quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Sandices geográficas



Desde a formação da Terra à cerca de quatro bilhões de anos, o planetinha azul já passou milhares de fases que mudaram ou maquiaram suas feições. A Terra, ao contrário de outros planetas como Marte, por exemplo, é um ser vivo, está em constante movimento, seus mares e continentes tanto se movem em curto prazo como ao longo das eras geológicas. As montanhas nascem, crescem e sua tendência, ao longo da vida, é serem desgastadas pelas chuvas, neve, vento e mudanças de temperatura. Da mesma forma, mares e oceanos (são considerados mares aquelas grandes extensões de água salgada confinadas ou quase, dentro de continentes – mar Aral, mar Morto, mar Vermelho etc – e oceanos em geral contém continentes), também nascem e têm vida que podem durar milhões, ou poucos milhares de anos, dependem de muitos fatores climáticos para se manterem ou não.
E, claro, todos os demais acidentes tanto da superfície do Planeta quanto do fundo dos oceanos e até das profundezas como o manto, estão em constantes mutações, às vezes perceptíveis por pessoas comuns como nós, as vezes só podendo ser percebidas por instrumentos construídos especialmente para esse fim.
Dada a importância de entendermos como funciona nosso pequeno planeta, o terceiro a partir do Sol, foi criada uma matéria, geografia, que se preocupa com esse estudo. Essa matéria, a qual a gente toma conhecimento desde a escola fundamental, depois se multiplica por várias outras, orografia, hidrografia, mineralogia, gemologia, geologia, vulcanologia e muitas outras cuja finalidade é a mesma: conhecer tudo que se relaciona com a parte física do Planeta.
Então, nasceu a Terra, e por algum motivo ainda não explicado, já que outros planetas não apresentam o mesmo jeitão, ela é constituída de várias camadas por assim dizer. Bem lá no meio da esfera (esfera perfeita não, o nome correto é esferóide ablato que, em linguagem de gente, quer dizer uma esfera ligeiramente achatada) existe uma bolota de ferro e níquel que é o núcleo, o qual tem uma parte interna fixa e uma espécie de casca de matéria fundida que fica rodando; depois temos o manto que também é de matéria fundida e tem grande importância por que é do manto que saem as lavas dos vulcões, o magma, o manto tem 2900 quilômetros de espessura; por último, a crosta que é bem fininha, entre 30 e 40 quilômetros, e é onde vivemos e de onde tiramos nosso sustento, daí sua importância.
Bem, a pergunta que se pode fazer a respeito é: como sabemos a constituição do interior do Planeta se ninguém jamais foi até lá, a não ser na ficção “Viagem ao centro da Terra” de Julio Verne? Pois é, eu desconfio que existe algum chute por aí, mas os cientistas dizem que: Os estudos sobre as camadas geológicas da Terra são fundados a partir de perfurações da crosta terrestre, e por auxílio das ondas sísmicas (são ondas que se propagam através das partículas dos elementos sólidos e líquidos que se encontram no interior terrestre), as quais auxiliam no descobrimento das características internas de nosso planeta, além disso, os vulcões expelem material que prova a constituição do manto, o resto fica no campo das deduções e conjeturas.
A forma arredondada do planeta se deve à gravidade, essa força atua sobre toda a superfície igualmente de forma que a esfera é a forma geométrica que melhor distribui a massa que está sob o efeito da gravidade. E o achatamento se deve a gravidade do sol e da lua que “puxam” a massa terrestre nos trópicos e pela força centrífuga gerada pela rotação, que tenta expelir a massa na região do equador onde o momento angular é maior. Como este texto tem o nome de sandices, se não for exatamente isso, passa a ser a partir de agora.
Bem, agora vamos a coisas mais comezinhas. O que a orografia nos diz sobre a formação das montanhas? Colisões de placas tectônicas acabam “enrugando “ a superfície dos continentes. Placas tectônicas são imensos blocos da crosta sólida que estão menos ou mais encaixadas umas nas outras e flutuando sobre o manto líquido. Como bolinhos numa frigideira, é de se esperar que essas placas se movam, e elas não só o fazem o tempo todo, com tendem a entrar umas por baixo das outras. As chamadas placas oceânicas – porque formam o fundo dos oceanos – por estarem mais baixas que as continentais, estão se colocando por baixo destas, de forma que as elevam em alguns lugares. A cordilheira dos Andes é um exemplo maiúsculo desse fenômeno, ainda está crescendo porque a placa do oceano Pacífico empurra a placa Americana do Sul para cima. A velocidade que estas placas se movem é a metade do crescimento de uma unha humana, segundo os geólogos.
Outra pergunta que nós leigos às vezes formulamos é: por que os oceanos são salgados? Aí a resposta é menos chutada. As águas dos rios carregam íons de cloro e de sódio. Esses íons se soltam das rochas e do solo pela chuva e rolam para os leitos dos rios e se unem formando o cloreto de sódio, o sal de cozinha, que é levado junto com a água dos rios até o mar. Bom, aí como o sal não evapora com a água, toda essa substância carregada pelos rios do planeta vai se acumulando nos mares. A repetição desse processo ao longo de centenas de milhões de anos de formação da Terra aumentou a concentração do cloreto de sódio nos oceanos, tornando-os salgados como são hoje em dia. O Mar Morto no Oriente Médio é muito mais salgado, porque só é alimentado pelo rio Jordão cujo fluxo não compensa a enorme evaporação daquela região. Resultado, o Mar Morto está desaparecendo e se tornando mais salgado com o tempo. Ou seja, menos água e mais sal, coisa de louco!
Como não quero me alongar, vou só lembrar que todas as rochas do Planeta são só de três tipos de acordo com suas formações: ígneas, formadas pelo calor do manto, metamórficas, constituídas de outras rochas que se modificaram por ações físicas e/ou químicas; e sedimentares, geralmente formadas nos fundos de lagos por depósitos carregados
pelas chuvas. No mais, outras sandices ficam para textos futuros. JAIR, Floripa, 29/0/12.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Sandices históricas

Até mais ou menos dez mil anos atrás, os homens andavam por aí nas suas aldeias ou caminhando em busca alimento, construindo habitações rústicas instrumentos de pedra, osso ou madeira, mas não faziam história. Como assim, não faziam história? Pois é, os paleontologistas e outros estudiosos interessados naquele período da nossa existência convencionaram chamar de história da humanidade apenas o que tivesse registro escrito, isto é, tudo que aconteceu antes da adoção das letras pelas civilizações passou a se chamar pré-história. Atitude que visa separar, segundo eles, para efeito didático, períodos distintos de nossa vida sobre este planetinha azul, mas que, a meu ver, tem um viés de preconceito, tipo assim: nós somos melhores que vocês, nós sabemos escrever, vocês não.
De qualquer forma, mesmo que não escrevessem livros e tampouco conhecessem quaisquer tipos de letras, os homens primitivos, que nessa altura já ocupavam quase todos os lugares habitáveis do Planeta, costumavam registrar alguns feitos e costumes nas paredes de suas casas. Bem, não se sabe em que outros lugares eles desenharam seus feitos, porque só restou mesmo desenhos em cavernas, as quais eles ocupavam porque eram casas prontas, não havia necessidade de erigir paredes. Talvez o que mais lhes fizesse falta eram banheiros, lixeiras e despensas, eles faziam as necessidades no chão onde colocavam alimentos e jogavam lixo, nada muito diferente do que se vê ainda hoje em alguns lugares de populações pobres.
Contudo, esse hábito não muito saudável de não jogar lixo no lixo, facilita o estudo dessas populações, pois os cientistas se valem dos vestígios de alimentos e cocô (cocô fossilizado chama-se coprólito e é um instrumento muito interessante no estudo da alimentação não só de homens, mas também de animais extintos, até dinossauros) para deduzir seus hábitos e costumes. Existe até uma matéria que os paleontólogos estudam na faculdade, chamada coprolitologia que, traduzindo em miúdos, é o estudo de merda fossilizada. Haja imaginação!
Escrevi em outro texto: “Se há uma característica universal que define o ser humano é a produção de lixo. As pessoas sempre deixaram e deixam restos espalhados por onde passam, lixo é uma marca da civilização. Vemos a prova disso em todas as partes, nas ruas das cidades, nos rios e oceanos e nos depósitos apropriados, os chamados lixões. Existe até um estudo, “lixologia”, que consiste em xeretar os restos de pessoas célebres para descobrir detalhes de suas vidas. Nossos museus exibem objetos salvos dos restos de outras épocas: moedas celtas, cerâmicas egípcias e marajoaras, porcelanas chinesas, tecidos astecas e incas, objetos de culto maias, armas e instrumentos de uso domésticos diversos. A lista é interminável, e as peças contam a mesma história genérica: os humanos fazem objetos, usam-nos e depois os descartam, jogando-os fora como coisas imprestáveis, ou ocasionalmente ofertando-os numa cerimônia fúnebre, como os sepultamentos de pessoas importantes, sepultamentos os quais os egípcios praticaram em grande escala”.
