quarta-feira, 28 de maio de 2014

Prá não dizer que não falei de futebol


Mais de dois mil e novecentos servidores do Congresso Nacional ganham salários acima do teto estabelecido pela Constituição de 1988. Pela Magna Carta, nenhum servidor federal, estadual ou municipal poderá ganhar mais que o salário do presidente da República – que  no caso da Dilma é: R$ 26.723,13,  Salário líquido R$ 19.818.
Ora, a imprensa noticiou que há servidores – 2976 para ser preciso - na Câmara e no Senado com salários bem acima de R$ 50.000,00, alguns alcançam a astronômica cifra de R$ 88.000,00 líquidos. Diante da denúncia, Renan Calheiros se “apressou” em baixar os mega salários ao teto estipulado pela Constituição. Tudo bem, então? Não. Advogados dos marajás às custas dos impostos que saem dos nossos bolsos, entraram com mandato junto TSJ pedindo que os tais sem vergonha não tivessem seus escandalosos salários rebaixados. O TSJ acatou a liminar e devolveu o processo ao Congresso alegando que os pobres servidores não foram ouvidos a respeito. Ouvidos? Deviam é ser demitidos esses salafrários! Desde quando o que estabelece a Constituição pode ser questionado por um magistrado do TSJ?
Então nada mais se falou no assunto e tudo continua como dantes no quartel de Abrantes. Os super salários continuam, este é um ano eleitoral e, mais importante, ano que se realiza a copa do mundo de futebol no país da impunidade e da desigualdade social centenária. Nosso Congresso, o mais caro do Planeta, se servisse o público contribuinte de acordo com o que ganham seus servidores, teria uma eficiência melhor que os congressos escandinavos, não, como é o caso, menor que o congresso boliviano onde os senadores são vitalícios e nomeados pelo executivo. Os marajás vão se aposentar com seus salários intocados e nós continuaremos pagando a conta, como soe acontecer onde o povo é apenas gado a ser conduzido para o matadouro.
Assim, na ilha da fantasia lá no planalto central continua a festança com nosso dinheiro; os hospitais públicos continuam a matança de pobres nos seus corredores; os políticos continuam aperfeiçoando a arte de roubar e o povo continua na mesma, ou seja, na merda.
Enquanto isso, à parte os bilhões que foram investidos pelo poder público em construções malfeitas de estádios, acessos canhestros aos estádios, reformas meia boca de aeroportos e infra estruturas que ninguém vê, as mídias investem pesado na lavagem cerebral de nós todos tentando convencer-nos que tudo isso é bom para o país, para o povo. Me poupem, isso tudo é panem et circenses que já não deu certo no império romano e, espero, que não dará certo aqui no Pindorama.
Gosto de futebol, assisto partidas das copas mundiais com prazer, mas, desta vez, perdoem-me os aficionados  não existe clima para torcer pelo time canarinho, espero que o futebol brasileiro seja eliminado já na primeira fase, os contestadores desse vergonhoso gasto público merecem ver essa derrota em prol de suas reivindicações. Como será impossivel não ser envolvido pela “atmosfera” futebolística vou torcer pelas seleções da Costa do Marfim, Nigéria e Camarões. Vou torcer de fato, não da boca prá fora. Para selar minha adesão a essas seleções cometi até um soneto meio espúrio:

À frente África!

Costa do Marfim, Nigéria e Camarões
Dos africanos sou um torcedor antigo
Torço desde criancinha por azarões
E vê-los disputando as finais consigo.

Prá frente África de gazelas e leões!
Que foi o mais explorado continente
Europeus com caravelas e galeões
Levaram riqueza, escravizaram gente.

Eu quero vê-los impor-se no tapete
Mostrar aos branquelos seu traquejo
Na grama a bola, no pé um foguete,
No fundo da rede a Brazuca eu vejo.

Está na hora de descerem o porrete
Nos europeus gols façam de sobejo.

Jair, Floripa, 28/05/14.


PS - Pela segunda vez, fomos - minha  mulher e eu - convidados a morar na Austrália, com visto de residência permanente. De tanto ver as iniquidades tupiniquins, estamos considerando o convite finalmente.