domingo, 30 de junho de 2013

Tornado de fogo



Em 1943, como estratégia para dobrar a espinha dorsal dos nazistas através do massacre da população civil e destruição da indústria de guerra germânica, as forças aliadas, através da RAF e da USAF, estabeleceram bombardear  as mais  importantes cidades alemãs de forma maciça. Assim, Hamburgo foi bombardeada por mais de 1600 bombardeiros em  03 março daquele ano causando a morte de mais de 50.000 civis.
O bombardeio criou o que se convencionou chamar de tempestade de fogo, um incêndio de proporções gigantescas e que se auto alimenta porque funciona com um imenso aspirador que suga absolutamente tudo – inclusive pessoas - que se encontra num raio de até três quilômetros. No centro desse colossal maçarico o fogo chega a mais de mil e quinhentos graus, queimando tudo que for combustível e derretendo a maioria dos metais. Se existir inferno é isso o que mais se aproxima dele aqui na terra. Esses bombardeios e os incêndios infernais que causaram, continuam conhecidos como um dos piores exemplos de sacrifício civil provocado por bombardeio estratégico, ocupando lugar de destaque entre as causes célèbres morais da Segunda Guerra.
Agora no mês de maio deste ano, um evento raro perto do Uluru, imenso bloco de arenito rosa no interior desértico da Austrália: Um cineasta perplexo testemunhou e filmou um dos mais raros fenômenos da natureza. Um tornado composto inteiramente de fogo, tal qual a tempestade de fogo causada em Hamburgo pelos bombardeios, só que neste caso, ao contrário do incêndio causado pelo homem, tem causas naturais conhecidas. Chris Tangey tinha saído de Alice Springs, para captar cenas para um novo filme. Depois de terminar a tarefa, ele se aproximou para ajudar os trabalhadores em uma estação de gado, quando foi confrontado por um dos espetáculos mais intimidantes da natureza, e algo que ele jamais imaginara encontrar.
Um tornado de fogo, também conhecido como um demônio de fogo, é causado quando uma coluna de quente, ar ascendente entra em contato com um foco de incêndio no chão.
Estes tornados de fogo são uma raridade natural, mas quando eles ocorrem, previsivelmente costumam causar danos significativos. Esses redemoinhos de fogo são conhecidos por durar cerca de poucos minutos nessas ocasiões muito raras que eles ocorrem. Mas o Sr. Tangey encontrou-se hipnotizada pelo tornado por mais de 40 minutos. Declaração do cineasta que 52 anos: O ar estava perfeitamente imóvel, não havia vento espécie alguma, a temperatura era cerca de 25 graus Celsius, um dia totalmente sem novidades. Nada predizia que algo interessante ou inusitado ocorresse, então, de repente, um dos vaqueiros está gritando: 'Que diabos é isso?', E eu me virei e vi uma coluna de fogo espiralada em forma de tornado de uns 30 metros de altura. Eu estava a cerca de 300 metros de distância e não havia vento, mas o furacão estrondou como um caça a jato. Meu queixo caiu. Mr Tangey, que dirige Alice Springs Film and Television, no centro da Austrália, descreveu-o como "dez vidas de experiência de uma vez só".
Felizmente, o tornado de fogo ocorreu no remoto interior australiano, e não houve registro de quaisquer vítimas. Ele acrescentou: Eu tenho filmado no interior por 23 anos, e nunca havia visto nada parecido. Nós já ouvimos falar sobre eles, mas eles se parecem com entidades fantasmas nunca são vistos. Se eu soubesse o que estava prestes a acontecer, eu teria pago alegremente US$ 1.000 para vê-lo. A qualquer momento, havia três tornados diferentes, só ficava indo e indo por cerca de 40 minutos. Toda a experiência foi surpreendente, e o tamanho e a variedade eram surpreendentes. Previsivelmente, estes espetáculos raros são extremamente perigosos.
Em 1923, um tornado de fogo surgiu no Japão durante o grande terremoto de Kanto, e matou 38 mil pessoas em apenas 15 minutos. JAIR, Floripa, 08/06/13.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Pedra de raio



