domingo, 26 de agosto de 2012

O ícone


Segundo o Huaiss, ícone pode ser: pessoa ou coisa emblemática, isto é, essa coisa ou pessoa ao ser mencionada não precisa de explicação, ela é a explicação. Assim, temos ícones na história, nas artes, nos negócios e em todas as atividades humanas. Mas eu quero falar de um ícone do cinema que representa a mulher sexy por excelência: Marilyn Monroe.
Marilyn Monroe recebeu o nome de Norma Jeane Mortenson, ao nascer em Los Angeles em 01 de junho de 1926. A mãe dela, Gladys Pearl Monroe trabalhava na edição de filmes dos estúdios RKO e o pai pode ter sido um dos três homens que ela se relacionava naquela época. Marilyn viveu em orfanatos e lares adotivos até se casar aos dezesseis anos. Em 1945, um fotógrafo do exército que fazia umas tomadas de mulheres que participavam da campanha da guerra viu-a trabalhando numa fábrica de pára-quedas e percebeu seu potencial como modelo. Ele teve um caso com ela e a encaminhou a uma agência de modelos. Seu êxito na profissão levou-a naturalmente a um teste para atriz e à assinatura de contrato com a Twentieth Century Fox, em 1946, pelo salário semanal de 125 dólares. Marilyn fez uma série de pontas em filmes até 1953, quando recebeu um papel de certa relevância. No mesmo ano, Hugh Hefner comprou uma foto de Marilyn nua, feita quando ela era modelo principiante, e a publicou na então sua nova revista Playboy. Marilyn virou celebridade e tornou-se ícone da mulher sexy, rótulo que parecia ter sido criado para ela. Casou-se com o grande jogador de beisebol Joe DiMaggio o qual, mesmo depois que ela morreu disse que jamais deixou de amá-la e até o fim de seus dias levava todo mês uma flor ao seu túmulo. Marilyn também casou-se com o dramaturgo e escritor Arthur Miller e frequentava com grande sucesso roda de intelectuais amigos de seu marido. Ao contrário do que alguns maledicentes insinuam, Miller, do alto de sua inteligência e fama, afirmava categoricamente que Marilyn era extremamente inteligente, o que lhe faltava era escolaridade, havia freqüentado apenas quatro anos de bancos escolares em decorrência das errâncias de sua sofrida infância.
Sempre a procura de um afeto inatingível que não tivera na infância, ela buscou consolo em comprimidos, no álcool e relacionamentos eventuais, passando a ser inconstante no trabalho e incapaz de manter relacionamentos sérios com os poucos homens que se esforçavam tremendamente para amá-la e serem amados. Apesar disso tudo, seu sucesso como atriz havia decolado e ela tornara-se famosa, rica e imitada por outras atrizes e por mulheres do mundo todo.
Em 1962, quando tinha 36 anos e continuava mais linda que nunca, Marilyn foi encontrada em seu apartamento, morta por uma overdose de Nembutal e hidrato de cloral, ambos barbitúricos vendidos sob receita médica. No seu obituário a morte consta como suicídio. Mas devido a supostas ligações dela com John F. Kennedy e Robert Kennedy; a inconsistências dos indícios encontrados no local da morte; e o desaparecimento das gravações de seus telefonemas, foram aventadas várias hipóteses de assassinato. O imaginário popular mundial ficou excitado com a possibilidade do relacionamento do presidente Kennedy com ela a partir do “Happy Birth Day” que ela cantou de modo extremamente provocante para ele na Casa Branca. No mais, perdeu-se um ícone e nasceu um mito. JAIR, Floripa, 26/08/12. 