Pois então, nossos ancestrais analfabetos deixaram registros numerosos e consistentes de sua passagem por aqui, mas os historiadores estão mesmo interessados no registro escrito, então ficamos na história. Têm-se como certo que primeiras grafias que representavam números, transações e nomes apareceram no com os sumérios, a chamada escrita cuneiforme porque eles se valiam de sinais em forma de cunha. Bem, não interessa como eles escreviam e sim o quê fizeram questão de deixar registrado nas suas placas de barro. E para aqueles que imaginam que o escriba sumério estava preocupado em “colocar no papel”, grandes feitos que enaltecessem seu povo e sua civilização, é a maior decepção. Os sumérios registraram suas transações comerciais tipo assim: o fulano trocou dois bodes gordos que havia criado por um saco de trigo. Ou, vendi uma ânfora de azeite para sicrano e ele ficou devendo dois dinares. Por conseguinte, nada homérico, nada faustoso, só registros contábeis comezinhos, algo assim como deixarmos registros de nossas compras em supermercado e, daqui a quinhentos mil anos, um arqueólogo encontrar o caderninho e fazer suas suposições. Não vamos ficar ofendidos se ele nos achar primitivos e destituídos de elã histórico. A vida segue como deve e os historiadores correm atrás.
Outro povo “escritor” antigo foram os egípcios, deixaram escritas abundantes em pedra, por isso é possível estudar muito de seus hábitos e costumes com alguma acurácia. Não só isso, eles possuíam duas escritas: hieróglifos, em cuja redação entravam figuras que representavam palavras e situações; e escrita demótica – uma versão popular mais simplificada da antiga língua egípcia. Essa duplicidade de escritas facilitou muito a compreensão de sua história quando engenheiros napoleônicos encontraram uma pedra na localidade de Roseta escrita em hieróglifos, demótico e grego antigo. O achado foi uma mão na roda. A partir da decodificação da pedra de Roseta a história do Egito antigo tornou-se transparente, e houve como deduzir suas relações políticas e de negócios com outros povos. Que fique registrado neste texto: os egípcios antigos eram meio arrogantes e só colocavam nos seus “livros” de pedra coisas relacionadas aos Faraós, à nobreza e à classe dominante. Alguma semelhança com a história do Patropi?
Daí, na Ásia e Europa ocupadas pelos Homo sapiens eles começaram a fazer história, registraram muitos fatos e até começaram com primeiros escritos ficcionais, principalmente depois de 1439 quando Gutenberg construiu a primeira máquina impressora que usava tipos móveis, bem mais fáceis de manipular e imprimir. Aliado ao fato que o papel, que antes só era produzido a partir de restos de tecido e de roupas velhas (esse papel primitivo devia ter odor de roupas sujas, pois ninguém lava vestimentas que vai descartar, aliás, naquele tempo não era costume nem lavar as roupas cotidianas. Sabão era artigo de luxo e costumava-se usar a mesma roupa até tornar-se inservível), agora havia possibilidade de fabricá-lo de fibras de madeira o que o tornava mais barato. Embora essa descoberta tenha, de certa forma, decretado a extinção das florestas da Europa e depois do resto do mundo. Fico feliz em estar escrevendo neste teclado e não publicar minhas “mal traçadas” em papel. Não podemos perder todas, não é mesmo? JAIR, Floripa, 28/01/12.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Sandices nucleares

Logo no início dos anos cinquenta, quando a Europa ainda lambia as feridas da grande guerra e o mundo estava se conformando à nova geopolítica que dividia o Planeta em campos opostos, antagônicos e não miscíveis: os de lá, atrás da chamada Cortina de Ferro, eram os comunistas, contrários à civilização ocidental e em reconhecer que existiam direitos humanos; os de cá, nós, capitalistas empedernidos, queríamos um mundo livre onde todos tivessem direito as suas opiniões, natural que a coisa degringolasse para um arreganhar de dentes entre eles e nós, nascia a chamada guerra fria.
Guerra fria queria dizer guerra de palavras, ideias, posições políticas, zonas de influência e ameaças. Mas, como ambos os lados possuíam armamento nuclear, as rusgas podiam descambar para confronto real e a guerra poderia se tornar quente, na verdade muito quente, uma explosão atômica gera calor de intensidade maior que o sol.
Só que, tanto os EUA como a URSS tinham que mostrar um ao outro suas capacidades de intimidação, a chamada persuasão pela força. Então, ambos fabricaram milhares de bombas, ogivas acopladas a mísseis que carregavam as tais bombas, uma verdadeira loucura. Não só isso, as demonstrações também ocupavam oceanos com submarinos carregando mísseis altamente destrutivos e aeronaves portando até quatro bombas de hidrogênio prontas a serem soltas sobre o território inimigo, era o chamado bombardeio estratégico. Os soviéticos usavam para esse fim o Tupolev TU-95, uma aeronave turboélice de quatro turbinas e oito hélices contra-rotativas, uma verdadeira traquitana voadora; já a USAF utilizava o B-52, aeronave ainda em uso até hoje, o qual tem oito motores a jato e é considerado pelos entendidos o bombardeiro mais bem sucedido de todos os tempos.
Então, os ares ficaram povoados de B-52 e TU-95 carregados de bombas e se ameaçando jogar esses artefatos no país do outro. Como um meio de manter a capacidade de atacar primeiro durante a guerra fria, bombardeiros norte-americanos e soviéticos carregados com armas nucleares cercaram a terra incessantemente ao longo de décadas, durante 24 horas por dia, uma verdadeira insanidade. E o mundo assistindo com maior ou menor grau de apreensão dependendo da altura da voz de cada oponente. Dessa época só nos restam lembranças, mas foi quando o Planeta mais se viu perto da extinção da belicosa raça humana.
Pelo fato de muitos aviões e submarinos patrulharem diuturnamente águas e ares era de se esperar que algum acidente viesse a ocorrer. Não deu outra, no dia 17 de janeiro de 1966, sobre a costa mediterrânea da Espanha, num local chamado Palomares, um B-52 e um avião tanque KC-135 que o abastecia, colidiram e ambos caíram. Das quatro bombas de hidrogênio (ver meu texto “A bomba do fim do mundo”) de setenta quilotons (a bomba lançada sobre Hiroxima tinha vinte quilotons) carregadas pelo B-52, três caíram em terra e uma no mar. Não foi o primeiro acidente ou o último envolvendo bombas de destruição em massa americanas, mas, neste caso, a repercussão foi enorme porque se tratava de um país que, teoricamente, não estava envolvido na disputa entre as duas potências.
O B-52 estava retornando para sua base na Carolina do Norte na sequência de uma missão de rotina ao longo da rota sul, quando tentou reabastecer com um KC-135, avião tanque destinado a esse fim. O B-52 colidiu com a mangueira de abastecimento do avião tanque, arrancando-a e inflamando o combustível. O KC-135 explodiu, matando todos os quatro tripulantes, mas quatro membros de uma tripulação de sete do B-52 conseguiram saltar de pára-quedas. Nenhuma das bombas estava armada, mas o material explosivo (explosivo convencional destinado a destruição da bomba em caso de algo sair errado) em duas das bombas que caíram em terra explodiu com o impacto, formando crateras e espalhando plutônio radioativo sobre os campos de Palomares. Uma terceira bomba aterrou no leito seco do rio e foi recuperada relativamente intacta. A quarta bomba caiu no mar em um local desconhecido. Foi uma lambança da melhor qualidade.
Palomares é uma peque e remota comunidade agrícola que se viu invadida por cerca de dois mil militares norte-americanos e guardas civis espanhóis que se apressaram a limpar os detritos do acidente e descontaminar a área atingida pelas explosões. O pessoal dos EUA tomou precauções para evitar a superexposição à radiação, mas os trabalhadores espanhóis, que viviam em um país que não tinha experiência com a tecnologia nuclear, não o fizeram. Calcula-se que cerca de mil e quatrocentas toneladas de solo radioativo e vegetação foram raspadas do terreno e enviadas para os Estados Unidos para eliminação.
Enquanto isso, no mar, 33 navios da Marinha dos EUA estavam envolvidos na busca da bomba de hidrogênio perdida. Usando um computador da IBM, os especialistas tentaram calcular onde a bomba poderia ter afundado, mas a área de impacto ainda era muito grande para uma busca eficaz. Finalmente, uma testemunha ocular, um pescador espanhol, levou os investigadores para uma área de uma milha quadrada onde ele vira a bomba cair. Em 15 de março, um submarino localizou a bomba, e em 7 de abril esta foi recuperada. O invólucro do artefato estava amassado, mas intacto, menos mal.
Foram feitos estudos a respeito dos efeitos do acidente nuclear sobre o povo de Palomares, os EUA instalaram uma comissão no local que recebeu cerca de quinhentas reclamações de moradores, cuja saúde fora afetada pelo acidente. Como o acidente aconteceu em um país estrangeiro, ele recebeu uma publicidade muito maior do que uma dúzia de falhas semelhantes que supostamente ocorreram dentro das fronteiras americanas. Como medida de segurança, as autoridades americanas deixaram de anunciar acidentes com armas nucleares, e alguns cidadãos norte-americanos podem ter inadvertidamente sido expostos à radiação que resultou de acidentes não divulgados. Segundo os teóricos da conspiração, hoje duas bombas de hidrogênio e um simulacro com núcleo de urânio estão extraviados em locais ainda indeterminados na Geórgia, em Washington, e num pântano perto de Goldsboro, na Carolina do Norte.