Quando eu era criança no interior do Paraná, algumas vezes ouvi minha mãe contar que quando caía um raio este conduzia uma pedra no seu interior e que, às vezes, era possível encontrar alguma pedra dessas. Corroborando essa história, minha mãe afirmava que certa ocasião quando ela se encontrava na roça colhendo milho, viu e ouviu um desses raios em pleno céu límpido sem chuva. Dias depois em outro trecho do roçado ela deparou-se com a pedra que teria caído com aquele raio. Guardou a pedra – negra, ligeiramente assemelhada com um machado sem cabo, com arestas arredondadas - por muitos anos, mas esta se extraviou por ocasião de alguma mudança ainda no seu tempo de solteira e nunca mais a encontrou. Obviamente eu acreditava na minha mãe, mas tinha acentuada dúvida quanto à origem daquela “pedra de raio” que ela guardou como uma relíquia por muito tempo
Pois bem, hoje lendo um despretensioso livro “Ontem, o Universo” que trata das origens do universo, do sistema solar e da terra, me deparei com um trecho sobre meteoritos bem interessante, do qual transcrevo parte:
Em todos os tempos, os homens se impressionaram com a queda dos meteoritos. De fato, o espetáculo é grandioso: um rastro de luz atravessa a uma velocidade de dez a vinte quilômetros por segundo, acompanhado de um barulho de trovão prodigioso. Esse fenômenos, visíveis numa extensão de vários milhares de quilômetros quadrados, aterrorizavam as populações. Um acontecimento desses, evidentemente, não podia passar despercebido.
Na antiguidade, os homens conheciam a origem dessas pedras. Foram encontrados hieróglifos que uma delas era designada “pedra caída do céu”. Os egípcios, aliás, utilizavam alguns desses meteoritos que, as vezes, contém ferro em estado de metal quase puro. Encontraram-se armas e ferramentas forjadas com ferro proveniente desses meteoritos. Os gregos e os romanos também conheciam a origem extraterrena dessas pedras e, durante muito tempo, atribuíam um poder mágico a esses objetos. Em diversas civilizações alguns meteoritos eram até divinizados. É possível que famosa Pedra Negra de Meca, santuário do islamismo, seja um meteorito. Curiosamente, a atitude mudou na Idade Média, pois, se o mundo greco-romano nos deixou numerosos testemunhos de seu elevado nível cultural, a humanidade iria entrar, em seguida, em um longo período de obscurantismo.
Foi, então, preciso esperar até o século XIX para se verificar uma mudança de mentalidade: no dia 26 de abril de 1803, uma verdadeira chuva de pedras caiu nas cercanias de Aigle, França. Cerca de 3000 pedaços do meteorito foram encontrados sobre uma superfície de aproximadamente 50 quilômetros quadrados. E, desta vez, a Academia de Ciências enviou observadores que tiveram que se render às evidências: de fato, tudo aquilo tinha mesmo caído do céu!
A tradição popular ainda atribui um poder mágico a esses objetos. Em lugarejos do interior (Aqui lembro de minha mãe que vivia numa pequena localidade chamada Pinheiral de Baixo), são chamados “pedras de raio”. O que mostra simplesmente que sua queda se faz acompanhar de um clarão e um troar de trovão. Às vezes, são encontrados sobre esse nome objetos talhados pelo homem pré-histórico, e sua origem também era atribuída ao raio. “Seja como for, o camponês (minha mãe, novamente) que achasse tais objetos guardava-os como preciosidades, fixando-os na parte de cima da porta de entrada de sua habitação: a casa ficava, assim, protegida contra incêndios...”
À minha mãe, já falecida, peço perdão se em algum momento possa ter deixado de acreditar plenamente na origem da sua “pedra de raio” tão estimada e venerada. A crença dela estava em sintonia exata com o que a tradição popular de seu tempo entendia como verdade verdadeira. JAIR, Floripa, 23/04/2013. 