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Justiça


Ao organizar-se em sociedades o Homo sapiens foi compelido a criar regras mínimas que permitissem uma convivência sem muito atrito entre seus membros. Claro, essas regras incluem punir aqueles que violarem as próprias regras. Ou seja, leis são instrumentos que sociedade usa para manter os homens ancorados no patamar que se convencionou ser “bom para todos”, quem viola as leis paga o preço, ou deve pagar o preço.
Pois bem, há leis lenientes oriundas de sociedades ditas civilizadas e outras nem tão frouxas aplicadas em sociedades mais “primitivas”. Na China, casos de corrupção normalmente são punidas com a morte do culpado e a bala usada na execução deve ser paga pela família. Em outras sociedades como a do Brasil, por exemplo, pune-se apenas gente pobre, aos ricos falcuta-lhes não sentar no banco dos réus, e quando sentam por algum descuido, suas sentenças são anormalmente brandas e cumpridas em liberdade, nada a estranhar numa sociedade onde “todos são iguais perante a lei”, mas alguns são mais iguais que outros. Ainda mais, quando o culpado for apenado com mais de trinta anos não deve se preocupar, pois pelo Código de Execuções Penais, não se pode permanecer mais de trinta anos atrás das grades. Assim, cabo Bruno, ex policial condenado a 117 anos pela acusação de assassinato de mais de cinquenta pessoas, saiu da cadeia por “bom comportamento” depois de cumprir apenas 27 anos.
Bem, não há muito o que falar de um país em andam soltos pelas ruas: Paulo Maluf, Jader Barbalho, Luiz Estevão, Jorgina de Freitas e outros cidadãos exemplares por aí. Mas o que falar de um país europeu, Noruega, supostamente com arcabouço jurídico, leis e costumes de primeiro mundo? Supostamente, por se tratar de uma democracia, uma sociedade que valoriza a vida? Pois é, Anders Behring Breivik, assassino confesso de 77 inocentes foi condenado a 21 anos de prisão. Vinte e um anos!!! Isso dá menos de cem dias por vida tirada! É incrível, mas no ano de 2033 Anders poderá estar livre com toda sua empáfia e convencimento, pronto para por em prática aquilo que chamou de justiçamento e mortes perfeitamente justificáveis. Parabéns ao aparelho judiciário da Noruega, pelo visto a justiça de lá não deixa nada a desejar a esta do Patropi. JAIR, Floripa, 24/08/12. 

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Especiarias



Lembro do tempo da escola fundamental quando, nas aulas de história do Brasil, as professoras se referiam ao “comércio com as Índias” que teria impulsionado as grandes navegações portuguesas que resultaram nos grandes descobrimentos. Vasco da Gama teria chegado às Índias contornando o Cabo da Boa esperança e navegado pelo oceano Índico até a “terra das especiarias”.
Bem, tudo facilmente assimilado até certo ponto, mas, quando surgia a palavra especiarias a coisa empacava, meio que os textos se tornavam herméticos, as professoras mal sabiam o que eram as tais especiarias e se limitavam a dizer que eram cravo, canela e pimenta do reino. Ora, esses conhecidos temperos eram usados em doses parcimoniosas na culinária daquela época; eram obtidos no comércio local, embora nem sempre muito baratos, mas não havia como entender que tais complementos pudessem ser objeto de caríssimas, longas e complicadas viagens através do mundo para obtê-los. A mim parecia que ninguém tinha conhecimento ou capacidade para explicar essa engenharia comercial que resultou nas mudanças que formaram o mundo no qual vivíamos.
Especiarias? Temperos culinários movendo o mundo? O que é isso? Vivi com essas indagações incrustadas no cérebro por anos a fio. A coisa ainda ficava mais interessante quando a gente percebia que a palavra especiaria só era usada nos livros de história, não havia registro em outros lugares a não ser em dicionários. Ninguém dizia: “Vai ali na venda do seu Zé comprar duzentas gramas de especiaria para o almoço”; Não havia referências como: “Aqui se vendem especiarias”, ou “Grande liquidação de especiarias”. Guardadas as diferenças especiaria era como “de onde vêm os bebês”. Todo mundo sabia, mas ninguém dizia. Limitavam-se a cegonhas e outros que tais.
Pois, passados muitos anos, quando já nem mais me lembrava do termo, lendo um livro sobre a história do sal, encontro lá as melhores explicações sobre as tais especiarias. Pimenta do reino, canela, cravo, noz moscada e macis (óleo que se extrai da noz moscada) eram os substitutos do sal na conservação da carne. O sal era artigo de luxo, caro e raro, portanto, numa época que inexistia geladeira, as especiarias serviam como conservantes naturais das carnes a serem consumidas dias após o abate. Contudo, o grande óbice para seu consumo é que eram cultivadas “nas Índias”, na verdade Indonésia, Singapura e adjacências, não exatamente na Índia atual. Daí, foram empreendidas as grandes navegações depois que os turcos conquistaram Constantinopla e passaram a controlar o comércio por terra. Os portugueses foram os primeiros a aportar em Calicute, mas em seguida holandeses, franceses e ingleses formaram frotas próprias para a busca incansável e milionária dos temperos que permitiram europeus comerem carne conservada ao invés de pútrida como vinham fazendo a séculos.
Os condimentos referidos não eram usados porque adicionavam sabor especial à carne e seus derivados, e sim porque possuem óleos essenciais que tem efeito biocida impedindo a proliferação de bactérias que deterioram o alimento. Por exemplo, o óleo de cravo, produzido por um processo de extração, é constituído basicamente, por eugenol (70 a 80%). O eugenol é um composto aromático com efeito anestésico e anticéptico comprovado cientificamente.
Então aí está, temperos, condimentos ou especiarias tiveram influência crucial na história da humanidade, não dá para subestimar o poder de coisas aparentemente tão banais. JAIR, Floripa, 17/08/12. 