Acabou a guerra fria, mas seus efeitos malignos ainda podem fazer vítimas até hoje. JAIR, Floripa, 21/02/12.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Sandices vernaculares

Continuando com minha saga de destrambelhos e necedades que batizei de sandices, hoje vou fazer um passeio desconchavado e sem noção pela língua pátria, beliscando aqui e ali suas nuances e bizarrices. Lá no primeiro ano de escola, quando pela primeira vez enfrentávamos a professora que nos ia tirar do obscurantismo analfabético que deprime e acabrunha, tomávamos contato com tal língua portuguesa. Idioma que nos foi legado pelos “descobridores” colonizadores portugueses e o qual nós demos uns toques especiais de modo a torná-lo menos “duro” e engessado. Nossa língua pátria, o velho e bom português, sofreu aqui nos trópicos, emendas, remendos, adições, supressões, flexões, empurrões e avanços os quais o deixaram com uma cara mais brasileira e menos lusitana, ficou mais ágil também. Mas é e continua sendo a língua alcunhada pelo poeta de última flor do Lácio. Não adianta vir com conversinha afirmando que lá nas Ibérias eles falam um idioma e aqui neste Novo Mundo costumamos nos comunicar em outro. Léria.
O bisonho aluno de primeiras letras usava uma cartilha que, como primeiro ensinamento, apresentava as cinco vogais e, em seguida, o abecedário que o novel era obrigado a decorar. Feito isso, lá vinha a formação das primeiras sílabas: ba, be, bi, bo, bu. Em seguida: ca, ce, ci, co... e parava aí, “cu” era tabu, não podia ser pronunciado nas pasteurizadas salas de aulas daqueles tempos. Ô tempinho pudico!
Depois que a dedicada professora (no meu caso era dona Nair Scheröder), com paciência infinita, incutia, através dos olhos e ouvidos, no fundo das cabeças duras de seus alunos todas as sílabas, passava à formação de vocábulos, os primeiros eram os nomes, naqueles tempos chamados compulsoriamente de substantivos. Vinha uma ladainha chata e cansativa de: próprios e comuns, simples e compostos, primitivos e derivados, reais e fictícios etc. Haja decoreba! Tratava-se de decorar – repetir dezenas de vezes até conseguir reproduzir o texto - como letra de música, tudo que era necessário para alfabetizar-se. Hoje esse jeito de ensinar as primeiras letras é muito criticado pelos neo-sábios, mas o método Kumon faz exatamente isso e alcança resultados surpreendentes, então é caso de se rever se decoreba tem ou não valor. Aliás, já li uma notícia que no Reino Unido está sendo reimplantada a decoreba porque um estudo sério provou que é producente, talvez o “seu” Kumon já soubesse disso quando desenvolveu seu método. De qualquer forma, com ou sem decoreba, não lembro que algum aluno do primeiro ano d’antanho tenha deixado de se alfabetizar. Hoje com toda essa modernidade há relatos que alunos chegam ao quarto ano fundamental sem saber ler e escrever. É incrível, mas a verdade verdadeira é que o ensino deve ter dado alguns retro passos nesse ínterim. Lamentável sob todos os aspectos.
Pois bem, incorporados ao acervo mental os substantivos, tínhamos posto o pé no primeiro degrau de uma escada de dez degraus. O passo seguinte era conhecer os adjetivos, segunda classe gramatical das palavras. São dez as classes: substantivos, adjetivos, verbos, advérbios, pronomes, artigos, preposições, conjunções, numerais e interjeições. E elas eram introduzidas nas mentes quase virgens numa sequência indolor e passiva, dificilmente havia rejeição a esses implantes.
Tão logo as palavras eram compreendidas, afloravam à mente significados! Sinceramente? Era uma espécie de eureca que abria uma portinhola para o mundo, o idioma tornava-se a chave mestra dos mistérios da escrita, que coisa maravilhosa! Então, já sabendo ler, o néscio da véspera (meu caso) adentrava aquele universo da palavra escrita e se atolava em textos muitas vezes enigmáticos (a falta de vocabulário é que os tornava misteriosos), mas extremamente atrativos quase sempre.
A passagem por todas as classes gramaticais habilitava ao aluno “saber ler e escrever”, ou seja, deixava de compor número nas estatísticas de analfabetismo do Ministério da Cultura. Mas isso não significava que seu futuro vernacular e literário estava garantido, para isso precisa de um estímulo que o fizesse pegar gosto pela leitura. Quem teve esse empurrão e gostou, garanto que vê a língua portuguesa com bons olhos e se vale dela para adquirir mais conhecimento. O idioma não é jurado que culpa, juiz que condena nem verdugo que executa, o idioma é luz que alumia caminhos que de outra forma jamais seriam encontrados e trilhados. A língua, tal como a lanterna de Diógenes, é uma ferramenta que permite encontrar a saída do túnel da ignorância por mais oculta que esteja.
O aprendizado do idioma permitia, então, que se fizesse incursões em todas as áreas do saber, contudo, não só isso, o domínio da leitura leva a atitudes críticas que permitem entender as entrelinhas e as mensagens subliminares, o alfabetizado que preza os livros torna-se um agente ativo da cidadania consciente.
Depois que se ascende a níveis médios de ensino, o aprendizado da língua ao invés de diminuir, se intensifica. Agora surgem das tenebrosas sombras gramaticais as famigeradas figuras de linguagem que parecem um desfile de horrores para os pouco iniciados: Aliteração, assonância, paranomásia, elipse, zeugma; polissíndeto, silepse, anacoluto, pleonasmo, anáfora, antítese, ironia, eufemismo, hipérbole, apóstrofe, metáfora, metonímia, catacrese, perífrase, sinestesia, barbarismo, solecismo, ambigüidade, cacófato e outras bizarrices mais. Quanto mais se estuda mais se encontra abscessos, vieses, exclusões, aberrações e convoluções escusas que nos atacam a cada esquina que se dobra, é um perigo.
Aforante as armadilhas vernaculares que sempre estarão à espera de qualquer de nós que se aventure pelas leituras, mas, principalmente pela escrita, o idioma português é riquíssimo, versátil e fascinante. Quem já não se comoveu ao ler texto bem escrito de autor famoso? Sem contar que um razoável domínio do vernáculo facilita a compreensão das demais matérias sejam correlatas ao idioma ou não, até a matemática, que não é uma aparentada do português, torna-se de mais fácil entendimento.
A pontuação, concordância, acentuação, ortografia, semântica e todos os macetes que aprendemos nas escolas, só se consolidam e passam a fazer parte de nosso cabedal, se os usarmos, isto é, se nos habituarmos a ler e escrever. E, claro, não custa lembrar que Fernando Sabino dizia: “Só se aprende escrever, escrevendo”. É isso aí. JAIR, Floripa, 27/01/12.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O Mocinho

NOTA: Faço uma interrupção na série “Sandices”, para homenagear Celso Alves do Santos, colega de infância que foi assassinado há exatos quarenta anos.
Corria a alta década de cinquenta já mais próxima dos anos sessenta. Na velha cidade de Palmeira éramos jovens ingênuos, saudáveis e buliçosos que cursávamos o ginasial e, nos domingos, o programa obrigatório era assistir filmes no Cine Teatro Municipal, único cinema da cidade. Aos domingos a seção recomendada para crianças e adolescentes iniciava às treze horas, e por motivo que desconheço era chamada de “matinée”, se pronunciava matinê e contrariava o vernáculo francês porque matinée é algo que deve acontecer de manhã e não a tarde como ocorria na “Cidade Clima”.
Como vetor cultural o advento do Cinema tornou-se veículo inestimável. Os habitantes da cidade que já tinham visto filmes eram poucos, então não havia “massa crítica” suficiente para contrapor opiniões, declarar preferências, discutir o trabalho deste ou daquele ator, apaixonar-se por esta ou aquela atriz. O cinema, formador de opinião como se diria hoje, assegurava para os cidadãos de Palmeira a inserção no mundo oliudiano. Gary Cooper, James Stewart, Rock Hudson, Clark Gable e outros bonitões faziam os corações das moçoilas do velho burgo baterem em compasso acelerado. Já as preferências da piazada recaíam nas bem fornidas, Libertad Lamarque, Vivian Leigth, Zaza Gabor e Elisabeth Taylor, quando se tratava das divas. Quanto aos atores, as preferências se dirigiam àqueles que faziam papel de “mocinho” nos faroestes. Eu, particularmente, gostava mesmo era da Ingrid Bergman, o nariz dela era espetacular. Pois bem, a seção de matinê era extremamente concorrida pela moçada, porque representava o mais das vezes a única oportunidade da garotada ver seus ídolos que apareciam nas revistas em quadrinho, que eram a coqueluche daqueles tempos.
Revistas em quadrinhos, guardadas as diferenças, eram nossas janelas abertas ao mundo fascinante dos heróis do velho oeste, heróis que perseguiam e trocavam tiros com bandidos perversos que roubavam diligências e atacavam mocinhas ingênuas e vulneráveis. Não é exagero dizer que todos os garotos daquela época liam e cultuavam as revistas que eram conhecidas como Gibis e agora são chamadas de HQs. Mas, se todos gostavam, existia um dos adolescentes que gostava mais que todos, o Celso. Ele, Celso, por ser alto e magro era conhecido como Celso “Vareta”, e literalmente adorava gibis de bandido e mocinho, tinha centenas dessas revistas, em perfeitas condições guardadas em baú na sua casa.