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Inteligência




Desde muito tempo os cientistas estiveram convencidos que inteligência e cérebro grande tinham relação biunívoca, isto é, um está intrinsecamente ligado ao outro. Se há cérebro grande existe inteligência, se há inteligência esta está relacionada ao tamanho de cérebro. Contudo, essa relação que a muitos parecia óbvia, estava eivada de preconceitos. Como eram europeus brancos que primeiro formularam a teoria, eles naturalmente se achavam mais inteligentes que outros – negros, asiáticos e não brancos de todos os matizes – então convencionaram que seus cérebros eram grandes e suas inteligências brilhantes. Eles tinham certeza que possuíam os maiores cérebros humanos e que as mulheres jamais seriam tão inteligentes quanto os homens porque seus cérebros eram menores. Santo preconceito!
O que a ciência acabou descobrindo efetivamente é que dentro de uma mesma espécie o tamanho cérebro tem pouca importância, porque a variação da inteligência de um indivíduo a outro é muito pequena. Já entre espécies, o tamanho do cérebro pode ser significativo apenas se for medido o peso do cérebro em relação ao corpo do animal, porque, uma parte enorme de qualquer cérebro é dedicada aos detalhes cotidianos da manutenção do corpo – coisas como contrair músculos, mover os intestinos, sentir sensações na pele, eriçar pelos. Amplie o animal e teremos mais território para administrar, mais músculos para acionar, mais pele para monitorar, necessitando, desse modo, mais matéria cinzenta para meramente funcionar. O fato que um veado tem cérebro maior que um rato não significa, necessariamente, que é mais inteligente, porque seu corpo pode pesar milhares de vezes mais, sendo, portanto, mais difícil de administrar.
Diz a ciência, subtraia as partes do cérebro relativas à manutenção do portador e o que resta é a única coisa que interessa, porque os neurônios “extras” podem integrar informações do mundo exterior em abstrações – capacidade que pode ser, grosso modo, uma definição de inteligência. A partir dessa premissa, fez-se um estudo completo do peso cerebral relativo dos vertebrados e descobriu-se que peixes, anfíbios e répteis formavam uma linha crescente num gráfico, mas que aves e os mamíferos formavam uma linha bem mais elevada. Para aqueles que costumam dizer que galinhas não são inteligentes foi um balde de água fria - talvez as galinhas sejam tão inteligentes que se neguem a demonstrar isso. Em outras palavras, um mamífero pode pesar o mesmo que um réptil, mas tem um cérebro dez vezes maior.
O tamanho relativo do cérebro é um indicador seguro do grau de inteligência entre as espécies, mas para definir com certa precisão a diferença entre os mamíferos é necessário apurar melhor essa medição. A ciência reuniu dados suficientes para estabelecer qual o tamanho ideal do cérebro para certa massa corporal. Ou seja, qual o peso médio “devia” ter um cérebro de um mamífero de determinado peso. Então todo peso cerebral que excedesse o peso médio de um animal era fatorado em que porcentagem encontrava-se acima ou abaixo, e a este índice deu-se o nome de QE (quociente de encefalização). Se um animal apresentar um QE de 1, por exemplo, significa que ele tem todo aparato intelectual para levar uma vida padrão de mamífero. Se o QE for maior que 1, ele dispõe de neurônios “livres” para ser “criativo”, se e quando este termo se aplicar àquele mamífero. Não é preciso dizer que o QE humano é de 7,06, índice muitos pontos acima do mamífero em segundo lugar - surpreendentemente o boto tucuxi com QE de 4,56. Quem diria, aquele animal que, segundo uma lenda amazonense, sai da água e engravida moças ribeirinhas é um carinha prá lá de inteligente!
Mas alguns pesquisadores assinalaram que simplesmente ter um conjunto de neurônios “sobrando” não produz automaticamente inteligência. As interações do animal com seu ambiente social são tão importantes quanto um QE alto. Assim, um animal que tenha que correr todos os dias atrás de sua caça tende a ser mais inteligente que aquele animal que simplesmente espera que o alimento chegue até ele. Um sapo contemplativo que espera a mosca entrar no raio de ação de sua pegajosa língua, por certo deverá ser menos inteligente que a lagartixa que embosca insetos na parede.
Contudo devemos lembrar um importante pormenor, os parâmetros que medem a inteligência são todos humanos, ninguém parece lembrar que a “inteligência” de outros animais pode obedecer a outros critérios que nem sequer imaginamos. Então, qualquer número inteligencial que possa surgir desses raciocínios humanos pode não ter qualquer validade quando se mede a inteligência de uma formiga, por exemplo. Já que formigas podem obedecer a medidas diferentes, a escalas métricas dos Himenópteros (olhaí meus estudos de entomologia entrando em ação). Para que as cogitações humanas possam ter verossimilhança, necessário é que o homem deixe de se julgar o centro do universo e admita que cada um no seu quadrado. Ou cada bicho com seu parâmetro. JAIR, Floripa, 22/04/2013

