marca reconhecível na superfície de Marte; o segundo, depois de Robert Hooke, a reconhecer a Grande Mancha Vermelha de Júpiter.

Em contrapartida, Huygens também era “antenado” com seu tempo, de modo que partilhava das crenças e superstições da sociedade na qual vivia, e olhava o mundo pela ótica da política mercantilista marítima que a Holanda praticava, nada estranho ou inusitado, portanto.

Assim, como “quem lavra pratos, com mais razão também os quebra”, Huygens foi autor de uma das mais notáveis jumentices que se tem notícia na astronomia, uma escorregadela na maionese de dimensões astronômicas por assim dizer. Quando Galileu observou que Júpiter tinha quatro luas, Chistianus Huygens, bem de acordo com sua natureza curiosa, formulou a seguinte pergunta: Por que Júpiter tem quatro luas? Uma sacada sobre essa questão poderia ser obtida respondendo-se a pergunta: por que a Terra tem uma única Lua? Ora, na Terra a função da Lua era, segundo concepção corrente na época, além de proporcionar alguma luz à noite; produzir marés e auxiliar os marinheiros a navegar. Por comparação, se Júpiter tem quatro luas, deve haver muitos marinheiros naquele planeta. Mas marinheiros precisam de barcos, barcos precisam de velas, velas precisam de cordas e, supondo, cordas precisam de cânhamo. Logo, Júpiter tem muito cânhamo. Não duvidem, foi exatamente esse o raciocínio do senhor Christianus!

Depreende-se que Júpiter seria uma espécie paraíso dos fabricantes de cordas e dos maconheiros, já que o cânhamo referido é a mesma Cannabis sativa que se usa para alcançar o tal “barato”. Deixo observações aos senhores leitores, mas, não é insanidade imaginar que o senhor Huygins, ao projetar essa ilação fantasiosa, estava era “viajando” sob efeitos dos eflúvios do tal cânhamo. JAIR, Floripa, 14/04/10.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

VIKTOR NAVORSKI, O PAGADOR DE PROMESSAS


Viktor Navorski é um cidadão da Europa Oriental que viaja a Nova York para cumprir promessa que havia feito a seu pai, - já falecido e grande apreciador de jazz, - de conseguir autógrafo de jazzista americano. Zé do Burro é um pobre camponês do interior da Bahia que tem seu jumento atingido por um raio e acaba indo a um terreiro de candomblé, onde faz uma promessa a Santa Bárbara para salvar o animal. Estes são os argumentos de “O terminal” e “O pagador de promessas”, dois filmes que não poderiam estar mais distantes um do outro, no tempo e no espaço. O “Pagador” filme brasileiro de 1962 dirigido por Anselmo Duarte, baseado em livro de Dias Gomes; o “Terminal” película americana de 2004 com direção de Steven Spielberg, estrelado por Tom Hanks no papel de Viktor Navorski.

Pois bem, por que essas duas referências cinéfilas encontram-se no mesmo texto? Por que estórias de dois mundos tão díspares ocupam o mesmo espaço? Para tais perguntas a resposta pode ser uma só. Desde muito tempo venho prestando atenção nas estórias veiculadas em livros, revistas, cinema e televisão e percebo que não existe estória nova, nada se inventa, nada existe de original, existe apenas reciclagem do que já foi escrito antes. Assim, a mocinha pobre casa com o sujeito rico e boa gente, reciclando a gata borralheira; o sujeito pobre, mas bem intencionado, se dá bem no fim das contas, é o sapo/príncipe; O bem faz contraponto com o mal e sempre o vence; Há justiça no fim do túnel, justiça divina existe e sempre prevalece.

Assim, Navorski e Zé do Burro, embora protagonistas anos-luz distantes um do outro, compartilham a ingenuidade de acreditar na nobreza da alma e na justiça dos céus, suas promessas estão de acordo com essas premissas. O que une seus papeis é a determinação de cumprir promessas mesmo com sacrifício acima do razoável; com ônus que lhes trazem aborrecimentos porque as sociedades nas quais se inserem não conseguem entender essa obstinação com coisa tão sem sentido, tão banal. Carregar uma cruz por quilômetros porque o burro foi salvo? Viajar a Nova Iorque para encontrar um cantor de Jazz que pode até estar morto? Onde está a lógica disso? Cadê a razoabilidade? Não. A sociedade se sente desconfortável com motivações tão pouco sensatas. Contrariando essa ortodoxia exigida pela sociedade, os personagens seguem em frente de acordo com seus desejos ditados por convicções íntimas, não se enquadrando no status quo vigente. Podemos dizer que tanto Viktor do Burro, quanto Zé Navorski encarnam o homem-ideal, o bom selvagem ingênuo de Rousseau, aquele para o qual o mundo é feito de fé e logicidade a qual traz em seu bojo, probidade e ética.