Celso costumava trocar seus gibis já lidos por outros que não havia lido, para isso, levava um monte deles para a matinê e na frente do prédio do cinema fazia seus escambos. Por suas revistas sempre muito novas só aceitava outras também em ótimas condições, não havia choro. Dado que suas HQs eram cobiçadas, os outros gibizeiros tomavam cuidado para não amassar ou danificar seus Gibis para poderem trocar com Celso aos domingos.
Pois bem, todos nós os adolescentes fomos crescendo e nossos interesses foram naturalmente se modificando, se adaptando, amadurecendo por assim dizer. Menos o Celso. Ele, apesar de já não ser um menino ingênuo, continuou cheio de sonhos de mocinhos e bandidos, continuou dedicando-se cada vez mais aqueles hobbies que envolviam seus gibis, filmes de bang-bang e tudo que se referisse a revólveres, rifles, bandidos, xerifes, cavalgadas nas pradarias e perseguições com tiroteios. Celso sentia-se um “mocinho” em tempo integral, e seus sonhos ultrapassavam as fronteiras virtuais de nossa cidade e voavam nas lonjuras do velho oeste. Sua vida sempre coerente com esse sonho.
Tão homem da lei sentia-se Celso, que ao se tornar adulto fez teste para polícia militar sendo admitido com a maior nota de sua turma. Formou-se soldado e foi designado para trabalhar em Palmeira. Era um militar exemplar orgulhoso da farda e meticuloso no trabalho, levava a sério suas funções e se comportava como xerife que sempre quisera ser. Respeitado pela população e provavelmente temido por quem não andasse na linha, Celso estava feliz. Por alguns anos atuou com competência fazendo diligências e uma ou outra prisão de malfeitores, Palmeira nunca foi reduto de grandes bandidos, de facínoras periculosos, de forma que os pequenos meliantes eram os únicos que Celso, juntamente com seus companheiros, vez ou outra capturava.
Tudo levado em conta, o “mocinho” Celso Vareta tornara-se o baluarte fardado, perigoso e presente para todo criminoso ou potencial meliante que por Palmeira aparecesse, a cidade estava devidamente protegida com a presença dele em armas e pronto para usá-las. Corria o ano de 1972 e Celso encontra-se em casa de férias junto a sua esposa.
Mas, uma sequência de eventos impensável para aquela região acabou tirando o sossego da cidade e a vida do querido Bat Masterson tupiniquim. Aconteceu um roubo com violência numa localidade vizinha, Queimadas, perpetrado por dois perigosos bandidos oriundos de Curitiba. Bandidos com longas fichas criminais – depois se soube – que atiraram e feriram inocentes e fugiram em direção às matas circundantes a Palmeira. A minguada força policial da cidade, composta apenas de um cabo e três soldados, desacostumada a lidar com casos dessa natureza se viu meio encurralada e incapaz, de modo que pediu para que Celso, juntamente com o soldado Padilha, fosse atender a ocorrência.
Celso, empolgado com possibilidade de prender os facinorosos assaltantes precisou de poucos minutos para fardar-se, municiar seu revólver 38, alojar mais munição e algemas no cinto do uniforme e apresentar-se na delegacia onde já o esperava a viatura com o outro policial igualmente pronto para o enfrentamento se este houvesse. Era 20 de fevereiro de 1972, dia quente de formoso céu azul com algumas nuvens. Nosso Wyatt Earp, consciente do momento histórico de sua vida, assumira responsabilidade de abordar os bandidos sob qualquer circunstância. Falta de coragem não era uma qualidade que lhe podia ser atribuída. Sentia-se como em direção ao OK Currall para enfrentar os assaltantes, nada lhe impediria de se sair bem, esse era o momento que havia esperado por toda a vida.
Ao chegaram ao local onde por informações sabiam estar os bandidos homiziados, Celso se adiantou vagarosamente, revólver em punho, e negaceando, colocou-se em posição onde avistava os procurados e deu-lhes voz de prisão. Os dois meliantes voltaram-se para ele com armas em punho e dispararam incontinenti, Celso respondeu aos tiros com presteza e resolução, mas não era seu dia de sorte, quatro balaços mortais lhe atingiram órgãos vitais e caiu já morto na relva verde. Padilha ainda tentou enfrentar os bandidos, mas estes adentraram correndo a mata e sumiram.
Assim, um herói de nossa cidade caiu em cumprimento do dever e em condições que ele sempre buscara, enfrentando bandidos armados e desalmados. Foi-se o Celso Alves dos Santos, o “xerife” Vareta, e seu enterro foi um dos mais concorridos do burgo, mais de duas mil pessoas. Lamentável que Palmeira, de memória curta, até hoje não nomeou rua com seu nome. JAIR, Floripa, 16/02/12.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Sandices vitais



O Homo sapiens desde que pisou no Planeta sentiu necessidade de encontrar explicações para as coisas, sua bisbilhotice é atávica. Sempre atento a tudo que o cerca, com imensa curiosidade que todo animal parece ter, tenta compreender como as coisas funcionam, como se originaram, qual seu lugar na ordem da natureza, que tipo de utilidade podem ter, se os fenômenos existem independentes uns dos outros ou se estão ligados de alguma maneira. Esse questionamento agudo o levou às descobertas, invenções e procedimentos que tornaram a civilização possível e o nascimento das ciências um imperativo categórico. As perguntas não respondidas conduziram às religiões e ao misticismo em caráter menos ou mais provisório dependendo da capacidade da ciência de encontrar as respostas na medida em que evolui. Mais perguntas respondidas correspondem à luz que implode o obscurantismo das superstições. Contudo, ainda que o conhecimento tenha conduzido a humanidade à senda clara de respostas que iluminam, existe uma pergunta por enquanto irrespondível: o que é a vida? Essa indagação permite conjeturas e especulações filosóficas (Cogito, ergo sum, como cogitou Descartes provavelmente com seus botões), místicas, religiosas, metafísicas e fisiológicas, e é sob essa ótica que faço minhas observações.
Afinal, qual a diferença fundamental entre um ser vivo e um aparentemente desprovido de vida ativa como uma pedra, por exemplo? Será que presença ou ausência de movimento presumem vida e não-vida? A faculdade de replicação é suficiente para definirmos quem está vivo e quem não está? Aliás, será que pedra é um ser vivo que tem o período vital tão dilatado, na ordem de bilhões de anos talvez, que nem sequer percebemos que ela está viva? As respostas, se é que existem, com toda certeza não são encontráveis ali na esquina, ou seja, a partir de simples observação das coisas que nos cercam, o que vemos é apenas constatação que existem seres de uma e de outra natureza, não como e porque eles são o que são. A diferença não reside seguramente nos átomos que os constituem.
Não existe qualquer diferença entre os átomos de carbono de nossos corpos e os da ponta do lápis com o qual escrevemos, ou os do diamante que vemos na joalheria; ou entre o ferro que existe em nossas células e o ferro da panela na qual cozinhamos; ou entre o oxigênio de nosso organismo e o da água que nos banhamos, e assim por diante, em qualquer relação com o material de seres vivos e não vivos. Os blocos constituintes básicos – como tijolos de uma construção - de todos os agregados materiais, tanto vivos como não, pensantes ou não, replicantes ou não, são exatamente os mesmos: átomos. Então não é por aí, não existem átomos vivos e átomos inanimados. O que será então que provoca a diferença? A eureca parece ser as combinações entre os átomos: moléculas de arranjos extremamente mais complexos entre os seres vivos e de complexidade menos acentuada entre os não vivos. Só que essa suposição não se sustenta, falta algo: Um rato vivo e um morto tem as mesmas combinações atômicas e moleculares e, no entanto, não são a mesma coisa, a um deles falta vida. Então, como ficamos? Ficamos a ver a navios, para usar uma frase surrada na falta de outra melhor.
Na verdade, essa falha fundamental da ciência, essa fenda indiscreta na couraça do monstro científico, é o rasgo por onde entram as “explicações” dos fundamentalistas religiosos, vale dizer, dos criacionistas. Funciona mais ou menos assim: “Viu como vocês não conseguem explicar? Então nós o faremos: tudo foi criado por uma força superior que sempre existiu e existirá”. Eles admitem que um ser superior soprou num andróide de barro e este criou vida, assim, a vida seria algo fora do alcance da ciência e da compreensão humana. E ainda afirmam que a mulher foi confeccionada a partir da costela do primeiro homem. Não dá pra ser mais néscia essa conclusão. Empurrar com a barriga quando não se sabe a resposta é uma característica de ignorantes que se conformam com suas ignorâncias. Assim, as superstições continuam prosperando em pleno século vinte e um, o que é lamentável. A estupidez de encontrar uma explicação para a criação de vida humana e deixar os outros animais de lado, já é motivo suficiente para mostrar os becos sem saída que os criacionistas inventam.
