domingo, 17 de outubro de 2010

Gente como a gente


(Ordinary People)

A filmologia americana é pródiga em explorar sob todos os ângulos e com obsessão quase compulsiva os conflitos e a dinâmica das famílias. É fácil notar nas séries televisivas, filmes e animações que predomina uma super exposição das relações familiares no contexto da cultura daquele país. Desde “Flintstones”, os clássicos “A família Trapp” e “Família Dó Ré Mi”, passando por “Os Waltons”, “Married with Childrens” e muitos outros, os vários aspectos sejam lúdicos, patéticos, conservadores, liberais ou dramáticos da sociedade representada pelo núcleo familiar, são mostrados sem culpa e sem falsos pudores. Imagino que expor as dores da sociedade funcione como uma espécie de catarse coletiva que mantém a sanidade de um povo o qual vê no cinema seu divã do analista, pelo preço de um simples ingresso. Não será por falta de exposição que nós, expectadores, vamos dizer que não conhecemos como aquela sociedade funciona.

O filme “Gente como a gente” (Ordinary People) 1980, dirigido por Robert Redford é um exemplo expressivo da preocupação constante dos produtores americanos. Trata-se de um filme marcante que mostra de maneira crua o drama de uma família dilacerada pela perda de um filho num acidente e a tentativa de suicídio do outro, mas que tenta se comportar como se nada tivesse acontecido. Um filme emocionante, que entra pelos olhos do expectador pela aparente simplicidade da vida de uma família comum de classe média alta. Contudo, no fundo, um filme complexo que acaba nos levando a reflexão sobre nós mesmos. Atuações impecáveis de todos os atores, e direção perfeita de Robert Redford. O nem tão bonito Judd Hirsch como psicanalista, tem uma atuação competente, brilhante até, parece encarnar uma pessoa real com qualidades e defeitos, embora seu objetivo seja chegar à origem da insegurança de Conrad, personagem interpretado por Timothy Hutton, o qual merecia um Oscar pelo bom trabalho. Não bastasse isso, Donald Sutherland e Mary Tyler Moore como os pais (Calvin e Beth Jarrett) de Conrad, estão impecáveis. Principalmente ela que faz uma mãe emocionalmente distante do filho e que, aparentemente, o acusa da morte do filho mais velho, sem, contudo, assumir seu comportamento. Enquanto o filho sente culpa pela morte do irmão e não consegue superar o bloqueio emocional da mãe que o impede de se aproximar dela, o resultado é uma tentativa de suicídio e tratamento psiquiátrico. Uma trilha sonora que não se impõe a ponto de interferir nas cenas, emoldura com sutileza o clima dramático e emocional do filme. O final é surpreendente e corajoso, adiciona pontos na carreira do diretor que, facilmente, devido à temática forte da história, poderia ter resvalado para o dramalhão, mas que mantém o nível de racionalidade que acaba dando firmeza à obra. Um dos filmes que eu recomendaria aos meus amigos mais exigentes sem medo de errar, sem receio que os expectadores se decepcionassem. JAIR, Floripa, 17/10/10.

9 comentários:

Milene Lima disse...

Eu nem sou das mais exigentes. Uma boa trama me prende facilmente e esse aí vou ver certamente.

Tens uma facilidade de dispor as palavras que é incrível, moço. O texto flui e quando percebemos já o lemos...

Parabéns!
Beijos e bom domingo.

Sheila Silva disse...

Muito boa dica... Já está na linha lista de próximos filmes.
obrigada
Abs.

R. R. Barcellos disse...

- Não faz muito o meu gênero, mas tendo chance vou conferir. Abraços.

Leonel disse...

Jair, na época, em que assisti, eu era mais jovem e gostava de filmes com mais ação, assim não dei o devido valor a este excelente drama que marcou época.
Boa a lembrança da série que eu não perdia: "Os Waltons", que mostrava o dia-a-dia de uma família rural americana durante a depressão americana dos anos 30. O Nome da outra série acho que era "Married with Children".

JAIRCLOPES disse...

Leonel,
Tem razão, o nome da série saiu errado porque escrevo as coisas sem pensar. Obrigado, já fiz a correção.

Camila disse...

Ola,



Quero ver o filme primeiro. Pode ser que já tenha visto, mas não me lembro. Mas fiz o pedido ontem e deve chegar em dois dias no máximo.
Best Regards,
Camila Paulinelli

J. Carlos disse...

Assisti duas vezes, uma há quase trinta anos atrás e outra agora, o filme ficou muito melhor. É possível?

Antenor Sturtz disse...

Grande JAJÁ
Creio já ter assistido ao Ordinary People.
Não o tinha percebido sob os ângulos mencionados.
Vou alugar o DVD e observar melhor.
Obrigado pela dica.
STZ

Camila Paulinelli disse...

Olá,
Havíamos pedido o filme pelo correio e o mesmo demorou um pouco para chegar. Qualquer demora compensaria a espera, pois o filme é realmente de primeira qualidade e muito intenso. Eu não daria conta de descrever como achei brilhante cada detalhe da construção de cada cena. O filme manteve um alto nível de tensão desde seu início até o final. Só grandes atores e um ótimo diretor conseguem fazer com que uma história sem maiores novidades se transforme num filme grandioso com cenas surpreendentes. Não pude conter as lágrimas nas cenas ainda mais tensas, como a cena do abraço do filho na mãe. Esta não dei conta de segurar. Que frieza de pessoa! Você sente a inospitalidade. Impressionante. Obrigada pela dica. Bjos da Nora