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A árvore da vida


O filme “A árvore da vida” é dirigido por Terrence Malick, o mesmo diretor de “Além da linha vermelha” e, por coincidência ou não, Sean Penn que fazia o papel do sargento Edward neste filme sobre a segunda guerra, também trabalha na árvore da vida. Além de Penn, Brad Pitt é protagonista ao lado de Jessica Chastain.
O filme é instigante, eu diria que não é para amadores, vale a pena ser assistido mais de uma vez por aqueles que não captarem a essência da historia que é meio fragmentada e não obedece uma linha rígida de tempo.
A história começa nos anos cinquenta na cidade Waco no Texas e foca uma família comum conservadora americana. Deve-se lembrar que o Texas é um estado conservador tanto político como religioso, do chamado “Bible belt south”, de onde saíram os Bushs que governaram os EUA e fizeram guerra durante seus mandatos e onde o eleitorado é republicano de raiz. Vale lembrar também que o conservacionismo texano prega o criacionismo como se ciência fosse nas suas escolas primárias, então não é nenhuma surpresa que o filme tenha justamente uma família conservadora típica como protagonista da história.
Bem, a família conservadora de Brad e Jessica (Sr. e Sra. O’Brien) é composta pelos pais e três filhos meninos. O senhor O’Brien, embora amoroso, cria os filhos com extrema rigidez, cobra deles comportamento e postura quase de seminaristas religiosos. Seus gestos e maneiras de se dirigir a ele e outras pessoas têm que ser observados com rigor absoluto, qualquer deslize é passível de punição. Os filhos se submetem, mas o mais velho, Jack, costuma se rebelar em horas que não está sendo observado. Em alguns momentos dá a impressão que filho odeia o pai. A mãe é passiva, abnegada, amorosa e suporta com estoicismo e sofrimento a tensão em servir de amortecedor das exigências do marido em relação aos filhos.
O drama que vive a família gira em torno da morte do filho mais novo em condições que não aparecem no filme, mas que afetam profundamente o pai, os irmãos e principalmente a mãe que jamais se recupera da perda. Jack, protagonizado por Sean Penn quando mais velho, fala muito pouco, aliás, há pouquíssimos diálogos no filme, o diretor embasa a estória em imagens quase fantásticas com ênfase na água, seja em cachoeiras, em forma de gelo, cenas submarinas, rios e chuva, muita chuva. Para contar a estória o diretor mostra a formação do universo desde o big bang até o aparecimento da civilização moderna, passando por cenas com dinossauros. Há quase vinte minutos só de cenas da criação do mundo sem nenhum diálogo, mas com música de fundo magistral. Vale a pena curtir essa parte fundamental do filme sem pensar em nada só ver, só observar. Como eu disse no início, é instigante. JAIR, Floripa, 14/08/12.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Mente vazia



Sempre li sobre o “branco” que eventualmente acomete a mente criativa do escritor de modo que ele nada consegue escrever em certas ocasiões. Alguns costumam chamar essa síndrome de “pavor do papel em branco” ou crise de ideias originais. Não sou escritor, não tenho pretensão de me igualar a essas mentes privilegiadas, mas também estou passando por um período de seca, não consigo extrair nada de novo de meu cérebro e colocar em palavras. Normalmente consigo escrever num ritmo de tal sorte que costumo ter “em estoque” cerca de dez ou doze textos prontos para serem publicados. Esse modus operandi visa garantir que em períodos moderados de seca eu possa publicar alguma coisa até que me venham as ideias novamente.  Pois é, alguns dias se passaram desde que esgotei meu estoque de textos e nada que se aproveite surgiu ainda. Parece que estou com a mente oca, passo os dias assistindo as Olimpíadas e nada me ocorre. Devo dizer que meus melhores textos sempre vêm de um estímulo qualquer através da leitura, normalmente de livros. Até isso está me faltando, nada leio há dias, os livros estão se acumulando e não encontro vontade de abri-los, assim, acabo olhando para as paredes com a mente vazia. Meu cérebro está totalmente em branco e não vejo saída, quem souber de alguma fórmula que consiga ativar mentes congeladas, por favor, me socorra, me tire deste constrangedor limbo literário, não vejo luz alguma no fim do túnel. JAIR, Floripa, 09/08/12. 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Um país tropical