Já alguns cientistas (apenas alguns, porque a maioria não quer arriscar sua carreira num assunto tão sem definição) acham que conhecem o processo de criação da vida. Chutam que a vida surgiu a partir de um grau de organização da matéria primordial que existia. Conjeturam que processos fortuitos, mas inevitáveis, teriam criado uma espécie de “sopa primeva” que os cientistas crêem ter constituído os oceanos cerca de 3,7 bilhões de anos atrás. As substâncias orgânicas concentravam-se localmente, talvez em gotículas em suspensão, ou espuma que secava nas margens dos mares. Sob a influência da energia dos raios ultravioleta do sol, combinavam-se em moléculas maiores e mais complexas. Pode-se perguntar por que isso não ocorre hoje. Moléculas assim seriam rapidamente absorvidas, degradadas ou devoradas por bactérias e outros seres vivos. Entes que só apareceram tardiamente no planeta. Naqueles tempos as grandes moléculas orgânicas podiam boiar livremente no caldo cada vez mais denso sem serem molestadas. Num dado momento formou-se por acidente, uma molécula notável, uma molécula que podia replicar-se, estava criada a vida. Sandices, essas suposições são baseadas em muitos “ses”: se isto, se aquilo.
Pois é, acredito que absolutamente ninguém racional neste planetinha azul, pode jactar-se de saber a definição definitiva do que é vida sob o ponto de vista fisiológico. Tampouco se pode afirmar que a ciência já tenha desvendado parte desse mistério, que já tenha algum “caminho andado” na direção de onde se encontra as tábuas da verdade sobre a vida. Os avanços das ciências biológicas, cada vez mais, acrescentam palavreado técnico cheio de firulas, mais com intuito de mostrar serviço, mas que confundem mais do que esclarecem sobre o que se sabe a respeito do que é vida e como ela se originou. O mistério continua até o próximo capítulo. JAIR, Floripa, 12/02/12.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Sandices mórbidas




Vou repetir: “A morte é o único evento absolutamente inevitável e que alcança a totalidade dos seres vivos, mas nós não temos familiaridade com ela, procuramos certa distância dela como se fôssemos eternos”. Na verdade, a morte nos acompanha desde o momento exato da concepção, iniciamos o processo de moriência quando passamos a viver, e a morte passa, literalmente, a nos acompanhar durante nossa existência. Mas, parece que o Homo sapiens faz questão de viver como se ela não existisse.
Algumas culturas antigas como os egípcios do tempo dos Faraós, queriam “burlar” a morte por meio de rituais e processos de conservação corporal, obviamente sem perceberem que a ceifadeira é irrefragável. O mistério da falência corporal decorrente de doenças, acidentes ou velhice, que resulta na morte, era e é incompreensível para a maioria da humanidade. Esse mistério resultou na criação das religiões. Já que deixávamos de viver na Terra, “tinha” que haver alguma compensação na forma de vida depois da morte, seja em algum lugar edênico onde os bons serão compensados pelas suas ações, ou até num ambiente de punição por imperfeições cometidas em vida. Mais uma vez a ignorância acerca do fenômeno mais natural da existência era usada para criar explicações e soluções.
Contudo, por mais intrigante que fosse, a morte sempre cercou o homem, os primitivos sabiam que para se alimentar de animais precisam matá-los ou encontrá-los mortos; sabiam que os inimigos ou as feras podiam causar-lhes a morte; então, apesar de não compreendê-la e de temê-la mais do que qualquer coisa, os homens conviviam com ela e sabiam que, muitas vezes, era a razão de continuarem vivendo. Uns morriam para outros sobreviverem, uma verdade bem cedo descoberta.
Mais ainda, devido ao modus vivendi humano, que em suas aglomerações uns entravam em conflito com outros por disputa de fontes de alimentos, ou por razões de colisão de interesses vitais, o homem acabou inventando as brigas, rixas, batalhas, recontros e guerras nas quais venciam aqueles que matassem seus oponentes. A morte de outros significava a vida de uns e continuidade de suas comunidades e culturas. A guerra tornou a morte um meio de se chegar a um fim, mas sempre envolta na aura do ignoto.
Veio a civilização e explosão demográfica que tornou todos os cantos do Planeta habitados e a morte continuou ceifando vidas cada vez com mais intensidade, pestes, epidemias e guerras tinham mais material humano para apresentarem serviço, os números de óbitos se contavam aos milhões, enquanto nos primórdios havia sido em centenas ou milhares. A palavra genocídio ganhou dimensão absurdamente grande e trágica na primeira metade da década de quarenta do século passado, por delírios racistas de Hitler.
Mas, na mesma medida que os meios causadores de morte evoluíam a ciência tentava agora reverter o quadro, descobrindo ou inventando modos e medicamentos que adiassem o fim inevitável. Se mais gente morria de acidentes e guerras, mais gente sarava de doenças antes letais, graças aos avanços da ciência em especial a ciência médica.
Ao tempo que se encarava a morte como inevitável mas, em certos casos, passível de ser adiada, sandices foram desenvolvidas em torno da possibilidade de vida eterna, ou algo próximo disso. Essa tal existência perene não se referia, como as religiões apregoavam, a uma vida eterna da alma, mas sim a possibilidade de que o corpo pudesse viver producente por centenas de anos, dentro de certas condições. Por enquanto, besteira pura.
Contudo, especula-se que dado o avanço da cibernética, será possível dentro de uns dois ou três séculos, “casar” mecanismos mecatrônicos com cérebros humanos criando ciborgues virtualmente eternos. Considerando que um sonho louco como esse dependa apenas de desenvolvimentos tecnológicos que já se veem no horizonte e que trezentos anos seja tempo suficiente para se chegar a coisas inimagináveis por enquanto, essa futurologia não é de todo descartável.
Por outro lado, retrocedendo ao tempo dos Faraós que queriam seus corpos conservados para ressuscitarem algum dia, a ciência moderna inventou a criogenia que é a técnica de manter organismos ou partes deles em congelamento sem prazo de validade para ressuscitá-los um dia. Essa técnica já é empregada com sucesso em embriões: óvulos fecundados podem permanecer em congeladores especiais por anos com grandes chances de sobreviver a um descongelamento sob controle num futuro não muito distante – calcula-se que cerca de sessenta por cento deles consegue manter-se em condições de originar um bebê. Por esse motivo, existe muita gente que acredita na possibilidade de seres humanos inteiros possam ser congelados e, num futuro distante descongelados aptos a viverem normalmente. Essa estranha esperança deu azo à criação de uma indústria de criogenia que congela corpos ou cabeças de quem tenha duzentos mil dólares disponíveis e queira apostar essa grana contra a morte. Pelo que se sabe, até o momento mais de cem pessoas colocaram suas fichas nesse jogo de regras incertas e término ignorado.
A técnica é a seguinte: imediatamente após a morte do candidato a vida eterna, os médicos retiram seus fluidos corporais e os substituem por um líquido que não congela, depois o colocam num tanque de nitrogênio líquido mantido a -196 ºC, temperatura em que todo material orgânico não deteriora. É aí que entra a aposta no ignoto. Supõe-se que daqui a uns cinco ou seis séculos, os cientistas descobrirão um jeito de combater a doença que causou a morte do candidato picolé e este será curado, descongelado e viverá normalmente. Futurologia da mais alta qualidade!
Contudo, afirma o físico americano Robert Ettinger um dos maiores divulgadores da criogenia: "Os próprios métodos usados para congelar uma pessoa podem causar danos às células que só poderiam ser reparadas por tecnologias que ainda não existem". Por isso, a criogenia é uma aposta cega contra a morte com toda feição de ser um tiro na água, mas que tem um número de adeptos bem expressivo.
De qualquer forma, a morte não perdeu seu potencial de horror, mistério e porque não dizer de fascínio, ela nos alcançará em algum momento e será sempre mal vinda, não queremos morrer. JAIR, Floripa, 10/02/12.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Sandices geológicas

Tenho notado, quando escrevo textos ou falo sobre temas que beliscam a geologia, que boa parte de meus leitores e ouvintes ignora quase tudo sobre rochas e suas origens. Também estou longe de ser um expert em pedras e afins, porém, de certa forma, tenho curiosidade a respeito do assunto desde que, criança lá no Paraná, colecionava pedras as mais diversas até que minha mãe me deu um ultimato e expulsou minha coleção do quarto onde já não cabia quase mais nada. As pedras se foram, coloquei-as debaixo do assoalho, deixei de colecionar, mas continuei cada vez mais interessado. De modo que sempre que algum livro sobre o tema me cai sob os olhos, leio sem piscar. Em consequência, possuo alguma literatura sobre geologia e pedras preciosas também.
Praticamente todas as rochas encontráveis no Planeta podem ser classificadas em apenas três categorias, e essa classificação obedece à maneira como se formaram. Assim, rochas sedimentares são compostas por sedimentos carregados pela água ou pelo vento, acumulados em áreas mais baixas onde geralmente formam camadas que se solidificam. É comum encontrá-las em locais que já foram fundo de lagos e rios, agora extintos. Correspondem a oitenta por cento da área dos continentes e é nelas que se encontra a maior parte do material fóssil, em geral os animais ou vegetais que se fossilizaram estão impressos entre as camadas das sedimentares como entre páginas de um livro. Existem muitas rochas sedimentares, mas algumas são mais conhecidas como: arenito, calcário e dolomita. Um exemplo magnífico de rocha sedimentar são as formações de arenito em Vila Velha no Paraná, próximo a Ponta Grossa. Os monumentos geológicos encontrados em Vila Velha são constituídos por rochas de arenito, chamado Arenito Vila Velha, formado pela compactação e endurecimento de camadas sucessivas de areia há mais de 300 milhões de anos e pertence à unidade geológica denominada Grupo Itararé que vai desde o oeste do Rio Grande do Sul até Itararé em São Paulo. Mas as maiores formações de arenito do Planeta se situam na Austrália, O Uluru é um monólito de arenito, tem 338 metros de altura, três quilômetros de extensão e, segundo os geólogos, mais dois mil e quinhentos metros sob a terra, o que o torna o segundo monólito do planeta em tamanho, o primeiro chama-se Monte Augustus, e também se situa na Austrália.
