domingo, 6 de junho de 2010

México


Pagando mico em Tijuana

Dia primeiro de maio de 2010, passou a vigir resolução diplomática que deixa de exigir visto de brasileiros que queiram entrar no território mexicano, e tenham visto americano. Aliás, decisão inteligente, já que a exigência que se fazia de visto para aquele país era, justamente, para evitar que brasileiros atravessassem a fronteira mexicana com destino aos EUA. Se o indivíduo tem permissão para entrar nos EUA ou já está em seu território seria necedade proibi-lo de entrar no quintal do vizinho, não é mesmo?

Então, em seis de maio fomos, eu e minha mulher, a San Diego, Califórnia, ali pertinho do México, tão perto que parte da Califórnia e do Novo México, estados americanos, já foram territórios mexicanos.

Em 1853, depois de uma guerra cruenta, de 1846 a 1848 entre os EUA e o México, foi completada a anexação de territórios do México iniciada com a incorporação do Texas, motivo da guerra. Metade do território mexicano havia sido perdida para os Estados Unidos, (Remember Alamo!). Lázaro Cárdenas, presidente mexicano (1934-1940), comentou em relação ao imperialismo norte-americano: "Pobre México, tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos"

Essa frase reflete o sentimento à época em que o México tinha perdido grandes porções do seu território para os EUA, por isso a alusão à proximidade com aquela nação, e a referência a Deus deve-se a fase de rebeliões com muitos crimes, muita insegurança que ocorria no México àquela época.

A frase tornou-se famosa e é evocada pelos mexicanos sempre que querem fazer alusão ao abismo econômico e social que separa os dois países de extensa fronteira comum. Fronteira que menos impede e mais estimula a migração de mexicanos em busca de uma vida supostamente melhor.

Então, estávamos ali em San Diego, onde existe um trolley elétrico que vai até às portas de Tijuana por apenas cinco dólares, e as restrições já não existiam, por que não ir? Fomos. Minha expectativa era que o México real de fronteira não fosse aquele estereótipo que vemos em filmes americanos: Ruas sujas e mal ajambradas com lojas humildes, operadas por gente feia e meio desonesta, vendendo tacos e tequila a turistas e tentando enganar os fregueses “ricos” como são todos os americanos. Minha esperança era que o México de fronteira fosse mais como Guadalajara, cidade bonita e organizada onde estive na década de noventa.

Bem, chegando ao fim da linha do trolley, adentramos o México por uma passarela toda fechada como se um túnel fosse. E daí a surpresa, ou falta dela se quisermos. Tijuana lembra exatamente aquele retrato feio que os americanos pintam, nada tem a ver com Guadalajara. Ruas ruins e gente esquisita querendo “assaltar” no bom sentido (às vezes no outro sentido também), os turistas. Dezenas de farmácias, umas coladas nas outras, com atendentes implorando para que você adquira remédios que necessitam de receitas nos EUA e aqui não.

Curiosidade, na rua principal de Tijuana, calle Ignacio Zaragoza, nos dois lados, em todas as esquinas, existe “zebras” vivas nas calçadas, sobre as quais o passante pode montar e tirar fotos a preço de dois dólares cada. Zebras? É possível isso? Na verdade, uma bizarria, burros brancos pintados com listras pretas à moda de zebras. Por incrível que pareça, vi turistas japoneses portando sombreros, montados nos bichos, tirando fotos. Não consigo imaginar como os japas vão justificar lá em casa tal excentricidade. Passei ao largo, eu hein!

Tijuana, guardadas as diferenças culturais, lembra Cidade de Leste no Paraguai junto à divisa com Brasil. Pergunto-me, não serão todas as cidades de fronteiras parecidas? Considerando que, segundo a ONU, os indicativos econômicos e sociais do México são muito melhores que os do Brasil, é de se supor que exista uma “síndrome de fronteira” (border effect, chique né!) que remete as cidades ali situadas a uma vala comum de dependência econômica do turismo e certa atmosfera de coisa não muito honesta, um ar meio conspiratório.

Explico, estávamos numa loja comprando lembran-cinhas, atendidos pelo dono muito simpático e falante. Fiz um teste: Perguntei-lhe como adentrar os EUA, e ele me indicou a direção da migração, a umas duas quadras adiante. Fiz cara de quem flatulou (existe verbo flatular?) na igreja e, baixando a voz, menti que não tinha visa, como fazer então? No mesmo instante o cidadão respondeu com voz normal, “esto no es posible!” e, baixando a voz e olhando para os lados assim como se procurasse algo ou alguém, acrescentou “acá no, pero...”. Em outra loja indaguei pela Marijuana, com jeito inocente de quem não sabe o que está falando. Imediatamente o clima conspiratório se estabeleceu. Interessante, não?

Bem, não quero rotular um país por apenas umas poucas impressões que tive, isso não é justo. Tento apenas entender porque as coisas são assim. O México é um ótimo país, me diverti muito e lá paguei um alentado mico que poderia ser monumental se tivesse montado nas tais “zebras”. Vale a pena conhecê-lo. JAIR, Floripa, 06/06/10.



4 comentários:

R. R. Barcellos disse...

- Jair, você sabe mesmo dar nome aos bois. "Síndrome de fronteira" é um conceito magistral para o conjunto de sintomas que urbes como Tijuana e Ciudad de Leste apresentam - sintomas exacerbados pelas diferenças culturais e sócio-econômicas entre os dois lados da fronteira.
- Já ouvi dizer que a única coisa que não se falsifica no Brasil é o famoso uísque paraguaio. Agora fico sabendo que a zebra mexicana se enquadra na mesma categoria.
- Você deveria ter se deixado fotografar cavalgando tal alimária rara e exótica, para depois executar um auto-retrato em óleo sobre tela, a exemplo do "tuaregue"... ia ficar lindo!
- Abraços.

Leonel disse...

Pô, Jair, eu não perderia a chance de pagar esse mico, tirando uma foto de sombrero, montado em um jerico listrado!
A única imagem que eu tenho do México é aquela mostrada nos filmes americanos atuais, que agora você acaba de autenticar.
Eu sempre achei que o aspecto da fronteira EUA-México devia ser semelhante à fronteira Brasil-Paraguai, tirando a imigração ilegal e aumentando o contraste entre os dois lados.
O difícil é entender porque os mexicanos não copiam alguns dos aspectos positivos do seu vizinho rico.

Anônimo disse...

Jair seu blog é espetacular, show, not°10 desejo muito sucesso em sua caminhada e objetivo no seu Hiper blog e que DEUS ilumine seus caminhos e da sua família
Um grande abraço e tudo de bom
Ass:Rodrigo Rocha

Camila Paulinelli disse...

Olá,

Pelo fato da grande fronteira com o México, a cultura latina é muito forte aqui em San Diego. Uma grande massa mexicana faz a travessia diariamente para trabalhar nos EUA e volta para a sua casa no final do dia. É realmente uma grande disparidade você tirar o pé dos EUA e pisar no México. Tamanha diferença logo alí. Mas para nós brasileiros não é tão chocante assim. Fico feliz que se divertiram bastante com os exóticos animais (rs..) e com as brincadeiras relacionadas a marijuana e visto.

Quanto a flatular, fico sempre pensando o porquê de não o encontrarmos no nosso magnífico "pai dos burros".
Se compararmos arroto e flatulência, logo haveríamos de encontrar: arrotar, flatular, etc... Se flatulência é a liberação, voluntária ou não, de ar contido na porção final do intestino; e o arroto é um reflexo natural da liberação de gases, quando a pressão no estômago é demasiada, vejo as duas funções como: liberar algo.

Beijos da nora.