A relação de características brasileiras abaixo não é de minha autoria, é algo que anda rolando pela internet, mas a publico aqui, - mesmo contrariando meu costume de não publicar texto alheio – porque concordo em gênero e grau com seu conteúdo. Quem não concordar que expresse sua opinião nos comentários.

O Brasileiro comum é assim:

1 - Saqueia cargas de veículos acidentados nas estradas; 
2 - Estaciona nas calçadas, muitas vezes debaixo de placas proibitivas; 
3 - Suborna ou tenta subornar quando é pego cometendo infração; 
4 - Troca voto por qualquer coisa: areia, cimento, tijolo, e até dentadura;
5 - Fala no celular enquanto dirige; 
6 - Usa o telefone da empresa onde trabalha para ligar para o celular dos amigos (me dá um toque que eu retorno...) - assim o amigo não gasta nada; 
7 - Trafega pela direita nos acostamentos num congestionamento; 
8 - Pára em filas duplas, triplas, em frente às escolas; 
9 - Viola a lei do silêncio e fica bravo se alguém reclama; 
10 - Dirige após consumir bebida alcoólica; 
11 - Fura filas nos bancos, utilizando-se das mais esfarrapadas desculpas;

12 - Espalha churrasqueira, mesas, nas calçadas; 
13 - Pega atestado médico sem estar doente, só para faltar ao trabalho;
14. - Faz 
"gato " de luz, de água e de tv a cabo; 
15 - Registra imóveis no cartório num valor abaixo do comprado; muitas vezes irrisórios, só para pagar menos impostos; 
16 - Compra recibo para abater na declaração de renda para pagar menos imposto; 
17 - Muda a cor da pele para ingressar na universidade através do sistema de cotas; 
18 - Quando viaja a serviço pela empresa, se o almoço custou dez, pede nota fiscal de vinte; 
19 - Comercializa objetos doados nessas campanhas de catástrofes; 
20 - Estaciona em vagas exclusivas para idosos e até para deficientes;
21 - Adultera o velocímetro do carro para vendê-lo como se 
fosse pouco rodado; 
22 - Compra produtos piratas com a plena consciência de que são piratas; 
23 - Substitui o catalisador do carro por um que só tem a casca; 
24 - Diminui a idade do filho para que este passe por baixo da roleta do ônibus, sem pagar passagem;
25 - Emplaca o carro fora do seu domicílio para pagar menos IPVA; 
26 - Frequenta os caça-níqueis e faz uma fezinha no jogo de bicho; 
27 - Leva das empresas onde trabalha, pequenos objetos, como clipes, envelopes, canetas, lápis... como se isso não fosse roubo;
28 - Comercializa os vales-transporte e vales-refeição que recebe das empresas onde trabalha; 
29 - Falsifica tudo, tudo mesmo... só não falsifica aquilo que ainda não foi inventado; 
30 - Quando volta do exterior, nunca diz a verdade quando o fiscal aduaneiro pergunta o que traz na bagagem; 
31 - Quando encontra algum objeto perdido, na maioria das vezes não devolve;
 