Já, rochas metamórficas são aquelas formadas por transformações físicas ou químicas sofridas por outras rochas, quando submetidas ao calor e à pressão do interior da Terra, num processo denominado metamorfismo. As rochas metamórficas são o produto da transformação de qualquer tipo de rocha levada a um ambiente onde as condições físicas (pressão e temperatura) são muito distintas daquelas onde a rocha se formou. São exemplos de rochas metamórficas: mármore, pedra sabão, e xisto. O xisto betuminoso explorado pela Petrobrás em São Mateus do Sul no Paraná é um bom exemplo do potencial econômico existente nessa rocha. Há estudos afirmando que o xisto betuminoso não explorado existente no Planeta, pode representar fontes de combustíveis fósseis muito maiores que todas as reservas conhecidas de petróleo. Enquanto o mármore, desde a antiguidade foi aproveitado para confecção de construções e estátuas, sua beleza, dureza e propriedades mecânicas, recomendam sua utilização como estruturas e adornos duráveis e altamente decorativos. Os gregos e romanos antigos construíram a maioria de seus monumentos de mármore. O mármore de Carrara - comuna italiana da região da Toscana - é famoso desde a Roma Antiga, quando foi utilizado para construir o Panteão. Muitas esculturas do renascimento, como por exemplo, David de Michelangelo também foram esculpidas com esse mármore que é de uma beleza ímpar. Aliás, sabemos muito sobre as culturas antigas como a egípcia, por exemplo, porque elas foram erigidas em mármore, se o fossem em madeira provavelmente estaríamos a ver navios. No Brasil, o mármore é abundante no Espírito Santo e representa a maior fonte de exportação de pedras ornamentais do país. Curioso é que num mesmo afloramento de mármore são encontradas as mais variadas cores, granulações e desenhos, de forma que o mineiro cortador da pedra pode deparar-se com uma surpresa ao dinamitar a jazida.


O último grupo constitui as rochas ígneas, rochas magmáticas ou rochas eruptivas. A formação das rochas ígneas vem do resultado da consolidação devida ao resfriamento do magma derretido ou parcialmente derretido. Não é surpresa, portanto, que as ígneas sejam rochas associadas às erupções vulcânicas, sejam estas recentes ou se percam na poeira dos éons. O magma pode ser obtido a partir do derretimento parcial de rochas pré-existentes no manto ou na crosta terrestre, ou seja, as rochas ígneas são forjadas pelo calor interno do Planeta, a partir de outras rochas. As rochas ígneas mais conhecidas são: granito, basalto e obsidiana. Neste país talvez não exista exemplo mais emblemático, cujo potencial turístico reflete em todos os cantos do Planeta, do que o Pão-de-açúcar. O Pão-de-Açúcar no Rio de Janeiro é um exemplo típico de monólito de rocha ígnea, neste caso, um bloco único de granito rosa. Também a maioria das ruas calçadas com pedra no Brasil, o é com granito - como acontece aqui em Floripa onde granito é abundante. Outra coisa, considerando que o granito é composto de apenas três substâncias, feldspato, quartzo e mica, não deixa de ser surpreendente que existam tantas cores e granulações dessa rocha. Já o basalto, pela sua dureza, era usado pelos silvícolas para confecção de instrumentos cortantes, e hoje escultores fazem dele uma das matérias primas de suas criações, por sua beleza depois de polido.
Sem sequer nos darmos conta, estamos cercados por pedras de todos os tipos no nosso dia-a-dia, desde o batente da porta de entrada do apartamento até as pias, passando pelos pisos do lobby do edifício, as mais variadas rochas decorativas nos servem e continuam ali por dezenas, talvez centenas de anos depois que nós não estivermos mais por aqui. Assim, esse texto é uma pincelada sobre rochas que me achei obrigado a fazer, frente à curiosidade de alguns dos meus leitores. JAIR, Floripa, 08/01/12.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Sandices cósmicas



A teoria do Big bang explica que há aproximadamente quatorze bilhões de anos houve uma perturbação no que seria um espaço extremamente denso e estupidamente quente, e este iniciou uma expansão súbita que dura até hoje e não se sabe se algum dia terá fim. Assim teria sido criado o universo. Em decorrência dessa explosão cataclísmica tudo que existe foi criado, assim, curto e grosso. A matéria e o tempo surgiram a partir do Big bang. Galáxias se formaram e foram “reunidas” em aglomerados monstruosos que tem bilhões de anos luz de extensão e estão se distanciando umas das outras em velocidades estúpidas e impossíveis de serem medidas com os meios que dispomos. O que se sabe é que existem bilhões, muitos bilhões na verdade, de galáxias e cada uma delas possui bilhões de estrelas. No cosmo todos os números são de ordens de grandeza assustadoras e a maioria só pode ser intuída, jamais medida, É delirante, para não dizer descabelado.
Esse portento, esse universo de dimensões descabeladas como eu disse, para complicar ainda mais as coisas, está se expandindo de forma acelerada, isto é, com o passar do tempo a velocidade de deslocamento das galáxias aumenta! Havia uma linha de pensamento que admitia (e até torcia) que a velocidade de expansão deveria diminuir com tempo (estamos falando de bilhões de anos, não esqueçamos que os números cósmicos são astronômicos na acepção da palavra), mas contrariando esse raciocínio, a velocidade que já é absurdamente grande continua aumentando e torna o problema de compreender o mecanismo cósmico muito mais complexo, para não dizer macarrônico ao extremo e agonizante para mentes especulativas como o são as dos cientistas.
A coisa está no seguinte pé: uma das quatro forças fundamentais da natureza que se conhece, e de maior alcance que as demais, é a gravidade – antes que o leitor pergunte, as outras três forças são: eletromagnetismo, força nuclear fraca e força nuclear forte. Cada uma no seu quadrado, mas se houver uma janela em outro trecho explicarei o que cada uma delas faz ou representa. Pois então, a gravidade é a “cola” que não deixa os astros saírem erráticos e sambando a esmo aí pelo cosmo; não deixa que o universo se torne um mundo caótico e anárquico tipo “cada um por si”. Porque o universo pode ser grande, aberrante e agressivamente enorme na verdade, mas não é bagunçado, seus componentes (aglomerados, galáxias, estrelas, quasares, cometas, planetas e outros bichos) não ficam se mexendo aleatoriamente como as partículas num movimento browniano, todos estão sob a ação da gravidade e obedecem-na com escrúpulo, se é que se pode atribuir tal sentimento aos astros. Mas, descobrir-se que, apesar da força gravitacional, a velocidade que afasta as galáxias aumenta, contraria o bom senso, não dá para compreender a lógica desse fato a não ser que se admita que exista algo que contrarie a gravidade.
Então ficamos assim: a “cola” gravidade, que é uma formidável força que deveria unir as galáxias, está sendo contrariada por outra força desconhecida, descomunal e assustadora. Os astrônomos estão arrancando os cabelos, supondo que eles ainda os tenham, para atinar onde se encontra o fulcro desse problema. Como é possível esse fenômeno? Daí vem alguns e afirmam, baseados em cálculos que só os supercomputadores conseguem realizar, que existe uma tal de força escura que contraria a gravidade, e que essa força está espalhada por todo o espaço conhecido, desconhecido, imaginado e inimaginável. Agora engrossou o caldo, se já era depressivo imaginar um universo sempre em expansão ou parando a expansão em algum ponto e iniciando uma contração, imagine agora uma força que contraria a gravidade e não se sabe o que poderá causar ao universo. Ainda bem que quando acontecer alguma coisa, qualquer coisa, não estaremos mais aqui para presenciar. Não estaremos nós a humanidade, não eu e você, pois a coisa vai acontecer em escala de tempo cósmica, lembram?
A coisa tá feia! Feia mesmo, pois cálculos ferozes, extremados e absurdos sugerem que há, no “vazio” entre as galáxias, uma matéria que se convencionou chamar de matéria escura. Essa convenção foi adotada por dois motivos: 1- não se pode ver essa matéria; e 2 – ela tem propriedades enigmáticas, desconhecidas e mais assustadoras que a força escura, pois esta, supõe-se, contraria a gravidade, mas a matéria negra ninguém sabe do que ela é capaz. Sinceramente, até eu que nada entendo de astronomia e seus badulaques, e sei que essa matéria escura não vai interferir na minha vida de aposentado, fico um pouco apreensivo. Imagine aqueles cientistas os quais têm que explicar essa barbaridade.