terça-feira, 4 de junho de 2013

Eu vi



Lembro que mais do que realmente ver, eu sentia os eventos, era como um filme em 3D estivesse sendo projetado diretamente no meu cérebro. Era a História do Universo que se desenrolava ao alcance, se não dos meus olhos, pelo menos da minha mente ou de algum outro sentido que não sei definir. Era a história da matéria que despertava à minha frente quase ao alcance da mão. O Universo nascia num meio onde nada havia, um zero absoluto cercado de vazio. No início surgiram as partículas simples, sem estrutura. Como bolas de bilhar num movimento browniano, elas se contentavam em se deslocar e entrechocar-se. Depois, nas etapas seguintes, essas partículas se combinam e se associam. Começam a surgir as arquiteturas do que viria a ser matéria mais complexa e, talvez, atuante em algum sentido.
Sentia-me como sentado num gramado macio a beira de um bosque, olhando para o céu. Em meu campo de visão as árvores balançam ao sabor do vendo como a embalar seus frutos como filhos que se embalam para dormir. Eu escutava o tempo que, em absoluto silêncio, realizava sua grandiosa obra, transcendentalizava. Essa escuta aplicava-se ao todo, ao Universo. Pois é no fio do silencioso tempo que se desenrola a gestação cósmica. A cada fração o Universo se revela mais e mais complexo, as suas fímbrias, lentamente, perdem-se alhures, não há horizontes. Como espectador deste desenrolar dos acontecimentos primevos e primordiais, eu sabia que minha missão era testemunhar o aparecimento de novos elementos cósmicos e novos seres ao cabo.
Então aplaudi o nascimento dos primeiros átomos. Deixando os braseiros estelares, os núcleos recém nascidos “vestem-se” de elétrons e formam os primeiros átomos. Assim começa a evolução química. Os átomos se aliam em moléculas e poeiras interestelares, e essas poeiras, reunidas em torno de estrelas em formação dão origem aos planetas. Alguns desses planetas em convoluções adquirem mares e atmosfera; ali a evolução química, catalisada por essas novas condições, se acelera, criando moléculas que flutuam numa sopa primordial. De química a evolução torna-se biológica e produz células e seres vivos. Eu vi. 
Em alguns momentos me senti inquieto, havia crises e distorções nesta suposta ascensão. Não percebia eu que o Cosmo, como ser vivo que é, se contorce, se expande, se contrai e se acalma em vários movimentos quase sempre inexplicáveis. Em certos momentos especialmente instáveis, parecia que tudo era um grande engano e o frágil equilíbrio que existia implodiria em caos irremediável. Mas o Universo, apesar de hesitar e recuar algumas vezes, se reinventava e continuava seguindo adiante.
Eu me perguntava: onde nos levará esse caminho? Hoje a física nuclear nos permite conhecer a evolução nuclear. Ela nos explica como, a partir daquelas partículas nucleares que as vi nascerem, milionésimos de segundo após o que se convencionou chamar de Big bang, se formaram os primeiros núcleos atômicos no ventre incandescente das estrelas. Lançados como projéteis para o espaço pejado de partículas primordiais, os núcleos revestiram-se de elétrons. Atualmente a radioastronomia e exobiologia molecular nos permitem reconstruir as grande fases da evolução química das estrelas e o surgimento dos planetas primitivos. E, finalmente, seguindo as revelações de Darwin, somos capazes de percebermos, erguendo-se a nossa frente, a grande árvore da vida: a evolução biológica que nos leva à inteligência humana que permite deslindar esses mistérios da natureza.
Enquanto eu assistia esse drama como em uma tela panorâmica com imagens em 3D, me assaltava a pergunta: esse caminho rumo à extrema complexidade termina no homem? Santa ingenuidade. De sã consciência não há como afirmá-lo, não nos é permitido achar-nos o ápice da criação. O coração do Universo continua a bater no mesmo ritmo. A força inicial continua com impulso rumo ao vir a ser. O sentido inicial é o mesmo e o nível da complexidade não é possível de ser avaliado. É até viável que em outros planetas se tenham processado avanços muito maiores, e que em outros mais, o impulso vital só agora se faça sentir. Não nos é lídimo assegurar que somos únicos, como que privilegiados por uma natureza tão pródiga em outros misteres. Como em “2001 uma odisséia no espaço”, que futuro desconhecido a gestação cósmica prepara para nós? Que somos oriundos de primatas sabemos, mas o que nascerá do homem? JAIR, Floripa, 16/04/2013.