32 - Pede ao amigo que está em algum trabalho público, principalmente político, um lugarzinho para seus filhos em vez de estimulá-los a estudar e conseguir seus próprios empregos;
33 - Não se importa (muitas vezes até ajuda) se seu filho faz parte daquele grupo que fraudou o  concurso público e passou, em detrimento de outros candidatos que honestamente tentaram passar.... (olha aí: concurso na área jurídica)....
34 - Vai até a escola e paga a maior  bronca na professora ou professor que chamou a atenção de seu filhinho;
35 - Faz vista grossa quando seu filhinho ainda pequeno chega da escola com pequenos objetos que não lhe pertencem ao invés de fazê-lo devolver no dia seguinte;
36 - Não respeita e não cumpre as leis;
37 - Adultera documentos para entrar em  locais proibidos para menores, com a conivência dos pais;
38 - Coloca nome em trabalho que não fez;
39 - Coloca nome de colega que faltou em lista de presença;
40 - Suborna para alguém fazer seus trabalhos; 
41 – Se recebe troco a mais cala-se esperando que ninguém perceba;
42 – Joga lixo na rua, mesmo existindo lixeira por perto;
43 – Sempre que lhe seja favorável faz uso da Lei de Gérson sem qualquer pudor;
44 - Sempre acha uma maneira de aplicar o jeitinho brasileiro, mesmo que isso implique prejudicar outros ou contrariar as leis; 
45 – E, finalmente, reclama dos “políticos”, como se estes fossem seres alienígenas que vieram de um planeta longínquo e não são da mesma laia do brasileiro comum; Como existisse uma “classe” especial de políticos que nada tem a ver com nossa sociedade.

Pois é, enquanto continuarmos agindo como agimos e reclamando daqueles que elegemos, esse Brasil varonil jamais chegará a ser um país minimamente sério. Dessa maneira somos obrigados a concordar com De Gaulle. JAIR, Floripa, 03/08/12. 

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O General


Um General é, antes de tudo, um solitário. Contrário ao soldado que na trincheira, na vacância ou no acampamento sempre tem um seu igual para compartilhar seus medos, angústias e sentimentos, o General come e dorme sozinho, trabalha sozinho e toma suas decisões na mais terrível e absoluta solidão. Não que o General não possa ter amigos e companheiros de caserna com os quais, em algum momento, possa fazer confidências ou cometer indiscrições, mas nas funções profissionais ninguém está ao seu lado na hora das decisões. Ninguém, no seu círculo íntimo, divide com ele a responsabilidade das boas e más escolhas, ninguém assume suas insônias, inseguranças e dúvidas.
Mais que a solidão do cargo, ao General cabe decidir sobre a vida e a morte, de seus soldados e dos soldados inimigos. Se emana ordens corretas e judiciosas, os militares inimigos morrerão e, se suas ordens não forem as melhores, quem morre são seus comandados. Às vezes ele se sente uma perversa paródia de Deus, ou semi deus se considerarmos que é mortal como os que morrem na batalha. Mas ele sabe que se tornou General, não por determinação aleatória de carreira militar bem sucedida ou injunção cega do destino, e sim porque orientou toda sua vida para esse fim. Não se chega ao generalato por acaso, apenas suas lidas beiram o acaso quando para aquilo que se preparou, lhe cai no colo por decisão política, a guerra. E o generalato, antes de ser um alto posto militar, é um misto de sacerdócio e resultado de ilibada vida pessoal somada à luta e trabalho diários, muito estudo e disposição para o sacrifício ao longo de muitos anos. O General é um primata da espécie Homo estoicus.
Um General sensato sabe que guerra é insensatez, mas sabe também que quando ela vier terá que exarar ordens claras e lúcidas cujos resultados beiram a insanidade. Quanto mais eficientes forem as decisões do General, mais os resultados podem conflitar com sua formação humana. Um General traz no âmago de sua formação profissional o germe do conflito entre os fatores morais que lhe foram incutidos pelo núcleo familiar e as imposições pretorianas subordinadas às nuances políticas de seu país. O General deve ser patriota na mais cruel e perfeita acepção do termo. A pátria lhe impõe encargos que pesam nos ombros como um Atlas suportando o globo terrestre.
Por isso tudo, um bom General que tenha lutado por seu país, aquele que exerceu sua função com honestidade e eficácia, é um ser humano triste, suas memórias incluem mortes de pessoas desconhecidas as quais nunca lhe fizeram qualquer mal e que apenas estavam defendendo ideias ou orientações diferentes das suas. Suas convicções religiosas também devem ser elásticas quando são postas à prova: não matarás é um mandamento que deve ser temporariamente relegado se ele quiser ser um profissional seguro nas ações do ofício. Cada soldado que cai no campo de batalha tem um General responsável por sua morte, General sem mortes no currículo é General inerte, omisso. O pódio de General é árduo e às vezes lhe traz glórias e reconhecimento, e aquele que lá chega se torna para sempre um ser Primus inter pares, mas suas funções nem sempre são cobiçadas pelos mortais comuns. JAIR, Floripa, 01/08/12.