Então, quem tem o ofício (vive disso) de desembrulhar os pacotes temáticos do universão velho de guerra, está se atolando cada vez mais no brejo cósmico, encontra mais perguntas que respostas cada vez que se depara com “novidades”. Correndo o risco de perder o leitor, mas não deixando a piada passar batida, eu diria que os astrônomos e cosmólogos estão “se atolando-se” até o pescoço, devido a gravidade do problema. Ô vidinha perebenta! Deve ser mais que frustrante procurar soluções e só encontrar indagações!
Para não ficar só nessas teorias, suposições, conjeturas e chutes calculados vamos colocar o pé na Terra (com maiúscula mesmo, pois trata-se do Planeta mesmo, e não do chão que pisamos). Lá num cantinho anônimo e quase despercebido dessa máquina gigantesca que se expande e não fornece respostas aos cientistas, existe uma estrela que nem sequer é das maiores e mais brilhantes, também não é das mais novas ou das mais velhas, mas que, por alguma ordenação cósmica oculta ao nosso conhecimento, possui quase uma dezena de bolotas de vários tamanhos girando ao seu redor, chamadas planetas.
Num desses planetas – o terceiro a contar do Sol – existe vida. Essa vida já acontece nesse planeta desde há 3,4 bilhões de anos e, por isso, teve tempo de se diversificar e ocupar todos os cantos das terras e dos mares. Dentre as milhões de espécies, existe um bípede falante que tomou para si a incumbência de desvendar os mistérios do universo. E é por isso que esta matéria foi escrita, não tenho nada a ver com isso mas, infelizmente, faço parte dessa espécie. JAIR, Floripa, 27/01/12.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Sandices animais





Para fins didáticos os homens costumam dividir a natureza em três reinos básicos: mineral, vegetal e animal. Existem reinos como os das moneras e outros mais, mas não é disso que vamos falar, então fiquemos com os três iniciais. Já toquei na vida das plantas em meu texto “Sandices botânicas”, portanto agora é vez de falar dos animais.
A maioria dos homens por ser pretensiosa, arrogante e ignorante costuma não se enquadrar na mesma categoria dos outros animais, parece querer dar a impressão de pertencer a um reino a parte. Até a bíblia no livro de Gênesis faz menção que os animais foram criados para “servir ao homem”. Santa ignorância! Homens e ratos são seres do mesmo reino e um é tão evoluído quanto o outro. São diferentes sim, talvez tão diferentes entre si quando o é um cão de um gato, por exemplo, mas a diferença termina aí. Então vejamos, para aqueles que se julgam muito superiores a esses mamíferos, veio-me à mente que, a propósito do término do "Projeto Genoma", o qual depois de consumir milhões de dólares e milhares de horas das cabeças pensantes mais poderosas do planeta e, de tempos em tempos, movimentar a mídia com notícias sensacionais a respeito de descobertas fantásticas, chegou à conclusão que: contados todos os genes do homem, estes não passam de uns meros trinta mil, o mesmo número de genes do rato. Para a ciência, que achava que os genes do homem chegariam à casa dos cem mil, foi um balde de água fria esta conclusão, pois, se depender dos genes, o arrogante bicho-homem é apenas um rato que fala.
Então, preconceitos e arrogância a parte, o Homo sapiens e centenas de outros animais estabeleceram uma convivência, nem sempre muito pacífica e sem estresse, há milhares de anos e continuam essa relação nos tempos atuais, o mais das vezes com prejuízo para os outros e visível “ganho” para nós a parte “inteligente” do relacionamento.
Mas, como se deu esse consórcio entre o bípede falante e os bichos, em geral, de quatro – alguns, como as abelhas e o bicho da seda têm seis, as aves têm duas e as bactérias e os peixes não têm - patas? Começou há pelo menos dez mil anos quando os primeiros humanos que até então eram nômades caçadores-coletores, resolveram “sossegar o pito”, ou seja, estabeleceram os primeiros assentamentos semi permanentes, ou fixos de fato. Portanto, a relação homem-cão, por exemplo, é muito antiga, isto é, praticamente desde os primeiros alvores do que chamamos civilização. Sabe-se que os homens primitivos domesticaram o lobo asiático e dele, através de seleção genética, foram criando as primeiras “raças” que acabaram dando a origem às centenas que conhecemos na atualidade. Assim, também o onagro (espécie de burrico), o cavalo, reses como cabras, vacas e ovelhas foram sendo introduzidos nas aglomerações semi urbanas. É razoável supor que os primeiros aglomerados humanos produziam rejeitos que atraiam os animais, principalmente em épocas de escassez. Ossos e restos de comida deviam ser convidativos aos lobos famintos, roças e plantações domésticas atraíam os comedores de plantas. Uma vez que os animais se aproximavam, os mais mansos podiam ser capturados e mantidos em cativeiro, ou mesmo apenas dentro do perímetro da aldeia onde recebiam alimentos, se sentiam seguros e podiam procriar sem problema. Deve-se sempre levar em conta que, mesmo na natureza, os animais estão sempre em busca de segurança, alimento e oportunidade de reprodução, e era isso que os homens lhes proporcionavam, daí domesticá-los tornou-se uma consequência da proximidade e da utilidade efetiva ou potencial que representavam.
Mais a civilização avançava rumo à modernidade, mais animais eram incorporados ao já numeroso contingente desses “auxiliares” e às vezes escravos das pessoas. Desde os maciços elefantes asiáticos, passando por renas, cavalos, vacas, coelhos, perus, galinhas, canários, peixes e até bactérias, todos se tornaram parte integrante do cenário civilizatório. Homens e seus animais domesticados construíram a civilização.
Assim, animais antes selvagens agora domesticados atrelados aos homens erigiram o piramidal edifício que suporta a civilização, na maioria das vezes com enorme prejuízo para aqueles e benefícios para estes. Os bichos carregaram gente e as mais diversas cargas no lombo; forneceram suas carnes para alimentação, pele e ossos para roupas abrigos, utensílios e armas; foram e são usados como cobaias nos mais diversos experimentos laboratoriais para obtenção de novos produtos e medicamentos; são sacrificados para uso de seus hormônios como fixados de perfumes e seus lipídios para fabricação de cosméticos; servem para recreação humana desde corridas de cavalos e cães, até brigas de peixes e galos; alem de serem caçados por lazer, como os são veados, gamos, felinos africanos, rinocerontes, bisões e dezenas de espécies de aves.
Enquanto homens exercerem domínio neste Planeta, enquanto continuarem se achando melhores e mais dotados que outros animais, estes estarão sempre na iminência de desaparecer para sempre. Atualmente há registro de milhares de animais que foram extintos, alguns não chegaram nem a ser estudados e conhecidos. Entre estes se encontra o Tilacino, conhecido por Tigre da Tasmânia, um marsupial carnívoro no formato de um cão grande que foi dizimado por caçadores australianos sob a alegação de que comia ovelhas, fato nunca comprovado. O último espécime conhecido foi filmado em cativeiro em 1936, ano em que morreu.
Outro animal, o moa, vivia muito bem nas ilhas neozelandesas só tendo como inimigo a águia haast, ave imensa que era predadora de seus ovos, filhotes e de adultos velhos ou feridos, até que, por volta de 1300 dC, o povo maori chegou e todos os gêneros de moa foram levados ao risco de extinção. Por volta do ano 1400 quase todos os moa são considerados ​ extintos, juntamente com a águia haast que tinha confiado neles como alimento. Alguns relatos confiáveis têm confirmado que alguns espécimes continuaram persistindo nos cantos mais remotos da Nova Zelândia até os séculos 18 e mesmo 19, quando foram sistematicamente caçados pelos colonizadores e definitivamente extintos. No confronto da fauna nativa como os homens estes sempre saem “ganhando” para prejuízo do Planeta. JAIR, Floripa, 26/01/12

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Sandices eletrônicas



Há bilhões e bilhões de anos o universo se formou ou não, para nossa abordagem não interessa se ele sempre existiu ou passou a existir a partir de um Big bang inicial. O fato é que esse universo cuja existência beira a eternidade e cujo tamanho resvala no infinito, possui leis imutáveis que regem toda sua composição, dinamismo e concepção, o universo é uma máquina bem ajustada que está funcionamento há muito, muito tempo. Já se sabe que ele se compõe de bilhões de aglomerados galácticos, os quais possuem bilhões de galáxias que são compostas de bilhões de estrelas, sendo que trilhões dessas estrelas possuem potencial para formar um sistema planetário como o nosso.
Então cá estamos, num sistema de planetas que gira em torno de uma humilde estrela que foi batizada de Sol pelos humanos. É desses seres que quero falar. Por algum motivo ainda ignorado, no terceiro planeta a contar do sol desenvolveu-se há aproximadamente três e meio bilhões de anos, seres replicantes que possuem a capacidade de passar para seus descendentes suas características. Por muitas centenas de milhões de anos esses seres vivos se multiplicaram e divergiram em milhões de espécies e, virtualmente ocuparam todos os cantos do Planeta. Por alguma razão ainda não sabida, numa das espécies – chamada primatas – desenvolveu-se um ser com capacidades diferenciadas de seus congêneres, um primata que se autodenomina Homem.