A boa fé e, guardadas as diferenças, a crença “religiosa” de ambos os personagens contrasta com o mundo hostil e cético que os cerca; contrasta com o senso comum o qual assume que não se viaja de um continente a outro para pegar um autógrafo; que não se carrega uma cruz nas costas de uma cidade a outra por causa de um burro. O burro do Zé e a esperança de cura, juntamente com o cantor de Jazz e o autógrafo esperado por Navorski, são os motes que determinam suas buscas obstinadas carregadas de uma simplicidade difícil de entender para o homem médio, na sociedade média na qual vivemos. Contudo, é precisamente aí que se encontra o mais profundo significado da fé do homem... no homem: O mundo é linear e cartesiano, não há embustes ou meandros obscuros que confundem a mente; uma vida minimalista e pura onde tudo é simples determina a conduta do homem-ideal, o bom selvagem sem malícia, cujos sonhos e aspirações são possíveis. E ambos os personagens se fundem formando a essência da criação divina perfeita que irá redimir a humanidade. JAIR, Floripa, 12/04/10.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O CRIACIONISMO É UMA BOBAGEM ESFÉRICA*


O criacionismo, como qualquer ser inteligente sabe, é um besteirol sem tamanho. É até estranho que tanta gente perca um tempo precioso se dedicando a uma hipótese tão estúpida e absurda. A ciência está careca de provar que os seres vivos encontram-se na face deste Planeta há mais de três bilhões de anos, e que evoluíram para suas formas atuais desde outras formas primitivas. Os criacionistas acreditam que toda a vida que existe foi criada num átimo, nas suas formas atuais, há cerca de seis mil anos (alguns admitem dez mil anos) por uma entidade suprema. Em consequência dessa estultice os criacionistas enxergam homens e dinossauros convivendo ao mesmo tempo. A evolução é um fato comprovado por provas físicas, o criacionismo é uma bobagem que se baseia na fé.

Quero repetir aqui argumento que usei em meu texto “A maravilhosa ciência”: A ciência “aconselha-nos a considerar hipóteses alternativas em nossas mentes, para ver qual se adapta melhor à realidade. Presta-se como ferramenta do cético, do inconformado, do curioso e não daqueles habituados a certezas inquestionáveis”. Por isso, o cientista (e por extensão o evolucionista) é uma mente sempre aberta para ideias e propostas novas, já o criacionista é adepto de “certezas inquestionáveis”.

O livro Why evolution is true, de Jerry Coyne, é uma obra que apresenta de maneira sentenciosa provas irrefutáveis da evolução, oferecidas pela distribuição geográfica. Ele também aborda a característica dos criacionistas de ignorarem evidências, quando estas são contrárias a sua fé; quando são provas que não corroboram aquilo que eles acreditam, aquilo que eles leem nas escrituras. Diz Coyne: “As evidências biogeográficas da evolução agora são tão poderosas que eu nunca vi um livro, artigo ou conferência criacionista tentar refutá-las. Os criacionistas fazem de conta que as evidências não existem”. Os criacionistas agem como se apenas os fósseis fossem evidências da evolução. Realmente, o testemunho dos fósseis é o mais substancial e o mais “visível”, por assim dizer. Incontáveis fósseis foram desencavados desde a época de Darwin, e todas as evidências obtidas a partir deles corroboram ou são compatíveis com a evolução. E, mais importante, nenhum fóssil contradiz a evolução. Se fosse o caso, como o evolucionista “considera hipóteses alternativas”, o edifício evolucionista ruiria fragorosamente e a ciência acataria humildemente uma hipótese que se adequasse a nova realidade.

Não obstante, por mais convincentes que sejam as provas dos fósseis, considera-se que elas não são as mais poderosas que a ciência dispõe. Mesmo que em nenhum momento tivessem encontrado fósseis, as evidências fornecidas pelos animais sobreviventes ainda assim nos impeliriam de maneira inexorável e categórica à conclusão de que Darwin estava certo. A cronoestratigrafia, que é o estudo referente à idade de rochas e de camadas geológicas, torna tão evidente a sequência de eras, que até o pior cego não pode se furtar de reconhecer a idade da Terra e sua evolução.

Com o surgimento da genética e o mapeamento do genoma de plantas e animais, foi possível estabelecer “parentesco” entre os seres de modo a fortalecer ainda mais o que já se sabia de suas ascendências e descendências. A distribuição geográfica dos seres, mais uma vez prova a deriva dos continentes, a existência de placas tectônicas e a antiguidade do Planeta.

O criacionismo empunha a Bíblia como se um tratado de ciência fosse; como se a verdade última da história do universo, do homem e da vida, ali estivesse contida. A Bíblia não pode ser encarada como compêndio de história, muito menos de ciência, quando muito é um apanhado meio desconexo de filosofia doutrinária escrito por vários autores distribuídos no espaço e no tempo, cada um contando à sua maneira estórias e lendas de um povo e de uma região, ouvidas e interpretadas de acordo com os costumes de cada época.

Os autores da Bíblia ao contarem o mito do dilúvio, por exemplo, estavam colocando em letras o que ouviam dos mais velhos que haviam escutado de outros contadores de estórias, algo que estava entranhado na tradição folclórica de povos mais antigos como os mesopotâmicos (Epopéia de Gilgamesh), babilônicos e hassídicos. Lembrando que mito é uma narrativa em forma de história que, por meio de seleção de eventos e atribuição de relevância a situações e personagens, torna um passado virtual em algo significativo, encorajando a coesão social. Depreende-se que os mitos são necessários. É razoável inferir que nem os escribas acreditavam na veracidade de suas estórias, eles provavelmente as escreviam como ficção.

Enquanto a estultice do criacionismo descarta as evidências que a ciência descobre sobre a evolução, e assume como verdade estórias ficcionais e lendas nem tão boas registradas na Bíblia, não haverá como conciliar a boa ciência com a cegueira de quem não quer ver. Lamentável. JAIR, Floripa, 08/04/10.

*Por qualquer ângulo que se olhe é igual.