Extremamente curioso e com cérebro elástico o suficiente para acomodar novos conhecimentos sem perder o que já sabia, o homem faz conjeturas sobre tudo que os olhos veem, que os ouvidos sentem, que o paladar percebe, que o tato detecta e que o nariz cheira, além disso, tem a capacidade de descobrir coisas além desses cinco sentidos. Por causa dessa versatilidade, o homem descobriu, inventou, pensou, reformulou ou passou a usar praticamente tudo que a natureza é capaz de fornecer: astronomia, física, química, medicina, metalurgia, eletricidade, botânica, zoologia, arquitetura, engenharia, eletrônica, hidrologia e milhares de outras zonas de conhecimento.
Mas, o mais importante, desde os primórdios, através de observação, experimentação, tentativa e erro, ele consegui perceber que existem leis que regem todas as manifestações naturais. Desde os movimentos dos astros no cosmo até a mais ínfima partícula de poeira, passando pelos complexos organismos animais, tudo é regido pelas mesmas leis imutáveis e lógicas.
O homem construiu a civilização usando em seu proveito essas leis imutáveis, ainda que em certas ocasiões estivesse a ponto de destruir essa mesma civilização com o uso dessas mesmas leis. As bombas nucleares têm essa capacidade. Pois é, uma das descobertas que mais contribuíram para erigir o que chamamos de civilização moderna, foi a eletricidade. Depois que o homem a descobriu tratou de “domesticá-la” para usos os mais diversos, hoje praticamente tudo que se move está relacionado à eletricidade.
Mas aí, numa decorrência natural, cientistas observaram que, sob certas condições, a eletricidade que sempre fluía num sentido e no outro só dependendo da fonte, deixava de fazê-lo. Mais ou menos assim: em condições especiais os elétrons passavam num sentido e deixavam de fazê-lo no sentido oposto. Estava descoberta a eletrônica. Era inicio do século vinte e a eletrônica só fez progredir e se tornar cada vez mais complicada. Na medida em que aparelhos que antes usavam válvulas passaram a usar transistores suas dimensões foram diminuindo na mesma proporção.
Aí surgiu o tal Chip que transformou objetos pequenos em minúsculos. Hoje um circuito eletrônico de última geração do tamanho da unha do dedo mínimo equivale a milhões de circuitos integrados de segunda geração que já equivaliam a milhares daquelas antigas válvulas dispendiosas de energia. Como hoje quase tudo que nos cerca é eletrônico ou se serve da eletrônica para nos prestar algum tipo de serviço, desde o prosaico relógio de pulso até este PC que digito, somos beneficiários e vítimas da eletrônica aplicada ao cotidiano.
A eletrônica permeia e comanda toda a vida civilizada, quem não percebe isso é porque está imerso nesse universo e não consegue ver além, aquém e lateralmente, a imersão bloqueia seus sentidos. Que somos beneficiários ninguém é capaz de duvidar, mas vítimas? Como assim? Meu amigo, você sabia que existe gente que não consegue ver as horas a não ser em relógios digitais sem ponteiros; que caixas de supermercados e bancos não sabem nem somar dois números de três algarismos quando o “sistema está fora”? Que muita gente, como eu, senta à frente dessa maquininha por horas fio e não se dá conta nem que é hora de comer? Pois é, nós somos as vítimas mencionadas.
É fácil inferir que se houver um bastante improvável apagão eletrônico, o mundo pára e a chamada civilização vai desmoronando imediata e irreversivelmente. A jaula de ouro eletrônica que nos fascina e prende, e da qual a maioria nem se dá conta, é uma realidade onipresente, multipoderosa e escravizante, estamos sob seu poder. E o pior, o homem queimou as pontes, isto é, não criou alternativas válidas para substituir o “sistema que está fora”. Alguém já tentou pagar uma conta ou retirar dinheiro num banco que está off line? Particularmente, não consegui nem comprar a dinheiro numa Loja Americana que ficara off line naquele momento.
Vejamos, o universo eletrônico é extremamente confiável e não estamos a beira de algum apagão, apenas cogito o quando estamos a mercê dele enquanto usuários por imersão. Isso significa uma pressão contínua para deixamos de exercer a faculdade de pensar, de esforçar-nos para obter resultados, e até de aprender através da leitura, por exemplo. Tudo está pronto na bandeja, é só esticar o braço e apanhar. Será que o Homo eletronicus num futuro próximo vai se tornar apenas um apêndice do mundo informatizado, cibernético, internético, bloguético e plugado nas redes sociais. Não sei, mas hoje colei a bunda nesta poltrona e não saí daqui por muitas horas, minha vida doméstica está me tornando um dependente eletrônico desta droga viciante e por enquanto não substituível, estou até com certo receio. Agora levanto, vou tomar um banho e depois retorno ao teclado, até já. JAIR, Floripa, 25/01/12
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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Sandices médicas

Para falarmos leigamente sobre medicina convém lembrar que Hipócrates, asclepíade (equivalente a curandeiro ou médico de nossa época) grego que por suas obras escritas (cerca de setenta) e por seu trabalho, é considerado o Pai da Medicina. Aliás, caso único, a mãe da medicina é desconhecida. Bem, para citar esse asclepíade famoso, não podemos deixar de lembrar o seu inescapável juramento que faz parte das formaturas de todos os médicos do Planeta na atualidade: “Eu juro, por Apolo, médico, por Asclépio, Higia e Panacea e por todos os deuses e deusas, a quem conclamo como minhas testemunhas, juro cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue: estimar, tanto quanto aos meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes. Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva. Conservarei imaculada minha vida e minha arte. Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam. Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução sobretudo longe dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados. Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto.Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça”.
Sinceramente? Como leigo, vivendo antenado em pleno século vinte e um, relativamente ilustrado no conhecimento das coisas e medianamente informado, gostaria de propor uma redução e algumas modificações nesse juramento que alguns até chamam jocosamente de “Hipócrita”. Minha sugestão visa torná-lo mais compreensível, realista e mais curto. Primeiro vamos esquecer Apolo, Higia, Asclépio e Panacea, afinal nem os médicos sabem quem são esses personagens de literatura grega! Só se algum médico antes de estudar medicina estudou a fundo a mitologia grega, mas daí ele é a exceção que confirma regra. Outra coisa, vamos jogar no lixo as partes que ninguém cumpre mesmo por serem apenas “enchimento de lingüiça” como: “ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração”. Peraí mermão, sem remuneração? O que é isso? Ninguém, principalmente os médicos, faz qualquer coisa de graça, então fora com essa mentira!
Também: “Eu juro... estimar, tanto quanto aos meus pais, aquele que me ensinou esta arte”. Desde quando todos os filhos estimam seus pais? Como esse amor compulsório não acontece sempre, este trecho está prejudicado, não pode permanecer no texto. Fora com ele!
Outro trecho: “Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva”. Fora com isso! Vivemos num tempo que o aborto é permitido ou tolerado na maioria dos países, então para que continuar com essa restrição? O mundo mudou desde a Grécia antiga, sim para o aborto, mesmo porque a maioria dos médicos o aprova.
Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado"; Esta é fácil, aqui está explicitando que médicos não podem praticar cirurgia. Como? Vamos eliminar os cirurgiões? Não! Vamos eliminar esse trecho, isto sim!
Aqui está outra parte que, por impraticável, deve ser eliminada: “Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução sobretudo longe dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados”. Se médicos não puderem transar com suas mulheres, não se reproduzirão e daí a classe tende a desaparecer. Se médicos gays estiverem proibidos de transar com outros do mesmo sexo poderão perder o gosto pela profissão e daí também teremos uma redução nos quadros da medicina. Fora essa parte!
Então é isso, um juramento antigo, inaplicável por que contém várias aberrações, confuso, antiquado e tão longo que ninguém consegue lembrá-lo, e totalmente ultrapassado por causa dos avanços, nem digo da medicina, avanços da sociedade na qual vivemos mesmo, deve ser compulsoriamente substituído por algo mais “leve”, funcional e palatável.
Assim, depois de muito matutar e observar, consegui conceber um juramento que deverá satisfazer médicos e pacientes sem ferir a ética e sem cometer bizarrices como aquelas observadas no hipocrático juramento já criticado. O juramento clean que sugiro é este: “Juro que no exercício da minha profissão farei esforço, dentro daquilo que aprendi, para curar pessoas doentes. Meus honorários serão honestos e se o paciente for de todo destituído, procurarei atendê-lo assim mesmo. Na minha vida particular me conduzirei com higidez para servir de exemplo, e não praticarei arrogância em nenhum momento. A humildade será o mote de minha conduta
Vejamos, este é um juramento ajustado, simples e fácil de ser lembrado e cumprido, por que não adotá-lo? Será a pompa e o pedantismo daquela descumprida e hipocrática afirmação de deveres e intenções são tão atrativos que eles vão continuar a desfiá-lo nas formaturas e esquecê-lo cinco minutos depois, e para toda vida?
Queridos médicos meus amigos e conhecidos, adotem ainda que apenas Ab imo pectore meu juramento por que sei que da boca para fora os senhores ainda se verão obrigados a hipocraticar aquela lenga-lenga démodé e mentirosa. Adotem do fundo do coração esse juramento e serão mais felizes, seremos mais felizes, a humanidade será mais feliz. A bola está com os senhores! Abraços, JAIR, Floripa, 26/01/12.